Muitos
crêem que pelo fato de alguém abraçar a ciência, este alguém é sensato
por natureza, sóbrio e, principalmente: "racional". Aqui vão alguns
indícios de que "nem tudo que reluz é ouro"... e separar-se o joio do
trigo não é apenas uma metáfora aplicável entre ciência e religião...
Nascido na ilha grega de Samos,
Pitágoras (565-490 a.C.) revolucionou a matemática. Suas teorias seriam
aplicadas com êxito no estudo do movimento dos astros 17 séculos mais
tarde. O que o seu professor talvez não tenha contado é que o sábio
grego tinha lá suas esquisitices.
Pitágoras acreditava que olhar a
própria imagem no espelho à luz de velas atraía azar. Deixar de arrumar a
cama, idem. E achava que tocar em um frango vivo era pedir para que
algo de ruim acontecesse. Acostumado a raciocínios lógicos, Pitágoras
nutria um leque de superstições digno de um babalorixá. Era um gênio
matemático e também um místico: liderava uma seita que pregava a
reencarnação e a metempsicose - a volta à Terra de alguém que cometeu
crimes em vidas passadas, encarnado no corpo de um animal.
Tinha também atitudes dignas de
um Francisco de Assis: quando não estava calculando, Pitágoras podia ser
visto conversando com os bois. Certa vez, chegou a bater com a bengala
em um homem que maltratava um cachorro. "Não faça isso", disse. "Este aí
é um amigo que morreu há pouco tempo e reencarnou."
Muitos gênios, aliás, foram
flagrados em atitudes que revelam uma malandragem digna dos românticos
morros cariocas de outrora. Vejamos o caso do astrônomo italiano Galileu
Galilei (1564-1642), falastrão e polemista, que teve coragem suficiente
para desafiar a Igreja com a sua teoria de que a Terra girava em torno
do Sol, e não o contrário. Mas não conseguiu resistir à tentação de se
apoderar de idéias alheias para alcançar prestígio e conseguir recursos
para manter a vida boêmia. Gostava de estar em evidência. Um dia chamou o
povo e divulgou, na praça da cidade, as dimensões do inferno e a altura
exata do Diabo Fiel freguês dos bordéis de Pádua, cidade do interior da
Itália onde lecionava filosofia.
Galileu amou muitas prostitutas e
acabou casando-se com uma delas. Com muitas contas para pagar, não viu
outra saída senão usar a sua inteligência como inventor. Numa viagem a
Veneza, o astrônomo ouviu rumores a respeito de um fabricante de óculos
que acabara de inventar um instrumento que permitia observar objetos
distantes como se estivessem perto. Voltou para casa correndo e só
descansou depois que o telescópio estava pronto e patenteado com o seu
nome.
Também tropeçou, ao menos uma
vez, na seriedade e na precisão que se espera de um dos maiores homens
de ciência da história. Empolgado com cálculos e sempre pronto a detonar
uma polêmica, o cientista italiano - que, apesar de sua herética teoria
heliocêntrica, era católico - anunciou em praça pública que revelaria
as dimensões e a localização matemáticas do inferno. Calculou então que
os domínios do Diabo tinham a forma de um cone invertido, ocupavam um
doze avos do volume da Terra e ficavam exatamente abaixo da cidade de
Jerusalém. Como se não bastasse, arriscou esboçar a altura de Lúcifer
que, pelas suas contas, mediria 1935 braças (mais de 4 quilômetros).
Galileu não está sozinho no time
dos que não hesitaram em surrupiar a idéia do próximo. Antoine
Lavoisier (1743-1794), o químico francês que imortalizou a expressão "na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", ganhou
notoriedade em 1788 ao demonstrar que o ar é composto por vários gases e
que o oxigênio é fundamental para a combustão. Tudo bem, não fosse um
pequeno detalhe: quem descobriu a existência do oxigênio não foi
Lavoisier, mas seu amigo Joseph Priestley (1733-1804), que teve a
infelicidade de confidenciar a descoberta ao colega francês durante uma
festa regada a vinho.
Isaac Newton (1642-1727), o
físico inglês que conseguiu enxergar na queda de uma maçã o rastro de
uma força invisível que age sobre todas as coisas que estão ao redor e
sobre a Terra: a gravidade. Newton dava um boi para entrar numa encrenca
e uma boiada para não sair. Criado sem pai, longe da mãe, o menino
Newton teve que ser camareiro de um professor em troca da bolsa de
estudos na escola elementar. Mais tarde se tornaria um homem fechado,
agressivo e ambicioso.
Tão logo a Teoria da Gravitação
Universal foi publicada, o físico Robert Hooke (1635-1703) cutucou a
onça com vara curta, acusando Newton de plágio. Hooke jurava que tinha
feito a descoberta primeiro. Não sabia com quem estava lidando. Newton
revidou e os dois, além das alfinetadas por cartas e artigos em jornais,
chegaram a trocar sopapos nos corredores da Royal Society, sociedade
científica inglesa presidida por Newton. "Hooke deveria ser tão
conhecido na época quanto Newton", diz Shozo. Mas só Newton entrou para a
história.
Em 1699, o físico inglês foi
nomeado diretor da Casa da Moeda Britânica, cargo que ocupou por 20
anos. O importante posto lhe permitiu ajudar amigos com empréstimos e,
claro, prejudicar os inimigos. Além disso, também assinou mais de 100
ordens de prisão e decretou alguns enforcamentos por não pagamento de
dívidas. Envolvido com tanto trabalho, dizia não ter tempo para mulheres
e nunca se casou. Os inimigos não perderam a chance de acertá-lo no
rim: é que Newton não se casou, mas se apaixonou perdidamente. Por um
homem. Durante anos trocou cartas carinhosas com o jovem matemático
suíço Fatio Duillier.
Em excentricidade nenhum
cientista até hoje conseguiu desbancar Albert Einstein (1879-1955),
autor da Teoria da Relatividade, um dos pilares da física moderna. Para
começar, Einstein costumava deitar na banheira vazia para estudar,
imaginando estar sentado na escrivaninha. Caminhava debaixo de
tempestades sem se dar conta da chuva, rabiscava fórmulas na toalha da
mesa, comia suas refeições, geladas no prato, horas depois que as outras
pessoas já haviam comido, e escrevia discursos de agradecimento no
verso de notas fiscais. Além de pregar que os números se dividiam entre
machos e fêmeas. Absolutamente absorto em seu mundo particular, vivia
praticamente sem um tostão no bolso, foi visto várias vezes catando
bitucas de cigarro nas ruas.
Fonte: ceticismoaberto - Os Grandes Cientistas