sexta-feira, 3 de maio de 2013

É triste... muito triste

Sim, companheiros, é muito triste um pai educar uma filha para corte, costura e o chamado trivial que vai do pregar botão ao fazer feijão, e depois, quando a filha fica pronta vira Elegante Bangu. É triste mesmo!

Mas não se deve negar aos homens o direito do vexame. É triste um pai criar um filho dentro das linhas que obedecem aos princípios da sagrada burguesia, pagando-lhe o colégio, alimentando-o para que um dia possa trabalhar e descontar para o IPASE e depois, quando o filho fica pronto, mete uma cabeleira loura e sai fotografia dele nos jornais, "travestido" em Rainha Morna.

Não é menos verdade, no entanto, que triste, muito triste é mãe devota fazer sacrifício para vestir e calçar filha órfã de pai, dando duro em emprego modesto, gastando com economia o montepio do falecido e depois, quando a filha fica mais ou menos o número que a gente usa, sai por aí arranjando voto para ser Rainha sabe-se lá de que trono.

Inegável, contudo, é que a tristeza paira sobre o semblante do pai que não saiu de casa "naquele dia" por amor ao garoto, a quem orgulhosamente deu de tudo e depois, quando o filho se sentiu capaz de certas coisas, ver esse filho desfilando na passarela no João Caetano, no baile aquele.

E por que faltar com a verdade, fingindo ignorar o quanto é triste para mãe extremada ver a filha ir encorpando, encorpando e fugindo ao seu controle, até o momento em que — lá uma noite — volta para casa dizendo que ele é casado e não há mais nada a fazer?

Como é triste também uma família do Norte, que sofre com o agreste da região e a proliferação exagerada de filhos, criar as crianças com o sacrifício da fome e, um dia, o mais velho dos filhos embarcar para a capital só para ser cronista mundano. É triste sim, muito triste.

Aliás, triste, sem dúvida, é moça que se diz bem, que detesta certas intimidades com as chamadas mariposas da noite, freqüentar o "Sacha” o ano inteiro e depois, quando chega fevereiro, meter um maio legal no corpo e ir pro baile carnavalesco dizendo que está fantasiada.

Sim, companheiros, tudo isso é muito triste pra nós, porque os citados não desconfiam nunca. Para eles as bestas são as do apocalipse, se é que já ouviram alguma vez falar em apocalipse. Não, companheiros, eles não desconfiam nunca. Tanto não desconfiam que — noutro dia — ouvimos uma moça dizer para um rapaz que a convidara para ir comer galeto na sua lambreta:

— Que é que você está pensando? Eu não sou uma qualquer. Eu sou bailarina do "Bolero" ouviu?

_______________________________________________________________________ Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
Leia mais...

O falso defunto

Foi doce o meu encontro com o Varanda. Com esse nome paisagístico, ventilado, é uma grande figura. E como não nos víamos há meses e meses, houve, de parte a parte, uma festa imensa. Eu ria para ele e ele para mim, como se o amigo fosse uma figura extremamente cômica. Súbito, o Varanda pergunta:

— "Tens visto o Burlamaqui?".

Respondo:

— "Morreu".

O Varanda recua dois passos e avança outros dois. "Pálido de espanto", como no soneto, balbucia:

— "Quem morreu?".

Confirmei:

— "O Burlamaqui".

Pulou como o espectro da rosa. Agarrou-me:

— "Não é possível! Não pode ser!".

Houve, ali, dois espantos, o meu e o dele. Teimei:

— "Você não sabia? Morreu, rapaz, morreu!".

Desatinado, o outro dizia:

— "Só se morreu hoje, agora, neste momento!".

Desta feita, o assombrado fui eu. Disse-lhe:

— "Morreu há dois ou três anos. Dois. Dois, não. Três".

Esquecia-me de localizar o nosso encontro, no tempo e no espaço. Foi ontem, na esquina de Sete de Setembro com a Avenida, às quatro da tarde. Ao ouvir falar em "três anos", o Varanda perdeu de vez a paciência:

— "Estás fazendo molecagem comigo!".

Estendi a mão sobre uma Bíblia invisível:

— "Juro".

Varanda substituiu o espanto pelo furor:

— "Deixa de palhaçada!".

E eu, também exaltado, voltei à carga:

— "Rapaz! Eu fui ao enterro do Burlamaqui, mandei-lhe uma coroa, estive na missa! Está-me chamando de mentiroso?".

Em plena calçada, e aos berros, já fazíamos escândalo. Um senhor gordo, de óculos, com esparadrapo na testa, parou e ficou olhando. O Varanda estava quase chorando:

— "Pelo amor de Deus! Escuta! Estive com o Burlamaqui ontem, ontem. Sabe o que é ontem? Paguei-lhe o cafezinho. Tomou cafezinho comigo!".

Era demais. Estou repetindo:

— "Contigo, cafezinho, ontem? E não morreu?".

O Varanda estendia, as duas mãos crispadas:

— "Acredita em mim! Peço. Acredita em mim!".

E então, pela primeira vez, admiti a hipótese de um engano, sim, de um equívoco fatal. Era possível que a morte, o enterro, a missa do Burlamaqui fossem uma falsa lembrança, um sonho talvez da memória. Finalmente, capitulei:

— "Tens razão, tens razão! Eu me enganei. Não foi o Burlamaqui. Foi outro, um cara que tu não conheces".

Tive que inventar, às pressas, um defunto, que justificasse a confusão. Mas eu e ele estávamos exaustos e irritados com o equívoco. Nem o Varanda me reteve, nem eu a ele. Cada qual queria ver o outro pelas costas. E assim nos despedimos.

Pergunto: — como explicar que a memória invente uma morte, um enterro e uma missa? Só muito depois, em casa, entendi tudo.

Não há brasileiro que não tenha, entre suas relações, um "falso defunto". Não estou exagerando. "Falso defunto" é o que a gente pensa que já morreu umas cinco vezes, que já foi enterrado outras tantas. O sujeito imagina que já o viu de pés juntos e algodão nas narinas. No fim, fica provado que ninguém morreu e que se trata de uma pura e irresponsável fantasia da memória. E o Burlamaqui era, justamente, o "falso defunto". Não havia dúvida: — estaria tão vivo quanto eu e o leitor.

Vejam vocês: — no dia seguinte, estou em casa e bate o telefone. Alguém está dizendo:

— "Aqui fala a alma do Burlamaqui".

E, em seguida, veio a gargalhada, forte, tremenda, vital. E eu, rindo também:

— "Ah, como vai essa figura?".

O outro não parava:

— "Então, você me matou? Parei contigo!".

Simplesmente, o Varanda armara toda uma alegre intriga entre nós dois. Rimos muito; perguntei-lhe:

— "Que fim levaste?".

E ele:

— "Moro em Brasília. Estou passando uns dias aqui, na casa do meu cunhado".

Quando lhe perguntei "Que tal Brasília?", ele explodiu:

— "Brasília é o ouro! O ouro!".

Indaguei se ele estava bem lá. Deu uma resposta triunfal:

— "Estou com a vida que pedi a Deus. Você precisava ir pra Brasília. O Rio é uma ilusão, São Paulo outra ilusão. Vai pra Brasília!".

Por fim, marcamos um encontro para logo depois. Esquecia-me de dizer que, antes de Brasília, o Burlamaqui pagara todos os seus pecados. Conheceu a fome. Certa vez passara 48 horas sem comer e sem beber. Um dia, entrou num boteco e pediu um copo de água da bica. Foi medonho.

O garçom deu-lhe o copo e ele não bebia. Simplesmente, mastigava a água e repito: — comia a água. Em outra ocasião, Burlamaqui agarrou-me. As lágrimas caíam-lhe de quatro em quatro. Disse, baixo:

— "Me empresta um dinheiro. Não vi nem o café da manhã".

Estava lívido, febril de fome. Hoje estava feliz; e eu percebera, em tudo o que dizia, uma prosperidade insolentíssima. Quando me viu, fez a pergunta afrontosa:

— "Precisas de dinheiro? Estamos aí".

E repetia, batendo no bolso:

— "Dinheiro há, dinheiro há!".

Tal generosidade era uma maneira de se compensar de velhas e santas humilhações. Repetia (e seu olhar vazava luz):

— "O ouro está lá! Está lá!".

Apontava na direção de Brasília. Quando lhe perguntei pelo mistério, deu risada. Contou que fora para Brasília morto de fome; e, agora, tinha três empregos e era fazendeiro. No meu espanto, gemi:

— "Mas é um milagre!".

Riu, com salubérrimo descaro:

— "A autora do milagre é Brasília".

Conversamos duas horas e o assunto obrigatório foi a capital. Eu só ouvia, numa impressão profunda. E, por tudo que contava o Burlamaqui, eu via Brasília como a imagem da pequena comunidade. Sim, a pequena comunidade é a soma de acomodações, de interesses, de egoísmos. Cada qual absolvia o próximo para ser também absolvido. O sujeito podia ter três, quatro empregos, porque os demais tinham três, quatro empregos. Quando falei na imprensa, o Burlamaqui dava gargalhadas de se ouvir no fim da rua.

Não saía de Brasília nenhuma notícia que a pudesse comprometer. Uma universitária sofreu uma curra homicida. Nunca ninguém, na Terra, foi tão humilhada e tão ofendida. O fato chegou ao Rio por via oral. Os jornais telefonaram. Resposta das sucursais:

— "Não há nada".

E se lá aparecesse um Jack, o Estripador, ou um conde Drácula, ninguém saberia, ninguém. As sucursais continuariam falando da Arena e do MDB. E o silêncio envolve os fatos indignos como um celofane. À sombra dos egoísmos solidários, ninguém julga ninguém, ninguém acusa ninguém. E, portanto, os curradores referidos continuam maravilhosamente impunes. E o Burlamaqui me diz:

— "Houve uma passagem comigo que... Foi o seguinte: — um cara folgou comigo. Dei-lhe uns tiros. E não me aconteceu nada. Vivo lá na minha fazenda, venho só receber dos três empregos, ninguém me aborrece".

Maravilhado, repito:

— "Mas é um milagre!".

O outro ri, sórdido:

— "Mais ou menos".

Já se despedia. Mas antes de partir, ainda me disse:

— "Larga tudo, vai pra lá. Todas as cidades pecam, menos Brasília".

Respira fundo e completa:

— "Em Brasília, somos todos inocentes e somos todos cúmplices".

O automóvel estava no estacionamento. Vi o "falso defunto" embarcar no carro. Já falei na sua Mercedes? Acho que falei. Não, não. Não falei.

Pois sua Mercedes tem cascata artificial, com filhote de jacaré.

[5/10/1968]
________________________________________________________________________
A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo:  Companhia das Letras, 1995.
Leia mais...

Alimentos que aumentam o risco de câncer

Maus hábitos alimentares estão diretamente relacionados com essa estatística. A vida moderna, cada vez mais agitada, dificultou o velho (e bom) hábito de preparar os próprios alimentos e deu lugar aos alimentos prontos para consumo ou de fácil preparo. 

O nutricionista Fábio Gomes, do INCA, explica que muitos alimentos possuem fatores mutagênicos, ou seja, lesam as células humanas e alteram o material genético que existe dentro dela. "Esse processo leva a uma multiplicação celular muito maior do que o normal e, em consequência, pode aparecer um tumor".

Muitos desses alimentos não apresentam qualquer benefício à saúde e podem ser facilmente riscados do cardápio. Veja quais são e modere no consumo dos alimentos que predispõem a doença.

Carnes processadas

Linguiça, salsicha, bacon e até o peito de peru contêm quantidades consideráveis de nitritos e nitratos. Essas substâncias, em contato com o estômago, viram nitrosaminas, substâncias consideradas mutagênicas, capazes de promover mutação do material genético.

"A multiplicação celular passa a ser desordenada devido ao dano causado ao material genético da célula. Esse processo leva à formação de tumores, principalmente do trato gastrointestinal", explica Fábio Gomes.

A recomendação do especialista é evitar esses alimentos, que não contribuem em nada com a saúde.

Refrigerantes 

A bebida gaseificada, além de conter muito sal em forma de sódio, possui adoçantes associados ao aparecimento de câncer. O ciclamato de sódio, por exemplo, é proibido nos Estados Unidos, mas ainda é utilizado no Brasil, principalmente em refrigerantes "zero". "Essa substância aumenta o risco de aparecimento de câncer no trato urinário", conta Fábio Gomes.

Quanto aos adoçantes que podem ser adicionados à comida ou à bebida, o nutricionista diz que ainda não há comprovação científica. "O ideal é que o adoçante seja usado de forma equilibrada, pois é um produto destinado a pessoas com diabetes e não deve ser consumido em excesso pela população em geral", aponta.

Alimentos gordurosos 

Fábio Gomes explica que não é exatamente a gordura a principal responsável pelo aparecimento de câncer, e sim a quantidade de calorias que ela agrega ao alimento. A comida muito gordurosa é densamente calórica, ou seja, tem mais que 225 calorias a cada 100 gramas do alimento. "Por esses alimentos geralmente serem pobres em nutrientes, é preciso ingeri-los em grandes quantidades para obter saciedade, o que leva ao superconsumo", conta o nutricionista do INCA.

Em excesso, esses alimentos provocam obesidade, que é fator de risco para câncer de pâncreas, vesícula biliar, esôfago, mama e rins. A célula de gordura libera substâncias inflamatórias, principalmente hormônios que levam a alterações no DNA e na reprodução celular, como o estrogênio, a insulina e um chamado de fator de crescimento tumoral.

Alimentos ricos em sal 

"Se ingerido em quantidade maior do que cinco gramas por dia, o sal pode lesar as células que estão na parede do estômago", explica o nutricionista Vinicius Trevisani, do Instituto do Câncer de São Paulo. Essa agressão gera alterações celulares que podem levar ao aparecimento de tumores.

Procure evitar alimentos ricos em sal ou mesmo aqueles que usam sal para aumentar o tempo de conservação, como os congelados e os comprados prontos que só precisam ser aquecidos.

Entram nessa lista: carne seca, bacalhau, refrigerantes, pizzas congeladas, iscas de frango empanadas congeladas, macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote, entre outros.

Churrasco 

Na fumaça do carvão há dois componentes cancerígenos: o alcatrão e o hidrocarboneto policíclico aromático. "Ambos estão presentes na fumaça e impregnam o alimento que é preparado na churrasqueira", explica Fábio Gomes. "Eles também possuem fatores mutagênicos que levam ao aparecimento de tumores."

Dieta pobre em fibras 

O nutricionista Vinicius Trevisani explica que o intestino se beneficia muito pelo consumo adequado de fibras. Elas garantem um bom trânsito intestinal, de modo a eliminar os ácidos biliares secundários, um produto da digestão presente no intestino. Isso evita a agressão às células do intestino e a multiplicação celular descontrolada.

Preparo com altas temperaturas 

Alimentos fritos ou grelhados também incorporam algumas substâncias cancerígenas. Ao colocar o alimento cru em óleo ou chapa muito quentes (com temperatura aproximada de 300 a 400°C), são formadas aminas heterocíclicas - substâncias que contêm fatores mutagênicos e estimulam a formação de tumores.

O nutricionista Fábio recomenda preparar as carnes ensopadas - modo de cozimento em que não há nenhuma formação de aminas-, ou ainda prepará-las no forno. Dessa maneira, a temperatura do alimento aumenta gradualmente e não chega a níveis tão altos.

Alimentos com agrotóxicos 

Não existe uma forma eficiente de limpar frutas, verduras e legumes dos agrotóxicos. "Muitas vezes, esses conservantes são aplicados nas sementes e passam a fazer parte da composição do alimento", aponta Fábio Gomes. Ele explica que o agrotóxico provoca vários problemas de saúde em quem tem contato direto com esses alimentos, mas ainda está em estudo a sua real contribuição com o aparecimento do câncer.

Como ainda existem dúvidas sobre esses efeitos, o nutricionista orienta evitar opções ricas em agrotóxicos. É melhor consumir alimentos cultivados sem o produto químico, que comprovadamente têm mais vitaminas, minerais e compostos quimiopreventivos. "Estes compostos atuam na proteção e reparação celular frente a uma lesão que pode gerar câncer", afirma.

______________________________________________________________
Fonte: Minha Vida
Texto: Manuela Pagan
Leia mais...