Mundialmente conhecido como o autor do livro
Drácula,
Abraham "Bram" Stoker nasceu Dublin, Irlanda, em 1847. Aos 16 anos ele
ingressou no Trinity College da Universidade de Dublin e filiou-se na
Sociedade Filosófica, onde escreveu seu primeiro ensaio,
"Sensationalism in Fiction and Society".
Tornou-se, mais tarde, presidente desta sociedade e auditor da
Sociedade Histórica. Graduou-se em bacharel, com honras, em 1870, indo
trabalhar, assim como seu pai havia feito, como funcionário público no
Castelo de Dublin, mas continuou estudando meio-período para
desenvolver seu mestrado, defendido em 1875.
Stoker era fascinado pelo mundo do teatro (ele ficou impressionado com o
ator Henry Irving, que futuramente seria uma figura decisiva na sua
vida) e ofereceu-se, sem remuneração, para ser crítico de teatro do
jornal Dublin Evening Mail. Suas críticas começaram a aparecer em
vários jornais, fazendo com que Stoker fosse bem-recebido nos círculos
sociais de Dublin (ele chegaria a conhecer os pais de Oscar Wilde).
Em 1873 foi oferecido a ele a editoração do novo jornal Irish Echo,
mais tarde rebatizado como Halfpenny Press, por meio-período e sem
remuneração. O fracasso comercial deste jornal o faria pedir demissão em
1874 e, então, ele mergulharia no mundo do teatro, começando a
escrever suas primeiras peças de ficção, contos e seriados, que eram
publicados nos jornais locais. Seu primeiro texto na linha do terror
foi "The Chain of Destiny", apresentado como seriado no periódico
Shamrock, em 1875.
Neste momento, a figura de Henry Irving entra definitivamente na vida
de Stoker. Irving assumiu a direção do Lyceum, em Londres, e convidou
Stoker para ser o gerente do teatro. Muitos estudiosos acreditam que a
forte figura de Irving, praticamente "sugando" tudo de Stoker, pode ter
sido a inspiração para a criação da imagem forte e dominadora do
personagem Drácula. A amizade/sociedade entre Stoker e Irving duraria
até a morte deste último, em 1905.
Outra figura que pode ter inspirado diretamente o texto de Drácula foi
sua esposa, Florence Stoker. Ela era uma das mais lindas e disputadas
mulheres de Dublin, tendo sido, inclusive, prometida pelos seus pais
para ser a esposa de Oscar Wilde.
Florence escolheu Stoker por causa da segurança do emprego público
dele, situação que se alteraria quando ele foi para Londres dirigir o
Lyceum. A bela e dominante Florence estava longe de ser a típica esposa
dos padrões ingleses da época, ou seja, submissa ao marido: ela se
impunha na relação, situação que deixava Stoker constrangido. O domínio
de Drácula sobre as mulheres era uma crítica à sua própria vida
doméstica.
Durante seus primeiros anos em Londres, Stoker escreveu seu primeiro
livro de ficção, uma coletânea de histórias para crianças (Under the
Sunset), publicada em 1882. Seu trabalho no Lyceum o obrigava a
escrever, sendo que seu primeiro romance publicado, The People, em
1889, nasceu como um seriado para o teatro e foi transformado em livro
em 1890.
Os estudiosos não chegaram a uma conclusão das reais razões de Bram
Stoker escrever uma obra como Drácula. Podemos notar uma mudança de
estilo e temáticas a partir de 1890, pois seus textos ficaram mais
ricos e o sobrenatural e o terror ganharam um espaço maior, em
particular no conto "The Squaw".
Aparentemente, Stoker tomou sua decisão de escrever sobre vampirismo
depois de um pesadelo na qual ele viu um vampiro se levantando do
túmulo. Ele tinha referências literárias, pois tinha lido Carmilla
(1872), de Sheridan Le Fanu, e o conto "The Vampyre" (1819), de John
Polidori, além de tomar conhecimento de discussões sobre o
sobrenatural, discussões estas comuns no final do século XIX na
Inglaterra.
Mas a inspiração final surgiu nas suas pesquisas sobre um nobre do
século XV que viveu na região da Transilvânia, localizada na Romênia,
que impediu a penetração dos turcos na Europa, conhecido como Vlad, o
Empalador (ou Vlad Tepes), pois este empalava (perfurava com uma
madeira pontuda) seus inimigos. O nome Drácula foi tirado do pai deste
nobre, chamado Vlad Dracul (este último termo significava diabo ou
dragão). E a forma de contar a história através de personagens
diferentes em diferentes documentos (diários, cartas, recortes de
jornal, etc.) foi inspirada no livro The Moonstone, de Wilkie Collins.
Muitas características da vida de Stoker e da Inglaterra do final do
século XIX foram retratadas em Drácula. Já citamos a forte presença de
Henry Irving e as dificuldades de Stoker em conviver com Florence -
Drácula tinha uma presença poderosa e dominava as mulheres; a presença
de um grande número de estrangeiros na Inglaterra, resultado da
imigração que ocorreu no período, assustava o homem inglês - não
coincidentemente Drácula era estrangeiro, trazendo doenças e desgraças
para a "limpa" vida inglesa; sexo e sangue são temas presentes no livro
- as doenças venéreas eram o grande temor do homem inglês da época,
pois tanto a gonorréia quanto a sifílis eram contraídas através de
relações sexuais e contato com sangue, além de não existir cura para
ambas; a ciência era fascinante na época - e o confronto entre o
sobrenatural Drácula e o mundo científico de Van Helsing deu a vitória a
este último.
Publicado em 1897, Drácula recebeu uma acolhida dividida entre a
crítica da época, com alguns elogiando a obra como uma poderosa peça de
fascinação lúgubre e outros criticando-a pela estranheza da temática e
de certa crueza na abordagem. A mãe de Stoker elogiou a obra
vigorosamente, comparando-a ao livro de Mary Shelley, Frankenstein. Na
época do lançamento do livro, Stoker realizou uma leitura do texto em
quatro horas no Lyceum, sendo que o evento foi apresentado completo,
inclusive com anúncios, como Dracula, ou The Un-Dead, para proteger a
trama e o diálogo de furto literário. Foi a única apresentação
dramática de Drácula durante a vida de Stoker.
Nunca mais Stoker escreveria uma obra tão importante como Drácula.
Aliás, sua carreira literária entraria em decadência, apesar de ter
produzido um grande número de textos na virada dos séculos XIX e XX. Um
incêndio no Lyceum destruiu a maior parte do guarda-roupa, adereços e
equipamentos, deixando as condições do teatro precárias. A saúde de
Henry Irving, já em declínio, piorou. O teatro seria transferido para
um sindicato, fechando de vez em 1902.
Irving morreria em 1905. A partir daí, Stoker teria grandes
dificuldades para escrever, pois sua saúde também piorara: ainda em
1905 ele teve um derrame e, em seguida, contraiu a doença de Bright,
que afeta os rins. Sua saúde foi declinando cada vez mais até sua
morte, em sua casa, ocorrida em 12 de abril de 1912.
Florence Stoker herdou os copyrights do marido e deu permissão para o
teatrólogo Hamilton Deane transformar Drácula em peça de teatro, o que
daria grande fama ao texto de Stoker, precedendo seu futuro sucesso nas
telas do cinema - meio este que transformou Drácula num dos mais
famosos e conhecidos personagens do século XX.
Por: Orivaldo Leme Biagi, Doutor em História pela UNICAMP, Professor
das Faculdades Atibaia (FAAT) e Membro da Academia Literária Atibaiense
(ALA).