domingo, 18 de setembro de 2011

Armada do Dragão

No outono de 2001, em um pequeno antiquário da cidade de Xangai, estava pendurado na parede, entre outras relíquias, um velho mapa-múndi (figura ao lado) acumulado de poeira. Os olhos atentos de Liu Gang, um dos mais respeitados advogados corporativos da China e colecionador de antiguidades nas horas vagas, examinando o achado, logo notou algo estranho.

O mapa estava coberto de anotações em caracteres chineses e uma delas continha a data em que foi desenhado - 1763. Mais abaixo, lia-se: "O cartógrafo Mo Yi Tong copiou este mapa a partir de um original de 1418". A informação era um contra-senso - pelo menos no que dizia respeito à história que se aprende nas lições escolares. Porque o mapa mostrava, com riqueza de detalhes, as Américas e a Austrália. Ou seja, todo o "Novo Mundo", supostamente descoberto por exploradores europeus a partir de 1492, na aventura de conquista que ficou conhecida como Era dos Descobrimentos.

Liu Gang pagou US$ 500, uma pechincha no mercado de antiguidades chinesas, e levou o mapa para casa. Durante os 3 anos seguintes, ficou se perguntando se o documento não seria uma farsa. Até que um dia leu o livro 1421 - O Ano em Que a China Descobriu o Mundo, do ex-oficial da Marinha britânica e historiador diletante, Gavin Menzies (escrita em 2002, a obra também foi lançada no Brasil).

Embora nunca tivesse ouvido falar do mapa de Liu Gang, Menzies defendia uma tese que lhe caía como uma luva. A partir de uma pesquisa feita ao longo de 14 anos em diversas partes domundo, o ex-marinheiro concluiu que aquilo que os historiadores ocidentais diziam há centenas de anos estava errado: foram os chineses os primeiros exploradores a alcançar o Novo Mundo - e isso quando Cristóvão Colombo nem era nascido.

Revelado à comunidade científica em janeiro de 2006, o mapa do honorável Liu Gang incendiou manchetes e controvérsias ao redor do mundo. Para alguns, não passava de farsa; para outros, era mais uma entre muitas chibatadas no velho mito dos descobrimentos europeus.

A armada fantástica

No início do século 15, a China era, de longe, a nação mais avançada da Terra: seus exércitos já empunhavam armas de fogo quando ingleses, portugueses e espanhóis ainda se espetavam com lanças e flechas. E o maior contraste entre o avanço da China e o atraso europeu estava na engenharia naval.

Xilogravura chinesa do séc. XVII, que se crê representar a frota de Zheng He.
Por volta de 1400, Zhong Di, o imperador que levou a dinastia Ming ao seu auge econômico, construiu uma frota de 300 ba chuan ou "navios de tesouro" - monstros náuticos com 150 metros de comprimento. Relatos da época dizem que, ao serem lançados ao mar, os navios colossais pareciam uma cidade flutuante. Eram, sem dúvida, as maiores e mais mortíferas embarcações já feitas pelo homem até então.

A armada fantástica fez várias viagens pelo oceano Índico, entre 1400 e 1430. A mais famosa partiu de Nanquim no dia 3 de março de 1421, sob o comando do bravo almirante Zheng He, chinês de família muçulmana e eunuco. Os relatos oficiais dizem que o capitão eunuco navegou pela costa da África e deu meia volta nas proximidades da Tanzânia, no leste do continente. Isso não é pouco: o percurso, de 16 mil quilômetros, é praticamente o dobro da distância entre Brasil e Portugal.

Mas, desde 2002, quando lançou o livro 1421..., Gavin Menzies vem divulgando a teoria de que a armada de Zheng He seguiu adiante e contornou o Cabo da Boa Esperança, 60 anos antes que Bartolomeu Dias fizesse o mesmo no sentido contrário. Dali, os chineses teriam se lançado à descoberta do Novo Mundo. Contornar o cabo não seria um desafio tão grande para o ba chuan. A travessia ali é muito mais uma questão de força do que de jeito - não bastava ser um grande navegador, mas era preciso ter uma embarcação capaz de suportar a força dos ventos e das ondas nas "tormentas".

A partir dali, a jornada seria facilitada graças à corrente de Bengala, que sobe pela costa da África, começando no Cabo da Boa Esperança. "O navegante que chegasse ao cabo, vindo do leste, seria levado pela corrente para o norte por 4 800 quilômetros", escreve Menzies. Nessa altura, o navio pegaria carona em outra corrente marítima - a Sul-Equatorial, que faz uma curva para o oeste e desemboca exatamente no norte do Brasil.

Menzies calculou que a armada chinesa tenha passado pelo litoral do Maranhão ou de Pernambuco em setembro de 1421. Não há como saber se houve desembarque, mas Menzies apostou que os chineses toparam com os índios brasileiros e inclusive ficaram bem íntimos das índias: pesquisas feitas por geneticistas americanos no ano 2000 encontraram semelhannças entre genes chineses e de tribos do Mato Grosso do Sul.

Além disso, sabe-se que tribos da Bacia Amazônica sofrem de uma doença chamada chimbere, que causa marcas concêntricas na pele, parecidas com tatuagens. A doença só ataca pessoas com predisposição genética, é passada de pai para filho, e o único lugar onde a situação se repete é o leste da Ásia - lá, a enfermidade se chama tokelau. "O chimbere sul-americano e o tokelau asiático são provas de que houve contato entre as regiões antes da chegada dos europeus", escreveu o geógrafo francês Max Sorre em A Luta Contra o Meio, ensaio científico publicado em 1967 - bem antes de Menzies começar suas pesquisas. Depois de espalhar seus genes pelo Brasil, os chineses teriam entrado no Pacífico pelo sul da Argentina. Dali, foi só fazer a volta ao mundo. E ainda, bem no finzinho da viagem, Menzies acreditou que eles desembarcaram na Austrália.

Em 1965, exploradores desenterraram um enorme leme de navio, com cerca de 12 metros da altura, no estado australiano de Nova Gales do Sul. "Somente um ba chuan teria um leme tão grande", escreveu Menzies, que também apostou no encontro entre os descobridores chineses e os nativos da Oceania. Tanto os aborígenes da Austrália quanto os maoris, povo que vive na Nova Zelândia, contam lendas sobre um grupo de navegantes, "vestidos em longas túnicas", que teria desembarcado em suas terras antes dos europeus (por sinal, há relatos chineses sugerindo que a Austrália já tinha sido descoberta até antes de 1421).

Mas, se tudo isso aconteceu, então por que Brasil e Austrália não falam mandarim e por que não comemos nossos pratos com a ajuda de pauzinhos? A resposta está no amargo regresso de Zheng He à China em 1423. Zhong Di, patrono das navegações, fora derrubado por uma rebelião - e o novo soberano decidiu que conquistar o mundo estava onerando os cofres imperiais.

A marinha chinesa foi praticamente desativada e a maior parte dos documentos relativos à viagem de Zheng He foram queimados pelos censores do novo imperador, que queria desestimular extravagâncias futuras apagando os vestígios das passadas. A China desistiu de conhecer o mundo e decidiu se voltar para dentro, transformando a figura de Zheng He num tabu nacional, representante das tendências expansionistas e contrárias à idéia confuciana de que a China tinha de ficar fechada à influência dos "bárbaros".

Abandonadas ao léu, as colônias chinesas no Novo Mundo definharam, e sua memória se perdeu. Pelo menos até agora.

Fontes: Os descobridores do Novo Mundo - Passeiweb; Revista Superinteressante; Wikipedia.
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Irmãos Grimm

Os contos populares recolhidos pelos irmãos Grimm, como "João e Maria", "Branca de Neve e os sete anões" e "Os músicos de Bremen", têm encantado leitores de todas as idades e épocas. As duas coletâneas que prepararam constituem o marco inicial do estudo rigoroso do folclore.

Jacob Ludwig Carl e Wilhelm Carl Grimm nasceram em Hanau, Alemanha, em 4 de janeiro de 1785 e 24 de fevereiro de 1786, respectivamente. Estudaram direito na Universidade de Marburg mas notabilizaram-se como pesquisadores e filólogos.

Infuenciados pelo romantismo, reuniram cerca de 200 contos e lendas populares que publicaram sob o título de Kinder-und Hausmärchen (1812-1815; Contos de fadas para crianças). A obra, que incluía um importante aparato crítico, alcançou grande êxito no mundo todo e foi seguida de um trabalho de características semelhantes, Deutsche Sagen (1816-1818; Lendas alemãs).

Em 1819, Jacob Grimm deu início a uma obra de grande envergadura, a Deutsche Grammatik (1819-1837; Gramática alemã), na qual enunciou a "lei de Grimm", que estabelece o princípio da regularidade das leis fonéticas.

As pesquisas dos irmãos Grimm levaram ainda à descoberta da metafonia (história da palatização das vogais) e da apofonia (explicação das estruturas verbais a partir das variações vocálicas). Pode-se dizer que toda a germanística moderna deriva de sua obra.

Em 1829, os irmãos foram nomeados professores e bibliotecários da Universidade de Göttingen. Ali Jacob escreveu o tratado Deutsche Mythologie (1835; Mitologia alemã).

Em 1837 foram destituídos de seus cargos por terem assinado o protesto dos "sete de Göttingen", dirigido contra o rei de Hannover, por haver ele suprimido a constituição.

Depois de viverem três anos em Kassel, os irmãos Grimm mudaram-se para Berlim, onde iniciaram seu trabalho mais ambicioso: o Deutsches Wörterbuch (Dicionário alemão). A obra, cujo primeiro fascículo apareceu em 1852, não pôde ser terminada por eles.

Wilhelm Grimm morreu em Berlim, em 16 de dezembro de 1859. Jacob morreu na mesma cidade, em 20 de setembro de 1863.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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O predecessor de Marco Polo

Marco Polo, apesar de sua fama, não foi o primeiro europeu a ser recebido na corte do imperador mongol, que dominava a maior parte da Ásia no século XIII. O pioneiro foi um monge franciscano natural de Rubruck, Flandres, chamado Guilherme de Rubruck. O religioso foi também o primeiro a descrever detalhadamente sua viagem ao maior império do Oriente.

Guilherme de Rubruck ou Guillaume de Rubrouck (c. 1220 - c. 1293), monge missionário e explorador, é autor de um relato importante sobre suas viagens pela Ásia, obra de destaque na literatura geográfica medieval. Em 1248 acompanhou Luís IX da França na Sétima Cruzada.

Em sete de maio de 1253, sob ordens de Luís, partiu de Constantinopla numa viagem missionária para converter os tártaros (veja mapa abaixo), seguindo a rota de uma viagem anterior do missionário húngaro frei Juliano. No grupo de Guilherme estava Bartolomeo da Cremona, um criado chamado Gosset, um intérprete chamado de Homo Dei ("homem de Deus", em latim, tradução literal do árabe Abdullah).


Depois de alcançar a cidade de Sudak, na Criméia, Guilherme continuou sua jornada em carros de boi. Após cruzar o rio Don, encontrou-se com Sartaq Kahn, soberano de Kiptchak. O Kahn enviou Guilherme a seu pai, Batu Kahn, em Sarai, próximo ao Volga. Cinco semanas mais tarde, depois de sua partida de Sudak, chegou ao acampamento de Batu Kahn, soberano mongol da região do Volga, que se recusou a ser convertido, porém enviou seus embaixadores ao grande Mangu Kahn mongol.

Partiu a cavalo, juntamente com seus companheiros, em 16 de setembro de 1253, numa viagem de 9.000 quilômetros até a corte do Grande Kahn, em Caracórum. Ao chegar foi recebido com honras, e ficou no acampamento do Kahn até 10 de julho de 1254, quando iniciou sua longa viagem de volta. Guilherme e seus companheiros chegaram ao Estado Cruzado de Trípoli em 15 de agosto de 1255.

Guilherme de Rubruck integrou a quarta missão européia aos mongóis; antes dele Giovanni da Pian del Carpine e Ascelino da Lombardia, em 1245, e André de Longjumeau, em 1249, haviam sido enviados. O rei foi encorajado a enviar outra missão depois de relatos da presença de cristãos nestorianos na corte mongol.

Ao retornar, presenteou o rei com um relato muito claro e preciso intitulado Itinerarium fratris Willielmi de Rubruquis de ordine fratrum Minorum, Galli, Anno gratia 1253 ad partes Orientales. Nele descreveu as peculiaridades da Mongólia, fez várias observações geográficas, o que faz da obra a primeira descrição científica da Ásia Central, além de observações antropológicas, como ao manifestar surpresa com a presença do islamismo na Ásia Interior.

Guilherme também respondeu a uma questão antiga para os europeus da época, ao passar pelo norte do mar Cáspio e provar que ele era um mar interno, e não desaguava no oceano Ártico (embora os primeiros exploradores escandinavos já o possam ter descoberto, ele foi o primeiro a relatar o fato).

A obra de Guilherme está dividida em 40 capítulos; os dez primeiros relatam observações gerais sobre os mongóis e seus costumes. Os capítulos de 11 a 40 apresentam um relato do percurso e dos eventos da viagem. William de Rubruck, bom observador e escritor, costumava fazer muitas perguntas durante sua viagem, e não tomava folclore e fábulas como verdades; seu relatório é uma das grandes obras-primas da literatura geográfica medieval, comparável à de Marco Polo - embora sejam significantemente diferentes.

A um certo ponto de sua estada entre os mongóis, Guilherme entrou numa célebre competição realizada na corte mongol, onde o cã encorajou um debate formal entre cristãos, budistas e muçulmanos, para determinar qual fé estaria correta, de acordo com três juízes, um de cada fé. O debate atraiu uma grande multidão e, como na maior parte dos eventos mongóis, envolvia grande quantidade de álcool.

Como foi descrito por Jack Weatherford em seu livro Genghis Khan and the Making of the Modern World: “Nenhum dos lados parecia convencer o outro de nada. Finalmente, à medida que os efeitos do álcool tornaram-se mais fortes, os cristãos desistiram de tentar convencer qualquer um com argumentos lógicos, e passaram a cantar.

Os muçulmanos, que não cantavam, responderam recitando em voz alta o Corão, tentando abafar o som dos cristãos, enquanto os budistas entraram em meditação silenciosa. Ao fim do debate, incapazes de converter ou matar-se uns aos outros, concluíram da maneira em que a maior parte era concluída, com todo mundo simplesmente bêbado demais para prosseguir”.

Fontes:  Wikipedia; História Viva.
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