Foi
em Niterói! É o caso do Sargento Gilson Calado, que não é tão calado
assim e, depois de botar a boca no trombone, por causa das imposições da
ex-futura sogra, gorda senhora de sólido físico e sólidos princípios,
avançou para a indefesa senhora "prostrando-a com diversas dentadas na
região cervical", isto é, mordeu-lhe o cangote dela com força.
Diz que a vítima (a vítima da agressão, porque no caso em si, Calado era
muito mais vítima), Dona Laudenira Santana, era fogo e não deixava a
filha ir nem na esquina sozinha, muito menos acompanhada. O sargento, no
entanto, já tinha estabilidade, não só porque era noivo da filha de
Dona Laudenira, como também já estava há cinco anos noivando firme.
— O senhor quer conversar com ela, tem que ser aqui na sala — dizia a
gorda e implacável futura sogra. — A Delia só sai de casa comigo.
Delia — eu ia esquecendo de dizer — era a noiva do Calado. E
convenhamos: assim era demais. Se ao invés de "pra casar" o sargento
estivesse paquerando na base do "pra que é", ainda vá... mas noivo no
duro; um tremendo noivo de cinco anos; era chato!
Sempre a mesma coisa. O sargento chegava, batia continência pra Dona
Laudenira e ia pra sala, onde ficava a Delia num canto e ele no outro,
só de olho, porque a velha dava uma incerta a toda hora. Qualquer
silêncio maior, ela botucava o ambiente.
Até que chegou o domingo. A situação, que encheria até saco de filo,
permanecia a mesma e Calado resolveu contrariar o nome de família,
metendo lá um independência ou morte, às margens de Dona Laudenira.
Chegou pra ela e vomitou:
— Olha, dona, eu e a Delia vamos até à esquina, dar uma voltinha.
— É o que você pensa, rapaz! — teria respondido a vigilante maternal ao
vigilante municipal (Calado é sargento da Polícia Municipal). - Eu já
disse e repito que a Delia só sai de casa comigo.
Aí foi aquela forra: Calado avançou para a futura sogra e quando esta
virou as costas para se mandar, ele deu com aquele suculento cangote a
tremer na sua frente, de raiva e medo. Não conversou, tacou-lhe a
primeira dentada, a segunda, a terceira... enfim, deu de goleada.
Tão alucinado ficou que, ao ver a Delia tomando a defesa da mãe, deu-lhe
uma dentada de sobra, no nariz. O noivado tá desfeito. O sargento
satisfeito.
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sábado, 17 de setembro de 2011
O homem que mastigou a sogra
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival
de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e
ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização
Brasileira, 1996.
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