segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A barba do falecido

Aconteceu em Jundiaí. Orozimbo Nunes estava passando mal e foi internado pela família no Hospital São Vicente de Paulo, para tratamento. Orozimbo tem muitos parentes, é muito querido e tem uma filha que cuida dele. Foi a filha, aliás, que internou Orozimbo.

Anteontem telefonaram para a filha de Orozimbo Nunes. Era do hospital e a notícia dada foi lamentável. Orozimbo tinha abotoado o paletó — como dizem os irreverentes. Isto é, tinha posto o bloco na rua, como dizem os super-irreverentes, comparando enterro a bloco carnavalesco. Enfim, Orozimbo tinha morrido. A filha de Orozimbo que fizesse o favor de aguardar, porque lá do hospital iam fazer o carreto, ou seja, iam mandar o defunto a domicílio.

A filha do extinto caiu em prantos e convocou os parentes. Conforme ficou dito acima, Orozimbo era muito querido. Veio parente da capital, veio parente de Minas, parente do Rio, enfim, Jundiaí ficou assim de parente de Orozimbo. As providências para o velório foram logo tomadas, gastou-se dinheiro, compraram-se flores. Estava um velório legal se não faltasse um detalhe: não havia defunto.

O corpo de Orozimbo não tinha chegado. A família ligou para o hospital e reclamou. Tinha saído no expresso-rabecão das seis — informaram. E, de fato, pouco depois Orozimbo (à sua revelia) chegava.

Puseram o embrulho lá dentro, houve aquela choradeira regulamentar e, na hora de desembrulhar para preparar o cadáver, alguém notou que a barba de Orozimbo crescera.

— Ele estava tão doente que nem podia fazer a barba — comentou um dos que ajudavam, com a filha de Orozimbo, que esperava lá fora.

A filha estranhou a coisa. Entregara Orozimbo doente, é verdade, mas Orozimbo chegara ao hospital perfeitamente escanhoado e não dava tempo de a barba ter crescido assim tão depressa.

— A barba tá muito grande? — perguntou a filha de Orozimbo.

Estava. Estava que parecia barba de músico da Bossa-Nova. Aí a moça desconfiou e foi conferir. Simplesmente não era Orozimbo. Tinham trocado as encomendas, e talvez naquele momento, outra família, noutro local, estivesse chorando o Orozimbo errado.

Mais que depressa ligaram para o Hospital São Vicente de Paulo e reclamaram contra a ineficácia do serviço de entregas rápidas.

Nova verificação para se saber qual era o embaraço, e a direção do eficiente nosocômio descobriu que Orozimbo nem sequer morrera. Não houvera uma troca de cadáveres, mas uma troca de fichas. O que morrera não era Orozimbo, era um barbadinho anônimo. Orozimbo estava lá, vivinho e, por sinal, passando muito melhor. Podia até ter alta, assim que desejasse.

Claro, parou a bronca e a raiva contra o desleixo transformou-se em pungente alegria.

A família foi buscar Orozimbo (depois de devolver o barbicha, naturalmente) e o contentamento foi geral, em receber de volta aquele que já fora pranteado por antecipação e para o qual já tinham feito aquela vasta despesa para o enterro.

Não sei se é verdade, mas dizem que a família, em sinal de regozijo pela volta de Orozimbo e também para aproveitar o que sobrara das despesas, ofereceu aos amigos um velório-dançante.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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domingo, 13 de novembro de 2011

Madame e o freguês

A jovem senhora estava colocando as suas meias fumê, vestindo-se para ir a um jantar, quando ouviu um barulho na sala. Distraída, assim mesmo como se encontrava, nos trajos mais íntimos, foi até lá ver o que era. Foi aí que deu com o homem sentado no sofá.

Ela arregalou os olhos de espanto, ficou embatucada, olhando para o homem, mas este nem ao menos se preocupou com o seu susto. Continuou sentado no sofá. Ela — logo que teve forças — correu para o quarto, trancou a porta e telefonou para a amiga:

— Fulana, tem um homem aqui na sala, sentado no sofá.

— Não é seu pai? — perguntou a amiga, que ainda não sentira o drama.

— Se for papai é pior — ela exclamou nervosíssima.

— Por quê?

— Porque papai já morreu.

Só então a amiga percebeu o drama que ela vivia. Meu Deus, e se fosse um ladrão: — Tinha cara de ladrão? — perguntou a amiga.
Não, não tinha. Parecia um senhor numa sala de espera de escritório. A amiga concordou que certos ladrões sabem disfarçar-se muito bem. Mas teve um plano.

— Desliga o telefone que eu ligo para aí de novo. Você não atende, entendeu? Deixa que ele atenda lá na sala. Quando ele atender eu digo a ele para ir embora.

Era um plano dos mais mixurucas, conforme os leitores podem concluir, mas foi tentado. O telefone tocou, tocou e nada de o homem se mancar e atender, lá na sala. Vendo que a amiga ia ficar tocando em vão, madama atendeu, no quarto.

— Ele foi embora? — quis saber a amiga.

Madama não sabia, mas bolou outro plano:

— Eu vou destrancar a porta do quarto e ver. Mas, pelo amor de Deus, ligue de novo e dê quinze chamadas, se eu não atender até a décima-quinta, você chame a Polícia, porque o homem deve ter-me atacado.

Desligou o fone a tremer de medo e caminhou resoluta para a porta. Meteu a mão na chave e virou suavemente. Depois que a porta abriu, meteu a cara e espiou. Ué... não havia mais homem nenhum no sofá. Tomou coragem e caminhou pela sala. Chegou a dar um gritinho de espanto, quando o telefone recomeçou a tocar. Mas devia ser a amiga. Pôs-se a percorrer o apartamento todo. Nada do homem. Tinha ido embora. O telefone continuava tocando:

— Meu Deus! — pensou ela: — Eu não contei as batidas. Se chegar a quinze, Fulana desliga e chama a Polícia.

Deu um salto e atendeu. A amiga aflita explicou que dera dezoito chamadas para estar certa de que ela tinha morrido.

— Não morri — disse Madama: — O homem sumiu.

— Ora essa! — exclamou a outra, um tanto decepcionada.

E as duas conversaram um pouquinho, ainda prenhes de nervosismo, sobre o homem misterioso. Só então Madama se lembrou de que estava de calcinhas e meias fumê.

— Chi... tenho que acabar de me vestir — e desligou.

Já estava quase pronta, quando se lembrou de que deixara o batom na sala. Caminhou até lá, e ao transpor a porta olhou casualmente para o sofá. Deu um berro. Havia um homem sentado.

— Mas o que é isso, meu bem — estranhou o homem, num pulo.

Ai... felizmente o homem era seu marido. Madama, já agora num misto de nervosa e encabulada, contou tudo que acontecera. O marido ouviu tudo calado e tranqüilo, só não gostando do pedaço em que sua mulher entrou na sala de calcinhas e meias fumê, para ser vista pelo homem.

— E por que ele estava sentado aí? — perguntou ela, necessitada de uma explicação para o drama que vivera.

— Simples, meu bem. Você já não ouviu dizer que aí no andar de baixo há um apartamento suspeito de uma senhora que mantém um "rendez-vous"? Então... o camarada entrou aqui pensando que fosse o apartamento de baixo.

— Mas como é que ele não se espantou quando me viu de calcinhas, com estas meias?

— Ora, minha filha... se há uma coisa que não espanta é ver uma mulher passar nestes trajos, numa sala de "rendez-vous".

A mulher ficou a pensar um pouquinho. De fato, o marido tinha razão. Levantou-se, apanhou o batom e se pintou. Depois saíram, foram ao tal jantar e só de madrugada, ao voltar do banheiro sem maquilagem, com o marido já deitado para dormir, é que fez a derradeira pergunta, que a vinha intrigando desde o ocorrido:

— Meu bem...

— Hummmm... — gemeu o marido, tonto de sono.

— Mas por que o homem foi embora sem dizer nada?

— Porque, quando você se trancou no quarto só de calcinhas e meias, ele pensou que você estivesse com algum freguês e achou que não valia a pena esperar.

Fez-se silêncio e instantes depois Madama começou a chorar. O marido levantou a cabeça do travesseiro e perguntou intrigado:

— Uai... você está chorando por quê?

— Porque você achou... — disse ela entre soluços — ... que o homem foi embora porque achou que não valia a pena esperar.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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sábado, 12 de novembro de 2011

A origem do chiclete

No século XVI, os colonizadores europeus descobriram que os indígenas norte-americanos tinham o hábito de mascar a resina de uma árvore chamada abeto vermelho. Na América Central, os nativos de Nahuatl, da península do Iucatã, preferiam a resina do sapotizeiro (Achras Sapota), que chamavam de chictli ou txicli, palavra que deu origem a chicle em inglês.

As primeiras gomas de mascar datam do século XIX, quando em 1860, Antonio López de Santa Anna (presidente e general mexicano exilado nos EUA) levou para a América do Norte uma resina cremosa (látex) a que chamavam chicle. Apresentou-a a Thomas Adams Jr, um fotógrafo e inventor nova-iorquino, que tentou, sem sucesso, vulcanizá-la, utilizando-a depois para o fabrico de gomas de mascar que se tornaram um sucesso. Mais tarde, em 1872, melhorou-lhes o sabor, acrescentando um pouco de licor ou alcaçuz, o que agradou aos seus clientes.

As duas grandes guerras mundiais, principalmente a segunda, contribuíram para o aumento da popularidade da goma de mascar ou chiclete (de "Chiclets", uma marca Adams), não só nos EUA mas também um pouco por todo o mundo. Era tida como terapia relaxante para o stress diário de que as pessoas eram vítimas. E também para evitar o congelamento do maxilar durante as emboscadas noturnas.

Com o aumento do seu consumo, os fabricantes tiveram de procurar novos produtos que substituíssem as resinas naturais. Surgiram novos tipos (sem açúcar, com novas cores, novos sabores, novos formatos, etc.) e novas marcas de chicletes.

No Brasil, a fabricação e a venda do produto iniciou-se em 1945, sendo Natal a primeira cidade brasileira a conhecer o produto, e usá-lo.

Fontes: Wikipédia; Superinteressante.
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