O melhor jogador da partida: Zizinho |
Para a segunda rodada, o Bangu entrou como favorito no confronto contra o Flamengo, no Maracanã. Havia também um novo ingrediente: Zizinho jogaria contra seu ex-clube. A história contada de diversas maneiras mostra sempre um Zizinho negociado sem seu conhecimento, numa espécie de "aposta" entre o presidente rubro-negro Dario de Melo Pinto e o patrono alvirrubro Guilherme da Silveira Filho.
A transação magoou o "Mestre Ziza" que, ao saber que Silveirinha tinha pago 800 mil réis pelo seu passe, disse assim: "Se o senhor pagou tanto dinheiro assim, é porque valoriza meu futebol. De hoje em diante, sou Bangu e não jogo mais pelo lamengo".
Além de não jogar mais pelo clube da Gávea, passou a ser tradição: sempre que os times se enfrentavam, Zizinho dava o máximo, se esforçava absurdamente, só para mostrar o seu real valor aos dirigentes rubro-negros.
Mais de 42 mil pessoas foram prestigiar o clássico naquele domingo, 20 de agosto de 1950. O resultado final, como já era esperado, foi uma vitória do Bangu. O que ninguém podia acreditar era a elasticidade do placar. Os "Milionários de Moça Bonita" tinham feito 6 gols no "Mengo". A goleada de 6 a 0 foi a maior de todos os tempos aplicada pelos suburbanos no clube da Gávea.
Uma partida que entrou para a história do Maracanã, que só mesmo o público presente ao estádio naquela tarde ou quem escutou a narração pelas ondas do rádio puderam comprovar: "sim, houve um dia que o Bangu fez 6 a 0 no Flamengo". Ao final do 1º tempo, o time já vencia por 3 a 0, com dois gols de Moacir Bueno e um de Sula, cobrando pênalti. Na segunda etapa, Zizinho fez o quarto, de falta; Joel o quinto, de cabeça; e Simões fechou a "tampa do caixão".
Antes do massacre, o time banguense posa para a foto oficial: Mirim, Pinguela, Rafanelli, Luiz Borracha, Sula e Guálter. Agachados: Djalma, Zizinho, Joel, Simões e Moacir Bueno. |
A goleada colocava o Bangu na liderança do Campeonato Carioca de 1950 e jogava o Fla para a lanterna da competição.
Ficha do jogo
Domingo, 20 de agosto de 1950 - Bangu 6x0 Flamengo - Competição: Campeonato Carioca - Local: Maracanã - Juiz: Alberto da Gama Malcher - Público: 42.831; Bangu: Luiz Borracha, Rafanelli e Sula; Guálter, Mirim e Pinguela; Djalma, Zizinho, Joel, Simões e Moacir Bueno. Técnico: Aymoré Moreira; Flamengo: Garcia, Biguá e Juvenal; Bria, Válter e Bigode; Aloísio, Hermes, Hélio, Lero e Esquerdinha. Técnico: Jayme da Almeida; Gols: No 1º tempo: Moacir Bueno, Moacir Bueno e Sula (pên.). No 2º tempo: Zizinho, Joel.
Avaliações Individuais
Luiz Borracha - Foi empenhado, a rigor, somente uma vez com perigo. Foi num chute de Hermes, que ele agarrou com firmeza; Rafanelli - Surgiu como uma das grandes figuras do embate, brilhando intensamente; Sula - Essa promessa que surge, cumpriu trabalho exato, à altura do valor do quadro; Mirim - Muito bom. Distribuiu e defendeu cem por cento bem; Pinguela - Foi um dos grandes homens em campo. Está em grande forma e será neste Campeonato uma das figuras mais salientes; Guálter - Firme na marcação e preciso nos despachos; Djalma - Manobrou para o conjunto, aparecendo pouco aos olhos do público, mas rendendo muito; Zizinho - Uma vez mais foi o motor banguense. Um portento, tal como nos jogos da Copa do Mundo; Joel - Foi um centroavante inteligente e quando passou para a extrema esquerda não decaiu, ao contrário, manteve o ritmo; Simões - Desenvolveu seu trabalho com requintada precisão; Moacir Bueno - Foi um constante perigo para Garcia.
A frase
"Esse foi o troco que eu dei a eles. Metemos 6 a 0. Foi a única partida que minha mãe me viu jogar. Quase me bateu na saída. Ela disse: 'Você, hein? Estava 3 a 0 e você ainda fez um gol?'. Eu queria ganhar. Se eu pudesse fazer dez, eu teria feito." Zizinho (Eleito o melhor em campo pela imprensa)
A mais obscura jornada do Flamengo
"Uma das mais obscuras jornadas da vida do Clube de Regatas do Flamengo foi cumprida na tarde de domingo, no Maracanã, pela equipe rubro-negra. Apresentando em campo um team verdadeiramente desconexo, incorrendo ainda no erro de uma aventura, que foi o lançamento precipitado de Hermes, o Flamengo emudeceu os olhos de sua torcida, caindo por uma contagem que atinge tremendamente o prestigio do clube da Gávea.
Para o Flamengo, este Campeonato está com o "teto zero", para usarmos uma expressão da aviação. Não há visibilidade, não há horizontes para o rubro-negro. Sua administração colhe os frutos de haver cuidado mais da política do que da própria expressão do quadro para o Campeonato da cidade.
O Bangu quis cuidar, única e exclusivamente, de si mesmo, do seu quadro, que um bom quadro de profissionais é o melhor reflexo de um clube. O Bangu já está vendo que a frase popular - "plantando dá" - tem total razão de ser. A vitória de domingo, precisamente sobre um dos chamados "grandes" veio comprovar que não são vãos os esforços de seus responsáveis e que jamais serão vãs as tarefas construtivas em qualquer setor da vida.
Está de parabéns o Bangu pela sua estupenda vitória. Vitória que veio como efeito natural do amplo domínio exercido pelo seu conjunto, cujas manobras táticas foram perfeitas e cujo padrão de jogo é o que se pode exigir de um grande esquadrão. A sua linha média foi precisamente aquilo que o Flamengo não pôde ser, uma peça de vai e vem dentro da equipe, o traço de união entre as ultimas linhas e a vanguarda. Defenderam os três intermediários banguenses com a mesma maestria e firmeza com que nunca deixaram seu trio final desprotegido e o ataque jamais deixou de contar com seu apoio. A harmonia da equipe residiu mais nesse particular. E o desequilíbrio do team rubro-negro esteve antagonicamente, no fato da linha média jamais ter apoiado ou defendido com acerto." (Revista Esporte Ilustrado, 24 de agosto de 1950)
Fonte: www.bangunet.net/novidades