Lélia
Abramo, atriz, nasceu em São Paulo, SP, em 8 de fevereiro de 1911, e
faleceu na mesma cidade, em 9 de abril de 2004. Intérprete de grandes
recursos, envolvida em significativos movimentos a favor de um teatro
culturalmente empenhado. Alia à sua atividade artística forte
participação política e cultural.
Integrante da família Abramo,
formada por jornalistas, pintores e críticos de arte, Lélia passa a
infância em meio ao ambiente cultural, integrando grupos teatrais
amadores de origem socialista.
É amiga do crítico de arte Mário
Pedrosa, de quem partilha as idéias, tendo sido presa na Itália na
luta contra Mussolini. De volta ao Brasil, reintegra-se ao movimento
cultural, estreando profissionalmente no papel de Romana, a mãe de Eles Não Usam Black-Tie,
peça de Gianfrancesco Guarnieri dirigida por José Renato, no Teatro de
Arena, em 1958. Arrebata os prêmios Saci, Associação Paulista de
Críticos Teatrais (APCT), e Governador do Estado de melhor atriz
coadjuvante.
No ano seguinte, está em Gente como a Gente, direção de Augusto Boal, texto de Roberto Freire. Em 1960, destaca-se no papel-título de Mãe Coragem e Seus Filhos, polêmica montagem do texto de Bertolt Brecht por Alberto D'Aversa e produzida por Ruth Escobar.
No Teatro Cacilda Becker (TCB), participa de Raízes, de Arnold Wesker, direção de Antônio Abujamra; Os Rinocerontes, de Eugène Ionesco, com o comando de Walmor Chagas; e Oscar, de Claude Magnier, dirigido por Cacilda Becker, todas em 1961.
A partir de 1962, entra para o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), projetando-se em Yerma, de Federico García Lorca, direção de Antunes Filho, 1962; Os Ossos do Barão, encenação de Maurice Vaneau, 1963, e Vereda da Salvação, de Jorge Andrade, 1964, mais um espetáculo de Antunes.
Boas oportunidades surgem em Os Espectros, de Henrik Ibsen, com o comando de Alberto D'Aversa, em 1965; e Lisístrata, A Greve do Sexo,
novamente com Vaneau, agora numa produção de Ruth Escobar, 1967. Como
Clitemnestra, na montagem de Maria José de Carvalho para Agamemnon, de Ésquilo, atinge novo ponto alto na carreira, 1968/1969.
Seu perfil trágico encontra novo realce como Margarida de Anjou, personagem de Ricardo III, de William Shakespeare, na encenação de Antunes Filho de 1975. Em chave altamente dramática cria Pozzo, o patrão de Esperando Godot,
de Samuel Beckett, também direção de Antunes Filho com elenco
totalmente feminino que destaca Eva Wilma e Lilian Lemmertz nos papéis
centrais, 1976.
Afastada dos palcos durante muitos anos, dedica-se à causas políticas e culturais, ocupando o desempenho central de A Mãe,
de Máximo Gorki, encenação de João das Neves, efetivada em 1985 com
alunos da CAL - Casa das Artes de Laranjeiras, escola carioca de
formação de atores.
Lélia possui intensa participação no cinema, com ênfase nos filmes Vereda da Salvação, 1963, O Caso dos Irmãos Naves, 1967; Joana, a Francesa, 1972, ao lado de Jeanne Moreau; O Sonho Não Acabou, 1980; Eles Não Usam Black-Tie, 1981; e Janete, 1982.
Na televisão possui longa e profícua participação, iniciada com A Muralha,1962, ao vivo, na TV Cultura, São Paulo; prosseguindo em diversas emissoras: Prisioneiro de um Sonho, 1964-1965, na TV Record, SP; Redenção, 1966, na TV Excelsior, SP; Nossa Filha Gabriela, 1971/1972, na TV Tupi, SP; e nas produções da Rede Globo Uma Rosa Com Amor, 1972/1973, e Os Ossos do Barão, 1973/1974.
Toda essa intensa participação na vida cultural brasileira está registrada em seu livro autobiográfico, lançado em 1997, Vida e Arte,
onde reuniu reflexões sobre o ofício. Analisando sua trajetória, fixa o
cenógrafo Gianni Ratto: "As circunstâncias profissionais da "gens
theatralis" são quase sempre imprevisíveis; no caso de Lélia, a passagem
por um grupo amador de língua italiana foi indiretamente responsável
pelo convite que ela recebeu para atuar em Eles Não Usam Black-Tie,
de Gianfrancesco Guarnieri, interpretação que confirmou nela,
revelando-o aos outros, um talento do qual nunca tinha duvidado. [...] O
que me parece extraordinário em Lélia é a capacidade que ela tem de
coordenar uma visão estético-crítica que sempre norteará seu trabalho
com a postura sociopolítica que até hoje não a abandona, e, o que mais
me surpreende, é que em todas as suas atitudes, talvez sem percebê-lo, é
luminosamente suprapartidária".
Fontes: Wikipedia; Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro.