Do latim per fumus, a palavra perfume significa “através do fumo”, numa clara alusão à arte de confeccionar aromas irresistíveis, uma arte que existe há milhares de anos. Ao longo da sua história, o perfume já desempenhou vários papéis: uma substância sagrada, terapêutica, uma forma de embelezamento do corpo e uma arma de sedução.
Depois de o homem ter descoberto o fogo, depressa aprendeu que a queima de algumas madeiras, resinas e ervas, libertavam aromas agradáveis e tudo o que era agradável os povos primitivos utilizavam para agradar aos deuses.
Esta prática foi adotada pelos Egípcios que, através de rituais específicos, queimavam substâncias aromáticas diferentes horas distintas do dia. O papel do perfume nos rituais religiosos foi dominante até ao século XVI a.C. A partir dessa altura, ou seja, entre os anos 1580 e 1085 a.C., os perfumes eram utilizados de duas maneiras: ou queimados na forma de incenso ou aplicados no corpo através de bálsamos e óleos perfumados com intuitos médicos, mas também cosméticos, aos quais as mulheres egípcias começaram a recorrer com freqüência, utilizando-os como armas de sedução.
Diz-se que Cleópatra era perita nesta arte, mas também na arte de confeccionar os seus próprios perfumes. Aliás, os egípcios começaram a utilizar os seus vastos conhecimentos na área para criar os óleos necessários para embalsamar os seus mortos, prática que dominaram como mais ninguém. Da sua contribuição para a história do perfume ficaram ainda alguns dos primeiros frascos de perfume em vidro.
As fragrâncias perfumadas seguiram depois para todo o mundo. Na Índia, e depois de uma utilização inicial estritamente religiosa, tornaram-se num dos maiores prazeres das mulheres indianas, que passavam horas a fio submersas em banhos perfumados ou a untarem o corpo com óleos divinais. Nessa altura, uma mulher que não estivesse perfumada, era uma mulher que não estava bem! Na China e no Japão, os perfumes não eram diretamente aplicados no corpo, mas eram utilizados para pulverizar os quimonos ou usados num saquinho ao pescoço.
Seguiu-se uma paragem na Grécia, onde o perfume viveu um dos primeiros de três marcos importantes de sua história. Os gregos aperfeiçoaram a técnica dos egípcios, ao juntarem óleos perfumados com flores, às especiarias, bálsamos e gomas. Na realidade, introduziram a técnica de maceração, que implicava a imersão de substâncias orgânicas (neste caso utilizavam principalmente rosas, lírios e violetas) em óleos quentes. Na Grécia, os heróis falecidos em combate eram homenageados com a queima de perfumes e Hipócrates utilizou-os na prática medicinal, no entanto, estes aromas continuaram a ser fonte de muitos prazeres.
Centro de todos os luxos e excessos, não é difícil de imaginar o sucesso do perfume quando da sua chegada ao Império Romano. Desde pulverizar as solas das suas sandálias e as cabeças dos convidados de qualquer banquete, às soleiras das portas e as bandeiras militares para trazer sorte, a vida romana era afogada em perfumes inebriantes!
Reza a história que quando Cleópatra deixava Marco António, ordenava que as velas do seu navio fossem embebidas em perfume, para que o vento deixasse um rasto para o seu amante. Acima de tudo, os romanos destacaram-se pela forma como desenvolveram e melhoraram a arte de confeccionar perfumes, nomeadamente as técnicas de maceração e de enfleurage (saturação de uma gordura através de pétalas perfumadas). No entanto, as invasões bárbaras, a queda do Império Romano e os tempos que se seguiram, depressa fizeram esquecer o suntuoso perfume.
Especialistas em especiarias e pós odoríferos, é aos árabes que se deve o segundo marco mais importante da história do perfume: a invenção do método de destilação e dos instrumentos utilizados para fazê-lo – a serpentina e o alambique. O que torna esta descoberta tão especial? A experimentação e posterior uso do álcool como base de todo o perfume, tal como o conhecemos hoje! Mas os árabes não ficaram por aí, inventaram ainda a técnica da purificação de gomas e resinas, com recurso a água de chuva destilada. Os perfumes teriam voltado, e desta vez, para ficar!
O gosto europeu pelo perfume é inegável durante a Idade Média e o Renascimento onde, para além de ser utilizado em inúmeros tratamentos terapêuticos e medicinais (sem esquecer a utilização de alecrim nas fumigações contra a peste!), o perfume ganha um novo estatuto ao ser aplicado em colarinhos perfumados, rosários e “almofadas” aromáticas, estas últimas para trazer ao pescoço ou em forma de pulseira. A famosa “água de Hungria” – talvez o primeiro perfume pessoal – concebido em 1370 à base de rosa, hortelã, erva-cidreira, limão, alecrim e flor de laranjeira, liderou o mercado da perfumaria durante vários séculos.
Os italianos, espanhóis e franceses encarregaram-se de divulgar esta preciosidade fragrante à restante Europa, o que veio mesmo a calhar, sendo que, nos séculos XVI e XVII os perfumes fortes substituíram, literalmente, a higiene pessoal! Nesta altura, estar “limpo” não era tomar banho e lavar o cabelo, mas sim perfumar todo o corpo (cabelo e hálito incluídos!) com pós, pomadas, óleos e águas aromáticas. Uma loucura total que passou para outros gestos do cotidiano onde tudo era perfumado: desde cartas e almofadas, a perucas, leques e objetos religiosos!
Com o lançamento das luvas perfumadas em França, no século XVII, os franceses tomaram-lhe o gosto e a indústria da perfumaria estabeleceu-se rapidamente, sendo Paris o seu quartel-general. Os produtores de perfumes ficaram ainda conhecidos por criarem venenos disfarçados como perfumes, um dos quais matou uma duquesa francesa que morreu depois de calçar um par de luvas “perfumadas”, que permitiu a infiltração do veneno na sua pele. A corte de Louis XV foi até batizada de “corte perfumada”, devida à quantidade de perfume que era pulverizado nas roupas, leques e mobília do palácio.
O século XVIII trouxe perfumes mais doces e suaves, lançou grandes nomes da perfumaria mundial (Fargeon, Lubin, Houbigant…), introduziu a primeira água-de-colônia e uma variedade de frascos que apelavam tanto quanto os perfumes que continham. Nem a Revolução Francesa travou o gosto pela perfumaria, tendo existido, inclusive, o "Parfum a la Guillotine." As preferências de Napoleão (que gastava 60 frascos de jasmim todos os meses!) também se fizeram saber e como apenas tolerava a água-de-colônia, os perfumes masculinos e os femininos passaram a ser diferenciados. A sua esposa, Josefina, preferia as fragrâncias intensas, à base de almíscar, tanto até que sessenta anos após a sua morte, ainda se sentia o perfume no seu boudoir (close, quarto, banheiro).
Com a viragem de um novo século, também o mundo da perfumaria assistiu a muitas novidades. Às casas de perfume francesas, juntaram-se as inglesas, entre muitas outras, e utilizar perfumes desta ou daquela casa tornou-se um símbolo de estatuto. A alquimia – que até agora privilegiava o uso de substâncias naturais, animas e vegetais através de técnicas de enflourage, destilação e espremedura – deu lugar à química dos produtos odoríferos de síntese, o que abriu os horizontes da perfumaria, introduzindo uma combinação de aromas possíveis quase infinita!
Foi este o terceiro marco histórico do perfume… que não obstante continuou a apelar a todos os sentidos, até ao olhar, com a crescente importância dos frascos e da apresentação visual do perfume. Depois do lançamento do famoso Chanel No. 5 em 1921, designers e estilistas de todo o mundo aperceberam-se do sucesso inigualável desta indústria.
Hoje, a indústria dos perfumes continua de vento em polpa, com mais de 30 mil fragrâncias conceituadas no mercado. Assinado por um estilista, ator ou estrela, o perfume tornou-se um acessório indispensável para homem e para mulher, está acessível a qualquer pessoa e é uma das prendas mais oferecidas no mundo. É claro que muito mudou em termos de técnicas de produção, matérias-primas utilizadas, formas de apresentação e divulgação, mas uma coisa mantém-se: a aura de mistério e romance em torno de cada novo perfume lançado.
Fonte: http://perfumeperfeito.com/artigos/historia-perfume