Quem não tem o que fazer deu agora para inventar "dia". Um vereador —
cujo nome esquecemos — propôs a oficialização do "Dia do Acidentado",
explicando que, nesse dia, todos iriam aos hospitais visitar os doentes
passíveis de visitas e perturbar os doentes que não podem receber
visitas. A idéia, que ao vereador deve ter parecido luminosa, não foi
sequer levada a sério pelos seus coleguinhas edis. Felizmente.
Já nossa amiguinha Graciette Santana quer o "Dia da Progenitora", como se já não bastasse o "Dia da Genitora", onde as progenitoras já estão incluídas porque a condição primordial para a mulher ser progenitora é ser genitora anteriormente, detalhe que — queremos crer — escapou à Dona Graciette. Lamentável.
Outro que lançou "dia": Antônio Maria. Prenhe de boas intenções, o Arcebispo do Sacha's quer o "Dia da Reconciliação", conforme ele mesmo expôs em bem traçadas linhas. Será o dia em que cavalheiros mais ou menos em crise de amizade com outros tantos cavalheiros farão as pazes em lugar público; dia em que ferrenhos desafetos se abraçarão para legalizar o fim da briga etc. etc.
E como é bom demais para abençoar os outros, o próprio inventor do "Dia da Reconciliação" irá para o interior na data dos reencontros, para não ter que fazer as pazes com ninguém. Ele não confia nos inimigos, infelizmente.
Já a flor dos Ponte Pretas, que também se sentia meio jogado fora, resolveu criar um diazinho, para ficar atualizado e não ser passado para trás. Por isso mesmo imaginou o "Dia da Sinceridade", dia que — temos certeza — contaria com a adesão incondicional de todos, mesmo com a adesão do vereador, da Irmã Graciette da Emissora "Jesus Está Chamando" e do Antônio Maria.
No "Dia da Sinceridade" aconteceriam coisas surpreendentes. Você ligava a televisão e veria uma garota-propaganda com um sabonete na mão, dizendo que o dito não faz espuma, tem um perfume muito do rebarbativo e o preço é extorsivo.
Depois outros anúncios sinceros, seguidos de entrevistas sinceras, ocasião em que os arnaldos nogueiras do vídeo anunciariam assim seus convidados: está aqui ao nosso lado um dos maiores ficeleiros do PSD, que vai explicar a negociata que fez ontem no Ministério da Fazenda. Os jornais também seriam sinceros, principalmente os da imprensa sadia, cujos teriam um dia de reabilitação, pelo menos.
Jogadores de futebol fariam declarações importantes, explicando que detestam o clube a que pertencem, que farão tudo pela vitória porque o bicho é melhor quando vencem, mas que o adversário tem um time melhor e, por isso mesmo, vão tacar o pé no inimigo para intimidá-lo. E acrescentarão: a chave é essa, o técnico que se dane, pois quem vence jogo é jogador e não técnico.
Revistas especializadas diriam o que acham de Emilinha, contariam como fazem reportagem com Cauby; cronistas mundanos falariam de suas listas de "dez mais" com completa isenção de ânimo; candidatos a eleições colocariam na rua faixas com dizeres que espelhassem seus sentimentos cívicos e nos petits comitês, os que vivem nos riversides da vida, trocariam idéias entre si e sobre si, sem qualquer futuro ressentimento.
Nesse tão saudável "Dia da Sinceridade", por nós imaginado, Stanislaw passaria despercebido e, para culminar a comemoração, haveria discurso do Presidente na "Voz do Brasil". Credo!
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Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
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Já nossa amiguinha Graciette Santana quer o "Dia da Progenitora", como se já não bastasse o "Dia da Genitora", onde as progenitoras já estão incluídas porque a condição primordial para a mulher ser progenitora é ser genitora anteriormente, detalhe que — queremos crer — escapou à Dona Graciette. Lamentável.
Outro que lançou "dia": Antônio Maria. Prenhe de boas intenções, o Arcebispo do Sacha's quer o "Dia da Reconciliação", conforme ele mesmo expôs em bem traçadas linhas. Será o dia em que cavalheiros mais ou menos em crise de amizade com outros tantos cavalheiros farão as pazes em lugar público; dia em que ferrenhos desafetos se abraçarão para legalizar o fim da briga etc. etc.
E como é bom demais para abençoar os outros, o próprio inventor do "Dia da Reconciliação" irá para o interior na data dos reencontros, para não ter que fazer as pazes com ninguém. Ele não confia nos inimigos, infelizmente.
Já a flor dos Ponte Pretas, que também se sentia meio jogado fora, resolveu criar um diazinho, para ficar atualizado e não ser passado para trás. Por isso mesmo imaginou o "Dia da Sinceridade", dia que — temos certeza — contaria com a adesão incondicional de todos, mesmo com a adesão do vereador, da Irmã Graciette da Emissora "Jesus Está Chamando" e do Antônio Maria.
No "Dia da Sinceridade" aconteceriam coisas surpreendentes. Você ligava a televisão e veria uma garota-propaganda com um sabonete na mão, dizendo que o dito não faz espuma, tem um perfume muito do rebarbativo e o preço é extorsivo.
Depois outros anúncios sinceros, seguidos de entrevistas sinceras, ocasião em que os arnaldos nogueiras do vídeo anunciariam assim seus convidados: está aqui ao nosso lado um dos maiores ficeleiros do PSD, que vai explicar a negociata que fez ontem no Ministério da Fazenda. Os jornais também seriam sinceros, principalmente os da imprensa sadia, cujos teriam um dia de reabilitação, pelo menos.
Jogadores de futebol fariam declarações importantes, explicando que detestam o clube a que pertencem, que farão tudo pela vitória porque o bicho é melhor quando vencem, mas que o adversário tem um time melhor e, por isso mesmo, vão tacar o pé no inimigo para intimidá-lo. E acrescentarão: a chave é essa, o técnico que se dane, pois quem vence jogo é jogador e não técnico.
Revistas especializadas diriam o que acham de Emilinha, contariam como fazem reportagem com Cauby; cronistas mundanos falariam de suas listas de "dez mais" com completa isenção de ânimo; candidatos a eleições colocariam na rua faixas com dizeres que espelhassem seus sentimentos cívicos e nos petits comitês, os que vivem nos riversides da vida, trocariam idéias entre si e sobre si, sem qualquer futuro ressentimento.
Nesse tão saudável "Dia da Sinceridade", por nós imaginado, Stanislaw passaria despercebido e, para culminar a comemoração, haveria discurso do Presidente na "Voz do Brasil". Credo!
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Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.