quarta-feira, 15 de junho de 2011

Adúlteros em cana

Foi noutro dia, num prédio da Rua Barata Ri­beiro. Quando chegou a Polícia, naquela viatura da Po­lícia Secreta Portuguesa, que quando encosta no meio-fio todo mundo manja, os vagabundos que circulavam pela redondeza pararam logo para ver o bicho que ia dar. Que qui foi, que qui não foi - ficou-se sabendo que era um marido cretino, interessado em dar flagrante de adultério na mulher. Ora, uma bossa dessas dá mais renda que Fla-Flu.

Enquanto as autoridades subiam em companhia do cocoroca enganado, juntou mais gente em baixo que mosca em banheiro de botequim. E foi aí que a nossa re­portagem descobriu um fato interessante na psicologia das multidões: tava todo mundo torcendo pela adúltera.

Quando ela apareceu no asfalto, nervosa e pálida, foi aque­la salva de palmas, consagradora. Ao passo que o marido apontado por um dos circunstantes com o grito esclare­cedor de "o corno é aquele ali", foi saudado com uma vaia firme e de certa forma surpreendente.

Mas isto deixa pra lá. Eu só contei porque o episódio me pareceu deveras interessante, e dele me lembrei por causa da notícia que acabo de ler aqui no jornal. É sobre o novo código penal na Argélia. Aqui no Brasil, entre as muitas reformas que a "redentora" prometeu e que não fez ainda, estava incluída a do Código Penal. Daí, eu me interessei pelo que o jornal dizia; principalmente por este trecho:

"O adultério tornou-se ontem um crime sob a lei argelina; e a mulher será punida duas vezes mais forte­mente que o homem. O novo Código Penal dispõe que a mulher que cometer o adultério é passível de dois anos de prisão. Já para o homem a pena máxima é de um ano. O novo código pune ainda o homossexualismo com uma pena de três anos de prisão".

Está aí um troço que aquela turma daquela tarde, na Rua Barata Ribeiro ia vaiar na certa. Por que metade da pena para o homem, se para o pecado do adultério são precisos um homem e uma mulher? Ora, numa disputa dessas é muito difícil dizer qual dos dois está pecando mais.

Desconfio que o código argelino está injusto. E sa­bem por quê? Primo Altamirando, quando leu a notícia, elogiou muito e ainda me chamou a atenção para o deta­lhe dos três anos, que pega o bicharoca na Argélia. E com aquela desfaçatez peculiar ao seu deformado caráter, co­mentou:

— "Coitada da adúltera que se meter com uma bicha lá na Argélia. Vai pegar cinco anos de cana. Dois de adul­tério e três de frescura".

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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. —  Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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terça-feira, 14 de junho de 2011

Mercado Público de Florianópolis

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O prédio que hoje abriga o Mercado Público da capital catarinense, foi construído em frente à Alfândega no ano de 1898, em substituição ao antigo mercado, o qual foi demolido em 1896 após 45 anos de funcionamento.

O antigo mercado teve sua origem em barracas e quitandas construídas pelo governo da Capitania de Santa Catarina, provavelmente no fim do século XVIII. Estas barracas e quitandas eram alugadas por pequenos comerciantes. O aluguel era recebido primeiramente pelo governo da capitania, e após a Independência do Brasil, pela governo da Província.

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O Mercado Público era o local onde os pequenos comerciantes da ilha de Santa Catarina, e litoral próximo (São José da Terra Firme e São Miguel da Terra Firme), vendiam peixe, carne de sol, feijão, arroz, mandioca, hortaliças, drogas do sertão, comidas preparadas na hora, dentre outros produtos.

As pessoas que vendiam produtos eram em sua maioria escravos de ganho, forros e brancos pobres. Os principais freqüentadores do comércio eram escravos, forros, marinheiros, militares, viajantes e a população local, em geral.

Em 1838, o governo da província autorizou a construção de uma Praça de Mercado, que deveria ficar entre as ruas Livramento e Ouvidor, em um local de terreno de marinha, fora do Largo da Matriz.

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Dois grupos políticos locais entraram em disputa pela escolha do local que o Mercado Público deveria ser construído. Por um lado, os grandes comerciantes locais queriam que as barracas continuassem no Largo da Matriz. O motivo era que a localização das barracas e quitandas atraia clientes para suas lojas, que ficavam na rua do comércio, atual Conselheiro Mafra. A maioria destes grandes comerciantes tinhas familiares em todas as irmandades religiosas encontradas na Ilha de Santa Catarina.

O outro grupo político era formado por pessoas que moravam em outros lugares da Ilha, de outras províncias, ou mesmo de outros países. Muitos pertenciam a loja maçônica Concórdia, e a Sociedade Patriótica, ambas fundadas por Jeronymo Coelho em Desterro. Estes desejavam instalar as barracas e quitandas fora do perímetro urbano, próximo a Ponte do Vinagre.

Em 1845, a visita de Dom Pedro II e do Bispo do Rio de Janeiro levou a Câmara de Desterro a aprovar a mudança de lugar das barracas e quitandas. O centro urbano foi higienizado, e as barraquinhas foram removidas para as proximidades do Largo Santa Bárbara, junto à Ponte do Vinagre, fora do perímetro urbano.

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Os grandes comerciantes desejavam que as barracas e quitandas voltassem para o Largo da Matriz, enquanto os maçônicos e a Sociedade Patriótica desejavam que continuassem perto da Ponte do Vinagre.

Esta disputa, por fim, deu origem ao Partido Conservador catarinense, dos grandes comerciantes locais, e o Partido Liberal catarinense, que pertencia principalmente aos maçônicos e aos grupos associados na Sociedade Patriótica.

Por fim, o primeiro prédio do Mercado Público foi construído em 1851, situava-se ao sul do Largo da Matriz, junto ao mar. Em 5 de fevereiro de 1899, o prédio foi transferido para a localização atual, na época também à beira-mar, possuindo apenas uma ala.

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A segunda ala só veio a ser entregue em 24 de janeiro de 1931, construída sobre um aterro, assim como as pontes de ligação e o vão central. O conjunto arquitetônico tem a sua configuração atual desde 1932, com a reinauguração da primeira ala. Atualmente, devido à construção de uma grande aterro na Baía Sul, o edíficio encontra-se longe do mar.

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Em 19 de agosto de 2005, uma fritadeira elétrica com óleo vegetal deu início à queima de toda a ala norte do Mercado Público de Florianópolis. Os bombeiros foram acionados e em cinco minutos estavam no local, mas não foi possível salvar a ala, que foi reformada por um consórcio entre a prefeitura e o governo do estado e está em uso novamente.

O mercado já havia sofrido um incêndio em 6 de junho de 1988, ocasionado por um vazamento de gás, durante um processo de reforma.
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Fontes: Wikipédia; Guia Floripa - Referências: CABRAL, Oswaldo R. História de Santa Catarina. 3ª ed, Florianópolis; Lunardelli, 1987; COELHO, Joaquim D´Almeida. Memória Histórica da Província de Santa Catarina. 2ª Ed., Desterro. Tipografia de J.J. Lopes, 1877; DIAS, Thiago Cancelier. Questão Religiosa Catarinense: as disputas pelos direito de instruir (1843-1864). Florianópolis; Dissertação (UFSC), 2008; LANER, Carla. Emanações Perniciosas Moralidade Corrosiva: Os desdobramentos do discurso científico no centro urbano de Nossa Senhora do Desterro. (1831-1864). Florianópolis; Dissertação (UFSC), 2006; MESQUITA, Ricardo Moreira de. Mercado: do Mané ao Turista. Ed. do autor, 2002; Piazza, Walter: Dicionário político catarinense. Florianópolis: Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1994.
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Barão de Itararé

Barão de Itararé era o pseudônimo do jornalista e humorista Aparicio Torelly, cujas sátiras políticas marcaram a primeira metade do século XX. Nascido em viagem ao Uruguai, era filho de um federalista revolucionário gaúcho, neto de americano e tornou-se um famoso humorista da imprensa da década de 20.

Em 1919, abandonou a Faculdade de Medicina para atender a conferências humorísticas, lançando no mesmo ano o livro "Versos Diversos". Em 1925, trabalhava em O Globo, Diário da Noite e A Manhã, neste último com a seção Amanhã Tem Mais. Devido as suas sátiras políticas, chegou a ser preso diversas vezes na época de Getulio Vargas.

Em 1946, fundou A Manha, um semanário ornamentado com caricaturas humorísticas e tendo como slogan, um órgão de ataque... de riso. O desenho do título era idêntico ao da A Manhã, sem o til. Ele o chamava de o quintaferino que saía às sextas e como estava em vigor o racionamento do troco, por causa da guerra, custava exatamente um passe de bonde. Tratava-se de uma crítica cômica aos jornais da época, contendo semelhantes, como conselho fiscal, consultor jurídico, cartomante própria para as profecias do fim do ano, sempre assinadas com nomes de políticos de então, sob a forma de trocadilhos. Tinha também uma página literária, Arte &  Manha, outra para a cobertura internacional, além do noticiário policial e esportivo. Nasceu em 1926, em prédio impróprio, interrompeu sua tiragem entre 1930 e 1946, devido à prisão do proprietário.

Foi nessa particular ocasião em que o Barão tornou-se companheiro de Graciliano Ramos no presídio da rua Frei Caneca, no Rio de Janeiro. Em "Memórias do Cárcere", há uma referência ao humorista. Considerado inquietante para os políticos, o jornal acabou encerrando sua carreira em 1957. Em 1989, era reeditado o Almanaque para o primeiro semestre de 1955, um grosso volume de artigos, contos e ditados escrito no tom dos antigos almanaques que se distribuíam em farmácias.

Itararé passou a ocupar um lugar de honra na imprensa brasileira e, de sua história, pode-se destacar trechos memoráveis:

- As tropas legalistas tomaram Parati e evacuaram Pedregulho (Revolução de 30)
- A Mulher deve casar. O homem, não.
- É Melhor dois marimbondos voando que um na mão.
- Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
- O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
- A liberdade é como os artigos de natal. Não tem preço fixo.

O jornalista faleceu aos 76 anos, em 27 de novembro de 1971.

Fonte: Barão de Itararé no Memorial da Fama.
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