sábado, 21 de julho de 2012

O menino que chupou a bala errada

Diz que era um menininho que adorava bala e isto não lhe dava qualquer condição de originalidade, é ou não é? Tudo que é menininho gosta de bala. Mas o garoto desta história era tarado por bala. Ele tinha assim uma espécie de idéia fixa, uma coisa assim... assim, como direi? Ah... creio que arranjei um bom exemplo comparativo: o garoto tinha por bala a mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder.

Vai daí um dia o pai do menininho estava limpando o revólver e, para que a arma não lhe fizesse uma falseta, descarregou-a, colocando as balas em cima da mesa.

O menininho veio lá do quintal, viu aquilo ali e perguntou pro pai o que era:

— É bala — respondeu o pai, distraído.

Imediatamente o menininho pegou diversas, botou na boca e engoliu, para desespero do pai, que não medira as conseqüências de uma informação que seria razoável a um filho comum, mas não a um filho que não podia ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.

Chamou a mãe (do menino), explicou o que ocorrera e a pobre senhora saiu desvairada para o telefone, para comunicar a desgraça ao médico. Esse tranqüilizou a senhora e disse que iria até lá, em seguida.

Era um velho clínico, desses gordos e bonachões, acostumados aos pequenos dramas domésticos. Deu um laxante para o menininho e esclareceu que nada de mais iria ocorrer. Mas a mãe estava ainda aflita e insistiu:

— Mas não há perigo de vida, doutor?

— Não — garantiu o médico: — Para o menino não há o menor perigo de vida. Para os outros talvez.

— Para os outros? — estranhou a senhora.

— Bem... — ponderou o doutor: — O que eu quero dizer é que, pelo menos durante o período de recuperação, talvez fosse prudente não apontar o menino para ninguém.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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O boateiro

Esta historinha — evidentemente fictícia — corre em Recife, onde o número de boateiros, desde o movimento militar de 1.° de abril, cresceu assustadoramente, embora Recife já fosse a cidade onde há mais boateiro em todo o Brasil, segundo o testemunho de vários pernambucanos hoje em badalações cariocas.

Diz que era um sujeito tão boateiro, que chegava a arrepiar. Onde houvesse um grupinho conversando, ele entrava na conversa e, em pouco tempo, estava informando: "Já prenderam o novo Presidente", "Na Bahia os comunistas estão incendiando as igrejas", "Mataram agorinha o Cardeal", enfim, essas bossas.

O boateiro encheu tanto, que um coronel resolveu dar-lhe uma lição. Mandou prender o sujeito e, no quartel, levou-o até um paredão, colocou um pelotão de fuzilamento na frente, vendou-lhe os olhos e berrou: "Fogoooo!!!". Ouviu-se aquele barulho de tiros e o boateiro caiu desmaiado.

Sim, caiu desmaiado porque o coronel queria apenas dar-lhe um susto. Quando o boateiro acordou, na enfermaria do quartel, o coronel falou pra ele:

— Olhe, seu pilantra. Isto foi apenas para lhe dar uma lição. Fica espalhando mais boato idiota por aí, que eu lhe mando prender outra vez e aí não vou fuzilar com bala de festim não.

Vai daí soltou o cara, que saiu meio escaldado pela rua e logo na primeira esquina encontrou uns conhecidos:

— Quais são as novidades? — perguntaram os conhecidos.

O boateiro olhou prós lados, tomou um ar de cumplicidade e disse baixinho: — O nosso Exército está completamente sem munição.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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sexta-feira, 6 de julho de 2012

O faquir e suas técnicas

Concentração e técnica são as armas do faquir para deitar em camas de pregos e caminhar sobre brasas sem queimar os pés. O termo faquir significa pobre em árabe e identifica indianos islâmicos que perambulam por povoados praticando "milagres", como levitação e extrema resistência à dor - aproveitando para faturar uns trocados, claro.

É importante, porém, não confundir os faquires com os sadhus, indianos hindus que perfuram o corpo com espetos em exibições públicas. Tanto sadhus como faquires atribuem a habilidade de resistir à dor ao controle mental por meio de meditação, mas, nas demonstrações mais famosas dos faquires, existem alguns truquezinhos que a gente revela para você.

Saiu do espeto...

Quanto mais pregos na cama, mais fácil suportar a dor.

Colchão duro

A base da cama é uma tábua de madeira. Os pregos têm ponta pouco afiada e cerca de 12 centímetros de comprimento para suportar o peso do corpo sem entortar. Com os pregos bem próximos uns dos outros, a superfície de contato entre o "colchão" e o faquir aumenta.

Pregado na cama

As leis da Física rezam que, quanto menor for a superfície em que um corpo se apoia, maior é a pressão exercida. Ou seja, subir em um prego provavelmente furaria a pele do faquir. Com muitos pregos, o peso é distribuído e a pressão em cada prego se torna pequena.

Sono leve


Para distribuir o peso entre todos os pregos, a entrada na cama tem que ser estratégica. O segredo é deitar o corpo todo de uma vez, suavemente - nada de sentar ou apoiar as mãos antes. O peso reduzido dos faquires também torna a perfomance menos dolorosa

Caiu na brasa

O calor intenso é transferido lentamente para o pé

Pista quente

A trilha, formada por pedaços de madeira incandescente, tem, no máximo, 5 metros de comprimento - assim, o faquir não passa muito tempo andando nas brasas. Além disso, os passos são ligeiros, evitando o contato prolongado entre a fonte de calor e os pés.

Suando frio


Como na cama de pregos, o corpo do faquir também ajuda. Quanto mais grossa for a sola do pé, por exemplo, mais difícil queimar. Além disso, o suor gerado pelo bafo quente também atrasa a transferência de calor da brasa para o pé, pois a água absorve o calor da brasa.

Camada isolante

As cinzas que recobrem a trilha são feitas de carbono, que não é um bom condutor de calor. Isso faz o calor da madeira queimando demorar a ser transferido para a superfície, poupando o pé das queimaduras. Além disso, as cinzas resfriam rapidamente em contato com corpos mais frios.

Consultoria - Cláudio Furukawa, físico da USP, e Sandra Bose, do blog www.indiagestao.blogspot.com

Fonte: Mundo Estranho
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