O dialeto da "Boca": Ali, gansos, loques e laranjas eram engomados. Adoniran e Isaura Garcia: "O que foi que nóis fez?"
"Durante a ditadura estado-novista (Getúlio Vargas), particularmente de 1940 em diante, piscaram os sinais de alerta para os malandros e os que cultuavam a malandragem.
Desencadeou-se uma cruzada contra a "malandragem" carioca que tinha entre seus objetivos interromper a íntima relação que, na história da música popular brasileira, unira o samba à malandragem.
Mesmo assim, em pleno império do DIP, de modo enviesado que fosse, tipos que viviam à margem do trabalho regular continuavam a freqüentar muitas composições, como que a fornecer um atestado de sua sobrevivência.
É impressionante a quantidade de canções que se converteram em muros de lamentação de mulheres insatisfeitas com seus parceiros sanguessugas e com a sua condição de muro de arrimo da família. Normalmente compostas por homens e cantadas por mulheres, tais músicas, apesar de comportarem alguma dubiedade, se ocuparam de figuras que voltavam as costas ao trabalho."
Embora esse tema seja antigo (anos 30, 40 e 50), ele continua ainda atual, com certas modificações, porque as mulheres lutaram por seus direitos. Mas existiam as "malandras" também e sempre existirão.
Mas o Chico Buarque diz que a coisa realmente mudou: "...Que aquela tal malandragem não existe mais / Agora já não é normal / O que dá de malandro regular profissional / Malandro com aparato de malandro oficial / Malandro candidato à malandro federal / Malandro com retrato na coluna social / Malandro com contrato, com gravata e capital..."
DIALETO DO MALANDRO (HOJE EM DIA É MUITO MAIS EXTENSO...)
Aceso – Excitado com estupefacientes; eufórico; sob efeito de bebida; erótico; irrequieto.
Aliviar – Amenizar a cumplicidade de alguém, libertar o detido, facilitar a soltura do indiciado.
Banhar – Deixar o outro sem a sua parte; ladrão que foge com a parte do comparsa. Limpar: na gíria jornalística é apresentar completa cobertura de um acontecimento em primeira mão.
Barca – Viatura policial.
Batata tá assando – Preso marcado para morrer.
Bater prato – Manter relação homossexual.
Cafiolo – Rufião, cáften ou cafetão.
Capivara – Ficha criminal.
Chafra – Soldado da Força Pública. "Chafra depenado": miliciano desarmado.
Da casa – Membro da polícia.
Empurradinha – Empurrar vítima para o parceiro fazer o roubo.
Engomar – Abotoar, espremer a vítima para o lanceiro furtar-lhe a carteira.
Escamoso – Venenoso, criador de caso.
Esquisito – Encontro amoroso. "Partir para o esquisito": ir ao encontro da mulher para manter relações.
Ganso – Informante policial.
Grupo – Mentira, golpe, logro, grupir ou engrupir, conto-do-vigário, um-sete-um ou cento e setenta e um.
Inferninho – Bar com música de vitrola. Geralmente é ponto de mulheres que arrebanham homens para rendez-vous. Imita a boate, mas não tem show.
Justa – Carro de polícia. O mesmo que "justinha".
Laranja – Novato, inocente, otário.
Loque – Ingênuo, caipira, otário.
Maçaneta – Puxa-saco; só abre e fecha a porta para o chefe.
Olho de vidro - policial que não conhece os ladrões.
Peitosa – Camisa.
Penosa – Galinha ou frango.
Pirandelo – Fugir da polícia ou da prisão.
Plantar o aço – Assassinar colega com arma branca.
Roçadeira – Libidinagem de lésbica, "roçadinho".
Um-sete-um – Estelionatário, malandro, golpista, vigarista, "conto do vigário".
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