Cacilda Becker (Cacilda Becker Yáconis), atriz, nasceu em Pirassununga SP, em 6/4/1921, e faleceu em São Paulo SP, em 14/6/1969. Protagonista de vários espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia, fundadora da companhia que leva o seu nome.
Cacilda interpreta personagens antagônicos, como o moleque de Pega Fogo, a velha de Jornada de um Longo Dia para Dentro da Noite, a devassa de Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, a rainha de Maria Stuart, o clown de Esperando Godot. Indo da farsa à tragédia, do clássico ao moderno, é considerada, por alguns teóricos, a maior atriz do teatro brasileiro.
Ainda menina, estuda dança e trabalha para manter a casa. Aos 20 anos, atua no Teatro do Estudante do Brasil - TEB, em 3.200 Metros de Altitude, de Julien Luchaire, e Dias Felizes,
de Claude-Andre Puget, tendo como ensaiadora Esther Leão, em 1941.
Ainda nesse ano, une-se à Companhia de Comédias Íntimas, de Raul
Roulien, participando de uma série de espetáculos, entre eles, Trio em Lá Menor, de Raimundo Magalhães Junior, sob a direção de cena de Sadi Cabral.
Faz rádio-teatro. Em 1943,
ingressa no grupo criado por Décio de Almeida Prado, Grupo Universitário
de Teatro - GUT, no qual participa de três espetáculos: Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente; Os Irmãos das Almas, de Martins Pena; e Pequenos Serviços em Casa de Casal, de Mário Neme.
Trabalha, em 1944, na Companhia de Comédias de Bibi Ferreira. Em 1945, volta ao GUT, atuando em Farsa de Inês Pereira e do Escudeiro, de Gil Vicente, direção de Décio de Almeida Prado. Colabora com Os Comediantes
na remontagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, no papel de
Lúcia, a irmã da protagonista, em 1947. Ainda nesse ano, sob o mesmo
conjunto, participa também de Era Uma Vez um Preso, de Jean Anouilh, com direção de Ziembinski; Terras do Sem Fim, adaptação de Graça Mello do livro de Jorge Amado, dirigido por Zigmunt Turkov; e Não Sou Eu..., de Edgard da Rocha Miranda, mais uma encenação de Ziembinski.
Em 1948, protagoniza A Mulher do Próximo,
texto e direção de Abílio Pereira de Almeida, um dos espetáculos
inaugurais do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, em sua fase amadora. É
a primeira profissional a ser contratada pela companhia. Está presente
em quase todas as montagens do conjunto entre 1949 e 1955, com
destaque para Nick Bar...Álcool, Brinquedos, Ambições, de William Saroyan e Arsênico e Alfazema, de Joseph Kesselring, ambos dirigidos por Adolfo Celi em 1949. Em 1950, participa de A Ronda dos Malandros, de John Gay, espetáculo polêmico de Ruggero Jacobbi.
No Teatro das Segundas-Feiras, acontece a sua primeira consagração. Pega Fogo,
de Jules Renard, inicialmente formando um programa triplo ao lado de
outros dois textos, torna-se um grande sucesso, entrando em carreira no
horário nobre do teatro e permanecendo em cartaz por muito tempo. Sua
interpretação do moleque Poil de Carotte lhe vale um artigo apaixonado
de Michel Simon, quando o espetáculo se apresenta no Teatro das Nações,
em Paris. O crítico compara a atriz a Charlie Chaplin e Jean Louis
Barrault, e, depois de dizer que ela rompera sua pretensa frieza de
especialista fazendo-o chorar, procura a origem da emoção no "rosto
emaciado", no "olhar em vírgula (como nos desenhos de Poulbot)", nos
"gestos pletóricos de garoto infeliz e arrogante" e afirma: "Poil de
Carotte não pode ter mais, para mim e para muitos outros, de agora em
diante, outro rosto senão o seu".
Atua em Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello, novamente dirigida por Celi, e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, encenação de Luciano Salce, ambos em 1951. No ano seguinte, está em Antígone, de Sófocles (1º ato) e de Jean Anouilh (2º ato). Em 1955, é antagonista de sua irmã, Cleyde Yáconis, em Maria Stuart, de Schiller, novamente com o diretor Ziembinski.
Despede-se do TBC em 1957 e
funda um ano depois, com Walmor Chagas, Ziembinski, Cleyde Yáconis e
Fredi Kleemann, o Teatro Cacilda Becker - TCB, no qual desempenha sua
carreira durante 22 anos. Em 1958, está em Jornada de um Longo Dia para Dentro da Noite, de Eugene O'Neil, representando Mary Tyrone, personagem vinte anos mais velha do que ela; protagoniza A Visita da Velha Senhora,
de Dürrenmatt, 1962; é premiada com medalha de ouro da Associação
Brasileira de Críticos Teatrais - ABCT, como melhor atriz de 1965, pelas
peças A Noite do Iguana, de Tennessee Williams, e O Preço de um Homem, de Steve Passeur.
Sob a direção de Maurice Vaneau, interpreta a protagonista de Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?,
de Edward Albee, também em 1965. O crítico Décio de Almeida Prado
relembra: "A prolongada sessão de terapia pela bebida, pela flagelação e
autoflagelação que é Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? deu-lhe
ensejo para uma de suas maiores criações. À medida que a sua voz e a sua
dicção se tornavam pastosas, que as insinuações sexuais,
deliberadamente vulgares, se explicitavam, aumentava a alucinante fusão
estabelecida entre intérprete e personagem. Uma senhora, dias depois de
assistir ao espetáculo, não se conteve quando lhe falaram em Cacilda
Becker, "Bêbada", murmurou indignada. Cacilda se queixou, aliás, de
espectadores que, terminada a peça, na hora dos agradecimentos,
avançavam para o palco e a insultavam baixinho".
Os efeitos da ditadura militar
sobre a atividade teatral fazem surgir uma Cacilda Becker militante das
causas de sua classe. Demitida da TV Bandeirantes, sob a alegação de
que suas interpretações são subversivas. A atriz assume a presidência
da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, lugar que enfrenta a
repressão em defesa dos direitos dos artistas e produtores. Quando, em
1968, o espetáculo Primeira Feira Paulista de Opinião sofre 71 cortes
de censura no dia do lançamento, a atriz surge no proscênio e se
responsabiliza pela apresentação do texto na íntegra, em um ato de
rebeldia e desobediência civil. Sua convicção faz com que os censores e
agentes federais presentes no teatro acatem sua decisão e assistam ao
espetáculo.
Durante uma sessão de Esperando Godot,
de Samuel Beckett, com direção de Flávio Rangel, 1969, a atriz sofre
um derrame cerebral e morre 38 dias depois. Ao se completar 10 anos de
sua morte, Yan Michalski escreve em artigo para o jornal: "... não
temos até hoje outra atriz-fenômeno como Cacilda, com a mesma
generosidade de entrega, a mesma capacidade de mergulhar até o fundo em
cada personagem, a mesma inquietação, tenacidade, a mesma coragem na
composição, pedra por pedra, de um repertório coerente. [...] Uma
pessoa com este carisma, com esta capacidade de falar legitimamente em
nome de todo o teatro brasileiro, e sempre disposta a fazê-lo com
firmeza e serenidade, talvez seja o que mais nos faz falta desde que
Cacilda desapareceu [...]".
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