O amigo me conta que, mais do que nunca Tia Zulmira está de parabéns,
por ter apelidado a televisão de “máquina de fazer doido”. Embora o apelido seja óbvio, eu perguntei:
— Por quê?
E ele:
— Minha filha!
— Ficou doida?
— Está caminhando para isso. Ela só fala em linguagem de televisão. Eu já proibi que ela visse até os programas em que Dom Hélder Câmara tenta explicar à gente que é mais bonzinho que nós, mas quem pode evitar que uma criança veja televisão? Enquanto eu estou em casa ela obedece, mas... e quando eu não estou? ou então: e quando ela está na casa da avó?
E o amigo conta coisas como esta:
— Ontem, ela saiu com a empregada para comprar macarrão para o almoço. Quando eu a vi saindo, perguntei onde ia e ela me respondeu cantando, com aquela musiquinha terrivelmente imbecil do Bat Masterson: — “Vou com a copeira lá na rua / Comprar coisas pra refeição / Na hora de botar na mesa / Bote macarrão / Bote macarrão”.
— Que idade ela tem? — perguntei.
— Doze anos.
— E fez o versinho na hora, inspirada em Bat Masterson?
—Fez
— Então o caso á grave.
— Gravíssimo — superlativou o amigo, arregalando os olhos — Uma criança que se inspira em Bat Masterson para fazer uma gracinha para o pai, é um futuro debilóide da Pátria.
Concordei, com ar grave, e ele esclareceu que esse é um exemplo em muitos. A televisão está fazendo doido em série, que nem os americanos faziam “jeep”, durante a guerra. E contou mais esta:
— Ontem, eu cheguei e, quando ela ouviu barulho de passos na sala, perguntou lá de dentro se era eu. Quando obteve a resposta afirmativa, veio de lá, falando com voz de locutor sensacionalista: “Naquela tarde de agosto da década de trinta, protegida por Elliot Ness e os federais, a menina foi até à sala disposta a dar um beijo no Papai.
Abraçou-o e deu o beijo. Depois fez uma rajada de metralhadora imaginária com a boca: tá-tá-tá-tá-tá... e caiu “morta” no tapete.
Fonte: Jornal "Última Hora", de 03/09/1963 — Coluna de Stanislaw Ponte Preta.
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— Por quê?
E ele:
— Minha filha!
— Ficou doida?
— Está caminhando para isso. Ela só fala em linguagem de televisão. Eu já proibi que ela visse até os programas em que Dom Hélder Câmara tenta explicar à gente que é mais bonzinho que nós, mas quem pode evitar que uma criança veja televisão? Enquanto eu estou em casa ela obedece, mas... e quando eu não estou? ou então: e quando ela está na casa da avó?
E o amigo conta coisas como esta:
— Ontem, ela saiu com a empregada para comprar macarrão para o almoço. Quando eu a vi saindo, perguntei onde ia e ela me respondeu cantando, com aquela musiquinha terrivelmente imbecil do Bat Masterson: — “Vou com a copeira lá na rua / Comprar coisas pra refeição / Na hora de botar na mesa / Bote macarrão / Bote macarrão”.
— Que idade ela tem? — perguntei.
— Doze anos.
— E fez o versinho na hora, inspirada em Bat Masterson?
—Fez
— Então o caso á grave.
— Gravíssimo — superlativou o amigo, arregalando os olhos — Uma criança que se inspira em Bat Masterson para fazer uma gracinha para o pai, é um futuro debilóide da Pátria.
Concordei, com ar grave, e ele esclareceu que esse é um exemplo em muitos. A televisão está fazendo doido em série, que nem os americanos faziam “jeep”, durante a guerra. E contou mais esta:
— Ontem, eu cheguei e, quando ela ouviu barulho de passos na sala, perguntou lá de dentro se era eu. Quando obteve a resposta afirmativa, veio de lá, falando com voz de locutor sensacionalista: “Naquela tarde de agosto da década de trinta, protegida por Elliot Ness e os federais, a menina foi até à sala disposta a dar um beijo no Papai.
Abraçou-o e deu o beijo. Depois fez uma rajada de metralhadora imaginária com a boca: tá-tá-tá-tá-tá... e caiu “morta” no tapete.
Fonte: Jornal "Última Hora", de 03/09/1963 — Coluna de Stanislaw Ponte Preta.