domingo, 27 de outubro de 2013

Ambrósio Paré, o Pai da Cirurgia

Naquela época, em que os médicos só possuíam, revestida de frases gregas e latinas, uma ignorância extrema, Ambrósio Paré oferece quase o aspecto de um revolucionário. Os doutores em medicina desdenhavam os cirurgiões, que eram, para eles, simples “sangradores” e barbeiros, e eis que, num cúmulo de audácia, Ambrósio Paré, de humilde origem, servindo sob as ordens de um desses barbeiros, arvorava-se a entendido na matéria, e sem saber escrever em latim!

Por ter abandonado velhas rotinas e graças a uma longa experiência de sessenta anos, Paré fez importantes e decisivas descobertas e, ao passo que seus ferrenhos detratores jazem hoje esquecidos, sepultados nos seus alfarrábios latinos, o “pai da cirurgia” é nome atual, sempre citado e sempre respeitado.

Foi Ambrósio Paré quem ousou praticar a primeira desarticulação do cotovelo, e os cirurgiões modernos lhe devem a prática da ligadura das artérias, feita por ele, pela primeira vez, em pleno campo de batalha. Não podendo usar o cautério, então em voga, talvez porque lhe faltassem no momento meios materiais, Ambrósio Paré teve a ideia de ligar as artérias. E o êxito foi absoluto.

Ainda hoje é usado esse processo de estancamento de hemorragias. Ambrósio foi lutador. Para receber o título de doutor, teve de empenhar-se em tenaz campanha. Na Idade de 44 anos, após vinte anos de prática, defendeu tese. Nos relatórios da Faculdade, em Paris, lê-se a indignação que causou o seu latim, e consta que “somente em consideração ao rei”, ele foi aceito. Foi-lhe, todavia, imposta uma condição: tinha que estudar o latim, tinha que se aperfeiçoar.

Naquela época, médico que não falasse, receitasse e escrevesse em latim, não era médico...

A posteridade ignora se Paré estudou, mesmo, o idioma de Ovídio, Cícero e Virgílio. Sabe, contudo, que seu nome é respeitado como um símbolo e acatado por todos aqueles que têm feito da cirurgia, hoje tão adiantada, sua honrosa profissão.

Ambrósio Paré foi cirurgião titular dos reis Henrique II e de seus três filhos, que se sucederam no trono da França: Francisco II, Carlos IX e Henrique III.


Fonte: Almanaque d'o Tico-Tico - 1955.

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