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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Estátua da gladiadora

Estatueta da Roma Antiga: registro
de uma mulher gladiadora vitoriosa?
A estatueta retrata uma moça de porte atlético e torso nu. O braço erguido e a mão que segura um objeto (uma pequena espada?) sugerem triunfo - ou ameaça. Para um pesquisador espanhol, trata-se da única imagem de uma gladiadora vitoriosa a chegar até nós.

A análise da peça romana está em artigo na edição recente da revista especializada "International Journal of the History of Sport" e é assinada por Alfonso Manas, da Universidade de Granada.

A estatueta de bronze não é, em si, uma descoberta nova. Ela integra o acervo do Museu de Arte e Comércio de Hamburgo, na Alemanha. Ocorre que a interpretação corrente sobre a figura é que ela retratava apenas uma atleta depois do exercício.

É que os estudiosos anteriores consideravam que o objeto na mão da moça seminua seria um estrígil, um raspador curvo, de metal, que os gregos e romanos antigos usavam para limpar a pele após se exercitarem.

O sujeito suado e sujo de pó aplicava uma camada de azeite perfumado sobre a pele e depois usava o estrígil para raspá-la. A limpeza era concluída com um bom banho, de preferência nas termas que eram uma das marcas da civilização romana.

No entanto, argumenta Manas, a postura da garota seria absurda se ela estivesse mesmo segurando um estrígil acima da cabeça e olhando para baixo. De fato, a iconografia da Antiguidade costuma mostrar as pessoas raspando a pele com o apetrecho, e não desse jeito.

Ele propõe que, na verdade, o objeto é uma "sica", espada curta ou adaga recurva usada pelos gladiadores. E aponta outros sinais que apontariam para a identidade da figura como lutadora.

A faixa amarrada no joelho também era comum entre os gladiadores. E os seios nus vão contra a tese de que se trata de uma atleta (no mundo greco-romano, por definição, uma pessoa de condição livre): as poucas mulheres esportistas da época não mostravam os seios ao treinar.

Já escravas (categoria em que se encaixavam todos os gladiadores, fora um ou outro aristocrata maluco que quisesse entrar na arena) tinham bem menos barreiras para mostrar o busto.

Anna McCullough, pesquisadora da Universidade do Estado de Ohio (EUA) que estuda as poucas pistas sobre as gladiadoras romanas que chegaram até nós, diz que, a princípio, a interpretação do pesquisador espanhol parece fazer sentido.

"O gesto da estátua é bem mais parecido com uma pose de triunfo do que com a de alguém que está usando o estrígil", disse ela ao site americano "LiveScience.com".

Por outro lado, ela disse estranhar a ausência de algum tipo de armadura ou capacete protegendo o corpo da suposta lutadora.

Fonte: Folha - 02/05/2012
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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Titanic: fatos e mitos


Muito se falou, nesses últimos 100 anos, sobre o naufrágio do célebre transatlântico, inclusive muita bobagem. Abaixo alguns fatos e mitos sobre essa tragédia:

1 - A champanhe amaldiçoada

Nos batizados de navios, se a garrafa de champanhe batida contra o casco não quebra de primeira, é um sinal de mau agouro. Isso teria ocorrido com o Titanic. Não procede. A White Star, dona do navio, não costumava realizar a cerimônia.

2 - Um concerto embaixo d`água

Uma das histórias sobre o Titanic fala na bravura e resignação dos músicos. Eles teriam tentado serenar os ânimos tocando valsas e mesmo um hino gospel durante o naufrágio. Jornais americanos e britânicos, com base em depoimento de passageiros e rumores, falavam até em acordes soando quando os músicos tinham água pela cintura. Historiadores como Richard Howells, autor de "O Mito do Titanic", apontam para impossibilidades físicas óbvias, como o fato de o navio estar adernando e prestes a se partir. Mas o fato de nenhum dos 13 músicos a bordo do Titanic ter sobrevivido deu carga dramática especial à história. O enterro do maestro Wallace Hartley reuniu 40 mil pessoas. O corpo de Hartley teria sido resgatado com o estojo do violino a tiracolo. Justiça seja feita, só ter tentado tocar já poderia ser considerado um feito heroico.

3 - Smith x Schettino

Diferentemente de Francesco Schettino, o infame capitão cuja pressa em abandonar o navio Costa Concordia deu fama à expressão vada a bordo..., os oficiais do Titanic não tiveram a honradez questionada. O comandante, Edward John Smith afundou com o navio. Smith, porém, pode ser comparado a Schettino no que diz respeito à habilidade no timão. O inquérito do naufrágio concluiu que o capitão foi imprudente ao não diminuir a velocidade depois de receber informações sobre a presença de icebergs na rota e ao permitir que os botes saíssem parcialmente ocupados, o que teria contribuído para a morte de pelo menos 500 pessoas, um terço das vítimas da tragédia.

4 - Ismay, o crápula

O Titanic não violou a lei ao zarpar com apenas 20 botes salva-vidas - suficientes para 30% do total de passageiros e tripulantes. A legislação britânica tinha como parâmetro navios de 10 mil toneladas, 5 vezes menores que o Titanic. O projetista do navio, Thomas Andrews, previu 64 botes. Seus planos foram vetados por J. Bruce Ismay, diretor da White Star, por causa dos custos e da estética: botes extras teriam de ser alojados no convés da 1ª classe. Ismay também teria ignorado a regra de preferência para mulheres e crianças ao se alojar num dos botes. Passou o resto da vida como pária e viajava incógnito em trens e navios.

5 - O navio que não afunda

A história do navio inafundável surgiu em publicações especializadas da indústria naval, depois de executivos da White Star terem ressaltado a preocupação com a segurança de cargas e passageiros na concepção do projeto.

6 - Drama para o cinema

Dorothy Gibson, assim como vários outros sobreviventes do Titanic, relatou o horror do naufrágio. Porém precisaria revisitar seus fantasmas pouco tempo depois de pisar terra firme. Ela estrelou "Salva do Titanic", filme lançado apenas um mês após a tragédia e uma produção que mexeu com a sanidade da atriz - nas filmagens, usou a mesma camisola que trajava quando embarcou num dos botes salva-vidas. Salva do Titanic, por sinal, nem de longe foi uma tentativa isolada de lucrar com o naufrágio. Mais de 100 produções cinematográficas ou televisivas sobre os acontecimentos da noite gelada de 15 de abril foram realizadas, incluindo a dirigida por James Cameron, o mais lucrativo filme da história. A arrecadação de US$ 1,8 bilhão aumentará este ano com a chegada da versão em 3D.

7 - A palavra "Titanic"

Titanic é a terceira palavra na língua inglesa mais reconhecida ao redor do mundo, atrás apenas de Deus (God) e Coca-Cola.

8 - Cofre cheio

Rumores de que os cofres do Titanic estavam cheios de ouro, joias e dinheiro alimentou a ambição de muitos caçadores de recompensas - afinal, diversos membros da alta sociedade europeia e americana estavam na 1ª classe. No entanto, em 1987, o cofre foi resgatado e aberto diante das câmeras de uma equipe de TV americana: nele havia um único bracelete de diamantes.

9 - Os sobreviventes

Assim como na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Maracanã teria de ser várias vezes maior para abrigar todas as pessoas que alegam ter assistido à vitoria do Uruguai sobre o Brasil, é bem possível que o Titanic precisasse de mais espaço para os que supostamente perderam a viagem. Há casos verídicos, como o do italiano Guglielmo Marconi, dono das patentes do telégrafo e do rádio, que recebeu a oferta de bilhetes porque sua empresa prestava serviços à White Star. Ele viajou para Nova York 3 dias antes no Lusitania, que em 1915 seria afundado por um submarino alemão.

10 - Pressa do capitão

Os depoimentos dos sobreviventes não podem ser considerados ao pé da letra se levado em conta o estresse e a confusão. Adicione à mistura o afã da imprensa dos dois lados do Atlântico e está pronto um bolo de informações em que a licença poética não raramente ofuscou fatos. Exemplo? A pressa do capitão: a versão de que a negligência do comandante do Titanic foi alimentada pelo desejo de estabelecer um novo recorde para a travessia do Atlântico durante anos foi veiculada como uma das razões pelas quais o navio trafegava em alta velocidade numa zona cheia de icebergs. Mas o inquérito que investigou o desastre concluiu que o Titanic seguia a 22 nós no momento do choque, pelo menos 2 nós abaixo de sua velocidade máxima. E o navio não era uma embarcação construída para ser veloz - seu sistema de propulsão o fazia mais lento do que vários transatlânticos da época.

11 - Tiro fictício

Na versão de James Cameron para o desastre, o imediato do Titanic, William Murdoch, mata a tiros um passageiro da 3ª classe que tentava escapar. Embora alguns tripulantes mais graduados tivessem recebido armas como uma forma de garantir a segurança e controlar as multidões em caso de pânico, historiadores que estudaram o naufrágio geralmente concordam que o episódio jamais ocorreu. E o fato de a produtora Fox ter pedido desculpas oficialmente à família de Murdoch é um sinal evidente do exagero.

12 - Suicídios

Dez sobreviventes cometeram suicídio, incluindo Frederick Fleet, o vigia que estava de plantão na noite em que o Titanic bateu no iceberg e que alertou o capitão sobre o ocorrido. Outro caso célebre foi o de Annie Robinson, tripulante que havia sobrevivido a um naufrágio anterior, também envolvendo uma colisão com um iceberg. Ela se atirou de um navio prestes a atracar no porto de Boston - o som da buzina de alerta para nevoeiro teria despertado memórias da noite gelada no Atlântico Norte.

13 - Travestis oportunistas

A história de que homens teriam se disfarçado de mulher para conseguir vaga nos botes salva-vidas esbarra no fato de que muitos barcos foram ao mar sem lotação esgotada, algo que historiadores explicam ter sido motivado também pela relutância de muitos passageiros em deixar o navio.

14 - Centenário lucrativo

Entre as muitas celebrações do centenário, há um cruzeiro memorial, que recriará a rota que deveria ser cumprida pelo Titanic, e que incluirá missa campal nas coordenadas do naufrágio - todas as passagens foram vendidas. Bolsos mais profundos garantem um passeio privilegiado: uma viagem de minissubmarino aos destroços do Titanic, que repousam a quase 4 mil metros de profundidade. O preço da passagem? US$ 60 mil.

Fonte: Guia do Estudante - Aventuras na História
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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Estilo moicano e Neymar

O cabelo estilo moicano surgiu com os mohawks, povo indígena da América do Norte. No século 17, os guerreiros da tribo eram conhecidos por ter todo o cabelo raspado, com exceção de uma faixa no meio da cabeça, que ia da testa à nuca - um símbolo de bravura na luta contra a opressão dos brancos.

Entre as décadas de 70 e 80, o estilo moicano foi adotado pelo movimento punk, introduzido por Wattie Buchan, vocalista da banda The Exploited, que exibia os cabelos espetados em suas apresentações. Para os punks, tanto o penteado como a vestimenta eram ícones da diferença e da liberdade, uma luta contra o sistema de governo repressor.

Mas o que antes era chocante acabou se tornando popular - principalmente entre os jovens. Hoje, os moicanos coloridos e de diferentes tipos fazem sucesso: nas ruas, na televisão e até nos campos de futebol.

Fonte: Dario Beca, cabeleireiro do Studio W Higienópolis via Mundo Estranho.
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O naufrágio mais antigo do Brasil

A equipe de arqueólogos e mergulhadores que descobriu no litoral de Santa Catarina fragmentos de um navio espanhol identificou que as peças correspondem a um naufrágio ocorrido em 1583, o mais antigo que se tem notícia no Brasil.

A primeira peça foi encontrada em 2005, mas foi apenas recentemente, quando trouxeram à superfície novos vestígios e após uma pesquisa histórica, que veio a comprovação de que se trata de um navio espanhol afundado no século 16, afirmaram à Agência Efe fontes da ONG Projeto Barra Sul e da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), responsáveis pela descoberta.

As peças resgatadas e a pesquisa indicaram que o naufrágio é de um navio integrante de uma frota que partiu da Espanha em 1581 com o objetivo de construir duas fortalezas no Estreito de Magalhães - passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico - para conter o avanço dos piratas ingleses que ameaçavam os territórios descobertos na América.

Documentos históricos situam o acidente no dia 7 de janeiro de 1583 no litoral brasileiro. "No dia 14 de março, começaremos uma nova temporada de mergulho para tentar retirar o máximo de objetos", adiantou à Efe Beth Karam, assessora de imprensa da Unisul.

Conforme os responsáveis, até abril será possível retirar todo o material depositado em um banco de areia de três metros de extensão e descobrir o restante da embarcação. A descoberta foi atribuída aos mergulhadores do Projeto Barra Sul, uma organização criada em 2005 para encontrar vestígios arqueológicos submarinos no litoral de Santa Catarina e que até o momento localizou outros três naufrágios do século 16.

A primeira peça do navio resgatada foi uma pedra com desenho em alto-relevo de dois leões e dois castelos com um símbolo português no meio. Esse escudo remete aos reinos de León y de Castilla e ao período da União Ibérica, quando os reinos de Espanha e Portugal eram unificados, entre 1580 e 1640. Para os arqueólogos, a pedra aparentemente seria colocada na entrada da fortaleza.

Os pesquisadores resgataram ainda uma placa triangular, datada de 1582, com o nome do então rei da Espanha, Felipe II. Segundo os especialistas, o objeto seria um distintivo de posse que os navegantes e descobridores costumavam deixar como marco nos territórios explorados pela primeira vez.

Nas expedições submarinas de março, os mergulhadores tentarão recuperar um canhão, cerâmicas, pedras de lastro e projéteis de diferentes calibres já avistados. O litoral de Santa Catarina, que no século 16 ainda não havia sido colonizado por Portugal, foi rota de várias expedições espanholas a partir da realizada em 1525 por Rodrigo de Acuña, que deixou 17 de seus tripulantes na ilha de Santa Catarina, onde posteriormente Florianópolis foi fundada.

Entre os expedicionários que passaram por Santa Catarina estão Sebastián Caboto (1526-1527) e Álvar Núñez Cabeza de Vaca, que desembarcou na região em 1541 para seguir por terra até o Paraguai, sendo o primeiro europeu a avistar as Cataratas do Iguaçu. O Projeto Barra Sul considera que a região é um cemitério de navios, ponto "estratégico e crítico por ser o último porto para abastecimento dos navegantes europeus com destino ao Rio da Prata e ao Estreito de Magalhães, e por causa do leito acidentado e bancos de areias móveis", explicou Gabriel Corrêa, diretor do projeto.

Fontes: Terra; G1.
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sexta-feira, 6 de julho de 2012

A seca e o declínio dos maias

Templo em Tikal, símbolo do auge da civilização maia (Foto: Science/AAAS)

Um estudo publicado em fevereiro deste ano indica que mudanças climáticas teriam sido as verdadeiras culpadas pela decadência da civilização maia, que dominava a península de Yucatán e o norte da América Central, onde atualmente ficam o sul do México, Belize, Guatemala e partes de Honduras e El Salvador.

O auge do povo maia foi entre os anos 800 e 1000 d.C.. A partir daí, eles entraram em declínio econômico e cultural, e perderam influência com a ascensão de outros povos, como os toltecas. Acabaram dominados pelos espanhóis, e ainda vivem na mesma região.

A pesquisa, publicada na revista "Science", diz respeito ao declínio no período clássico maia, nos séculos 9 e 10. Nessa época houve uma redução de entre 25% e 40% no volume das chuvas, provavelmente provocada por tempestades de verão cada vez mais brandas. Os dados foram obtidos pela análise de rochas e lagos atuais.

A seca é relativamente branda e, em geral, não provocaria o declínio de uma civilização bem estabelecida. Porém, nesse caso, ela teve grande impacto sobre os maias, pois eles dependiam das chuvas de verão para encher os reservatórios e garantir a produção agrícola – uma vez que não há rios nas planícies de Yucatán.

Os resultados servem como um alerta, pois é possível que haja novas secas na região em um futuro próximo. “Há diferenças também, mas o alerta é claro. O que parece ser uma redução mínima na disponibilidade de água pode levar a problemas importantes e de longa duração”, afirmou Martín Medina-Elizalde, do Centro de Pesquisa de Yucatán, no México, um dos autores do estudo, em material divulgado pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, à qual ele também é vinculado.

Fonte: G1
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sexta-feira, 1 de junho de 2012

A tróia negra de Palmares

A palavra "quilombo" quer dizer, na língua africana abunda, de Angola, casa no mato onde se açoitam negros fugidos. Quilombola é o escravo refugiado num quilombo. Houve, no Brasil, durante os séculos em que durou a escravidão de africanos inúmeros quilombos.

Em toda parte a toponímia conserva a memória da existência desses valhacoutos. Rios, distritos, povoados, estações, morros, serras existem com esse nome em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Paraná e Santa Catarina.

O mais célebre de todos os quilombos do Brasil foi o de Palmares, tróia negra destruída no fim do século 17. Ficava situado na serra da Barriga, na antiga capitania de Pernambuco, tendo sido, sem dúvida, o primeiro canudos do Brasil.

Começou esse ajuntamento de negros fugidos ao cativeiro em 1630 com a entrada em cena dos conquistadores holandeses que, nesse ano, se apoderaram de Olinda e Recife. Aproveitando a confusão e a desorganização conseqüente à guerra, os escravos se ajuntaram e nas dobras adustas daquela serrania estabeleceram suas palhoças.

De 1643 a 1645, já senhores de grande parte do território nordestino e mais seguros da posse das terras pernambucanas, os holandeses deram sobre a pretalhada quilombada, dispersando nos matos e sertões aqueles que não puderam capturar.

Todavia veio a fase final da campanha da restauração de Pernambuco, que terminaria em 1654 com a rendição dos invasores flamengos na campina do Taborda. Nem lusos nem batavos tiveram, então, tempo de se preocupar com o que se passava naquela serra da Barriga, onde se reorganizavam novamente, mais fortes do que nunca, os quilombos, pois o momento era azado prà fuga da escravaria aos duros trabalhos do eito e à vida de sujeição da senzala.

Conhecidos, pois, esses antecedentes, se compreende que, no decurso do tempo, tenham, naquele local, 20 mil negros resistido a 20 expedições seguidamente enviadas contra eles. Os quilombolas estabeleceram fortes estacadas ou céreas, precedidas de fossos, ao redor das aldeias, onde viviam em palhoças sob a chefia dum zombi ou zumbi.

Cultivavam roça de mandioca e milho na proximidade. Criavam animais domésticos. Exerciam algumas indústrias caseiras e misteres. Guardavam, mais ou menos, os costumes de sua tradição. Foi essa rudimentar sociedade que se convencionou denominar república de Palmares.

Esses escravos, algumas vezes, praticavam correria nas regiões circunvizinhas, roubando plantação ou gado, levando consigo outros negros das fazendas. O exemplo da vida livre que iam gozando provocava a fuga dos pretos das localidades próximas. Suas expedições predatórias constituíam sério perigo aos fazendeiros do sertão.

Por isso, acalmados os furores da guerra holandesa e restituído Pernambuco ao poder de Portugal, logo se pensou em destruir aquele núcleo de rebeldia negra. Mas as diversas expedições enviadas contra ele foram vencidas pela resistência dos pretos alapardados em alfurjas e entrincheirados em paliçadas.

Isso fez com que, em 3 de março de 1687, o governador da capitania de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, assinasse um contrato com o famoso sertanista de São Paulo, Domingos Jorge Velho, a fim de que este, com a bandeira de seu comando, então em andança no nordeste, atacasse e desse cabo do reduto dos quilombolas.

Logo depois deixou o governo, porém seu sucessor, marquês de Montebelo, dom Antônio Félix Malhado da Silva e Castro, em 3 de setembro de 1691, manteve as condições estipuladas nas quais a escravaria, de novo segura pelos expedicionários paulistas, lhes pertenceria como presa de guerra, devendo ser vendida no Rio de janeiro e em Buenos Aires. Esse contrato foi ratificado por alvará régio de 7 de abril de 1693.

Segundo um estudo do erudito Basílio de Magalhães, Domingos Jorge Velho fora de São Paulo ao nordeste do Brasil a convite de Francisco Dias d'Ávila, chefe da casa da torre da Bahia, sendo nomeado mestre-de-campo dum terço de paulistas, com o qual ajudou aquela casa na exploração e conquista de parte da Paraíba e do Piauí, levada a efeito entre 1671 e 1674 por Domingos Afonso Sertão.

Por uma concessão de sesmaria, firmada pelo governador de Pernambuco, Francisco de Castro Morais, se sabe que foram oficiais desse Terço o sargento-mor Cristóvão de Mendonça Arrais, os capitães Alexandre Jorge da Cruz, Pascoal Leite de Mendonça, Domingos Rodrigues da Silva, Luís da Silveira Pimentel, Simão Jorge Velho, João de Matos, Domingos Luís do Prado, Ajudante Antônio de Souza, Alferes Domingos de Mendonça e Sargento Braz Gonçalves.

Diz o mesmo documento, enumerando os serviços desses bandeirantes, que Domingos Jorge Velho, à frente de oitenta brancos e 1300 arcos do seu gentio, índios auxiliares ou mamelucos paulistas, desceu em estado de guerra contra os negros fugidos e rebeldes de Palmares, que insultavam, invadiam, roubavam, violavam e assassinavam os brancos em todas essas capitanias de Pernambuco.

Esse terço de paulistas veio de Piancó, no Piauí, e foi reforçado por outro de pernambucanos sob o comando de Bernardo Vieira de Melo, que se tornaria famoso mais tarde na chamada guerra dos Mascates e sonharia, em Recife, com uma república à maneira de Veneza.

As duas forças conjugadas atacaram com ímpeto o maior arraial dos quilombolas na serra da Barriga, denominado Cerca Grande, e dele se apoderaram após muitas horas de luta, vencendo desesperada resistência. O combate terminou ao cair da noite, quando, aproveitando a escuridão, o chefe dos negros, o zumbi, logrou fugir, acompanhado dos principais de seus sequazes.

Percebida a fuga, foram perseguidos de perto pelos contrários e, perdendo o rumo, alguns se despenharam duma alta ribanceira, sucumbindo no abismo. Outros foram aprisionados e entre eles se encontrava o zumbi, que os vencedores imediatamente degolaram.

Assim terminou a tróia negra e desse trágico desfecho nasceu a lenda, que, através dos tempos, se espalhou em todo o Brasil e quase tomou foro de história, a qual dizia que, em companhia dos derradeiros defensores de Palmares, o zumbi se suicidara diante dos vencedores atônitos, se lançando do alto duma penha a fundo despenhadeiro.

Historiadores antigos e modernos, doutos e conspícuos, como Sebastião da Rocha Pita e Oliveira Martins, aceitaram essa versão fantasiosa dos acontecimentos. O encontro do ofício do governador de Pernambuco e capitão-general Caetano de Melo e Castro ao governo metropolitano, datado de 13 de março de 1695, documento fidedigno e minucioso, restabeleceu de vez a verdade histórica. Narra, de acordo com os relatórios dos conquistadores de Palmares, a cena final da fuga, da queda de alguns pretos na barranca abaixo e da degola sumário do zumbi.

Semelhante exemplo não terminou com os quilombos no Brasil. A sede de liberdade continuou os formando. Tanto assim que em 1741 um alvará régio mandava marcar a ferro em brasa no rosto com um F (Fujão) os escravos neles apanhados.

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Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.
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Café com leite

A um oficial holandês devem os brasileiros um hábito alimentar nacional: a média, isto é, o café com leite. De acordo com o historiador José Teixeira Oliveira, autor de A História do Café no Brasil e no Mundo (Editora Itatiaia, 1984), quem trouxe a mistura para o Ocidente foi Johann Jacob Nieuhof, um oficial da Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Em 1655, Nieuhof conheceu, na China, o hábito de dar leite com chá a tuberculosos. Mas apresentou a bebida aos europeus substituindo o chá por café. Os alemães adoraram e popularizaram, entre os séculos XVII e XVIII, a nossa hoje famosa média. Como o café era caro, a mistura ainda resultava em economia.

Oliveira observa que o costume foi registrado, na mesma época, na Inglaterra. Mas ninguém explica como chegou lá ou como ele se difundiu pela Europa. Tampouco se conhecem as circunstâncias em que desembarcou no Brasil.

“O certo é que não foi antes de 1727, quando o sargento Francisco de Melo Palheta trouxe da Guiana Francesa as primeiras mudas da planta”, conta o escritor João de Scantimburgo, autor de O Café e o Desenvolvimento do Brasil (Editora Melhoramentos, 1980).

Fontes: QI Referências; Superinteressante.
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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma guerra maometana no Brasil

Negro muçulmano - Debret
A religião de Maomé e a civilização árabe chegaram ao Brasil através dos escravos importados das regiões africanas de cultura árabe. Tentaram até deflagrar uma guerra santa na província da Bahia, onde eram numerosos.

Davam a si próprios nomes de mussulmis, muçulmanos, mas os outros escravos negros, de origem banto ou congolesa, os denominavam malês, isto é, gente do império africano e maometano do Níger-Mali. Malê era uma corruptela da palavra Malinké, gente de Mali.

Esses escravos muçulmanos pertenciam aos povos haussás ou auçás, nagôs ou jorubas (iorubás), tapas, jejes, grunas, bornos, cabindas, barbas-minas, calabares, jobus, mendobis e benins. Não seguiam ortodoxamente o Corão, porém as práticas duma das seitas do Islã que se espalharam na África. Alguns possuíam certa instrução, muitos sabiam ler e escrever em árabe. Obedeciam a imames, chamados limanos ou alumás, e a marabutos ou santarrões.

As primeiras insurreições desses negros maometanos na Bahia foram preparadas pelos auçás em 1807 e 1809, sendo esmagadas pelo governador, conde da Ponte. Durante os anos de 1813 e 1816 o governador conde dos Arcos venceu duas novas rebeliões desses mesmos auçás. Em 1826, 1827 e 1828 os iorubás se levantaram, foram vencidos e duramente castigados pelas autoridades. Em 1830 nova revolta abortou devido a uma denúncia.

A guerra santa explodiu em 1835. Durante essa época, devido à revolução dos farrapos no Rio Grande do Sul, as províncias do norte, entre elas a da Bahia, estavam desprovidas de tropa. Os mussulmis ou malês aproveitaram essa circunstância favorável prum golpe de surpresa que lhes devia entregar a cidade de Salvador, onde pretendiam chacinar os brancos e proclamar uma rainha negra, a escrava Sabrina, que afirmavam ser uma princesa em sua terra natal.

Pra se reconhecerem, durante a luta, todos deviam usar uma gandura ou camisola branca com cinta vermelha. Todos os documentos dessa grande conspiração, escritos em língua e caracteres árabes, estavam no Arquivo Nacional.

O movimento devia eclodir durante a noite de 24 a 25 de janeiro de 1835, durante os festejos tradicionais no arrabalde do Bonfim, a cuja famosa igreja quase toda a população da cidade costumava ir em peregrinação. Os escravos marchariam de vários pontos sobre a cidade semi-deserta e se apoderariam dos quartéis e pontos estratégicos, semeando, em toda parte, confusão e morte.

Tudo fora minuciosamente preparado em segredo no seio das djemas ou associações religiosas que mantinham os escravos em contato, sob a orientação da sociedade secreta Ohogbo. Escravos libertos, enriquecidos no comércio e pequenas indústrias locais, forneciam arma, munição e dinheiro. Havia escravos organizados em grupos militares e muito bem armados. Mulatas e negras libertas serviam de elementos de ligação.

Duas dessas mulheres se apavoraram na última hora e denunciaram a conspiração às autoridades, que tomaram logo providência de caráter militar. Enquanto reforçavam postos, guardas e patrulhas, os mussulmis já se reuniam nos pontos de antemão combinados. Alguns soldados de polícia, que procuravam escravos fugidos, alarmaram inadvertidamente esses ajuntamentos. Os conjurados se julgaram descobertos e perderam um tempo precioso modificando as ordens e senhas pro movimento, o que permitiu ao governo tomar mais medida de precaução.

Ao começar a madrugada os pretos, armados de chuços, espadas, facas, pistolas e espingardas, se lançaram, em várias colunas, sobre a cidade. Uma dessas colunas atacou o palácio do governo, a segunda o quartel de polícia, a terceira o forte de São Pedro e a quarta a caserna da infantaria de linha. Os poucos soldados que guarneciam esses postos as repeliram com duas ou três descargas. Então, os escravos se espalharam nas ruas da vizinhança, saqueando as casas e matando os moradores.

Uma quinta coluna marchava na beira-mar e foi atacada pela polícia em Água de Meninos. Combate terrível! Os negros se defenderam como heróis. Sua resistência somente cedeu diante do assalto, na retaguarda, que lhes deram os marinheiros dos navios de guerra surtos no porto. Grande número de cadáveres ficaram na praia. Inúmeros ficaram feridos.

Na manhã o movimento rebelde estava inteiramente dominado. Se enchiam as prisões de escravos vencidos. Se instaurou um processo que só terminou nove anos mais tarde, em 1844.

Muitos dos rebeldes presos, condenados à morte, foram fuzilados ou enforcados. Outros receberam pena de prisão mais ou menos longa. Enfim, alguns voltaram à África, mandados pelas autoridades, pois não tinham grande prova contra eles e os reputavam perigosos, capazes de nova articulação. É provável serem esses os sacerdotes maometanos da pretalhada, os chamados alumás ou limanos.

Essa foi a guerra maometana que houve no Brasil e da qual pouca gente tem notícia. Ameaçadora e de curtíssima duração. O povo traduziu a seu modo o nome dos co-participantes dessa frustrada guerra-santa: Malês, gente da má lei, da lei má, más leis.

A lei má era o Corão que, espiritualmente, regia esses pobres negros trazidos de Benim e Senegal, que os antigos cronistas lusos chamavam Çanagá.

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Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.
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terça-feira, 15 de maio de 2012

Templo de Ártemis

O Templo de Ártemis foi erigido em homenagem à deusa grega com o mesmo nome. Localizava-se na cidade de Éfeso - região da atual Turquia -, e destacou-se pela grandiosidade arquitetônica. É considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Quando os gregos encontraram na Ásia Menor habitantes que cultuavam uma deusa identificada como Ártemis, resolveram dar início a construção de um pequeno templo em sua homenagem.

A deusa Ártemis era a protetora dos bosques, da caça e dos animais selvagens, e como todo deus grego tinha uma correspondência romana, também é conhecida por Diana. A construção desse primeiro templo foi simples, não seria ainda o grande Templo de Ártemis que entraria para história.

Durante o Período Arcaico da Grécia Antiga, no século VI a.C., o conquistador Creso, então rei da Lídia, ordenou a construção de um grande templo, em Éfeso, em homenagem à deusa Ártemis, para ampliar o pequeno templo anterior que já havia passado por uma série de avarias.

Para realização da obra, foram contratados os arquitetos Quersifrão e seu filho, Metagenes. As obras começaram em torno de 550 a.C. e demoraram 200 anos para se completarem. Segundo consta, centenas de virgens sacerdotisas participaram da construção do templo, essas mulheres acreditavam na superioridade feminina e praticavam a abstinência sexual e artes mágicas.

Após os 200 anos de construção, o resultado da obra foi encantador. O Templo de Ártemis era composto por 127 colunas de mármore em estilo jônico dispostas em filas duplas, todas decoradas com obras de arte, tendo cada uma 20 metros de altura. Tinha 138 metros de comprimento e 71,5 metros de largura.

Um dos elementos mais famosos do templo era a escultura da deusa Ártemis que ficava em seu interior. A obra de arte era produzida em ébano, ouro, prata e pedra preta, cercada por esculturas em bronze de Praxíteles. A escultura da deusa tinha uma saia comprida coberta com relevos de animais cobrindo suas pernas e quadris. Era caracterizada ainda pelas três fileiras de seios que possuía, simbolizando sua fertilidade. Na cabeça havia um ornamento em forma de pilar.

O Templo de Ártemis se constituiu assim no maior templo do mundo antigo, representando um grande feito da civilização grega e do helenismo.

Infelizmente, pouco restou do templo atualmente. O Templo de Ártemis passou por duas grandes destruições. Duzentos anos após sua construção, um grego chamado Heróstrato, com o intuito de se tornar imortal, incendiou o templo, em 356 a.C.. O estrago causado por Heróstrato levou 20 anos para ser reparado, ação promovida por Alexandre III da Macedônia. Mas no século III d.C. veio a grande queda, na época os godos invadiram as províncias romanas na Ásia Menor e na península balcânica e arrasaram o Templo de Ártemis em 262.

Atualmente, o que resta deste templo são algumas esculturas e objetos que estão expostos no Museu Britânico, em Londres, e uma única coluna do templo, que se manteve firme após tantos terremotos e saques no local. Conhece-se bem o Templo de Ártemis, pois há uma documentação muito bem detalhada sobre essa maravilha do mundo antigo.

Fontes: Wikipedia; pt. shvoong.com.
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terça-feira, 27 de março de 2012

As flautas pré-históricas e seu som

Há 24.000 anos, as flautas e gaitas feitas de madeira e pedra produziam um som que lembra o jazz e o blues contemporâneos. A descoberta é do inglês Graeme Lawson, do Levantamento Arqueológico Musical, em Cambridge.

Para achar a escala musical das bandas primitivas, Lawson está analisando a construção das flautas e as marcas microscópicas deixadas pelos dedos sobre elas. Ele encontrou uma estrutura básica semelhante à escala moderna, em que o intervalo entre uma nota e outra tem uma diferença de 5,9% na freqüência do som. De vez em quando aparece uma nota estranha, num intervalo que mais lembra os dos gaitistas escoceses.

O arqueólogo achou também sinais do movimento típico dos jazzistas, de escorregar o dedo sobre os buracos da flauta para mixar duas notas.

Mas por que então a maior parte das flautas foi achada junto com lixo pré-histórico?

Segundo Lawson, é que era muito difícil fazer buracos perfeitos, nas distâncias adequadas. A maior parte da produção era jogada fora.

Fonte: Revista Superinteressante
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quinta-feira, 15 de março de 2012

Primeira transmissão ao vivo na TV

A primeira transmissão televisiva ao vivo - Olimpíadas de Berlim - 1936
Experiências pioneiras datam do século passado, mas só por volta de 1920 os primeiros aparelhos de televisão começaram a aparecer. A telinha, no entanto, não teria avançado para ser o que é hoje sem o esforço do inglês John Logie Baird (1888-1946), que resolveu aproveitar as ondas de VHF (Very High Frequency) para transmitir imagens.

A primeira transmissão ao vivo na TV foi um discurso de Adolf Hitler, em 1936, na abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim. Sem dúvida um péssimo exemplo para ser espalhado espaço afora. Explica-se. A potência dessas ondas é tão grande que, sabe-se hoje, elas continuam a se propagar pelo espaço indefinidamente.

Baird não viveu o suficiente para ver, em 1957, a primeira transmissão via satélite, feita pelo satélite russo Sputnik.

Fonte: Wikipédia; Revista Superinteressante.
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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cartago - Ascenção e queda

"Delenda est Carthago" (Cartago deve ser destruída). Apesar dos seis dias de resistência, os romanos derrubaram as muralhas, a população foi assassinada, as casas demolidas, os que sobreviveram foram transformados em escravos e, dizem, sobre o solo espalharam sal para que nada mais germinasse. O general romano Cipião Emiliano teria chorado após a vitória, quem sabe imaginando que Roma também pudesse vir a passar por tamanha violência ou talvez, com pena de arrasar uma civilização notável.

Quando o sacerdote fenício Arquebas foi assassinado, por volta de 814 a.C., sua mulher, a princesa Elisa, fugiu da cidade de Tiro, acompanhada por vários aristocratas, disposta a fundar uma nova cidade. O grupo acabou se estabelecendo em uma península no norte da África, numa região próxima a Túnis, atual capital da Tunísia.

Assim surgiu a única cidade fenícia que não viveu exclusivamente para o comércio: Cartago preocupava-se também com o poder. Dominou rotas marítimas, explorou províncias e chegou a guerrear com grandes potências. Disputou com os gregos diversas colônias na Península Ibérica. Roma, no entanto foi sua pior inimiga.

Enquanto a economia romana se baseava na agricultura, as relações com Cartago foram das mais amigáveis. Mas o clima de camaradagem desapareceu quando o interesse de Roma despertou na direção do Mediterrâneo. Cartago então propôs dois tratados em 306 a.C. para limitar pacificamente as áreas de influência dos dois Estados.

Tudo ia bem até entrar em pauta a ilha de Sicília — um ponto estratégico nas rotas para o Oriente, do qual ninguém queria abrir mão. Sem acordo, veio a primeira guerra púnica, que terminaria apenas em 241 a.C., quando os cartagineses cederam.

Além de perderem a Sicília, tiveram de amargar por mais de três anos a revolta dos mercenários estrangeiros que queriam receber seu pagamento. Mal o comandante Amílcar Barca pôs fim à confusão, criou bases militares na Espanha, para comprar novas brigas com Roma. Assim, romanos e cartagineses voltaram a entrar em conflito em 218 a.C. e 149 a.C.

Em 146 a.C., enfim, os romanos conseguiram sitiar Cartago, aniquilar o exército local e arrasar a cidade. Os sobreviventes do massacre foram vendidos como escravos e ficou proibida qualquer outra construção em solo cartaginês.

Fonte: http://www.meteopt.com/forum
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

História do Selo Brasileiro

Olho de boi de 30 réis - 1843
No Brasil, a lei que instituía o selo foi votada em 1841. Um ano depois, foram estabelecidos os valores dos selos; 30,60 e 90 réis, para qualquer carta dentro do país. E 90 réis, para qualquer carta para o exterior.

A confecção do selo demorou, porque a Casa da Moeda não dispunha das máquinas adequadas. E também porque não foi decidido o desenho do selo.

Uma coisa se sabia: o selo não teria o retrato do Imperador, para evitar que 60qualquer funcionário dos Correios pudesse apor, sobre a sua soberana face, o carimbo que lhe destruísse as feições. Por isso foi decidido que o selo seria constituído apenas de um cifrão. Nem sequer o nome do país. A efígie do Monarca e a palavra BRASIL (que aliás, naquele tempo, se escrevia com Z) só deveriam constar dos “objetos perduráveis e dignos de veneração”.

O selo, de acordo com este parecer, não merecia tal distinção. Na verdade, o Imperador ficou entusiasmado com a idéia do selo. Ela colocava o Brasil no rol das nações mais desenvolvidas do mundo. E mandou imprimir pelo menos oito milhões de selos, em papel branco fino.

Na realidade, foram impressos mais de 1.500.000 selos de 60 réis, quase 1.150.000 selos de 30 réis e apenas quase 350.000 selos de 90 réis. E assim mesmo ainda sobraram 466.711 selos.

Em 1844, quando outra série já estava circulando, estes selos, que não chegaram a ser vendidos, foram simplesmente queimados.

Pelo jeito, escrevia-se pouco no Brasil imperial E não se previa a futura raridade do “olho de boi”. Depois, veio um série chamada “inclinados”. É muito menos famosa e talvez muito menos vistosa, mas assim mesmo bastante cobiçada. Principalmente os valores de 180, 300 e 600 réis, cuja tiragem foi de 50.000, 40.000 e 20.000 respectivamente.

Seguiram-se-lhes duas outras séries denominadas pitorescamente “olhos-de-cabra” e “olhos-de-gato” (coloridos).

Só em 1866 apareceu no selo do Brasil o nome do país e o retrato de D. Pedro II. Foi tirado de uma fotografia que um fotógrafo americano veio fazer, num evento que se comentava nas altas rodas sociais da Capital do Império. Pois “posar” para a fotografia era algo de excepcional naqueles tempos.

Estes selos forma impressos nos Estados Unidos e deveriam ser definitivos. A tiragem do selo de 10 réis chegou, por exemplo, a 34.600.000 exemplares! Estes eram também os primeiros selos picotados do Brasil. Até então, o funcionário do Correio destacava o selo recortando-o da folha com tesoura.

Em 1878 sai o primeiro selo brasileiro em duas cores: verde e amarelo. Só podia ser. A impressão de duas cores num pequenino selo foi considerado uma façanha tipográfica, pois naqueles tempos poucos países imprimiam selos em cor. Em geral, todo selo era preto, como os selos brasileiros até a série “olho-de gato”.

Estes selos, com duas cores – um vermelho, outro amarelo- começaram a embelezar os envelopes das cartas.

Outro selo em duas cores foi o primeiro da República. Representava a cabeça feminina com barrete frígio, que é o símbolo do regime republicanos.

Em 1990, sai a primeira série comemorativa do Brasil. Festejava o quarto centenário do Descobrimento. E foi comentadíssima. Pela primeira vez, um simples recibo de taxa paga ao Correio começava a comunicar.

Fonte: Proença, Antônio Carlos. Lago, Samuel Ramos. História do Brasil. Vol2.p.96. IBEP
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A criação do Alfabeto

Alfabeto fenício
Com tantos clientes, mercados e ofertas, os comerciantes fenícios só encontraram uma saída para os negócios não se enredarem em um emaranhado de mal-entendidos: registrar em placas de barro cada compra e cada venda.

Na prática, porém, a teoria era inviável: seria preciso passar uma vida inteira aprendendo os significados do complexo sistema de hieróglifos — as centenas de sinais gráficos criados pelos egípcios e usados pelos povos antigos que engatinhavam na arte da escrita. Mas, sempre dispostos a destruir obstáculos, os fenícios não descartaram a idéia e assim nasceu aquela que seria sua maior herança à humanidade: o alfabeto.

Não se tem, infelizmente, a menor idéia de como conseguiram simplificar o processo egípcio a ponto de chegar a um sistema que funcionava com apenas 22 sinais. Na verdade, pouco se sabia sobre a escrita fenícia até o pesquisador francês Pierre Montet descobrir, em 1923, em Biblos, cidade histórica do Líbano, o sarcófago do rei Ahiram — peça decorada com inscrições lidas da direita para a esquerda. Hoje o sarcófago está guardado no Museu Nacional de Beirute.

"Embora aquele texto seja o mais antigo, outras descobertas arqueológicas também são documentos valiosos sobre o alfabeto fenício", nota Haiganuch Sarian, coordenadora do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, onde, aliás, existe uma reprodução em gesso do famoso sarcófago, feita por volta do século XII a.C.

O fato é que ao se compararem diversas inscrições se constatou que as cidades fenícias podiam falar a mesma língua, mas não a escreviam da mesma maneira. Apesar das pequenas variações, quando em 1750 o inglês John Swinton, encarregado de conservar os arquivos da Universidade de Oxford, resolveu aproveitar os momentos de folga para debruçar-se sobre inscrições fenícias encontradas na Ilha de Chipre, a decifração foi relativamente rápida. É que tanto a língua como a escrita da Fenícia eram muito parecidas com o idioma hebraico. Assim, tornou-se possível traduzir toda a coleção disponível de textos funerários e registros comerciais deixados por aquele povo que, até onde se conhece, não se interessou em produzir nenhum tipo de literatura.

Os fenícios tampouco se interessaram em ensinar sua escrita aos compradores de suas mercadorias. Na verdade, foram os gregos que, ao colonizar cidades fenícias por volta do ano 800 a.C., tomaram a iniciativa de importar o alfabeto para o Ocidente, acrescentando-lhe uma novidade — as vogais. Mais tarde, os povos itálicos igualmente adaptariam aquele primeiro alfabeto, criando ramificações que estão na origem de todas as formas modernas de escrita.

Fonte: Superinteressante
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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Farol de Alexandria

Na ilha de Faros - hoje uma península situada na baía da cidade de Alexandria, no Egito, e ligada por mar ao porto desta -  ergueu-se uma torre para servir como um marco de entrada para o porto e, posteriormente como farol. "Faros" em grego significa farol. Modelo para a construção dos que o sucederam, o Farol de Alexandria foi classificado como a segunda maravilha do mundo.

Todo de mármore e com 120 metros de altura - três vezes o Cristo Redentor no Rio de Janeiro -, foi construído por volta de 280 a.C. pelo arquiteto grego Sóstrato de Cnidos, por ordem de Ptolomeu II, rei grego que governava o Egito. Diz a lenda que Sóstrato procurou um material resistente à água do mar e por isso a torre teria sido construída sobre gigantescos blocos de vidro. Mas não há nenhum indício disso.

Com três estágios superpostos - o primeiro, quadrado; o segundo, octogonal; e o terceiro, cilíndrico -, dispunha de mecanismos que assinalavam a passagem do Sol, a direção dos ventos e as horas. Por uma rampa em espiral chegava-se ao topo, onde à noite brilhava uma chama para guiar os navegantes. Compreende-se a avançada tecnologia: Alexandria tinha-se tornado naquela época um centro de ciências e artes para onde convergiam os maiores intelectuais da Antigüidade.

Cumpria-se assim a vontade de Alexandre, o Grande, que ao fundar a cidade, em 332 a.C., queria transformá-la em centro mundial do comércio, da cultura e do ensino. Os reis que o sucederam deram continuidade a sua obra. Sob o reinado de Ptolomeu I (323-285 a.C.), por exemplo, o matemático grego Euclides criou o primeiro sistema de geometria. Também ali o astrônomo Aristarco de Santos chegou à conclusão de que o Sol e não a Terra era o centro do Universo.

Calcula-se que o farol tenha sido destruído entre os séculos XII e XIV. Mas não se sabe como nem por quê.

Em 1994, um time de arqueológicos mergulhadores, utilizando uma série de equipamentos sofisticados (localizadores via satélite, medidor eletrônico de distância e etc), encontraram sob as águas de Alexandria grandes blocos de pedra e estátuas do farol.

Fontes: Wikipedia; Superinteressante.
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Capitão Barba Ruiva

Khayr al-Din - gravura sec. XV
Khizr (ou Khayr al-Din) nasceu em 1470 e morreu em 1546, e era o famoso capitão Barba Ruiva (Barbarossa). Ele nasceu numa ilha de Lesbos, Grécia e comandava o navio com seu irmão mais velho, Arúj e seu outro irmão, Ishaq. Quando navegavem juntos, eles eram conhecidos como "Os Irmãos Barbossa".

Ele se tornou pirata mais temido do Mar Mediterrâneo, ele e seus companheiros cercavam e saqueavam os navios do Sultão Selim. Contrariado quanto a isso, Selim decidiu dar-lhe o poder sobre Argel. Alguns dizem que o que Khizr mais queria era conquistar cidades africanas.

Porém, houve um ataque ao navio deles, que resultou na morte de Ishaq e Arúj foi feito prisioneiro pelos invasores. O capitão Arúj escapou e conseguiu reencontrar Khizr. Algum tempo depois, após a morte de Arúj, sem ninguém para ajudá-lo a comandar o navio, ele não teve outra escolha, senão abandonar a pirataria. Desta foma, ele se uniu aos turcos, que lhe cederam reconhecimento como governador da Argélia e cadeiras no Conselho Nacional (Divã).

Nos anos seguintes, durante o governo de Solimão, o Magnífico, durante o esforço de integração das nações islâmicas, o califa o entrega o cargo de capitão dentro da Armada Otomana.

Neste período, o capitão genovês Andrea Doria, a mando do imperador Carlos V, executou diversos cercos à costa Otomana; no comando de diversos e sucessivos contra-ataques, Khizr conseguiu grande prestígio dentro das esferas militares otomanas. Em 1532 praticamente toda a costa ocidental do Mediterrâneo sofreu ataques coordenados por Khizr; a marinha da Sacra Liga estava acuada, enquanto Andrea Doria buscava uma reação.

Em 1534, Khizr é promovido ao cargo de comandante da armada otomana (Kaptan-i-Deria), tendo sido recebido por Solimão no Topkaki, além de ser nomeado Beyerbey do Norte da África e Sancak (governador) de Rodes e Eubéia.

Tendo o comando da Armada Otomana, Khizr promoveu diversas ações militares, que culminaram na esmagadora derrota da armada da Sacra Liga na Batalha de Preveza (1538), sob o comando de Andrea Doria, e que trouxe, como conseqüencia, a hegemonia otomana sobre o mediterrâneo pelos 33 anos que se seguiram.

Fonte: Wikipédia.
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os dez piratas mais famosos

Conheça dez piratas famosos que realmente existiram e escolha seu preferido:

Os irmãos Barbarossa (ou Barba-Ruiva)

Se você não sabe, “Rossa”, em italiano, significa vermelho, ruivo. E talvez os nomes Aruj e Hizir não sejam familiares para você, mas com certeza você já ouviu falar do famoso pirata Barba-Ruiva. Barbarossa foi o nome dado aos irmãos turcos pelos corsários europeus. Sua base era na África e eles atacavam várias cidades costeiras, se tornando os homens mais famosos da região.

Sir Francis Drake

Um dos mais famosos piratas que navegavam pelas águas do Caribe, Francis Drake (1540 - 27 de Janeiro 1596) era considerado um nobre por alguns (Rainha Elizabeth I da Inglaterra o condecorou cavaleiro em 1581) e um bandido por outros (Espanha). Ele navegou pelo mundo e derrotou boa parte da Armada Espanhola. Suas pilhagens pela costa do Caribe, especialmente nas colônias espanholas, representam uma das maiores quantias arrecadadas com a pirataria. Ele morreu de disenteria em janeiro 1596, depois de um mau ataque a San Juan, Porto Rico.

Calico Jack

Calico Jack Rackham foi o primeiro a usar o emblema “oficial” dos piratas – a bandeira com a caveira e duas espadas cruzadas (conhecida no Caribe antigo como Jolly Roger). Ele é mais conhecido pela associação com Anne Bonny e por sua “clássica morte pirata” do que por seus feitos e pilhagens. Ele foi capturado na Jamaica e, para servir de aviso para outros piratas, foi enforcado e pendurado em um lugar alto, hoje conhecido como Rackham’s Cay.

Henry Morgan

Morgan é tão popular que hoje existe uma marca de rum que carrega seu nome. Henry Morgan (País de Gales 1635 — Jamaica, 25 de agosto de 1688) foi um oficial que se coverteu em corsário, associando-se com o pirata holandês Eduard Mansvelt e tendo o governador da Jamaica, Thomas Modyford como protetor, saqueou grande parte do Caribe, principalmente o Panamá, na época uma colônia espanhola.

Capitão Kidd

William Kidd (Greenock, 22 de janeiro de 1645 - 23 de maio de 1701) Levado para o mar ainda criança, emigrou para a América do Norte, residindo em Nova Iorque. Possuiu o próprio navio e em 1689 distinguiu-se como capitão a serviço da Inglaterra contra a França e na captura de embarcações piratas. Mas, ao atacar embarcações islâmicas, no mar Vermelho, foi rechaçado por um navio inglês que fazia escolta à essa frota mercante. Depois de outros incidentes infelizes, foi considerado à margem da lei pelos ingleses, sendo então preso e enforcado como pirata. Até hoje persistem boatos sobre a localização do enorme tesouro que ele teria reunido nos anos de pirataria e enterrado em alguma ilha perdida.

Bartholomeu Roberts

Bartholomeu Roberts (1682 — 1722), também conhecido por Black Bart, foi um pirata dos primeiros anos do século XVIII que embora não sendo o mais famoso, foi o mais bem sucedido na era de ouro da pirataria, nas águas africanas e caribenhas. Derrotou mais de 400 barcos em apenas quatro anos. Era um homem de muito sangue frio e raramente deixava algum inimigo viver. Caçado pelo governo britânico, morreu no mar.

Ching Shih

E quem disse que as mulheres não participaram ativamente da era de ouro da pirataria? Ching Shih foi capturada por piratas de um bordel cantonês e logo orquestrou seu caminho para a glória, se tornando uma das primeiras capitãs. Ela chegou a comandar uma frota com mais de cem navios e terminou a sua carreira em 1810, aceitando uma oferta de anistia do governo chinês. Ela manteve ainda seu barco, casou-se com o seu tenente e abriu uma casa de jogos. Morreu em 1844, com a idade de 69 anos.

Capitão Samuel Bellamy

Samuel Bellamy (23 de fevereiro de 1689 – 26 de abril de 1717), pirata  inglês, mais conhecido pela alcunha de  "Black Sam" Bellamy, apesar de ter morrido com apenas 28 anos, marcou seu nome na história pirata, capturando vários navios, incluindo o famoso Whydah Gally, um navio negreiro que vinha carregado com escravos e ouro. Ele tomou o Gally como seu “navio sede”, mas acabou morrendo com ele, em meio a uma enorme tempestade em 1717.

Anne Bonny

Já comentamos mais acima sobre Anne Bonny (8 de março de 1702 – possivelmente 22 ou 24 de abril de 1782), parceira de Calico Jack. Ela é a mais famosa pirata da história e dizem que era bonita, esperta e tão terrível como qualquer homem pirata. Ela era filha de latifundiários, mas abandonou sua vida tranqüila em 1700 e resolveu se tornar um “homem” do mar. Segundo a lenda, ela só foi poupada de ser morta com Calico Jack e com o resto de sua tripulação porque estava grávida (do próprio capitão).

Barba Negra

Barba Negra (Black Beard) se chamava na verdade Edward Teach (circa 1680 - Ocracoke, 22 de novembro de 1718). Ele era um corsário a ativo a favor dos ingleses, mas depois da Guerra da Sucessão Espanhola, se tornou pirata. Apesar da exuberância que ganhou o apelido dele, o aspecto mais proeminente da lenda de Barba Negra é o grande tesouro que teria sido enterrado por ele e que nunca foi encontrado. Porém, até hoje há dúvida de que o tesouro tenha existido. Sua embarcação foi encontrada em 1996 no litoral da Flórida, a uma profundidade de 10 metros; vários artefatos foram resgatados e recuperados.

Fontes: HypeScience; wikipédia.
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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Thomas Edison, o gênio da lâmpada

Um dos maiores gênios de todos os tempos não pode freqüentar a escola, mas revolucionou nossa vida aperfeiçoando o telefone, inventando a lâmpada elétrica, o fonógrafo e o projetor cinematográfico. Traçou desse modo o perfil tecnológico do mundo de hoje. Como ele mesmo dizia: "Se nós fizéssemos tudo o que somos capazes, literalmente nos surpreenderíamos."

Decididamente, o professor não gostava dele. "O garoto é confuso da cabeça, não consegue aprender", queixava-se o reverendo Engle daquele menino de 8 anos, agitado e perguntador, os cabelos eternamente despenteados, que se recusava a decorar as lições, como faziam todos os alunos — e ainda por cima ouvia mal.

Naquele ano de 1855, o reverendo Engle era o único professor da única sala de aula da cidadezinha de Milan, Ohio, estado americano perto da fronteira com o Canadá e, assim, o implacável diagnóstico fulminou, três meses depois de ter começado, a carreira escolar do estudante Thomas Alva Edison. Foi irremediável: nunca mais ele voltaria a freqüentar um lugar de ensino. Pode-se especular por toda a eternidade que diferença teria feito para a história pessoal de Edison se ele tivesse tido um professor menos bitolado, que não confundisse excesso de curiosidade com falta de inteligência.

É bem possível que as rotinas da educação arcaica terminassem por asfixiar a desmedida vontade de saber daquele aluno irrequieto e, isso sim, poderia ter feito enorme diferença para o perfil dos tempos modernos. Pois raras pessoas ajudaram tanto a esculpir o mundo atual como Thomas Alva Edison, o inventor da lâmpada elétrica e do fonógrafo, do microfone e do projetor de cinema, para citar apenas as de maior repercussão entre as literalmente mil - e - tantas utilidades que ele criou ou aperfeiçoou ao longo de uma vida trabalhada virtualmente sem tréguas quase até o final de seus 84 anos. Edison foi a encarnação mais que perfeita do supremo mito americano do “self made man” o homem que principia de baixo e apenas pelos próprios méritos termina coberto de glória e fortuna. Edison e os Estados Unidos parecem ter nascido um para o outro.

Em 1865, quando acaba a guerra civil entre o Norte e o Sul, que matou 617 mil americanos, Edison tem 18 anos e ganha a vida como telegrafista. Em 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova York anuncia os anos negros da Depressão, ele já passou dos 80 e festeja meio século da criação da lâmpada elétrica. Entre essas duas datas, os Estados Unidos deram um salto sem precedentes.

A explosão capitalista, que criou em tempo recorde um país vertiginoso, exigia incessantes inovações técnicas. E a tecnologia, ao produzi-las, acelerava ainda mais o ritmo das mudanças em todos os setores. Num país insaciavelmente ávido por novidades, Edison esteve sempre no meio dessa roda-viva.

Ele provavelmente não teria ido muito longe se não tivesse tido a mãe que teve. Ex-professora, casada com um pequeno comerciante chamado Samuel Edison, Nancy sentia por Thomas especial carinho, talvez por ter sido ele o caçula de seus sete filhos, três falecidos em criança, todos bem mais velhos que o menino. Além de afeto, Nancy tinha suficiente sensibilidade para perceber que não havia nada de errado com Al a culpa, ela sabia, era da escola que o rejeitava. E assim passou a educá-lo em casa, cercando-o de livros de História e Ciência, peças de Shakespeare e romances de Charles Dickens.

O filho não a decepcionaria. Leitor apaixonado pelo que lhe caísse nas mãos, apreciava especialmente escritos científicos. Não contente em ler, sentia necessidade de repetir as experiências mostradas nos livros de Química, acabando por montar em casa um pequeno laboratório. Os tempos, porém, eram difíceis para Samuel Edison, que a essa altura já se havia mudado com a família, em busca de melhores oportunidades, para Port Huron, Michigan, junto à fronteira canadense. Não só para pagar os materiais necessários a suas experiências, mas principalmente para ajudar no sustento da casa, Al arranjou emprego no trem diário que ligava Port Huron a Detroit, a futura capital mundial do automóvel. Eram três horas e meia para ir, outras tantas para voltar e seis horas entre uma viagem e outra, tempo mais que suficiente para vender a bordo frutas, balas, bombons, biscoitos e chocolates (na ida), tudo isso mais a edição vespertina do Free Press, o principal jornal de Detroit (na volta), e ainda para longas sessões de leitura, seja no bagageiro do trem, seja na biblioteca pública da cidade. Tempo suficiente também para experiências no laboratório que Al foi instalando a bordo, no sacolejante bagageiro, com a benevolente cumplicidade do chefe do trem, seduzido pelo espírito empreendedor daquele garoto mal-ajambrado de 12 anos.

Naquela época, o que fascinava os americanos, mais ou, menos como hoje o computador, era a eletricidade, cujos segredos começaram a serem desvendados pelo inglês Michael Faraday e o alemão Simon Ohm cerca de trinta anos antes de Edison nascer. Mas o que fascinava especialmente o rapaz era uma aplicação específica da eletricidade o telégrafo, inventado nos anos 1830 pelo americano Samuel Morse, em honra de quem passou a ser chamado o código de pontos e traços usado para a transmissão de mensagens por impulsos elétricos através de fios. A imprensa e o telégrafo capturaram a imaginação de Al. Com o dinheiro que Ihe rendia a venda de guloseimas e jornais, comprou em Detroit uma impressora de terceira mão para publicar um mal escrito semanário de avisos e fofocas, The Weekly Herald, O Arauto Semanal, inteiramente produzido por ele próprio no trem.

As possibilidades abertas pelo telégrafo para a difusão instantânea de notícias não escaparam ao jovem Edison, naqueles anos em que os americanos ansiavam por informações das furiosas batalhas da guerra civil. Aos 15 anos, solitário e tímido, não sabia se queria ser jornalista ou telegrafista. Por ora ganhava dinheiro com o jornalismo e a telegrafia, vendendo por preços exorbitantes os papéis impressos em Detroit com as notícias mais quentes da guerra. Um belo dia, o balanço do trem derrubou os frascos do laboratório e uma das traquitandas químicas pôs fogo no bagageiro. Assim que conseguiu controlar o incêndio, o chefe da composição arremessou para fora o inflamável material de pesquisa junto com o desconcertado pesquisador não sem antes aplicar-lhe severo corretivo.

Das muitas lendas inventadas sobre a carreira de Edison, talvez a mais popular atribui à sova que levou naquele infausto dia de 1862 a surdez quase total que o acompanhou vida afora. Na verdade, seus problemas de audição vinham desde os 6 anos, causados pela escarlatina que o atacou então. No máximo, a agressão no trem pode ter agravado a deficiência. Despejado, perambulou pelos Estados Unidos, aprendendo e praticando telegrafia. Revelou-se em pouco tempo um operador de primeira. Mas a rotina do trabalho o enfastiava e ele combatia o tédio passando trotes; assim, quando não se demitia, acabava demitido. Em dado momento, resolveu com dois outros companheiros ser telegrafista no Brasil. Como o navio em que deviam partir de Nova Orleans atrasou muito, desistiu da idéia.

Os amigos embarcaram; consta que acabaram morrendo de febre amarela. Por essa época, compra de segunda mão os dois volumes de Pesquisas experimentais em eletricidade, do inglês Faraday, por sinal também um autodidata, onde se demonstra como a energia mecânica pode se converter em eletricidade. O livro parece ter tido um impacto excepcional sobre seu inquieto leitor.

Com 21 anos, telegrafista em Boston, morando num quarto de pensão transformado num misto de biblioteca e laboratório, Tom, como já era chamado, descobriu um rumo para a vida — ser inventor. "Tenho muito que fazer e o tempo é curto", teria dito a um companheiro de pensão. Vou arregaçar as mangas." O que ele entendia por arregaçar as mangas logo tomaria forma na invenção pela qual recebeu a primeira patente uma máquina de votar para o Congresso dos Estados Unidos. Tratava-se, portanto, de um ancestral do sistema eletrônico de votação hoje usado em muitos parlamentos, inclusive no Brasil. Edison conhecia eletricidade, mas não conhecia os políticos. Para sua imensa surpresa eles não manifestaram o menor interesse pela engenhoca.

Já em Nova York, onde desembarcou sem um centavo no bolso, passou semanas a fio à custa de um ou outro conhecido. Sua dieta limitava-se a café com pastel de maçã. “Por sorte, eu gostava", lembraria anos mais tarde. Por um golpe do acaso, estava no lugar certo quando quebrou a máquina que transmitia pelo telégrafo as cotações do ouro na Bolsa. É claro que ele consertou a máquina em tempo recorde e é claro que foi recompensado com um emprego na companhia responsável pela divulgação do sobe-e-desce dos negócios com ouro. Logo Edison inventou um teletipo para registrar automaticamente numa fita de papel as cotações das ações na Bolsa. Ao oferecer o invento a um escritório de Wall Street, esperava receber por ele 5 mil dólares. Pagaram-lhe, sem que ousasse pedir tanto, 40 mil.

O dinheiro durou um mês, gasto todo ele em equipamentos para a firma de engenharia elétrica que montara com dois sócios numa velha loja perto do pátio da estação de bens de Jersey City, depois transferida para um casarão de três andares em Newark, também em Nova Jersey. Era o mais moço dos sócios, mas seu apelido era “o Velho". Morando em quarto alugado, sem se importar com sono, comida e roupas, começava o dia às 6 da manhã e só se recolhia depois da meia-noite. De negócios, entendia pouco e gostava menos.

Vida social tinha nenhuma. Trabalhava pelo prazer de remover os problemas no caminho de seus inventos, sempre pelo método do ensaio e erro. Era persistente como um obcecado, paciente como um sábio. Entrou para a história a sua frase: “Gênio é 1 por cento inspiração e 99 por cento transpiração".

Em 1876, aos 29 anos, construiu por conta própria aquilo que os historiadores consideram seu maior invento o primeiro laboratório não universitário de pesquisas industriais de que se tem notícia. Instalada num casarão que ergueu num ermo do interior de Nova Jersey chamado Menlo Park, essa verdadeira fábrica de invenções antecipou em quase um século os centros de pesquisa mantidos por empresas multinacionais do porte da IBM, Dupont e AT&T. Ali, o patrão Edison trabalhava de igual para igual com o mais novato de seus empregados. Só não lhe ocorria que algum deles pudesse ter uma atitude diversa da sua própria dedicação integral, irrestrita e exclusiva ao trabalho. Com esses era tirânico; em dias de mau humor despedia a torto e a direito. No Natal de 1871 casou-se com uma jovem de 16 anos, Mary Stilwell, que trabalhava em Menlo Park perfurando fitas telegráficas. Diz a lenda que ele a pediu em casamento batendo em código morse numa moeda. Outra lenda diz que, saindo da igreja, deixou-a em casa e foi trabalhar até altas horas. É certo que a amava, embora o casamento viesse sempre em segundo lugar. Isso não mudou nem com o nascimento dos filhos. Apelidou a primeira, Marion, de Dot (ponto, em morse), Junior, o segundo, era Dash (traço). Havia ainda William, o caçula.

Quando Mary morreu, aos 29 anos, de febre tifóide, o viúvo descobriu que eles lhe eram estranhos. Um ano e meio depois, casou-se com Mina Miller, filha de um fabricante de equipamentos agrícolas de Boston, com quem viria a ter uma menina, Madeleine, e os meninos Charles e Theodore.

No dia 14 de janeiro de 1876, Edison avisou o Escritório de Patentes dos Estados Unidos que estava trabalhando num invento destinado a transmitir a voz humana por um fio elétrico. Exatamente um mês depois, um certo Alexander Graham Bell entrou com um pedido de patente para o telefone. No dia 10 de março, pela primeira vez o som da voz humana foi transmitido pelo aparelho patenteado por Bell. Seu telefone, porém, era ainda um artefato primitivo e Edison tratou de aperfeiçoá-lo. O que o desafiava era encontrar um material que convertesse o som da voz em corrente elétrica com mais clareza. Fiel a seu estilo, inventou cinqüenta aparelhos diferentes até dar-se por satisfeito com o transmissor à base de carbono em uso ainda hoje e foi ele quem pela primeira vez gritou ao bocal, em vez do costumeiro "alguém aí?", simplesmente "alô".

Enquanto aperfeiçoava o telefone de Bell, ocorreu a Edison que, se o som podia ser convertido em impulsos elétricos, também deveria ser possível gravá-lo para ouvi-lo depois. Esboçou então um sistema que consistia em um diafragma, ou seja, uma membrana fina que vibrava quando atingida por ondas sonoras, uma agulha presa ao diafragma e um cilindro rotativo recoberto por uma folha de estanho. A vibração do diafragma se transmitia à agulha, que fazia um sulco na folha metálica. Esta, por estar presa ao cilindro acionado por uma manivela, girava. Terminada a gravação, fazia-se a agulha voltar ao ponto de partida. Mas então, ao girar-se a manivela, a agulha percorria a trilha do sulco; a vibração era transmitida ao diafragma, que assim reproduzia o som gravado. O próprio Edison inaugurou seu fonógrafo, ou a “máquina de falar", como ficaria conhecida no começo, recitando os versos da mais famosa canção infantil em língua inglesa: Mary had a little lamb" ("Mary tinha um carneirinho"). O fonógrafo fez de Edison, então com 31 anos, uma celebridade nacional e desse pódio ele jamais desceria até morrer, meio século mais tarde. Apesar disso, o invento permaneceu praticamente tal e qual durante quase uma década.

O próprio Edison e seus maravilhados contemporâneos não viam no fonógrafo aplicação comercial imediata. Ademais, logo a energia criativa do inventor se voltaria para outra direção a luz elétrica. Naquele final dos anos 70, o uso da eletricidade para iluminação não era mais novidade. Já se conhecia a lâmpada de arco, que iluminava ao lançar em curva uma corrente entre duas hastes eletrificadas. Mas a luz era ofuscante, durava pouco e produzia tremendo calor. Na época, as casas ainda eram iluminadas pela chama das velas, embora nas maiores cidades os lampiões de gás fossem amplamente usados nas ruas, teatros e grandes escritórios, mas, além de caro, o gás cheirava mal e não havia para ele um sistema geral de distribuição. Edison tinha na cabeça a idéia de conseguir uma luz suave como a do gás sem suas desvantagens.

O resultado, a lâmpada elétrica, foi a invenção que lhe daria mais problemas e trabalho. À primeira vista, o desafio parecia simples: tratava-se de achar um material que ficasse incandescente quando a corrente elétrica passasse por ele e fazer com esse material um fio fino, um filamento. Como outros inventores, Edison acreditava que esse filamento precisaria ficar isolado dentro de um bulbo de vidro do qual o ar tivesse sido retirado, pois o oxigênio facilita a combustão. Mesmo no vácuo, porém, todas as dezenas e dezenas de filamentos diferentes testados pela equipe de Edison queimavam em poucos minutos.

Durante mais de um ano, ele e seus assistentes faziam e testavam filamentos de todos os materiais possíveis e imagináveis. De experiência em experiência, chegaram ao fio de algodão carbonizado. Foi, literalmente, uma idéia luminosa. Acesa a 21 de outubro de 1879, a lâmpada brilhou 45 horas seguidas. Edison não pregou olho enquanto isso. Quando, tendo já aperfeiçoado o invento, convidou um repórter do New York Herald para contar a boa nova, foi mais que uma consagração. Edison passou a ser chamado de mágico e gênio para cima. Tornara-se provavelmente o homem mais admirado do mundo. Mas a lâmpada era só meio caminho andado, se tanto. Era preciso criar, peça por peça, um sistema de geração e distribuição de eletricidade acessível a toda a população.

Hoje em dia, quando tudo isso é rotina, pode-se ter apenas uma vaga idéia do tamanho da empreitada que permitiu a Edison produzir e distribuir energia elétrica a uma parte de Nova York em 1882. A tarefa rendeu ao inventor nada menos de 360 patentes que o ajudariam a tornar-se milionário. Mas, como ninguém é perfeito, ele perdeu tempo e dinheiro teimando, contra todas as provas em contrário, que o melhor sistema de transmissão de eletricidade a longas distâncias era o da corrente contínua, na qual os elétrons fluem numa mesma direção.

Durante muitos anos, sem base alguma, Edison dizia que o sistema de corrente alternada, no qual os elétrons fluem ora numa ora noutra direção, era ineficaz e perigoso. Ele chegou a eletrocutar animais para demonstrar os supostos riscos da corrente alternada e só se rendeu depois que o sistema por ele condenado foi adotado em toda parte. Uma das últimas invenções de Edison a marcar profundamente a civilização moderna foi o projetor de cinema, que ele chamava de cinetoscópio e estava para a imagem como o fonógrafo para o som. Patenteado em 1891, o aparelho era uma caixa de madeira dentro da qual havia uma lâmpada e um rolo de filme de fotografias com uma seqüência de imagens. Por um orifício na caixa via-se a grande ilusão: acionado por uma manivela, o filme rodava, dando a impressão de movimento.

Em 1903, no primeiro estúdio de cinema dos Estados Unidos, em West Orange, Nova Jersey, ele produziu O grande assalto ao trem, o primeiro filme a contar uma história de ficção. Consagrado como "o mais útil cidadão americano", Thomas Alva Edison viveu intensamente até o fim. Apesar de todos os esforços, comparáveis aos que empregou para inventar a lâmpada, não conseguiu produzir o carro de seus sonhos movido a eletricidade gerada por uma bateria. Entregou os pontos depois de 10 mil experiências e 1 milhão de dólares.

Morreu em 1931, aos 84 anos, certo de algumas verdades básicas. Como a de que "pensar é um hábito que ou se aprende quando se é moço ou talvez nunca mais". No dia de seu enterro, todas as luzes dos Estados Unidos foram apagadas durante 1 minuto.

Fonte: http://professorcampelobiologia.blogspot.com
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Sócrates

Sócrates nasceu em Atenas em 470/469 a. C. e morreu na mesma cidade em 399 a.C., condenado devido a uma acusação de "impiedade" - ele foi acusado de ateísmo e de corromper os jovens com a sua filosofia, mas, na realidade, estas acusações encobriam ressentimentos profundos contra Sócrates por parte dos poderosos da época. Ele era filho de um escultor, chamado Sofronisco, e de uma parteira chamada Fenarete.

Ao contrário de seus predecessores, não fundou uma escola, preferindo também realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, fascinando jovens, mulheres e políticos de sua época.

Segundo Reale & Antiseri (1990), depois de algum tempo seguindo os ensinos dos naturalistas, Sócrates passou a sentir uma crescente insatisfação com o legado desses filósofos, e passou a se concentrar na questão do que é o homem - ou seja, do grau de conhecimento que o homem pode ter sobre o próprio homem.

A descoberta de que o homem é a sua psyché
 
Enquanto os filósofos pré-Socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder à questões do tipo: "O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?" Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: "O que é a natureza ou a realidade última do homem?"

A resposta a que Sócrates chegou é a de que o homem é a sua alma - psyché, por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua história, uma personalidade única. E por psyché Sócrates entende nossa sede racional, inteligente e eticamente operante, ou ainda, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Esta colocação de Sócrates acabou por exercer uma influência profunda em toda a tradição européia posterior, até hoje.

Ensinar o homem a cuidar de sua própria alma seria a principal tarefa a ser desempenhada por ele, Sócrates, e por todos os filósofos autênticos. Sócrates acreditava vivamente ter recebido essa tarefa por Deus, como podemos ler na Apologia de Sócrates, de Platão: "(...) é a ordem de Deus. E estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade que esta minha obediência a Deus. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar só do corpo, nem exclusivamente das riquezas, e nem de qualquer outra coisa antes e mais fortemente que da alma, de modo que ela se aperfeiçoe sempre, pois não é do acúmulo de riquezas que nasce a virtude, mas do aperfeiçoamento da alma é que nascem as riquezas e tudo o que mais importa ao homem e ao Estado."

Segundo Reale & Antiseri (1990), um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese é o seguinte: uma coisa é o instrumento que se usa e a outra é o sujeito que usa o instrumento. Ora, o homem usa o seu corpo como instrumento, o que significa que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo o próprio corpo. Assim, à pergunta "o que é o homem?", não seria lógico reponder que é o seu corpo, mas sim que é "aquilo que se serve do corpo", que é a psyché, a alma. Esta mesma alma seria imortal e fadada a reencarnar tantas vezes fosse necessárias até a alma se aperfeiçoar de tal forma que não precisasse mais voltar a este planeta.

O "daimonion" socrático

Entre as acusações contra Sócrates estava a de que ele estava introduzindo novos daimonions, novas entidades divinas. Em sua Apologia, Sócrates diz: "A razão (...) são aquelas acusações que muitas vezes e em diversas circunstâncias ouvistes dizer, ou seja, que em mim se verifica algo de divino ou demoníaco (...) uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde que eu era menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detém de fazer aquilo que é perigoso e que estou a ponto de fazer, mas que nunca me exortou a fazer nada". Ou seja, o daimonion socrático era "uma voz" que lhe vetava determinadas coisas, o que o salvou várias vezes de perigos e experiências negativas (Reale & Antiseri, 1990, p. 95). Ela não lhe revelava nada, apenas vetava algumas coisas que lhe eram perigosas.

O daimonion socrático é algo muito específico que diz respeito muito particularmente à excepcional personalidade de Sócrates, colocando-se no mesmo plano de um tipo de mediunismo que se fazia presente em certos momentos de concentração muito intensa, e outros momentos bastante próximos aos arrebatamentos de êxtase em que Sócrates (assim como ocorria com Buda, Plotino, Joana D'Arc, etc) mergulhava algumas vezes e que duravam longamente, coisa da qual tanto Platão quanto Xenofonte falam expressamente.

Jostein Gaarder fala que as pessoas ainda hoje se perguntam por que Sócrates teve de morrer. Então ele faz um paralelo entre Jesus e Sócrates: ambos eram pessoas carismáticas e eram consideradas pessoas enigmáticas ainda em vida. Nenhum dos dois deixou qualquer escrito, e precisamos confiar na imagem e impressões que eles deixaram em seus discípulos e conteporâneos. Ambos eram mestres da retórica e tinham tanta autoconfiança no que falavam que podiam tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. E ambos acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior do que eles mesmos. Ambos desafiavam agudamente os que detinham o poder na sociedade, apontando sem piedade as hipocrisias e falsos fundamentos em que se assentavam para cometer toda sorte de abusos e injustiças. Foi isto que, no fim, lhes custou a vida. Afinal, os que questionam são sempre perigosos para os poderosos e pseudo-sábios de todas as épocas.

A maneira como Sócrates fazia as pessoas conhecerem-se a si mesmas também estava ligada à sua descoberta de que o homem, em sua essência, é a sua psyché. Em seu método, ele tendia a despojar a pessoa da sua falsa ilusão do saber, fragilizando a sua vaidade e permitindo, assim, que a pessoa estivesse mais livre de falsas crenças e mais susceptível à extrari a verdade que também estava dentro de si. Sendo filho de uma parteira, Sócrates costumava comparar a sua atividade com a de trazer ao mundo a verdade que há dentro de cada um. Ele nada ensinava, apenas ajudava as pessoas a tirarem de si mesmas opiniões próprias e limpas de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro, de acordo com a consciência, e não se pode obter expremendo-se os outros. Até mesmo na atividade de aprender uma disciplina qualquer, o professor nada mais pode fazer que orientar e esclarecer dúvidas, como um lapidador tira o excesso de entulho do diamante, mas não o faz. O processo de aprender é um processo interno, e tanto mais eficaz quanto maior for o interesse de aprender. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento.

Em certo sentido, dizemos que quando uma pessoa "toma juízo", ela simplesmente traz à consciência algo muito claro que já estava "dentro" de si. Assim, as finalidades do diálogo socrático são a catarse e a educação para o autoconhecimento. Dialogar com Sócrates era se submeter a uma "lavagem da alma" e a uma prestação de contas da própria vida. Como disse Platão: "quem quer que esteja próximo a Sócrates e, em contato com ele, põe-se a raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado pelas espirais do diálogo e inevitavelmente é forçado a seguir adiante, até que, surpreendentemente, ver-se a prestar contas de si mesmo e do modo como vive, pensa e viveu".

No ano 399 a.C. o filósofo Sócrates foi condenado a morte e obrigado a tomar cicuta.

Em seu método, ao iniciar uma conversa, Sócrates sempre adotava a posição de uma pessoa ignorante, que apenas "sabe que nada sabe". E justamente por usar esta afirmativa, ele forçava as pessoas a usarem a razão. Ele entrava de tal forma na conversa, e de tal forma a dominava, que era capaz de aparentar uma maior ignorância ou de mostrar-se mais tolo do que realmente era. Seus discípulos mais fieis já sabiam que quando o opositor caia nesta jogada, logo logo levaria um tombo tremendo quando o quadro se invertesse. Esta era o método de Sócrates: usar a ironia.

Foi assim que ele expôs muito das fraquezas do pensamento ateniense. Um encontro com Sócrates podia significar o risco de expor-se ao ridículo. Mas as pessoas que passaram por isto e conseguiram superar o choque do orgulho ferido, indo até o fim no processo cartático, acabavam por extrair de si mesmo a resposta em tudo lógica e compatível com os problemas expostos, dando-lhe a solução. O resultado é que o indivíduo sentia uma verdadeira sensação de iluminação, de descoberta, de der dado à luz algo de valioso que havia dentro de si, mas de que não tinha a mínima consciência. Foi assim que Sócrates conquistou fervorosos discípulos. Mas se a pessoa entregava-se ao orgulho ferido, tornava-se um inimigo feroz. E esta foi a razão que lhe custou a vida.

(por Carlos Antonio Fragoso Guimarães).

Bibliografia sugerida:

* "Sócrates" - Coleção Os Pensadores, Editora Abril, São Paulo, 1987
* Gaarder, Jostein. - "O Mundo de Sofia", Companhia das Letras, São Paulo, 1995
* Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. - "História da Filosofia", Vol. I, Ed. Paulus, São Paulo, 1990

Fonte: http://www.geocities.com/CapitolHill/8992/socrates.htm
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