domingo, 9 de outubro de 2011

Aos beijos e soluços

Aqui mesmo, se não me engano, escrevi sobre a religiosidade profunda do Brasil. Examinem todos e cada um. O brasileiro, inclusive o nosso ateu, é um homem de fé.

Conheço vários marxistas que são, ao mesmo tempo, macumbeiros. E um povo que pode conciliar Marx e Exu está salvo e, repito, automaticamente salvo.

Imaginem vocês que, outro dia, passei na casa de um ateu patrício. É uma excelente figura de marido, pai, funcionário e rubronegro. Mas esse meu amigo só fala aos berros, como o Salim Simão. E seu bom-dia, como o de Salim Simão, é um soco nos tímpanos.

Coisa curiosa! Gosta de parecer um anticristo. Na noite em que o visitei, desabou uma tempestade. Legítimo mau tempo de quinto ato do Rigoletto. Costumo dizer que a grande tempestade é a de ópera. A orquestra imitando trovão convence mais do que o próprio trovão. E nenhum raio, por melhor que represente, assusta mais do que um relâmpago de curto-circuito.

Justamente, parecia uma tempestade de palco. Todos os presentes rilhavam os dentes de pusilanimidade. Quando vi a dona da casa benzer-se, bem a entendi. Não há ocasião mais própria para um arroubo místico do que um toró. Sei de conversões ocorridas em temporais desvairados. E, por um momento, imaginei que o mau tempo ia precipitar aquele ímpio, aquele desalmado nos braços do Eterno.

Pelo contrário. De repente, um raio estala e quase nos fuzila. A dona da casa enfiou-se debaixo da mesa. E foi esse o momento escolhido para as blasfêmias do ateu. Ele urrou, no meio da sala, trepado numa cadeira, como um Antero de Quental. Esganiçava as gargalhadas. Do seu lábio pendia a baba elástica e bovina da impiedade.

Ninguém se indignou, ali, e explico: — são obviamente incompatíveis o pavor e a indignação. Graças a Deus, a tempestade sumiu como veio, de repente. Mais uns quinze minutos, e o céu limpou. Fui espiar da janela. Vi, "pálido de espanto", como no soneto, estrelas jamais concebidas.

Voltei para a sala, exausto do meu terror. O ateu arquejava, ainda, do riso torpe.

E, súbito, o caçulinha começa a chorar. Os donos da casa se arremessaram. Primeiro, a mãe e, depois, o pai carregaram o menino. Mas não houve colo que o calasse. A tia solteirona já pensava em leucemia. E o caçulinha berrava com um brio inexcedível. Súbito, o pai desatinado é atravessado por uma luz; soluça para a mulher: — "Faz aquela simpatia! Faz aquela simpatia!".

Ou a própria mãe, ou a tia, cola na testa do menino um algodãozinho molhado. Houve, então, nas barbas estarrecidas da família, o suave milagre. Efeito fulminante da simpatia. A criança parou de chorar, instantaneamente. O pai, eufórico, gabava-se: — "Não disse? Não disse?". Vira-se para mim e pisca o olho: — "Tiro e queda! Não falha!".

E, então, vi tudo. Aquele era o único ateu que eu conhecia na vida real. Blasfemara contra o raio. Mas bastou uma dor de barriguinha para que ruísse, em cacos, todo o seu ateísmo. E assim a fé do brasileiro assume as formas mais imprevisíveis e, até, cômicas. Ao menor pretexto emocional, aquele ateu de papelão há de acreditar até em Papai Noel.

Mas estou-me perdendo no acessório e esquecendo o essencial. Eis o que eu queria dizer: — se eu fosse marxista ou pertencesse a qualquer ramo das nossas esquerdas, estaria, hoje, num pânico profundo. Profundo e justificado. É que todos os jornais abrem manchetes deste teor: — "Negociações de paz iniciam-se em Paris". Por se tratar de um fato catastrófico, o jornal devia pingar-lhe um apavorado ponto de exclamação.

Repito: — se eu fosse uma flor das esquerdas, estaria recorrendo a simpatias, como o ateu da dor de barriguinha.

Sim, estaria apelando para o Sobrenatural. Iria até à macumba para frustrar essa paz amaldiçoada. O leitor há de perguntar, com a sua crassa e ignara ingenuidade: — "Mas por quê?".

Vamos lá. O Vietnã pode ser guerra para todo mundo, menos para as esquerdas brasileiras. Para as nossas esquerdas, o Vietnã é um meio de vida. Há sujeitos, aqui, que vivem do Vietnã. Não só os intelectuais, não só as grã-finas, não só os estudantes.

Conheço um alfaiate que se tornou um próspero alfaiate porque vocifera como um vietcong. Aí está dito tudo: — ninguém consegue ser um bom alfaiate sem xingar os Estados Unidos por conta do Vietnã.

Vejam que invejabilíssima situação: — o sujeito daqui, sem arredar pé do Antonio's, ou da praia, sem correr o menor risco e, ao mesmo tempo, fazendo poses e, repito, fazendo quadros plásticos contra os norte-americanos. É o patético, raiando pelo sublime. Há, entre nós e o perigo, toda uma sábia e inexpugnável distância.

Por causa do Vietnã, o sujeito faz artigos dominicais, arranja namoradas, passa por inteligente, moderno, libertário etc. etc. Ir ao jogo Fluminense x Vasco é mais arriscado para nós do que essa guerra admirável.

E, súbito, vem a manchete e diz que Washington e Hanói começam as discussões de paz. É o que eu chamaria de ameaça de desemprego em massa. Vamos rezar para que fracassem os entendimentos; e que a guerra continue até o fim da nossa geração. Mas se, por fatalidade, Washington e Hanói chegarem a um acordo e caírem nos braços um do outro, aos beijos, aos soluços, que faremos nós? Cada época vive de uns tantos assuntos obrigatórios e fatais. O Vietnã é o grande assunto do nosso tempo. Hoje, o nosso berro, o nosso gesto, a nossa ênfase, o nosso palavrão, as nossas pequenas, a nossa retórica — dependem do Vietnã.

Ou por outra: — todos dependemos do que se esconde por trás do Vietnã, ou seja, o ódio aos Estados Unidos. O Vietnã não interessa a ninguém, a não ser como pretexto para o ódio. Mas imaginemos um mundo sem o Vietnã. Hanói e Washington concordam, fazem a abominável paz. Cessam os bombardeios. Nem mortos, nem feridos, nada. Eis as nossas esquerdas esvaziadas. E tendo que vagar, por entre mesas e cadeiras, sem função e sem destino.

Por outro lado, d. Hélder e dr. Alceu terão que aturar, novamente, o abominável Sobrenatural.

[15/5/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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Barbara Bach

Barbara Bach (Barbara Goldbach), atriz e modelo, nasceu em Queens, Nova Iorque, em 27 de agosto de 1947. É mulher do ex-baterista dos Beatles, Ringo Starr.

Barbara foi um modelo internacional de sucesso nos Estados Unidos e na Europa, com capas para revistas como Elle, Vogue e Playboy.

Baseada na Europa no começo dos anos 70, com seu primeiro marido, o empresário italiano Augusto Gregorini, se lançou no cinema em 1971 com um pequeno papel no filme trash de horror-erótico italiano "La Tarantola dal ventre nero", estrelado por duas outras bond girls, Claudine Auger e Barbara Bouchet, seguindo-se a ele a participação em outros filmes menores na Itália.

Em 1975, ela se separou do marido e voltou aos Estados Unidos com os dois filhos pequenos, trabalhando novamente como modelo.

Dois anos depois conseguiu fama como a bond-girl de "007 O Espião Que Me Amava", terceiro filme da série de James Bond dos estrelados por Roger Moore e que a transformaria numa sex symbol internacional.

Cena do filme 'O homem das cavernas" (Caveman, 1980)

Em 1980 conheceu o ex-Beatle Ringo Starr durante as filmagens de "Caveman" e casou-se em abril de 1981, aparecendo nos anos seguintes em diversos videoclipes e gravações de Ringo.

Formada em psicologia pela UCLA em 1993, Barbara abandonou o cinema na metade da década de 1980, e hoje dirige uma fundação junto com o marido, a Lotus Foundation, dedicada à caridade.

Fonte: Baseado na Wikipedia.
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A divertida Lucille Ball

Lucille Ball (Lucille Désirée Ball), primeira mulher comediante da TV e figura fundamental no desenvolvimento dessa mídia, nasceu em 6 de agosto de 1911 em Jamestown, Nova York. Começou a estudar teatro aos 15 anos. Adolescente, trabalhou como modelo enquanto tentava conseguir uma vaga na Broadway.

Em 1930, participou do filme "Roman Scandals" e sua popularidade como comediante começou quando atuou com os Irmãos Marx em "Room service", em 1938 e em "The marines fly high" com Fred Astaire em 1940. Conheceu Desi Arnaz, em um set de filmagem, neste mesmo ano.

Luci e o marido Desi Arnaz
Em 1951, Lucille e seu marido cubano, Desi Arnaz (02/03/1917 - 02/12/1986), financiaram um programa-piloto para uma série cômica na televisão. A CBS gostou da idéia e concedeu à Desilu, a produtora do casal, os eventuais lucros de repetição do seriado.

Assim nas décadas seguintes o "I love Lucy" rendeu uma fortuna a seus criadores. Exportado para cerca de 80 países, até hoje esses episódios divertidíssimos são apresentados na TV.

Sempre pioneira, foi a primeira atriz a continuar a filmar os episódios de uma série de TV mesmo estando grávida. Ela convenceu os produtores a fazer com que sua personagem também engravidasse, e em 19 de janeiro de 1953 cerca de 44 milhões de espectadores acompanharam o parto de sua personagem, algumas horas depois que a atriz deu à luz ao seu filho, Desi Arnaz Junior.

Ela e Desi Arnaz se divorciaram em 1960, mas a atriz se casou dois anos depois com o também ator Gary Morton que se tornou produtor da série.

De 1962 até 1974 ela trabalhou na TV em duas séries: The Lucy Show e Here´s Lucy, ambas exibidas na CBS às segundas-feiras por 23 anos consecutivos.

Em 1985 chegou a trabalhar em séries de drama, mas no ano seguinte estava de volta à comédia na série Life with Lucy. Sua última aparição na TV foi com Bob Hope, sua contraparte masculina no show business. Juntos, eles apresentaram o Academy Awards de 1989 para jovens talentos. Ball morreu semanas depois, em 26 de abril de 1989.


Fontes: tvsinopse; Wikipedia;
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