sábado, 24 de setembro de 2011

Nathaniel Hawthorne


A ficção de Nathaniel Hawthorne, cuja sólida construção estilística fez dele o primeiro grande romancista dos Estados Unidos, apresenta os dilemas morais de personagens que, cerceados por uma sociedade puritana, buscam afirmar o direito à liberdade afetiva.

Nathaniel Hawthorne nasceu em 4 de julho de 1804 em Salem, Massachusetts, numa tradicional família puritana. Órfão de pai aos quatro anos, foi criado pela mãe em ambiente soturno, propício à angústia e à imaginação. Enclausurou-se na casa materna por cerca de 12 anos, dedicado a ler e a escrever.

Em 1836, deixou a reclusão em Salem e transferiu-se para Boston, como funcionário da alfândega. Nessa época lançou Twice-Told Tales (1837; Histórias contadas duas vezes). Em 1853, foi nomeado cônsul em Liverpool, na Inglaterra. Viveu na Europa até 1860.

Hawthorne voltou-se sobre si mesmo, sobre seus semelhantes e o passado com tão agudo interesse psicológico que realizou uma obra realista com a própria matéria-prima irracional dos labirintos teológicos e oníricos.

Introspectivo, torturado pelos resíduos de uma ética protestante sombria e provinciana, conseguiu revivê-la na paisagem da Nova Inglaterra do período colonial, no cenário exterior austero e triste e no fundo nebuloso e recalcado do psiquismo de seus personagens.

Hawthorne desce aos segredos do subconsciente reprimido, à tensão dos impulsos contraditórios, à angústia que transita da inocência à perversidade. É um moralista da ambigüidade, estilista que se expõe em recortes autobiográficos profundos.

Sua obra-prima, The Scarlet Letter (1850; A letra escarlate), é um romance histórico, ambientado nos Estados Unidos do século XVII. Em The House of the Seven Gables (1851; A casa das sete torres), aborda problemas de consciência, na história da maldição que persegue uma família. São ainda conflitos morais que desencadeiam a tragédia de The Marble Faun (1860; O fauno de mármore), romance repleto de intenções simbólicas.

Hawthorne morreu em 10 de maio de 1864, em Plymouth, New Hampshire.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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Feitiço cigano

Ao lado do velho carroção, Berta remota um cachimbo tão velho quanto ela, que no dizer dos ciganos de sua tribo era tão velha quanto o tempo. No acampamento, ao lado leste das torres do Castelo de Epsnein, a planície desdobrava-se num lençol verde, batido àquela hora pela luz do luar.

Berta apertou mais os olhos miudinhos e fitou um ponto negro que avançava como uma flecha em sua direção. Era Jaino, o coxo, que vinha a toda brida, trazendo-lhe notícias de Zínara.

A velha cigana esperou que o acólito apeasse e então indagou com a voz roufenha, mais se assemelhando a um lamento fúnebre:

- Então, capeta... onde se mete aquela vagabunda?

Jaino abaixou a cabeça, riscou o chão três vezes em sinal de respeito, com a ponta do polegar, e falou excitado:

- Vi-a entrando no castelo pela porta que dá para o lado do rio. Berta retorceu o rosto numa expressão indefinida e os cabelos pardos eriçaram-se. Jaino afastou se temeroso. Sabia que quando aquilo ocorria, Berta entrava em comunicação direta com os seres das trevas!

Depois, olhando a lua boiando num firmamento muito azul, a velha praguejou alto e repetiu as palavras misteriosas da cabala. E num assomo de raiva, berrou para Jaino:

- Vai, desgraçado. Volte para lá e fique vigiando até a hora em que ela sair. Não a deixe vê-lo... e faça como mandei.

Claudicando da perna esquerda, um defeito que trazia de berço, Jaino azulou imediatamente, curtindo no fundo um sentimento de ódio e despeito. Também como os demais de sua tribo, era apaixonado por Zínara e não conseguia resistir aos encantos que sua beleza selvagem expandia.

Aceitara trabalhar de comum acordo com Berta a fim de poder obter a sua cota de vingança... pois desde há seis meses, quando o grupo se instalara próximo ao castelo, Zínara dera sinais de fraqueza evidente... enamorando-se de Robert Wall, filho de Lord de Epsnein. Aquilo motivara revolta geral no selo da tribo, mas ninguém tinha coragem de censurá-la... temendo perder suas atenções. Agora, era chegada a hora da vingança!

Às cinco horas da manhã, Jaino viu o portão abrir-se e por ele deslizar furtivamente a figura esbelta da bela cigana. E seus olhos arderam de ódio e o coração ameaçou sufocá-lo enquanto a mão apertava ardorosamente o cabo de prata do punhal húngaro.

Zínara atravessava agora a metade do campo. Seus cabelos vinham soltos, soprados pela brisa suave da manhã e os raios da aurora tornavam mais excitantes sua pele morena, refrescada pela noite que passara nos braços de Robert Wall.

Jaino lutou consigo mesmo. Sabia o que era preciso fazer... mas faltava-lhe a força necessária. Bateu duas ou três vezes contra o solo e invocou a figura de Berta. Quase subitamente, do canto de uma pequena sebe, viu subir uma labareda arroxeada e sentiu um forte cheiro de alho... Sabia que Berta estava ali em corpo mental. Em pequenas convulsões, viu-se repentinamente envolvido pela chama fria e temeu que fosse perder a consciência.

Zínara estava bem próxima agora. Um instinto secreto advertia-o de que era preciso agir com rapidez e segurança para evitar qualquer reação da parte da moça. Uma palavra de perdão que fosse proferida por ela, quebraria nele as forças do mal que o encantavam. Mas, tal coisa não aconteceu. O que viu depois de um salto felino e de haver sua mão mergulhado de duas a três vezes no peito da cigana foram os olhos vidrarem-se e uma golfada de sangue inundar-lhe o rosto.

Morta, a cigana caiu sem um grito de dor. Seu corpo ficou no chão estendido, enquanto Jaino fugia a toda velocidade em direção ao acampamento.

Iniciavam-se os primeiros movimentos da manhã, agitando a vida da comunidade, quando o rapaz chegou espavorido, banhado em sangue. O primeiro a vê-lo assim foi Dormik, o tocador de flauta e, reconhecidamente, o maior enamorado de Zínara.

- Louvado, Jaino! Que houve? Está ferido?

Tomando de súbito pânico, o rapaz negaceou com a cabeça e, sem prestar atenção ao que dizia, afirmou:

- Oh não! Matei Zínara. Está lá no bosque com o peito aberto!

Nada poderia ter maior força do que aquelas palavras que funcionaram como um impulsionador mágico. Imediatamente toda a tribo foi to-mada de incontido alvoroço. E ali mesmo, iniciaram o julgamento cigano: os mais velhos sentaram no interior de um círculo feito a giz, tendo os jovens à sua volta. A sentença partia do meio do círculo e era atirada contra os mais jovens em torno.

Movendo os lábios em sussurros, os anciãos discutiam. Depois, de acordo com o decidido, era atirado para cima um búzio preto ou branco: o primeiro condenava o acusado à morte; o segundo, bania-o para sempre. Os dois juntos, ao mesmo tempo, significavam absolvição.

A mente de Jaino estava por demais perturbada para prestar atenção a esses detalhes e somente quando o búzio preto foi lançado ao ar, pôde compreender que iria morrer.

Tomado de pânico, gritou por Berta, pedindo-lhe socorro, mas nem uma palha moveu-se. A velha cigana continuava imóvel, sentada no seu canto sem mostrar a menor preocupação pela sorte de Jaino.

Ouvindo a risada da turba, Jaino foi levado a uma árvore próxima, no tombo de um cavalo e tendo a corda passada no pescoço. Num movimento rápido, o carrasco alçou um galho forte e depois de proferidas as palavras do Wandor preparou-se para espalmar o animal, deixando o condenado balançando-se pelo pescoço na ponta da corda. Súbito, alguém lembrou-se:

- Vamos buscar o corpo de Zínara para que esteja presente à execução!

- Não - gritou Berta - saindo do seu horrível mutismo. - Eu mesma irei.

- Como tu, velha bruxa? Não tens forças nem para...

Berta lançou um olhar gelado sobre o audacioso e ele se catou enco-lhendo-se acovardado a um canto do grupo. Em seguida, a velha sumiu na planície. Mas, a impaciência, o ódio e a revolta gerados no coração da turba não podiam esperar mais. A figura de Jaino era um desafio brutal às lembranças amorosas destruídas com a morte de Zínara. E por que mantê-lo vivo por mais tempo? Sim, por quê?

Um par de mãos vigorosas assustou o animal, fazendo-o sair a galope. Um tranco forte deteve a vítima na ponta do baraço... E momentos antes de expirar para sempre, ainda viu, surpreso, como os demais, a figura esbelta da bonita cigana surgindo da planície como se nada lhe tivesse acontecido... trazendo sobre os ombros o corpo inerte da velha Berta.

Depois, atirando um largo sorriso à todos, a cigana aproximou-se de Jaino, que já exalava o último suspiro e disse baixinho para que ninguém a ouvisse:

- Obrigada, Jaino. Agora poderei viver mais cem anos!...

Só então, Jaino reconheceu em Zínara a voz roufenha e cavernosa de Berta. Mas aí... já era tarde. Tarde demais para arrepender-se!

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por Normam B. Peace
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Araken Patuska

Abraham Patuska da Silveira, conhecido como Araken Patuska, ou simplesmente Araken (Santos, SP, 17 de julho de 1905 — idem, 24 de janeiro de 1990) foi um craque do Santos Futebol Clube, muito antes do nosso querido Pelé.  Jogou no Santos, no São Paulo e no Flamengo. Era irmão de Ary Patuska, grande atacante do clube no período de 1915-1923.

Fez parte do primeiro time do Santos a entrar para a história, muito antes da era Pelé. Em 1927 formou com Siriri, Camarão, Feitiço e Evangelista o ataque dos cem gols dos quais 31 pertenceram a ele.

O fato desses jogadores terem marcado 100 gols em uma edição de Campeonato Paulista já seria algo marcante mas, o que chamou mesmo a atenção, foi o fato de terem levado apenas 16 partidas para alcançar esse número, resultando em uma média fantástica de 6,25 gols por partida que, até hoje, é recorde mundial de média de gols marcados em um campeonato oficial.

O ingresso de Araken no futebol teve um fato curioso: Araken estava na Vila Belmiro vendo o jogo amistoso entre Santos e Jundiaí, ele era filho do então presidente do Santos, Sizino Patusca, e foi posto para jogar em lugar de Edgar da Silva Marques, que havia passado mal momentos antes da partida. Araken, na época com apenas quinze anos, foi responsável por quatro dos cinco gols do Santos, no empate com o Jundiaí: 5 a 5.

Aumentou sua fama quando foi emprestado pelo Santos para participar de uma excursão à Europa, em 1925, do Paulistano, clube que não se profissionalizou. Jogando ao lado de outro craque, Arthur Friedenreich, o ótimo desempenho levou a que os jogadores brasileiros fossem chamados de "reis do futebol" pelos jornais franceses. Vaidoso, gostava de jogar usando uma boina.

Dono de um futebol rápido e elegante, Araken foi três vezes vice-campeão do Campeonato Paulista pelo Santos: 1927, 1928 e 1929. Nesse clube seria campeão somente em 1935, marcando um gol na última partida do campeonato, em São Paulo, contra o Corinthians, vencida por 2 a 0.

Foi o único jogador paulista a defender a seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1930 no Uruguai. Na ocasião, Araken estava brigado com o Santos e aproveitando a passagem do selecionado pelo porto da cidade, a caminho de Montevidéu, integrou-se ao elenco, contrariando os dirigentes paulistas. Sem contar com sua força máxima, o Brasil foi eliminado logo na primeira fase, sendo ele criticado pelos outros jogadores da seleção, que o teriam chamado de "bailarino".

Araken Patusca escreveu um livro sobre a brilhante atuação do Paulistano em campos europeus com o título de "Os reis do futebol".

Fonte: Wikipedia.
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