Bernardino, Bolão e Madureira eram três amigos inseparáveis. Viviam juntos e onde ia um, ia o resto. Pois bem: de repente o Bernardino sumiu. Passou uma semana sem aparecer no botequim e os amigos já estavam ficando preocupados.
Ficaram tão preocupados que chegaram a telefonar para o DOPS. É a atual conjuntura. Nego quando some, atualmente, ou tá viajando ou tá hospedado no Hotel Palace DOPS. Mas, felizmente, não era nada disso e dias depois o Bernardino apareceu.
Vinha com cara de cachorro que quebrou panela, e sentou-se à mesa do bar meio constrangido. Pediu uma cachaça e, enquanto era crivado de perguntas pelos outros dois pinguços, dava um riso de experiente e depois contava:
— Bem... eu fui dar uma de casado e me dei mal.
— Ué, por quê? — perguntaram os caneados de sousa.
— Não dá pedal, meu camaradinha. Eu arrumei uma grinfa e me maloquei uns dois dias. Depois, bem, depois eu pensei que dava pra gente fazer um casório pelo facilitário e foi aí que eu me estrepei. Foi só ela chegar lá em casa e começar a mandar brasa na minha felicidade.
E foi desfiando o seu rosário de queixas. A grinfa chegou no modesto apartamento de Bernardino e mandou logo pintar a sala. Jogou fora todas as garrafas vazias que estavam na área e que, embora vazias, já tinham dado algum prazer a ele. Era tudo coleção: Praga de Mãe, Respeita a Mulher do Sargento, Mocotolina, Sabugo de Ve¬lha, E Então? Cachaças de rótulos originais e que nunca mais apare¬ciam outras iguais. E o Bernardino continuava se queixando com justa razão.
— Além disso, mandou limpar a cozinha, arrumou meus sapatos, passou meus ternos, minhas camisas e mandou eu cortar o ca¬belo e fazer a barba.
— Bem, olha aqui, Bernardino — falou o Madureira — quanto à cachaça eu não dou razão a ela, mas quanto à arrumação, vamos lá...
— Que nada, rapaz! Dois dias depois ela estava igualzinha à minha primeira mulher. Cheia de intimidades, querendo beber no meu copo e querendo dormir agarrada comigo. O que é que há?
— Mas espera aí, Bernardino — disse Bolão — isto é onda de mulher casada. Elas faz tudo isso. Será que você não sabia?
— Você é gozado... Claro que eu sabia. Por isso é que não deu nada certo. O apartamento, além de pequeno, tinha o problema da Margarida, que não gostava dela.
— Ué, eu não sabia que você tinha cachorra!
— Que cachorra, rapaz! Margarida é o nome de minha esposa.
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Ficaram tão preocupados que chegaram a telefonar para o DOPS. É a atual conjuntura. Nego quando some, atualmente, ou tá viajando ou tá hospedado no Hotel Palace DOPS. Mas, felizmente, não era nada disso e dias depois o Bernardino apareceu.
Vinha com cara de cachorro que quebrou panela, e sentou-se à mesa do bar meio constrangido. Pediu uma cachaça e, enquanto era crivado de perguntas pelos outros dois pinguços, dava um riso de experiente e depois contava:
— Bem... eu fui dar uma de casado e me dei mal.
— Ué, por quê? — perguntaram os caneados de sousa.
— Não dá pedal, meu camaradinha. Eu arrumei uma grinfa e me maloquei uns dois dias. Depois, bem, depois eu pensei que dava pra gente fazer um casório pelo facilitário e foi aí que eu me estrepei. Foi só ela chegar lá em casa e começar a mandar brasa na minha felicidade.
E foi desfiando o seu rosário de queixas. A grinfa chegou no modesto apartamento de Bernardino e mandou logo pintar a sala. Jogou fora todas as garrafas vazias que estavam na área e que, embora vazias, já tinham dado algum prazer a ele. Era tudo coleção: Praga de Mãe, Respeita a Mulher do Sargento, Mocotolina, Sabugo de Ve¬lha, E Então? Cachaças de rótulos originais e que nunca mais apare¬ciam outras iguais. E o Bernardino continuava se queixando com justa razão.
— Além disso, mandou limpar a cozinha, arrumou meus sapatos, passou meus ternos, minhas camisas e mandou eu cortar o ca¬belo e fazer a barba.
— Bem, olha aqui, Bernardino — falou o Madureira — quanto à cachaça eu não dou razão a ela, mas quanto à arrumação, vamos lá...
— Que nada, rapaz! Dois dias depois ela estava igualzinha à minha primeira mulher. Cheia de intimidades, querendo beber no meu copo e querendo dormir agarrada comigo. O que é que há?
— Mas espera aí, Bernardino — disse Bolão — isto é onda de mulher casada. Elas faz tudo isso. Será que você não sabia?
— Você é gozado... Claro que eu sabia. Por isso é que não deu nada certo. O apartamento, além de pequeno, tinha o problema da Margarida, que não gostava dela.
— Ué, eu não sabia que você tinha cachorra!
— Que cachorra, rapaz! Margarida é o nome de minha esposa.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.