Diz
que era um menininho que adorava bala e isto não lhe dava qualquer
condição de originalidade, é ou não é? Tudo que é menininho gosta de
bala. Mas o garoto desta história era tarado por bala. Ele tinha assim
uma espécie de idéia fixa, uma coisa assim... assim, como direi? Ah...
creio que arranjei um bom exemplo comparativo: o garoto tinha por bala a
mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder.
Vai daí um dia o pai do menininho estava limpando o revólver e, para que a arma não lhe fizesse uma falseta, descarregou-a, colocando as balas em cima da mesa.
O menininho veio lá do quintal, viu aquilo ali e perguntou pro pai o que era:
— É bala — respondeu o pai, distraído.
Imediatamente o menininho pegou diversas, botou na boca e engoliu, para desespero do pai, que não medira as conseqüências de uma informação que seria razoável a um filho comum, mas não a um filho que não podia ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.
Chamou a mãe (do menino), explicou o que ocorrera e a pobre senhora saiu desvairada para o telefone, para comunicar a desgraça ao médico. Esse tranqüilizou a senhora e disse que iria até lá, em seguida.
Era um velho clínico, desses gordos e bonachões, acostumados aos pequenos dramas domésticos. Deu um laxante para o menininho e esclareceu que nada de mais iria ocorrer. Mas a mãe estava ainda aflita e insistiu:
— Mas não há perigo de vida, doutor?
— Não — garantiu o médico: — Para o menino não há o menor perigo de vida. Para os outros talvez.
— Para os outros? — estranhou a senhora.
— Bem... — ponderou o doutor: — O que eu quero dizer é que, pelo menos durante o período de recuperação, talvez fosse prudente não apontar o menino para ninguém.
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Vai daí um dia o pai do menininho estava limpando o revólver e, para que a arma não lhe fizesse uma falseta, descarregou-a, colocando as balas em cima da mesa.
O menininho veio lá do quintal, viu aquilo ali e perguntou pro pai o que era:
— É bala — respondeu o pai, distraído.
Imediatamente o menininho pegou diversas, botou na boca e engoliu, para desespero do pai, que não medira as conseqüências de uma informação que seria razoável a um filho comum, mas não a um filho que não podia ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.
Chamou a mãe (do menino), explicou o que ocorrera e a pobre senhora saiu desvairada para o telefone, para comunicar a desgraça ao médico. Esse tranqüilizou a senhora e disse que iria até lá, em seguida.
Era um velho clínico, desses gordos e bonachões, acostumados aos pequenos dramas domésticos. Deu um laxante para o menininho e esclareceu que nada de mais iria ocorrer. Mas a mãe estava ainda aflita e insistiu:
— Mas não há perigo de vida, doutor?
— Não — garantiu o médico: — Para o menino não há o menor perigo de vida. Para os outros talvez.
— Para os outros? — estranhou a senhora.
— Bem... — ponderou o doutor: — O que eu quero dizer é que, pelo menos durante o período de recuperação, talvez fosse prudente não apontar o menino para ninguém.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975