O jogador Fio e Jorge Ben Jor |
Houve até um jogador Roberto Cunha ponta-direita do Flamengo e do São Cristóvão, que chegou a titular da seleção brasileira, atuando no Sul-Americano de 37 e na Copa do Mundo de 38 (marcou o gol da vitória do Brasil contra a Tchecoslováquia) e que é autor de um samba de relativo sucesso, “Fui a Paris”, gravado por Moreira da Silva em 1942.
Essa mútua admiração acabaria gerando um bom repertório de canções que enaltecem as glórias da seleção, dos clubes e de um sem número de heróis futebolísticos como Leônidas da Silva, Pelé, Garrincha, Zico e... Fio (João Batista de Sales), inspirador de “Fio Maravilha”, que nem seria tão herói assim, jamais tendo se firmado nos times por onde passou. Mas, o flamenguista “doente” Jorge Ben se encantou com a figura desse atacante rubro-negro, dentuço e desengonçado, capaz de mesclar gols de mestre com jogadas bisonhas de principiante.
Então, Ben o colocou nas alturas, homenageando-o com uma criação, cujo refrão empolgante reafirma o seu decantado suíngue: “Fio Maravilha / nós gostamos de você / (...) / Fio Maravilha / faz mais um pra gente ver.” Este último verso se refere a um gol espetacular (“gol de anjo, um verdadeiro gol de placa”), descrito, lance por lance, na primeira parte da composição: “Aos trinta e três minutos do segundo tempo / depois de fazer uma jogada celestial em gol / tabelou, driblou dois zagueiros / deu um toque, driblou o goleiro / só não entrou com bola e tudo / porque teve humildade em gol.”
Só mesmo Jorge Ben para transformar uma narrativa de locutor esportivo em música e Fio em um novo Garrincha... O fato é que “Fio Maravilha” ganhou em 1972 o VII Festival da Canção da Rede Globo, fase nacional, empatado com “Diálogo”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro. Na ocasião a música foi muito bem defendida pela cantora mineira Maria Alcina, até então praticamente desconhecida, que impressionou a platéia com seu jeito extravagante, sua voz andrógina e seu físico, que lembra a antiga vedete Josephine Baker.
Já o VII FIC foi o último do ciclo dos festivais, encerrando assim uma fase auspiciosa da MPB na televisão, com grande proveito para ambas as partes. O mais curioso da história desta canção, porém, ainda estava por acontecer: o homenageado processou o compositor (perdeu a ação em 1973), ocasionando a mudança do título, que passou para “Filho Maravilha”, e a troca do verso “a galera agradecida assim cantava” por “a magnética agradecida assim cantava”.
Jorge Ben, que ainda em 72 lançou o sucesso “Taj Mahal”, depois plagiado por Rod Stewart em “Do Ya’ Think I’m Sexy” tem outras composições futebolísticas — “Zagueiro”, “Camisa 10 da Gávea” (Zico) e “Umbabarauma”, esta sobre o futebol africano (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Fio Maravilha (1972) - Jorge Ben Jor
Tom: F#m Int.: A7+ E5+/7 A7+ F#m D E F#m D E E novamente ele chegou com inspiração F#m D Com muito amor, com emoção E F#m D E Com explosão e gol, gol F#m D E Sacudindo a torcida aos 33 minutos F#m D E Do segundo tempo F#m D E Depois de fazer uma jogada celestial F#m D E Em gol, gol F#m D E Tabelou, driblou dois zagueiros F#m D E Deu um toque driblou o goleiro F#m D Só não entrou com bola e tudo E F#m D E Porque teve humildade em gol, gol F#m Foi um gol de classe D E F#m D E Onde ele mostrou sua malícia e sua raça F#m Foi um gol de anjo D E Um verdadeiro gol de placa (2x) F#m D E Que a galera agradecida assim cantava F#m Bm C#m Fio Maravilha, nós gostamos de você F#m Bm C#m F#m Bm C#m Fio Maravilha faz mais um pra gente ver (2x)
Fonte: MPB Cifrantiga