sábado, 15 de outubro de 2011

Bronca de esquina

Tia Zulmira, cheia de experiência e transbordante de saber, não se cansa de repetir: "Bronca é a arma do otário." E é isso mesmo. Dar a bronca, até hoje não adiantou o lado de ninguém.

Mas a senhora que blasfemava, na esquina, ainda não morou nesse detalhe e espinafrava o marido, para gáudio dos circunstantes, que torciam ao derredor.

Era uma senhora assim dos seus 50 carnavais. Um pouco castigada pelas intempéries da vida, mas ainda bastante sacudida. Pelo menos, disposta a botar os rapazes da Radiopatrulha pra trabalhar. Ciumenta aos potes, era o que se podia deduzir ou o que deduziu aqui o batucador datilográfico que, incorporado à turba ignara, esperava o fim da cena pra ver o bicho que ia dar.

Foi — para sermos mais precisos — na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Santa Clara, quer dizer, duas artérias do tráfego com nomes de santas, mas que nem assim a dona respeitava. Pelo que ficou exposto, o senhor grisalho que ouvia a espinafração com visível mal-estar era o marido e vinha pela calçada, em sentido contrário à senhora que berrava (sua esposa), de braço dado com uma mariposa do luxo e do prazer — como tão bem classificou um certo tipo de moçoilas desajustadas o poeta urbanista Orestes Barbosa. Apanhado no flagra, soltou a mariposa e estava ali, ouvindo aquilo tudo, com platéia das mais seletas.

Para ver o porquê do ajuntamento, chegou um Cosme. Ou talvez fosse um Damião; não temos certeza. Esses guardas quando policiam sozinhos a gente nunca sabe se é um Cosme ou um Damião. O importante é que ele chegou, pigarreou e lascou em dialeto carioca:

— Qual é o "causo"?

O senhor explicou que não era nenhum, que sua mulher estava nervosa, que iria levá-la dali, etc., etc. Foi pior. Ela gritou que com ele não ia nem pro inferno. Tinha 25 anos de casada e já estava cheia das suas perfídias. Vejam vocês, casada há 25 anos e ainda tinha um ciúme daquele tamanho. Já era tempo para acostumar-se com o marido que tinha.

Aí o senhor grisalho não agüentou mais. Ia passando um lotação. Ele abriu caminho entre os curiosos e entrou na terrível condução, sem ao menos ver se era via Túnel Novo ou via Túnel Velho, o que nos deixa com a leve desconfiança de que ele queria era cair fora dali. Foi chato porque o lotação não foi em frente logo. Ainda ficaram entrando outros passageiros, do que se aproveitou a bronqueadora para também abrir caminho entre os presentes e ficar apontando pra janelinha, a dizer: "Vai... mas vai mesmo, desalmado. Não é a primeira vez que você me abandona."

O lotação meteu uma segunda e foi embora, mas ela não desistiu. Ficou procurando testemunhas para o seu infortúnio de ter um marido sempre disposto a amarrar a cabrita do lado de lá do cercado. Foi então que o rapaz ao seu lado ficou identificado como filho do casal. Até então era um rapaz consternado, assistindo à cena. Agora, ela o segurava pelo braço e espumava:

— Está vendo o cretino que você tem como pai?

Todos olharam pro rapaz. O Cosme (ou seria um Damião?) segurava o braço direito, o rapaz o braço esquerdo da mulher, mas ela não queria sair. Queria era mostrar a todos o infortúnio que a perseguia há 25 anos. Dava conselhos às moças em volta para não casarem, que os homens não prestam, que isso, que aquilo. Estava na bica para se tornar ridícula.

O filho, cansado de tentar livrá-la da curiosidade pública, deu um puxão mais forte no braço que estava sob sua responsabilidade. Isto foi o bastante para lembrá-la de que ele estava ali. Voltou-se de novo contra ele:

— Tá vendo que pai você tem? E não adianta querer me levar. Ele é que tinha de ir comigo e fugiu. Seu pai é um cretino.

O filho não agüentou mais:

— Que é que eu tenho com isso, mamãe? Quem escolheu meu pai foi você.

Gargalhada geral. Até o Cosme (ou talvez Damião) riu.

A velha calou a boca e foi andando. O filho, atrás, aliviado.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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Levantadores de copo

Eram quatro e estavam ali já ia pra algum tempo, entornando seu uisquinho. Não cometeríamos a leviandade de dizer que era um uísque honesto porque por uísque e mulher quem bota a mão no fogo está arriscado a ser apelidado de maneta. E sabem como é, bebida batizada sobe mais que carne, na COFAP. Os quatro, por conseguinte, estavam meio triscados.

A conversa não era novidade. Aquela conversa mesmo, de bêbedo, de língua grossa. Um cantarolava um samba, o outro soltava um palavrão dizendo que o samba era ruim. Vinha uma discussão inconseqüente, os outros dois separavam, e voltavam a encher os copos.

Aí a discussão ficava mais acalorada, até que entrasse uma mulher no bar. Logo as quatro vozes, dos quatro bêbedos, arrefeciam. Não há nada melhor para diminuir tom de voz, em conversa de bêbedo, do que entrada de mulher no bar. Mas, mal a distinta se incorporava aos móveis e utensílios do ambiente, tornavam à conversa em voz alta.

Foi ficando mais tarde, eles foram ficando mais bêbedos. Então veio o enfermeiro (desculpem, mas garçom de bar de bêbedo é muito mais enfermeiro do que garçom).

Trouxe a nota, explicou direitinho por que era quanto era etc. etc., e, depois de conservar nos lábios aquele sorriso estático de todos os que ouvem espinafração de bêbedo e levam a coisa por conta das alcalinas, agradeceu a gorjeta, abriu a porta e deixou aquele cambaleante quarteto ganhar a rua.

Os quatro, ali no sereno, respiraram fundo, para limpar os pulmões da fumaça do bar e foram seguindo calçada abaixo, rumo a suas residências. Eram casados os quatro entornados que ali iam. Mas a bebida era muita para que qualquer um deles se preocupasse com a possibilidade de futuras espinafrações daquela que um dia — em plena clareza de seus atos — inscreveram como esposa naquele livrão negro que tem em todo cartório que se preze.

Afinal chegaram. Pararam em frente a uma casa e um deles, depois de errar várias vezes, conseguiu apertar o botão da campainha. Uma senhora sonolenta abriu a porta e foi logo entrando de sola.

— Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbedos, não é?

Foi aí que um dos bêbedos pediu:

— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros três querem ir para casa.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Debra Paget


Debra Paget, atriz, nasceu em Denver, Colorado, EUA, em 19 de agosto de 1933. Filha de pais artistas, Debralee Griffin (nome verdadeiro) começou a se apresentar aos três anos de idade.

Em 1940, aos sete anos, mudou com a família para Los Angeles, onde aos oito fez seu primeiro trabalho profissional. Seu nome verdadeiro foi mudado para "Debra Paget", em homenagem a seus ancestrais Lord e Lady Paget, da Inglaterra.

Popularizou-se com o filme “A Princesa do Nilo” (1954), ocasião em que a 20th Century-Fox recebia tanta correspondência para ela quanto para Marilyn Monroe.

Debra Paget - Bird of Paradise, 1951
Casou-se em 1958 com o ator/cantor David Street, num casamento que durou somente três meses. Em 1960 casou novamente, desta feita com Budd Boetticher, influente diretor de cinema, união de apenas 22 dias, sendo o divórcio oficializado em 1961. Boetticher alegou tempos depois que o fracasso do casamento se deveu a inúmeras dificuldades que ele encontrou quando foi para o México fazer um filme sobre a vida do seu amigo, o lendário Carlos Arruza.

Em 1955 fez muito sucesso como no filme “Os Dez mandamentos” e em 1956 como protagonista em “Love me tender”, ao lado do então estreante em cinema Elvis Presley.

Abandonou a carreira em 1964 dois anos depois de um novo casamento, agora com o chinês-americano Louis C. Kung (sobrinho de Madame Chiang Kai-Shek), um bem sucedido empresário do ramo de petróleo com o qual teve um filho. Divorciaram-se em 1980.

Em 1987, o Fundo para filmes de TV e cinema presenteou Debra com o prêmio Golden Boot por sua contribuição ao desenvolvimento e preservação da tradição dos faroestes tanto em filmes para cinema como para TV. Atualmente Debra Paget mora em Houston, Texas (USA).

A Princesa do Nilo - Princess of the Nile (1954)

Filmes

The Haunted Palace (1963)
Tales of Terror (1962)
I masnadieri (1961)
Most Dangerous Man Alive (1961)
Il sepolcro dei re (1960)
Why Must I Die? (1960)
Das indische Grabmal (1959)
Der Tiger von Eschnapur (1959)
Journey to the Lost City (1959)
From the Earth to the Moon (1958)
Omar Khayyam (1957)
The River's Edge (1957)
Love Me Tender (1956)
The Ten Commandments (1956) 
The Last Hunt (1956)
Seven Angry Men (1955)
White Feather (1955)
The Gambler from Natchez (1954)
Demetrius and the Gladiators (1954) 
Princess of the Nile (1954)
Prince Valiant (1954) 
Stars and Stripes Forever (1952)
Les miserables (1952) 
Belles on Their Toes (1952)
Anne of the Indies (1951)
Bird of Paradise (1951)
Fourteen Hours (1951)
Broken Arrow (1950)
House of Strangers (1949)
It Happens Every Spring (1949)
Mother Is a Freshman (1949)
Cry of the City (1948)

Fontes: Wikipedia; Cinema Clássico; Mais ou Menos Nostalgia.
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