Depois teve o caso do dia em que Rosamundo ficou doente. Era — ao que parece — um vírus qualquer que Rosamundo arranjou. É que estava incomodando mais que disco de Orlando Dias na vitrola do vizinho. Então Rosamundo foi ao médico.
O consultório do médico de Rosamundo fica na cidade, num desses prédios que a desmoralizada e saudosa Prefeitura deixava construir, com milhares de cubículos à guisa de cômodos conjugados — segundo expressão de um dos grandes calhordas imobiliários desta praça.
Rosamundo foi, entrou no consultório e ficou na salinha de espera, aguardando a sua vez.
Mas, de repente, Rosamundo começou a suar frio. Ainda tentou agüentar a mão, disfarçar, pensar noutra coisa. Mas foi impossível. Levantou-se apressadamente, perguntou à enfermeira onde ficava o banheiro.
— Segunda à esquerda, ali no corredor — foi a resposta.
Rosamundo não esperou mais. Saiu da saleta de espera pelo corredor, como um doido, contou a primeira porta, abriu a segunda e entrou. Era um cubículo escuro, como sói acontecer nos prédios como aquele, mas isto não teria a mínima importância, se não houvesse uma senhora, com ar muito digno, parada no meio do "toilette" com cara de quem espera alguma coisa.
Rosamundo ali naquele aperreio e a dona parada que nem parecia. E o tempo passando. Cada segundo parecia um século. E ela nem nada. Parada e tranqüila. Nessas horas é que Rosamundo perguntou:
— A senhora não vai sair daí?
Ela estranhou a pergunta, mas com toda classe, quis saber:
— Por que, cavalheiro?
— Porque eu preciso usar este banheiro.
A dama pensou que Rosamundo fosse maluco e com o maior desprezo, informou:
— Por favor, o senhor use depois que chegarmos ao térreo e eu saltar, cavalheiro. Porque isto aqui não é um banheiro. Isto aqui é um elevador.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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