Nasceu
no primeiro dia de setembro de 1916 e foi batizada como Celeste Aída
Cruz. Seu nome, portanto, não é artístico como muitos pensam. Sua mãe
era amante da ópera e foi num gênero semelhante, o da opereta, que
Celeste Aída estreou.
Tudo começou por acaso. Em fins de 1938, aos 21 anos, Celeste foi assistir a um ensaio da peça Algemas Quebradas, de De Chocolat, com a Companhia Negra de Operetas.
Sua figura despertou a atenção
dos produtores do espetáculo, que, descobrindo sua bela voz, a
contratam. Sua estreia foi ao lado de grandes nomes: Grande Otelo, Apolo
Correia, Pérola Negra e Índia do Brasil.
A peça foi bem recebida pela
crítica da época, e Celeste foi chamada de a flor da companhia por Mário
Nunes, crítico de O Globo. Seu número de maior êxito foi o samba A
Carne é Negra, que cantou ao lado de Grande Otelo.
Em seguida, Celeste foi convidada por Álvaro Pinto a participar da revista Camisa Amarela,
em março de 1939, no Recreio. Ela executava o principal quadro, o samba
de Ary Barroso, que dava nome ao espetáculo. Novamente Celeste foi a
figura mais destacada de um elenco ainda mais estelar que o anterior,
Oscarito, Eva Todor, Margot Louro e Pedro Dias.
Após a temporada no Recreio,
alcançou o status de vedete, causando polêmica por fazer apresentações
com roupas sumárias, sempre com o umbigo de fora. Celeste já era uma
figura de destaque no elenco, quando começou a se desnudar em cena.
Lançou no palco o maiô de duas peças, bem antes do biquíni. Não era
exatamente bonita, era inclusive meio gordinha. Fugia um pouco do padrão
de mulher boa. Mas tinha graça, um belo sorriso, e era extremamente
simpática e articulada. Cativava pelo conjunto da obra.
Como a beleza não era o seu
forte começou, também, a investir no tipo cômico. Uma de suas criações
mais frequentes era a da mulher-invertida, uma representação da lésbica,
com figurino e trejeitos masculinos. Fazia também mulheres sisudas e
antipáticas. Apesar de ter construído uma carreira bem-sucedida como
caricata, Celeste Aída jamais deixou de ser vedete. Exímia sambista e
ótima cantora, sempre participava dos números musicais populares.
Em 1940, fez sua primeira
excursão artística: uma turnê pelos Estados Unidos. Na época, chegou a
ser confundida com Carmen Miranda, que ainda não era muito conhecida dos
americanos.
Apesar de todo esse sucesso,
Celeste não conseguia sobreviver só do ordenado de atriz. Passou a
conciliar a carreira com outra atividade: foi vendedora, numa boutique
da Cinelândia, centro do Rio. No mesmo ano recebeu proposta para atuar
no filme argentino Embrujo, no papel de uma macumbeira. Celeste
aceitou o convite. Pediu demissão de seu emprego de vendedora e recusou
um contrato com Walter Pinto. Emagreceu 9 kg para atuar no filme. Mas a
companhia atrasou as filmagens. Celeste perdeu dinheiro e desistiu do
filme. Em seguida, ingressou na companhia de Pascoal Segreto.
Nessa época apaixonou-se pelo
palhaço de circo, Petrônio Santana, conhecido como Picolé. Celeste quis
ajudá-lo, financeira e artisticamente lançando-o na revista Hoje tem Marmelada?,
encenada pela Companhia Jardel Jércolis, no Recreio. Era outubro de
1942, e a peça apresentava inovações, com incursões circenses.
No ano seguinte, se casou com
Petrônio e trocou seu nome artístico para Colé Santana. Iniciam uma
carreira como dupla, fazendo números cômicos e dançando o famoso maxixe acrobático,
executado graças ao jogo de corpo adquirido pela formação circense de
Colé. Em seus números de comédia, um ridicularizava o outro. Celeste
passou a fazer o tipo da esposa jararaca e machona, que terminava a
discussão espancando o franzino e submisso marido. O sucesso da dupla
alcançou o rádio e o cinema. Colé foi a revelação cômica da época.
Celeste, com a influência de seu
nome, conseguia bons contratos para o marido. Continuava com seu
trabalho solo nas revistas. Sua imitação de Josephine Baker se tornou
muito popular. O número passou a ser seu carro-chefe.
No fim dos anos 1940, o casal
assinava com a companhia de Geysa Bôscoli, atuando em mais de uma dezena
de espetáculos, e participando de uma bem-sucedida turnê pela
Argentina, no ano de 1950. Brotinhos e Tubarões (1949); Olha a Boa! (1949); Bonde do Catete (1950); Rabo de Peixe (1950) e Boca de Siri (1951)
são alguns espetáculos dessa fase. Nessa época, Colé já era considerado
um grande cômico. Ele era o número um da companhia enquanto Celeste
ficava à sombra do sucesso do marido. Aos poucos, o casamento foi se
desgastando.
Em 1951, a Cia. Geysa Bôscoli
contratou um novo nome: a vedete Nélia Paula, uma mulher lindíssima, no
auge da beleza e mocidade. Colé não resistiu e começou a se relacionar
com a morena. O romance acontecia à vista de todos. A imprensa publicava
notas sobre o affair, até que Celeste desistiu do casamento de
nove anos. Pediu o desquite, em 1952. O assunto virou manchete de jornal
e capa da Revista do Rádio.
Foi um período muito triste em
sua vida. A traição foi dupla, pois Nélia era sua amiga e confidente.
Não se deixando abater, Celeste voltou aos palcos pouco tempo depois.
Foi a principal atração dos shows da recém-inaugurada boate Mandarim, em
Copacabana.Tomava parte nos quadros cômicos, ao lado de Ankito. Mas foi
um fracasso. Em seguida, atuou na série de espetáculos de Genésio
Arruda no Teatro República. Eram peças de Tom Bill, autointituladas de
comédias-chanchadas, com balé popular e números de plateia por conta da
atriz.
Enquanto Colé elevava Nélia
Paula ao estrelato e preparava para montar companhia própria, Celeste
Aída enfrentava dificuldades sem o marido. Demorou a emplacar
novamente.Tentou carreira na vida noturna de São Paulo, cantando em
boates.
Em 1955 fez sua primeira
experiência como empresária e, finalmente, voltou a sentir o sabor do
sucesso. Fez uma curta temporada no Teatro Madureira, da amiga Zaquia
Jorge e, em seguida, estreou noTeatrinho Jardel, em Copacabana.
Apresentou a revista Coquetel de Estrelas, com Lya Mara, Evilásio Marçal, Carla Nell.
A carreira de empresária, apesar
da boa receptividade do público, foi pontual na carreira de Celeste
Aída. Conseguiu emplacar alguns sucessos, mas constantemente era
arrasada pela imprensa. No final dos anos 1950, passou a estrelar todos
os seus espetáculos, atuando também como diretora artística.
Um de seus melhores trabalhos nesse período foi a revista Disfarça e... Entra,
encenada no Teatro Zaquia Jorge (antigo Madureira), em 1961. O programa
da peça apresentava-a como a fulgurante estrela Celeste Aída.
Até meados dos anos 70,
continuou no teatro de revista (já em decadência), fazendo espetáculos
com Silva Filho, e outros heróis da resistência.
O ano de 1978 marcou uma tragédia em sua vida. No teatro, terminava uma temporada de Esse Lixo é um Luxo, e na televisão participava da novela Sem Lenço, sem Documento,
na Rede Globo. Celeste era diabética e não sabia. Um dia, cortando um
calo no pé esquerdo, machucou-se, teve uma infecção que virou gangrena.
Abandonou os palcos. Depois de quatro cirurgias, amputaram-lhe a perna.
Sem dinheiro para custear o tratamento e com muitas dificuldades, foi
viver no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.
Mesmo sem uma perna e vivendo no
Retiro, Celeste não desanimava e declarava à Imprensa que queria
retornar aos palcos. Seu desejo foi atendido. Foi dirigida por Hermínio
Bello de Carvalho, como estrela do show Nossas Vidas são um Palco Esculachado, no João Caetano, em 1981.
De cadeira de rodas, no mesmo
teatro em que estreou em 1938, Celeste Aída fez apresentações de seus
conhecidos monólogos e músicas do repertório do teatro de revista. O
espetáculo, do projeto Seis e Meia, foi muito bem recebido pelo público e elogiadíssimo pela crítica.
No entanto, nova tragédia se
abateu sobre Celeste. Problemas de saúde obrigaram a amputação da outra
perna. Retornou ao Retiro dos Artistas e às condições modestas de vida.
Vivia com apenas um salário mínimo, que mal cobria a despesa com os
remédios.
Por sua luta e vontade de viver,
recebeu o título de artista símbolo do Ano Internacional do Deficiente
Físico. Voltou às manchetes dando uma longa entrevista para O Globo, com
o título Sem amor, sem pernas e sem dinheiro. Na reportagem só
pedia que lhe concedessem um nova oportunidade para voltar aos palcos.
Faleceu sem conseguir o que tanto queria.
Poucos meses antes de sua morte, a Rede Globo apresentou um programa sobre sua vida, o Caso Verdade Amar a Vida.
Exibido em outubro de 1983, com direção de Milton Gonçalves, toda a
carreira da atriz era narrada e interpretada por outros atores,
entremeando depoimentos de colegas, como Renata Fronzi, Dercy Gonçalves e
o crítico Jota Efegê.
No dia 11 de junho de 1984, aos
68 anos, foi encontrada morta em sua residência no Retiro. O corpo foi
velado no Teatro Glauce Rocha, a seu pedido, e sepultado no cemitério do
Caju, no Rio de Janeiro.
Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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