terça-feira, 11 de outubro de 2011

O milagre

Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu o boato do milagre.

É sempre assim. Começa com um simples boato, mas logo o povo — sofredor, coitadinho, e pronto a acreditar em algo capaz de minorar sua perene chateação — passa a torcer para que o boato se transforme numa realidade, para poder fazer do milagre a sua esperança.

Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso, homem bom, tranqüilo, amigo da gente simples, que fora em vida um misto de sacerdote, conselheiro, médico, financiador dos necessitados e até advogado dos pobres, nas suas eternas questões com os poderosos. Fora, enfim, um sacerdote na expressão do termo: fizera de sua vida um apostolado.

Um dia o vigário morreu. Ficou a saudade morando com a gente do lugar. E era em sinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal e qual o deixara. Era um quartinho modesto, atrás da venda. Um catre (porque em histórias assim a cama do personagem chama-se catre), uma cadeira, um armário tosco, alguns livros. O quarto do vigário ficou sendo uma espécie de monumento à sua memória, já que a Prefeitura local não tinha verba para erguer sua estátua.

E foi quando um dia... ou melhor, uma noite, deu-se o milagre. No quarto dos fundos da venda, no quarto que fora do padre, na mesma hora em que o padre costumava acender uma vela para ler seu breviário, apareceu uma vela acesa.

— Milagre!!! — quiseram todos.

E milagre ficou sendo, porque uma senhora que tinha o filho doente, logo se ajoelhou do lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu pela criança. Ao chegar em casa, depois do pedido — conta-se — a senhora encontrou o filho brincando, fagueiro.

— Milagre!!! — repetiram todos. E o grito de "Milagre!!!" reboou por sobre montes e rios, vales e florestas, indo soar no ouvi¬do de outras gentes, de outros povoados. E logo começaram as romarias.

Vinha gente de longe pedir! Chegava povo de tudo quanto é canto e ficava ali plantado, junto à janela, aguardando a luz da vela. Outros padres, coronéis, até deputados, para oficializar o milagre. E quando eram mais ou menos seis da tarde, hora em que o bondoso sacerdote costumava acender sua vela... a vela se acendia e começavam as orações. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, homens e mulheres, civis e militares caíam de joelhos, pedindo.

Com o passar do tempo a coisa arrefeceu. Muitos foram os casos de doenças curadas, de heranças conseguidas, de triunfos os mais diversos. Mas, como tudo passa, depois de alguns anos passaram também as romarias. Foi diminuindo a fama do milagre e ficou, apenas, mais folclore na lembrança do povo.

O lugarejo não mudou nada. Continua igualzinho como era, e ainda existe, atrás da venda, o quarto que fora do padre. Passamos outro dia por lá. Entramos na venda e pedimos ao português, seu dono, que vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar no peso, que nos servisse uma cerveja. O português, então, berrou para um pretinho, que arrumava latas de goiabada numa prateleira:

— Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!

Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre naquele afilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinho era Sebastião. Milagre era apelido.

— E por quê? — perguntamos.
— Porque era ele quem acendia a vela, no quarto do padre.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fausto, a Maravilha Negra

Foi Fausto que viveu uma das mais brilhantes e trágicas histórias do futebol brasileiro. Começou a carreira no Bangu, mas seu futebol logo chamou a atenção do Vasco. Possuía um domínio de bola elegante, fazia passes precisos e exercia um comando incontestável, qualidades que o tornaram um dos maiores meio-campistas de todos os tempos, tanto que, na Copa de 1930, passou a ser chamado de Maravilha Negra. Toda sua carreira, entretanto, foi marcada por constantes problemas de saúde e pela revolta contra o preconceito e a pobreza, mostrada em campo através de seguidas expulsões.

Fausto (Fausto dos Santos), futebolista, nasceu em Codó, Maranhão, em 28/01/1905, e faleceu na cidade de Santos Dumont, Minas Gerais, em 28/03/1939. Media 1,86m e pesava 75 kg e era um centromédio de muita disposição, grande técnica, habilidade, liderava o meio de campo de sua equipe com muita elegância e tinha precisão no toque de bola.

Foi considerado o melhor jogador de sua posição nas décadas de 1920 e 1930 e por isso na copa de 1930, o jogador despertou a cobiça de vários clubes do exterior. No mundial do Uruguai, em 1930 recebeu a alcunha de "Maravilha Negra" pela crônica esportiva uruguaia devido a sua atuação na copa de 1930.

Iniciou sua carreira defendendo o Bangu em 1926 e no início de 1929 chega ao Vasco da Gama, onde foi campeão neste mesmo ano. Durante uma excursão do Vasco à Espanha impressionou tanto pelo futebol apresentado que o Barcelona o contratou imediatamente em 1931.

No clube espanhol sofreu atos discriminatórios pelo fato de ser negro, após um ano na Espanha transferiu-se para atuar pelo Young Fellows, da Suíça, em 1934 chega para defender o Nacional, do Uruguai e em 1935 retornou ao Vasco, já com o profissionalismo já instalado no país

Em 1936 foi contratado pelo Flamengo, permanecendo neste clube até 1938, onde disputou 80 jogos e marcou um gol. 

Não disputou o Mundial de 1934 porque era profissional e o de 1938 por causa de uma gripe – na realidade, uma manifestação da tuberculose que o iria matar. Em busca de riqueza e reconhecimento, só encontrou pobreza e preconceito.

Morreu em 1939, aos 34 anos.

Fontes: Wikipédia; Revista Placar.
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Constelação de Garotos

Cruzeiro Campeão da Taça Brasil de 1966  -  Em pé: Neco, Pedro Paulo, William, Procopio, Piazza e Raul. Agachados: Natal, Tostão, Evaldo, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira.
"Quem poderia esperar que um time de garotos recém-saídos do juvenil pudesse impor alguma resistência ao Santos de Pelé‘? Ninguém. Só mesmo Tostão, 19 anos, Dirceu Lopes, 20, e Wilson Piazza, 23, eram atrevidos o bastante para apostar no time do Cruzeiro na decisão da Taça Brasil de 1966. Apostaram e ganharam. Naquele campeonato, o país inteiro pôde testemunhar o nascimento da mais brilhante geração de jogadores do final dos anos 60.

O esquadrão cruzeirense tinha a segurança de Raul, o goleiro que inovou com as camisas amarelas, uma zaga às vezes violenta e um ataque infernal. Que o digam os atleticanos, que tiveram que assistir impotentes ao pentacampeonato do Cruzeiro entre 1965 e 1969.

Que o digam os craques do Santos, derrotados por 6 a 2 no Mineirão e por 3 a 2, de virada, no Pacaembu. Aquele Cruzeiro realmente valia ouro: Raul; Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira.

Brilho das Américas

Quando Tostão foi para o Vasco e, em seguida, abandonou o futebol, o Cruzeiro ainda teve fôlego para formar outro timaço com a chegada de Jairzinho e a ascensão de Palhinha, Joãozinho e Nelinho. Uma equipe que venceu a Libertadores da América em 1976 e só não ganhou o título mundial porque teve de enfrentar o Bayern de Munique num campo coberto de neve. O Cruzeiro jogava com Raul; Nelinho, Morais, Darci e Vanderlei; Wilson Piazza e Zé Carlos; Eduardo, Palhinha, Jairzinho e Joãozinho.

Fonte: Revista Placar.
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