quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A batalha do Leblon

Foi à noitinha, aí por volta das 20 horas, que a notícia correu pelas esquinas do Leblon, ganhou amplitude, espalhou-se pelo bairro e foi explodir como uma bomba na Delegacia de Polícia. Os bichos do circo armado perto da pracinha tinham picado a mula. Foi aí que começou a ignorância. O delegado não estava, é claro. O comissário também, é lógico, e a coisa sobrou na mão do prontidão.

—   Chamem a Polícia — berrou o infeliz.

—   Mas a Polícia somos nós — advertiu um outro guarda.

Refeito da distração, o prontidão começou a procurar seus superiores para saber como agir. À muito custo conseguiu telefonar para um primo da noiva do comissário e localizar o distinto.

—   Peçam uma patrulha do Exército — recomendou o comissário.

Pediu-se. Mas havia outras corporações disponíveis. E apelou-se para o Corpo de Bombeiros, para a Polícia Militar, Radiopatrulha e — ninguém até agora sabe explicar por que — um carro-socorro da Light.

—   Talvez seja para evitar curto-circuito no leão — disse um mulato magrela, com cara de gozador.

O elefante, segundo informações de um soldado desconhecido, seguira rumo à praia. Elefante, ao que se presume, não nada. Ou será que nada? O povo dava palpites e, como sempre, do povo saiu um mais bem informado pouquinha coisa, para dizer que na África nada sim, mas não era o caso deste, cujo se chamava Bômbolo, e que nascera num outro circo e nunca vira água a não ser em balde.

Já então havia uma multidão apreciando as manobras. A praça era uma das trincheiras, o Jardim de Alá era a retaguarda das tropas. Pela rua principal não passaria nenhum bicho que mata gente, salvo lotações, mas estes têm licença pra matar.

Um homem de porte marcial, com muito mais estrelas do que os outros, reclamava contra a demora do tanque. Sim, ele requisitara um tanque-de-guerra e isto começou a parecer ridículo a uns tantos e emocionante para outros. A preta gorda, que mal acabara de servir o jantar dos patrões, palpitou:

—   Só onça tem umas quatro.

Mas o garoto que estava perto desmentiu, dizendo que estava farto de ir àquele circo e nunca vira onça nenhuma. Foi quando chegou o tanque. Não sabemos se vocês já repararam que tanque-de-guerra no asfalto fica mais deslocado do que — digamos — mulher nua dentro de um elevador do Ministério da Fazenda. O povo começou a desconfiar, vendo o tanque manobrando, que a coisa ia ser mais cômica do que trágica.

—   O tigre foi pra Praia do Pinto — disse um crioulo.

—   Pra Praia do Pinto vai nóis que semo teso — retrucou seu companheiro, que usava camisa de meia e touca.

Nessa altura apareceu correndo, lá do outro lado da praça, um soldado. Vinha acelerado e parou na frente do homem que tinha mais estrelas do que os outros. Fez uma continência legal e avisou que não havia elefante na praia. Imediatamente recebeu ordens de ir pelas casas avisando para que todo o mundo trancasse as portas por causa dos leões.

—   Manda espiar primeiro se o leão já não entrou, senão é fogo na jacutinga, trancar porta com leão dentro — gozou o mulato.

O soldado explicou que não era preciso, porque não tinha leão. Nem leão, nem tigre, nem onça. Apenas um "popótis".

—   Hipopótamo — corrigiu o que tinha mais estrelas do que os outros.

Então — já conhecido o inimigo — começou o cerco ao "popótis". Dos que estavam nas proximidades, poucos sabiam o que era um hipopótamo. Uns diziam que era maior do que elefante, outros diziam que era menor, mas muito mais feroz. E nessa troca de impressões ficaram até que surgiu um outro soldado que, vindo correndo em diagonal pela praça, bateu continência e disse pro de mais estrelas:

—   O "popótis" se rendeu-se.

—   Hipopótamo — voltou a corrigir o chefe, deixando passar a abundância de pronomes.

Soube-se que, realmente, o hipopótamo fora localizado dentro de um jardim, numa residência grã-fina, comendo girassóis. E logo depois apareceu na esquina o dono do circo, puxando um bicho que não era muito maior que um cachorro dinamarquês e que o acompanhava de passo pachorrento. Decepção geral, inclusive dos soldados, preparados para mais uma batalha que, como tantas outras, não houve.

—   Ainda por cima o bicho come flor — disse a preta gorda.

—   Come flor sim, uai! — explicou o de touca. — Então tu não sabia que "popótis" é veterinário?
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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Leônidas, o Diamante Negro

Tão elástico que recebeu o apelido de Homem Borracha, tão raro que passou a ser conhecido como Diamante Negro. Naqueles anos 30 e 40, ninguém era tão famoso como Leônidas da Silva, o maior centroavante de todos os tempos. Reuniu as principais virtudes que fariam a sua fama: o drible de corpo, a ginga com a bola, o deslocamento rápido, a invenção. Apesar de considerado o pai da bicicleta, sempre fez questão de dar o crédito de inventor a Petronilho de Brito.

Leônidas da Silva nasceu em São Cristóvão, Rio de Janeiro, em 6/9/1913, filho de Dona Maria e do Sr. Manoel Nunes da Silva. Na infância era torcedor do Fluminense, encantado que foi com o grande time tricolor tricampeão carioca em 1917/1918/1919. Começou sua carreira em 1923 no infantil do São Cristovão do Rio. Em 1929 passou a jogar pelo Sirio Libanês F.C., e no mesmo ano disputou o Campeonato da Liga Brasileira pelo Sul América F.C. sagrando-se campeão. Ainda em 1929 foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, onde estreou fazendo dois gols.

Em 1931 passou a atuar pelo Bonsucesso F.C. onde ficou até o final de 1932, tendo sido convocado diversas vezes para a Seleção Carioca, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais em 1931, além de ser o maior artilheiro da história do Bonsucesso. Nesse clube, também jogou basquete, tendo conquistado campeonato desta modalidade esportiva.

Em 1933 foi jogar pelo Peñarol do Uruguai onde ajudou o clube a conquistar o vice-campeonato. No ano seguinte retornou ao Brasil para jogar pelo Vasco da Gama, o qual ajudou a ganhar o campeonato carioca de 1934.

A sua primeira competição importante com a camisa da seleção foi a Copa do Mundo, em 1934, na Itália. O Brasil fez uma péssima campanha, perdendo logo na estréia e sendo eliminado, mas Leônidas marcou o único gol do Brasil na competição.

Botafogo, Campeão de 1935 -  Em pé: Carvalho Leite, Álvaro, Martin, André, Leônidas da Silva, Russinho, Patesko e Moura Costa; agachados: Octacílio, Alberto, Nariz, Canali e Afonso.

Em 1935 mudou novamente de clube, indo atuar no Botafogo, onde conquistou o bicampeonato carioca, e em 1939, pelo Flamengo chegou ao tricampeonato estadual, por 3 equipes diferentes. No Flamengo consolidou sua imagem como ídolo nacional e ajudou a combater o preconceito, sendo um dos primeiros jogadores negros a jogar pelo clube.

Em 1938, foi artilheiro da Copa do Mundo com oito gols, incluindo três marcados contra a Polônia. O Brasil conseguiu a sua melhor participação em mundiais até então, ficando com a terceira colocação. Posteriormente, Lêonidas foi escolhido o melhor jogador do mundial.


Em 1942 transferiu-se para São Paulo e atuou no São Paulo Futebol Clube por onde passou dificuldades financeiras devido ao atraso de pagamentos do clube diante da falência. Foi cinco vezes campeão paulista, tornando-se um dos maiores ídolos da história do São Paulo, sendo homenageado no museu do clube com uma réplica de uma bicicleta que ele executou.

Durante a década de 1940, devido a Segunda Guerra Mundial, os mundiais que seriam realizados em 1942 e 1946 foram cancelados, prejudicando enormemente jogadores como Leônidas, que não tiveram a oportunidade de se tornar conhecidos e reconhecidos mundialmente.

Depois de abandonar os gramados, em 1951, ainda continuou ligado ao esporte. Foi dirigente do São Paulo, logo depois virou comentarista esportivo, sendo considerado por muitos um comentarista direto, duro e polêmico. Chegou a ganhar sete Troféus Roquette Pinto. Sua carreira de radialista teve que ser interrompida em 1974 devido a doença do Mal de Alzheimer. Durante trinta anos ele viveu em uma casa para tratamento de idosos em São Paulo até morrer, em 24 de janeiro de 2004, por causa de complicações relacionadas à doença.

Graças ao trabalho de pessoas esforçadas o legado do "Diamante Negro" jamais será esquecido, mesmo o Brasil sendo considerado uma país que não dá atenção aos ídolos do passado. Foi lançada uma biografia do atleta e sua vida vai ser transformada em filme. Tudo para que os amantes do futebol não esqueçam desse que foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Alguns acham que isso ainda é pouco, já que Leônidas foi um dos maiores ídolos do Brasil, até o aparecimento de Pelé, no final dos anos 50. Alguns consideram Leônidas melhor que Pelé, porém é algo que ficará incerto, visto que os jogos ainda não eram televisionados na época em que Leônidas atuava como jogador.

Leônidas, atuando pelo São Paulo, em uma de suas "bicicletas" - Pacaembu, anos 1940.

A "bicicleta"

Leônidas recebeu o crédito por ter inventado a "bicicleta". Ele mesmo se autoproclamava o inventor da plástica jogada. Alguns afirmam ter sido criada por um outro jogador brasileiro, Petronilho de Brito, e que Leônidas apenas a teria aperfeiçoado.

A primeira vez que Leônidas executou essa jogada foi em 24 de abril de 1932, em uma partida entre "Bonsucesso" e "Carioca", com vitória do Bonsucesso por 5 X 2. Já pelo Flamengo, realizou a jogada somente uma vez, em 1939 contra o Independiente, da Argentina, que ficou muito famosa na época.

Pelo São Paulo ele realizou a jogada em duas oportunidades, a primeira em 14 de junho de 1942, contra o Palestra Itália, na derrota por 2 X 1. E a mais famosa de todas, em 13 de novembro de 1948, contra o Juventus, na goleada por 8 X 0. A jogada ficou imortalizada pela mais famosa foto do jogador.

Na Copa do Mundo de 1938 ele também realizou a jogada, para espanto dos torcedores, e o gol foi anulado pelo juiz que desconhecia a técnica.

Diamante Negro

O apelido de "Diamante Negro" foi dado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, maravilhado pela habilidade do brasileiro. Já o apelido de "Homem-Borracha", também dado pelo mesmo jornalista, foi devido a sua elasticidade.

Anos mais tarde a empresa Lacta homenageou-o, criando o chocolate "Diamante Negro", vendido até hoje. A empresa só pagou dois contos de réis à época (o equivalente a R$ 112 mil, aproximadamente), sendo que Leônidas nunca mais cobrou nada pelo uso da marca.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.
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Tim, o Peão

Tim é considerado um dos maiores dribladores que o futebol brasileiro já produziu. O reconhecimento faz justiça apenas parcialmente ao grande jogador. Afinal, era um craque complelo. Meio-campista inteligente, comandava a estratégia da equipe, dava passes imprevisíveis e parecia constantemente na área para marcar. Sua capacidade de ordenar a equipe em campo fez com que a imprensa argentina o chamasse de El Peón (O Peão), pois conduzia o time como "um peão conduz a manada".

Elba de Pádua Lima, o Tim, nasceu em 20/02/1916, numa fazenda que pertencia ao município de Rifaina, São Paulo. Ele era filho do ferroviário Vargas Lima e de Tereza Granato. Quando criança, sua família chamava-o carionhosamente de Ti. Em 1923, aos sete anos, Elba perdeu o pai. A partir daí, passou a ser criado pela mãe na Vila Tibério, tradicional bairro de Ribeirão Preto, onde ele descobriria o talento que tinha para jogar futebol. Foi nas peladas pelas ruas dessa cidade, que Elba despertou seus dons futebolisticos. Foi nessa época também que o apelido de família, Ti, virou Tim.

Em 1931, aos 15 anos, após ganhar destaque nos infantis do Botafogo, passou para a equipe profissional. No profissional do Pantera, com seu bom futebol, Tim desbancou o maior craque do time até então, o atacante Piquetote, se tornando, assim, ídolo da torcida botafoguense.

Em 1934, aos 18 anos, foi vendido para a Portuguesa Santista, pela quantia de 500 mil Réis, onde sua carreira viria a deslanchar. Com o bom futebol apresentado nesse clube, Tim alcançou em 1935 a Seleção Paulista de Futebol, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Em 1936, chegou a Seleção Brasileira, participando do grupo que foi ao Campeonato Sul-americano de 1936. Quando retornou ao Brasil, após o Sul-Americano, decidiu ficar perto da família, e voltou a defender o Botafogo de Ribeirão Preto. Mas ele ficaria pouco tempo no time ribeirão pretano, cerca de 4 meses.

Ainda em 1936, transferiu-se para o Fluminense, quando lhe foi ofertado vinte mil contos de Réis e mais um conto mensal. No Flu viveria o auge de sua carreira. Sua primeira glória no tricolor carioca, foi integrar o time tricampeão estadual em 1936, 1937 e 1938.

Tim disputou a Copa do Mundo de 1938 na França. Após, voltou ao Rio de Janeiro para ser bicampeão do Campeonato Carioca em 1940 e 1941. Ainda pelo Fluminense, este meia-apoiador, fez 71 gols em 226 partidas.

Em 1942 foi disputar a Copa América pela Seleção Brasileira em Buenos Aires, e voltou com o prestígio redobrado, por suas grandes atuações, que levaram os argentinos a o apelidarem de "El Peón", por "conduzir o time brasileiro como um peão (peón) conduz a sua manada". Naquela Copa América o Brasil terminou em 3º Lugar.

Em 1944 aposentou-se da Seleção Brasileira, deixando sua vaga para Jair da Rosa Pinto. No mesmo ano transferiu-se para o São Paulo, onde jogaria até 1947, ano em que transferiu-se para o Botafogo do Rio de Janeiro. Ainda nesse ano, foi jogar e treinar, ao mesmo tempo, a equipe do Olaria. A ocupação do cargo de técnico-jogador do time carioca durou até 1948, quando Tim foi ocupar o mesmo cargo no Botafogo de Ribeirão Preto, ficando no clube de 1948 até 1950.

Tim, como técnico do Vasco da Gama, orientando o jogador Dé.

Encerrou sua carreira como jogador em 1950, na Colômbia, então o Eldorado do futebol sul-americano. Tornou-se em seguida técnico, posição que confirmou sua fama como um dos grandes estrategistas do futebol brasileirom treinando o Bangu, depois o Fluminense, Vasco, Flamengo, Coritiba, Botafogo, San Lorenzo (ARG), São José/SP e Inter de Limeira/SP.

Em 1982, assumiu a Seleção Peruana de Futebol, quando esta não vivia um bom momento. Tim, porém, reorganizou a equipe, e conseguiu fazer com que o time se classificasse para a Copa de 1982. Nesta copa, o Peru, nos três jogos que fez, conseguiu dois empates, contra Camarões (0x0) e Itália (1x1), mas acabou derrotada pela Polônia (5x1).

Tim víria a falecer em 7 de julho de 1984, na cidade do Rio de Janeiro.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.
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