terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Flamengo de 1911

O "team" do Flamengo naquele ano de 1911.
Corria o ano de 1911. Vejam vocês: - 1911! O bigode do kaiser estava, então, em plena vigência; Mata-Hari, com um seio só, ateava paixões e suicídios; e as mulheres, aqui e alhures, usavam umas ancas imensas e intransportáveis. Aliás, diga-se de passagem: - é impossível não ter uma funda nostalgia dos quadris anteriores à Primeira Grande Guerra. Uma menina de catorze anos para atravessar uma porta tinha que se pôr de perfil.

Convenhamos: - grande época! grande época! Pois bem. Foi em 1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira audição e do busto unilateral de Mata-Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo retifico: - nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradição náutica.

Em 1911, aconteceu uma briga no Fluminense. Discute daqui, dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: - cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo de regatas, o Flamengo de futebol.

Naquele tempo tudo era diferente. Por exemplo: - a torcida tinha uma ênfase, uma grandiloqüência de ópera. E acontecia esta coisa sublime: - quando havia um gol, as mulheres rolavam em ataques. Eis o que empobrece liricamente o futebol atual: - a inexistência do histerismo feminino. Difícil, muito difícil, achar-se uma torcedora histérica. Por sua vez, os homens torciam como espanhóis de anedota. E os jogadores? Ah, os jogadores! A bola tinha uma importância relativa ou nula. Quantas vezes o craque esquecia a pelota e saía em frente, ceifando, dizimando, assassinando canelas, rins, tórax e baços adversários? Hoje, o homem está muito desvirilizado e já não aceita a ferocidade dos velhos tempos. Mas raciocinemos: - em 1911, ninguém bebia um copo d’água sem paixão.

Passou-se. E o Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911. Admite, é claro, as convenções disciplinares que o futebol moderno exige. Mas o comportamento interior, a gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais. Essa fixação no tempo explica a tremenda força rubro-negra. Note-se: - não se trata de um fenômeno apenas do jogador. Mas do torcedor também. Aliás, time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra como um césar apunhalado.

Também é de 1911, da mentalidade anterior à Primeira Grande Guerra, o amor às cores do clube. Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: - quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados, batidos.

Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.”
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Nelson Rodrigues (Nelson Falcão Rodrigues), dramaturgo, jornalista e escritor, nasceu na cidade do Recife, PE, em 23/08/1912, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21/12/1980. Oriundo da capital pernambucana e quinto de quatorze irmãos, Nelson Rodrigues mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida. Seu pai, o ex-deputado federal e jornalista Mário Rodrigues, perseguido politicamente, resolveu estabelecer-se na então capital federal em julho de 1916, empregando-se no jornal Correio da Manhã, de propriedade de Edmundo Bittencourt.
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Casal de três

Nelson Rodrigues
O sogro era um santo e patusco cidadão. Assim que o viu arremessou-se, de braços abertos:

- Como vai essa figura? Bem?

Filadelfo abraçou e deixou-se abraçar. E rosnou, lúgubre:

- Essa figura vai mal.

Espanto do sogro:

- Por que, carambolas? - E insistia: - Vai mal por quê?

Caminhando pela calçada, lado a lado com o velho bom e barrigudo, Filadelfo foi enumerando as suas provações, só comparáveis às de Job:

- É o gênio de sua filha. Sou desacatado, a três por dois Qualquer dia apanho na cara!

Dr. Magarão assentiu, grave e consternado:

- Compreendo, compreendo. - Suspira, admitindo: - Puxou á mãe. Gênio igualzinho. A mãe também é assim!

Súbito Filadelfo estaca. Põe a mão no ombro do outro; interpela-o:

- Quero que o senhor me responda o seguinte: isso está certo? É direito?

O velho engasga:

- Bem. Direito, propriamente, não sei. - Medita e pergunta: - Você quer uma opinião sincera? Batata? Quer?

- Quero.

E o sogro:

- Então, vamos tomar qualquer coisa ali adiante. Vou te dizer umas coisas que todo homem casado devia saber.

TEORIA

Entram num pequeno bar, ocupam uma mesa discreta. Enquanto o garçon vai e vem, com uma cerveja e dois copos, dr.Magarão comenta:

- Você sabe que eu sou casado, claro. Muito bem. E, além da minha experiência, vejo a dos outros. Descobri que toda mulher honesta é assim mesmo.

Espanto de Filadelfo:

- Assim como?

O gordo continua:

- Como minha filha. Sem tirar, nem pôr. Você, meu caro, desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste azeda e neurastênica.

Filadelfo recua na cadeira:

- Tem dó! Essa não! - E repetia, de olhos esbugalhados, lambendo a espuma da cerveja: - Essa, não!

Mas o sogro insistiu. Pergunta:

- Sabe qual foi a esposa mais amável que eu já vi na minha vida? Sabe? Foi uma que traia o marido com a metade do Rio de Janeiro, inclusive comigo! - Espalmou a mão no próprio peito, numa feroz satisfação retrospectiva: - Também comigo! E tratava o marido assim, na palma da mão!

Uma hora depois, saiam os dois do pequeno bar. Dr. Magarão, com sua barriga de ópera-bufa e bêbado, trovejava:

- Você deve se dar por muito satisfeito! Deve lamber os dedos! Dar graças a Deus!

O genro, com as pernas bambas, o olho injetado, resmunga:

- Vou tratar disso!

O DESGRAÇADO

Não mentira ao sogro. Sua vida conjugal era, de fato, de uma melancolia tremenda. Descontado o período da lua-de-mel, que ele estimava em oito dias, nunca mais fora bem tratado. Sofria as mais graves desconsiderações, inclusive na frente de visitas. E, certa vez, durante um jantar com outras pessoas, ela o fulmina, com a seguinte observação, em voz altíssima:

- Vê se pára de mastigar a dentadura, sim?

Houve um constrangimento universal. O pobre do marido, assim desfeiteado, só faltou atirar-se pela janela mais próxima. Após três anos de experiência matrimonial, eleja não esperava mais nada da mulher, senão outros desacatos. E só não compreendia que Jupira, amabilíssima com todo mundo, fizesse uma exceção para ele, que era, justamente, o marido. Depois de Ter deixado o sogro, voltou para casa desesperado.

Chega, abre a porta, sobe a escada e quando entra no quarto recebe a intimação:

- Não acende a luz!

Obedeceu. Tirou a roupa no escuro e, depois, andou caçando o pijama, como um cego. E quando, afinal, pôde deitar-se, fez uma reflexão melancólica: há dez meses ou mesmo um ano que o beijo na boca fora suprimido entre os dois. O máximo que ele, intimidado, se permitia, era roçar com os lábios a face da esposa. Se queria ser carinhoso demais, ela o desiludia: "Na boca não! Não quero!". Outra coisa que o amargurava era o seguinte: a negligência da mulher no lar. Não se enfeitava, não se perfumava. Deitado ao seu lado, ele pensava agora, lembrando-se da teoria do sogro: -"Será que a esposa honesta também precisa cheirar mal?".

MUDANÇA

Um mês depois, ele chega em casa, do trabalho, e acontece uma coisa sem precedentes: a mulher, pintada, perfumada, se atira nos seus braços. Foi uma surpresa tão violenta que Filadelfo perde o equilíbrio e quase cai. Em seguida, ela aperta entre as mãos o seu rosto e o beija na boca, num arrebatamento de namorada, de noiva ou de esposa em lua-de-mel. Ele apanha o jornal, que deixara cair. Maravilhado, pergunta:

- Mas que é isso? Que foi que houve?

Jupira responde com outra pergunta:

- Não gostou?

Ele senta confuso.

- Gostar, gostei, mas... - Ri: - Você não é assim, você não me beija nunca.

Jupira tem um gesto de uma petulância que o delícia: vem sentar-se no seu colo, encosta o rosto no dele. Filadelfo é acariciado. Acaba perguntando:

- Explica este mistério. Aconteceu alguma coisa. Aconteceu?

Ela suspira:

- Mudei ora!

SOFRIMENTO

A princípio, Filadelfo conjeturou: "É hoje só". No dia seguinte, porém, houve a mesma coisa. Ele coçava a cabeça: "Aqui há dente de coelho!". Coincidiu que, por essa ocasião, os seus sogros aparecessem para jantar. Dr.Magarão, enquanto a mulher conversava com a filha, levou o genro para a janela: "Como é? Como vai o negócio aqui?"

Filadelfo exclama: - Estou besta! Estou com a minha cara no chão!

O velho empina a barriga de ópera-bufa: - Por quê?

E o genro: - Tivemos aquela conversa. Pois bem. Jupira mudou. Está uma seda; e me trata que só o senhor vendo!

Ao lado, mascando o charuto apagado, o velho balança a cabeça: - Ótimo!

- O negócio está tão bom, tão gostoso, que eu já começo a desconfiar!

O sogro põe-lhe as duas mãos nos ombros:

- Queres um conselho? De mãe pra filho? Não desconfia de nada, rapaz. Te custa ser cego? Olha! O marido não deve ser o úlrimo a saber, compreendeu? O marido não deve saber nunca!

LUA DE MEL

Seguindo a sugestão do sogro, não quis investigar as causas da mudança da esposa. Tratou de extrair o máximo possível da situação, tanto mais que passara a viver num regime de lua-de-mel.

Dias depois, porém, recebe uma minuciosíssima carta anônima, com dados, nomes, endereços, duma imensa verossimilhança. O missivista desconhecido começava assim: "Tua mulher e o Cunha...". O Cunha era, talvez, o seu maior amigo e jantava três vezes por semana ou, no mínimo, duas, com o casal. A carta anônima dava até o número do edifício e o andar do apartamento em Copacabana onde os amantes se encontravam.

Filadelfo lê aquilo, relê e rasga, em mil pedacinhos, o papel indecoroso. Pensa no Cunha, que é solteiro, simpático, quase bonito e tem bons dentes. Uma conclusão se impõe: sua felicidade conjugal, na última fase, é feita á base do Cunha. Filadelfo continuou sua vida, sem se dar por achado, tanto mais que Jupira revivia, agora, os momentos áureos da lua-de-mel.

Certa vez jantavam os três, quando cai o guardanapo de Filadelfo. Este abaixa-se para apanhar e vê, insofismavelmente, debaixo da mesa, os pés da mulher e do Cunha, numa fusão nupcial, uns por cima dos outros.

Passa-se o tempo e Filadelfo recebe a noticia: o Cunha ficara noivo! Vai para casa, preocupadissimo. E, lá, encontra a mulher de bruços, na cama, aos soluços. Num desespero obtuso, ela diz e repete:

- Eu quero morrer! Eu quero morrer!

Filadelfo olhou só: não fez nenhum comentário. Vai numa gaveta, apanha o revólver e sai á procura do outro. Quando o encontra, cria o dilema:

- Ou você desmancha esse noivado ou dou-lhe um tiro na boca, seu cachorro!

No dia seguinte, o apavorado Cunha escreve uma carta ao futuro sogro, dando o dito por não dito. Á noite, comparecia, escabreado, para jantar com o casal. E, então, à mesa, Filadelfo vira-se para o amigo e decide:

- Você, agora, vem jantar aqui todas as noites!

Quando o Cunha saiu, passada a meia-noite, Jupira atira-se nos braços do marido:

- Você é um amor!
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A nacionalidade de Jesus

Chefes de vários países se encontraram. Todos defendiam que Jesus tinha nascido em seus respectivos países e indicavam as seguintes provas:

Três provas de que Jesus era judeu: – assumiu os negócios do pai – viveu em casa até os 33 anos; – tinha certeza de que a mãe era virgem e a mãe tinha certeza de que ele era Deus.

Três provas de que Jesus era irlandês: – nunca foi casado; – nunca teve emprego fixo; – o último pedido dele foi uma bebida.

Três provas de que Jesus era porto-riquenho: – o nome dele era Jesus – sempre teve problemas com a lei; – a mãe dele não sabia quem era seu pai.

Três provas de que Jesus era italiano: – falava com as mãos; – tomava vinho em todas as refeições – trabalhou no comércio.

Três provas de que Jesus era californiano: – nunca cortou o cabelo; – andava descalço – inventou uma nova religião.

Três provas de que Jesus era francês: – nunca trocava de roupa; – não lavava os pés; – não falava inglês.

Três provas de que Jesus era brasileiro: – nunca tinha dinheiro; – vivia fazendo milagres; – se “ferrou” na mão do governo.

Não foi possível chegar a um consenso sobre a nacionalidade de Jesus, mas todos concordaram com uma coisa:

Judas, com certeza era argentino…

Fonte: http://canaldoadolescente.blogspot.com/2011/07/descubra-nacionalidade-de-jesus.html
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