terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mazzaropi

Mazzaropi (Amácio Mazzaroppi), cineasta, comediante, ator e cantor, nasceu no bairro da Barra Funda, em São Paulo, SP, em 1912, e faleceu na mesma cidade, em 13/6/1981. Estudou muito pouco e não chegou a terminar o curso ginasial. Quando adolescente, era fã da dupla de atores Genésio e Sebastião de Arruda. Com 15 anos de idade, assistindo a um espetáculo de circo, sem saber como, acabou indo parar nos bastidores e dali terminou trabalhando como pintor de letreiros.

Iniciou a carreira artística apresentando-se em circos, pois logo trocou os pincéis por um personagem vestido de caipira. Foi para o interior e começou a apresentar monólogos cômico-dramáticos.

O sucesso foi imediato, porém os rendimentos eram extremamente baixos. O salário de cerca de 25 mil-réis quase não dava para as despesas diárias. Quando formou sua própria companhia, a situação começou a mudar, tornou-se conhecido e todos os circos começaram a requerer a sua presença.

Em 1946, iniciou-se na Rádio Tupi de São Paulo. Em 1950, estreou na TV, no Canal 6, Tupi do Rio de Janeiro. De 1959 a 1962, apresentou programa na TV Excelsior de São Paulo.

Em 1952, participou de seu primeiro filme. Foi convidado pelo autor de peças para o Teatro Brasileiro de Comédia, Abílio Pereira de Almeida, que ficara deslumbrado ao vê-lo atuar em um programa de televisão, para fazer um teste. Passou e Abílio Pereira dirigiu Mazzaropi no filme Sai da frente. Nascia naquele filme o personagem característico de Mazzaropi, o Jeca, um tipo caipira de andar desengonçado, fala mansa, usando roupas curtas e sujas.

Em 28 anos de carreira fez 31 filmes, entre os quais Chofer de praça, Pedro Malazartes, O vendedor de lingüiças, O corinthiano, Casinha pequenina, Lamparina, uma sátira a Lampião, No paraíso das solteironas, Jeca Tatu, um de seus maiores sucessos, Uma pistola para Djeca, Betão Ronca Ferro, O grande xerife, Um caipira em Bariloche, Portugal... minha saudade, O jeca macumbeiro, Jeca e seu filho preto, O jeca contra o capeta, Um fofoqueiro no céu, A banda das velhas virgens e seu último filme O jeca e a égua milagrosa.

Seus filmes apresentam muita música popular, inclusive sertaneja (e até mesmo um pouco do nascente rock brasileiro). Na década de 1960, gravou alguns discos com sucesso, como a marcha Nhá Carola (Petit), em dupla com Lolita Rodrigues (RGE), e o xótis O azar é festa (Ado Benatti e Zé do Rancho), pela RGE.

Quase todas as atuações de Mazzaroppi como cantor em seus filmes estão reunidas nas coletâneas Os grandes sucessos de Mazzaroppi (RCA Camden, 1968) e Os grandes sucessos de Mazzaroppi, vol. 1 (Intermovies, 1995, em LP e CD, embora sem créditos dos autores das músicas). Jean e Paulo Garfunkel compuseram emsua homenagem a toada Mazzaroppi, gravada por Pena Branca e Xavantinho em 1990.

Faleceu em 1981, no Hospital Albert Einstein, de câncer na medula, deixando como herança, além de seus filmes, uma produtora com tudo funcionando perfeitamente, estúdios, máquinas e filmes virgens, que foi tocada adiante por seus filhos adotivos, Péricles Batista e João Batista de Souza. Deixou parte de sua imensa herança para seus antigos funcionários.

Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha; Dicionário Cravo Albin da MPB.
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Mário Lago

Mário Lago, compositor, ator, poeta, escritor e radialista, nasceu no Rio de Janeiro RJ, em 26/11/1911 e faleceu em 31/5/2002. Filho único do maestro Antônio Lago, foi aluno do Colégio Pedro II de 1923 a 1926, ano em que publicou seu primeiro poema, Revelação, na revista Fon-Fon.

Concluiu o ginasial no Curso Superior de Preparatórios e bacharelou-se em direito em 1933, exercendo a advocacia apenas por três meses. Nesse mesmo ano começou a escrever revistas para teatro - Figa de Guiné e Grande estréia, ambas com Álvaro Pinto.

Como letrista, estreou, em 1935, com Menina, eu sei de uma coisa (com Custódio Mesquita), marcha gravada por Mário Reis, no ano seguinte. Com o mesmo parceiro fez o fox-canção Nada além, sucesso nacional, em 1938, na voz de Orlando Silva, e uma série de músicas compostas especialmente para revistas encenadas pela Companhia Casa de Caboclo e pela Companhia Tró-ló-ló.

De 1938 a 1940, trabalhou como funcionário público, chegando a chefe de seção de estatísticas sociais e culturais do Departamento de Estatística do Estado do Rio de Janeiro; foi nomeado membro do conselho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mas não tomou posse.

Lançou-se como compositor com a valsa Devolve, gravada por Carlos Galhardo em 1940, ano em que apresentou também, em gravação da dupla Joel e Gaúcho, uma de sua mais famosas composições, Aurora (com Roberto Roberti), sucesso no Carnaval do ano seguinte e que obteve mais tarde repercussão internacional, graças à interpretação de Carmen Miranda, que a incorporou ao seu repertório básico.

Em 1942 estreou como artista de teatro na peça O sábio, encenada pela Companhia Joraci Camargo. Compôs com Ataulfo Alves sambas famosos, como Ai, que saudades da Amélia (1942) e Atire a primeira pedra (1944). Começou a trabalhar em rádio, em 1944, na Pan-Americana, de São Paulo SP, passando desde então por diversas emissoras cariocas e paulistas: Nacional, do Rio de Janeiro (de 1945 a 1948), Mayrink Veiga (1948), Bandeirantes, de São Paulo (1949), e novamente Nacional (1950).

Em 1953 compôs com Chocolate outro grande sucesso, É tão gostoso, seu moço, gravado por Nora Ney. Foi responsável pela produção de vários programas e novelas, como Lendas do Mundo, Romance Kolynos e a novela Presídio de mulheres, irradiada durante cinco anos. Em 1951 produziu na Rádio Nacional o programa Doutor Infezulino e mais tarde criou a figura do "Jacó de uma palavra só", no programa Largo da Harmonia, que se tornou bastante conhecido.

Estreou na televisão no programa Câmera Um, na TV-Rio, em 1954. Como ator, em 1966 foi contratado peia TV Globo, na qual trabalhou em várias novelas, como Cuca legal, Pecado capital, O casarão e Brilhante, numa carreira de mais de 30 anos. Publicou, em 1975, pela Editora Civilização Brasileira, uma obra de pesquisa folclórica intitulada Chico Nunes das Alagoas. Além de Orlando Silva e Carlos Galhardo, teve suas músicas gravadas por Francisco Alves, Ataulfo Alves, Nora Ney, Jorge Goulart e Deo.

Publicou os livros: Na rolança do tempo (1976) e no ano seguinte a seqüência, Bagaço de beira-estrada, ambos pela Editora Civilização Brasileira, Coleção Tempo e Contratempo, Rio de Janeiro; e Meia porção de sarapatel (1986), Editora Rebento. Em 1991, seus familiares publicaram o livro Segredos de família, homenagem aos seus 80 anos de idade.

Em 1997 foi publicada sua biografia: Mário Lago - Boêmia e política, de autoria de Mônica Veloso, Editora Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. No mesmo no, Gilberto Gil homenageou-o com o lançamento da música O mar e o lago (letra de 1985). Houve ainda a estréia do espetáculo Causos e canções de Mário Lago, no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, dirigido por Mário Lago Filho.

Mário foi contratado e atuou por mais de 30 anos na Globo - em mais de 30 telenovelas -, e recebeu várias vezes o prêmio de Melhor Ator. Também foi ator de cinema, em mais de 20 filmes. Representou no teatro até o fim da sua longa vida - subiu pela última vez no palco em janeiro de 2002. Nunca deixou de compor - somou cerca de 200 músicas gravadas -, nem saiu do Partido Comunista.

Em sua última entrevista ao Jornal do Brasil, declarou: "Vivi. Essa é a coisa principal que fiz".

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira.
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mirinho e a leviana

Tem mulher que a gente, por mais que a conheça, não entende suas reações.

Tínhamos uma namorada, no tempo em que o Dr. Getúlio era considerado o salvador da pátria, que um dia brigou com a gente porque esquecemos de elogiar seu vestido novo. Anos depois, em circunstâncias muito mais amenas, confessou o seu desespero, ao notar que aceitáramos a briga e não déramos mais sinal de vida.

Houve uma outra que, bastava nos ver contente, amável, dedicado ao seu lado, para começar a entortar a situação. E parecia satisfeita, quando — num arroubo de incontida machidão — pedíamos o nosso boné e sumíamos de sua vista.

Aí ficava desesperada, telefonava chorando e muitas e muitas vezes, na noite da reconciliação, pedia que tivéssemos paciência com ela, que a compreendêssemos, etc., etc.

A gente compreendia uns tempos, e lá vinha a desajustada com os mesmos golpes.

Dessa, como de muitas outras, o homem cansa. Na sua última falseia mandamos um presente desses de derreter "vedette" e fomos apanhar perereca em outros brejos.

Amigos comuns cansaram de tentar uma reconciliação que, só de pensar, nos provocava um tédio profundo. Ela ficou a tentar mil e um pequenos golpes, na esperança de recuperar toda uma situação que desfrutou sem precisar de golpe nenhum e hoje não desfrutará mais, nem com um grande golpe, amparada pelas Forças Armadas e os novos marechais de pijama.

"Mulher é um caso sério" — costumava dizer Gumercindo Ponte Preta, pai de Mirinho. E, não raro acrescentava: "Mulher é bom para quem tem muitas". Já Altamirando é um predestinado. Faz tanta sujeira com mulher, que elas acabam, indefectivelmente, passando o primo para trás.

Ultimamente ele arranjou uma namorada que parece adorá-lo. Ao menor aceno, ela aparece dócil, carinhosa, amante.

Mas resolveu passar o primo pra trás aos sábados. Diz Mirinho que é batata. Já fez a experiência diversas vezes. Todo dia ela topa, mas aos sábados inventa que tem que ir ao aniversário de uma tia. Como não acreditássemos nessa fatalidade sabatina, no último sábado fez a experiência em nossa frente. Antes já havíamos constatado o amor da pequena por Mirinho...

No sábado ele telefonou e convidou para um programa dos mais aceitáveis. Ela murmurou de lá que era uma pena, mas a tia fazia anos e ela tinha que ir à festinha.

— Essa tua tia já deve estar com uns 180 anos — protestou Mirinho. Ela desconversou, gaguejou um pouco e — para provar mais uma vez que mulher é bom para quem tem muitas — manteve a recusa. Iria ao aniversário da tia.

— Tá certo — exclamou Mirinho; e com aquele seu cinismo habitual: — Faço votos para que sua tia seja muito feliz e esta data se reproduza por muitos e muitos sábados.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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