segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O avião em missão de Guerra no Brasil

Antes da guerra civil de 32 a aviação bélica brasileira foi utilizada em ações de patrulhamento e reconhecimento aéreo por ocasião da Guerra do Contestado e em movimentos ocorridos no período de 1922 a 1930.

A guerra do Contestado foi o primeiro cenário para o emprego militar do avião. O tenente Ricardo Kirk, primeiro ás da aviação brasileira estava no comando de um monomotor (foto) utilizado no reconhecimento dos revoltosos. Kirk também foi o primeiro piloto a morrer em desastre de aviação.

Primeiro de março de 1915: A caminho de um vôo de reconhecimento sobre o grande reduto e Santa Maria, o avião de Ricardo Kirk perde altura, dá de encontro a um pinheiro, arrebenta um pedaço da asa esquerda e se espatifa no chão, no quilômetro 44 da estrada de rodagem Porto União da Vitória-Palmas. O piloto morre. A guerra aérea no Contestado termina antes de começar. O corte de vidas continuará por anos.

Nessa época o Exército Brasileiro não possuía aviação própria. Os aviões usados na Revolução do Contestado pertenciam à antiga Escola de Aviação Brasileira e que era civil.

O conflito se desenrolou no planalto catarinense entre os anos de 1912 e 1915 onde os moradores da região violentamente disputaram territórios entre os estados de Santa Catarina e do Paraná.

(...) "Nesse episódio, a história nos conta que pela primeira vez as forças armadas brasileiras utilizaram um avião durante um combate. Pena que tenham usado este instrumento de guerra contra uma população indefesa", comenta o professor. (...)

Fontes: Yahoo Respostas; História de Santa Catarina.
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O beijo de papai

Foi no tempo da guerra entre a Rússia potente e os heróicos nipões, calmos filhos do oriente. Em torno a Porto Arthur o cerco se apertava como um cinto de ferro e fogo, que fechava as portas da cidade a quem, valente, ousasse por ali penetrar, ou por ali passasse. Da boca dos canhões a morte, a rir traiçoeira, partia a cada instante, e na veloz carreira a vida ia ceifando aos míseros soldados tão desumanamente assim sacrificados.

Quando, uma tarde, em que cessara num momento o canhoneio, como a cobrar novo alento, junto à linha de fogo uma adorável criança, sem mostras de temor e cheia de confiança apareceu correndo. O olhar de quem procura, ansiosa, descobrir naquela massa escura de uniformes e fumo um rosto conhecido; o risonho perfil de um semblante querido.

Ao ver a pequenita um japonês, um bravo, que, como a língua pátria, entendia a do eslavo, pergunta-lhe, tomando em suas mãos calosas as mãozinhas da criança, alvas e cetinosas:

– "Que desejas, pequena? Que procuras em meio da tropa, que aqui vês exposta ao bombardeio?" Quem és tu, de onde vens, que nome tens, menina?”

– "Meu nome" – ela responde – "eu lhe direi, é Lina. Procuro o meu papai que há muito foi embora. Há muito que o não vejo e desejava agora vê-lo outra vez!"

– "P’ra que?" – pergunta novamente o filho do Japão, dizendo incontinenti:

– "Ele aqui já não está; seguiu mais para diante. Porém, se algum recado ou coisa semelhante quiseres que eu lhe dê, breve irei encontrá-lo. Descreve-me os sinais daquele de quem falo e eu prometo cumprir teu desejo inocente."

- “É fácil conhece-lo” – informa ela contente

– "É alto o meu papai, é forte e musculoso. Tem, como eu tenho, os olhos azuis e é formoso o seu rosto barbado. É claro o seu cabelo, também da cor do meu como bem pode vê-lo."

E do seio tirando um pequeno retrato acrescenta a sorrir:

– "Façamos um contrato: eu dou-lhe este papai para que não se esqueça e, vendo o verdadeiro, em breve o reconheça. Chama-se Ivan."

– "Pois bem," – disse o nobre soldado que o retrato guardou. "Dá-me agora o recado
que hei de procurar o teu papai... e em breve..."

– "Mas não é um recado que eu peço que lhe leve" (replica-lhe a pequena)

– "Diz-me então o que queres e eu prometo cumprir o que tu me disseres."

– "Pois bem" – Lina responde – "É este o meu desejo: chegue junto ao papai e entregue-lhe este beijo..."

E assim dizendo, salta ao colo do soldado e beija-lhe o semblante em lágrimas banhado. E um bravo que não chora, ante a horrível matança chorou ao receber um beijo da criança...

Mas como dos canhões ouvisse a voz bramindo, Lina foi-se acorrer por onde tinha vindo!

Durante a noite inteira o fogo não cessara e as tropas do Mikado aos poucos avançara num assalto feroz contra o inimigo em frente; cada qual mais revel, cada qual mais valente!

Quando enfim à vitória as trombetas ecoaram e as bandeiras do sol vermelho tremularam sobre a trincheira russa à força conquistada, todo o céu se aclarava à rósea madrugada e pelo campo afora os mortos e os feridos eram, sem distinção, por todos recolhidos.

Quando ao ver de um soldado a fronte descorada, pendida sobre o peito, a blusa ensangüentada, lembrou-se o japonês das feições da criança.

Olha o retrato e vê a perfeita semelhança. Era um russo, o ferido, e o japonês o chama:

– "Ivan!"

– "Que me quereis?" O moribundo exclama, surpreso por ver o seu nome proferido por lábios do inimigo.

– "Eu te trago escondido" – o bravo continua – "um beijo que te envia tua filhinha Lina... Ela mesma o daria se pudesse vir cá. Não podendo, guardei-o para agora o depor de tua fronte em meio.

E ao dizer isso, calmo, o filho do oriente beijou a fronte do russo e o abraçou ternamente.

Autor: Eustórgio Wanderley (Recife-PE, 05/09/1882 - Rio de Janeiro-RJ, 31/05/1962).

Fonte: Jornal de Poesia e Dicionário de Folcloristas Brasileiros.
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Contos árabes

Alguém já teve uma boa tia que cuidando da gente, nós naquela época com sete ou oito anos (devia ser o ano de 1967 ou 1968), contasse histórias fantásticas, de aventuras mirabolantes, de aves gigantes, príncipes, sultões, reinos, ciclopes ou gênios enquanto nossos pais iam para a noite? Muita criança deve ter tido essa sorte e nós, eu e meu mano, também tivemos.

A tia Lea nos contagiou com o “extraordinário” e jamais esqueceremos aquelas noites felizes. Ela simplesmente nos contou todas as “As mil e uma noites”: quatro volumes traduzidos pelo francês Galland do árabe. “As nove viagens e aventuras do marinheiro Simbad”, “Ali Babá e os quarenta ladrões”, “Aladim e a lâmpada maravilhosa” é só um pouquinho do vasto conteúdo da obra que contagiou a minha imaginação infantil.

A obra, na verdade, parece ser mais antiga, narrativas que os árabes herdaram dos antigos persas, de cultura diferente, e que sincretizaram. Nas aventuras desses contos árabes é comum o califa Harun-Al-Rashid, grande comendador dos crentes (Bagdad, ano 840 d.C.) se disfarçar, junto com seu grão-vizir, de gente comum e sair pela cidade para descobrir as quantas andava sua popularidade. Isso não é propaganda para vender livro! Por favor! É só uma nostalgia que me acomete...

Entendo agora o porquê de eu gostar tanto da obra "Cem anos de Solidão": García Marquez usa muito dessa magia de tapetes voadores, ciganos, adivinhos, etc. Adoro mesmo essa tia Lea, até desconfio que ela fosse Sheerazade, a princesa que contava histórias toda noite, nunca as terminava, porque senão morreria... (este blogueiro saudoso)

"Não há necessidade de preveni-los sobre o mérito e a beleza dos contos incluídos nesta obra. Eles próprios se recomendam: basta lê-los para se concordar que, em tal gênero, jamais se viu coisa tão linda até agora noutra língua. Com efeito, haverá algo mais engenhoso do que se ter feito um todo de uma prodigiosa quantidade de contos, cuja variedade é tão surpreendente e cuja concate nação é tão admirável que parece haver sido escritos para compor a ampla coletânea donde estes foram extraídos? Digo ampla coletânea, pois o original árabe, intitulado “As Mil e Uma Noites”, possui trinta e seis partes; e não é senão a tradução da primeira que hoje damos a lume.

Ignora-se o nome do autor de tão grande obra, mas provavelmente ela não pertence a um único homem, porque, como se pode crer que um único homem tenha tido imaginação suficiente para tanta ficção? Se os contos dessa espécie são agradáveis e divertidos pelo maravilhoso que neles reina, estes devem superar quantos hajam aparecido, por estarem repletos de fatos que surpreendem e seduzem o espírito, e fazerem ver como ultrapassam os árabes as demais nações em tal gênero de composição” (Prefácio de Galland sobre a sua tradução de ‘Contos árabes’).

Antoine Galland nasceu em 1646 de pais pobres, fixados numa aldeiazinha da Picardia. Tinha apenas quatro anos, e era o sétimo filho, quando seu pai faleceu. Sua mãe, não sabendo que destino dar-lhe, e reduzida ela própria a viver do trabalho, tanto fez que conseguisse colocá-lo no colégio de Noyon, onde o principal e um cônego da catedral dividiram os cuidados e o custo da sua educação. Ali ficou até os treze anos, quando perdeu ao mesmo tempo os dois protetores, o que o obrigou a voltar para sua mãe com um pouco de latim, grego e até hebraico. Sua mãe decidiu, então, que ele devia aprender um oficio. Antoine obedeceu e, apesar da sua aversão, permaneceu um ano com um mestre.

Certo dia, porém, abandonou o serviço e tomou o caminho de Paris, sem outros recursos que o endereço de uma velha parente e o de um bom eclesiástico que vira, às vezes, em casa do cônego de Noyon. A tentativa logrou êxito que ultrapassou as suas esperanças. No colégio du Plessis, continuou os seus estudos; em seguida, com Petitpied, doutor da Sorbona, aprofundou- se no conhecimento do hebraico e outras línguas orientais, e preparou um catálogo dos manuscritos orientais da biblioteca de Sorbone.

Transferiu-se, depois, para o colégio Mazarino; um professor, Godoum, reunindo certo número de meninos de três ou quatro anos de idade somente, entre os quais o duque de la Meiileraye, pro pusera-se ensinar-lhes latim fácil e rapidamente, colocando-os ao lado de pessoas que não falassem outra língua. Galland, associado a tal trabalho, não teve tempo de ver o resultado.

Nointel, nomeado para a embaixada de Constantinopla levou-o consigo, para obter certas provas sobre artigos de fé que constituíam motivo de disputa entre Arnaud e o ministro Claude. Galland, chegado a Constantinopla, adquiriu em pouco tempo o uso do grego vulgar, e acompanhou Nointel a Jerusalém e demais lugares da Terra Santa, onde se pôs a pesquisar, anunciando ao embaixador as curiosidades descobertas; copiou inscrições, desenhou da melhor maneira possível outros monumentos, removendo-os também às vezes, e é a ele que devemos, entre outros, os singulares mármores hoje no gabinete de Baudelot. Galland não julgou oportuno acompanhar a Constantinopla Nointel, preferindo voltar para Paris, onde chegou em 1675. Ali travou conhecimento com Vaillant, Carcavy e Giraud. Estes o enviaram de novo ao Oriente, donde ele trouxe, no ano seguinte, numerosos medalhões.

Em 1679, Galland empreendeu terceira viagem, por conta da companhia das Índias Orientais. As mudanças sobrevindas na companhia interromperam os estudos, dezoito meses depois: mas Colbert, informado, empregou-o por conta própria; após a sua morte, o marquês de Louvois fez com que Galland continuasse ainda por algum tempo as suas pesquisas, com o título de antiquário do rei. Durante a sua longa permanência, Galland aprendeu a fundo o árabe, o turco e o persa.

Em Esmirna, quase morreu num espantoso tremor de terra. Na sua volta a Paris, auxiliou Thévenot, guarda do biblioteca do rei, até que este faleceu. Empregou-o em seguida Herbelot. Mas este também morreu em breve, deixando incompleto o seu trabalho. Continuou-o Galland, tal qual o temos, e escreveu o prefácio da obra, que passou a chamar-se Biblioteca Oriental. Participou da edição do Menagiana, aparecida então. Julga-se até que foi êle que forneceu o material do primeiro volume.

Pouco antes, dera a lume uma Relação da morte do sultão Osmã, e da coroação do sultão Mustafá, traduzida do turco, e uma Coletânea de máximas e ditos, tirados das obras dos orientais. Após a morte de Herbelot, apegou-se Galland a Bignon, primeiro presidente do grande conselho, que, por gosto hereditário, queria ter sempre ao seu lado um homem de letras. Bignon morreu no ano seguinte. Parecia ser destino de Galland perder sempre tão úteis proteções. Mas a proteção do digno magistrado ultrapassou os limites comuns, tanto que lhe deixou uma pensão. Além disso, Foucault, conselheiro de Estado, intendente naquela ocasião na Baixa Normandia, chamou-o ao seu lado. No suave lazer de tão tranqüila posição, no meio de uma ampla biblioteca, Galland compôs várias obras menores.

Foi aí que começou a imensa tradução dos Contos Árabes, tão conhecidos pelo nome de Mil e Uma Noites. Galland foi admitido pelo rei à academia das Inscrições. E imediatamente empreendeu para ela um Dicionário numismático, contendo a explicação dos nomes das dignidades, dos títulos de honra, e em geral de todos os termos singulares encontráveis nas medalhas antigas, gregas e romanas. Regressou, finalmente, para Paris em 1706.

Em 1709 foi nomeado professor de língua árabe no colégio real. Há outras obras escritas por Galland: Uma Relação das suas viagens, uma descrição particular da cidade de Constantinopla, adendas à Biblioteca Oriental de Herbelot, um catálogo dos historiadores turcos, árabes e persas, uma história geral dos imperadores turcos, uma tradução do Corão, com notas histórico-críticas, uma continuação da tradução das Mil e uma Noites.

Galland trabalhava sem cessar, fossem quais fossem as suas condições, pouca atenção dando às necessidades, e nenhuma ao conforto. Só tinha em mente a exatidão. Simples nos hábitos e nas maneiras como nas obras, teria ensinado por toda a vida a crianças os primeiros elementos de gramática com o mesmo prazer com o qual demonstrava a sua erudição em diferentes matérias.

Morreu em 17 de fevereiro de 1715, aos 69 anos.O amor das letras foi a última coisa que nele se extinguiu. Pouco antes da morte, julgou que as suas obras, o único bem por ele deixado, poderiam perder-se, pelo que deixou disposições, fielmente executadas, a fim de que os manuscritos orientais passassem para a biblioteca do rei, o Dicionário numismático para a Academia, e a sua tradução do Corão para o padre Bignon, como penhor da sua estima e do seu reconhecimento.
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