Diz que o pajé da tribo foi chamado à tenda do cacique.
Quando o pajé entrou, o cacique estava deitado meio sobre o gemebundo, se me permitem o termo. A perna do cacique estava inchada, mais inchada que coxa de corista veterana. Tinha pisado num espinho envenenado.
O pajé examinou, deu uns dois ou três roncos de pajé e depois aconselhou:
— Chefe tem passar perna folha de galho passarinho azul pousou.
Disse e se mandou, ficando os índios do "staff" do cacique (cacique também tem "staff") encarregados de arranjar a tal folha.
Depois de muito procurarem, viram um sanhaço pousado num galho de mangueira e trouxeram algumas folhas. Mas — eu pergunto — o cacique melhorou? E eu mesmo respondo: aqui! ó...
No dia seguinte estava com a perna mais inchada. Chamaram o pajé de novo. O pajé veio, examinou e lascou: Hum-hum... perna
grande guerreiro melhorou nada com folha galho passarinho azul pousou. Precisa lavar com água de lua. Disse e se mandou.
O "staff" arranjou uma cuia e botou a bichinha bem no meio da maloca, cheia de água, que era pra — de noite — a lua se refletir nela. Foi o que aconteceu. De noite houve lua e, de manhãzinha, foram buscar a cuia e lavaram com a água a
perna do cacique.
O pajé já até tinha pensado que o chefe ficara bom, pois não foi mais chamado.
Passados uns dias, no entanto, voltaram a apelar para seus dotes de curandeiro. Lá foi o pajé para a tenda do cacique,
encontrando-o deitado e com uma perna mais inchada que cabeça de botafoguense.
Aí o pajé achou que já era tempo de acabar com aquilo. Examinou bem, fez um exame minucioso e sentenciou:
— Cacique vai perdoar pajé, mas único jeito é tomar penicilina.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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