quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Estátua da gladiadora

Estatueta da Roma Antiga: registro
de uma mulher gladiadora vitoriosa?
A estatueta retrata uma moça de porte atlético e torso nu. O braço erguido e a mão que segura um objeto (uma pequena espada?) sugerem triunfo - ou ameaça. Para um pesquisador espanhol, trata-se da única imagem de uma gladiadora vitoriosa a chegar até nós.

A análise da peça romana está em artigo na edição recente da revista especializada "International Journal of the History of Sport" e é assinada por Alfonso Manas, da Universidade de Granada.

A estatueta de bronze não é, em si, uma descoberta nova. Ela integra o acervo do Museu de Arte e Comércio de Hamburgo, na Alemanha. Ocorre que a interpretação corrente sobre a figura é que ela retratava apenas uma atleta depois do exercício.

É que os estudiosos anteriores consideravam que o objeto na mão da moça seminua seria um estrígil, um raspador curvo, de metal, que os gregos e romanos antigos usavam para limpar a pele após se exercitarem.

O sujeito suado e sujo de pó aplicava uma camada de azeite perfumado sobre a pele e depois usava o estrígil para raspá-la. A limpeza era concluída com um bom banho, de preferência nas termas que eram uma das marcas da civilização romana.

No entanto, argumenta Manas, a postura da garota seria absurda se ela estivesse mesmo segurando um estrígil acima da cabeça e olhando para baixo. De fato, a iconografia da Antiguidade costuma mostrar as pessoas raspando a pele com o apetrecho, e não desse jeito.

Ele propõe que, na verdade, o objeto é uma "sica", espada curta ou adaga recurva usada pelos gladiadores. E aponta outros sinais que apontariam para a identidade da figura como lutadora.

A faixa amarrada no joelho também era comum entre os gladiadores. E os seios nus vão contra a tese de que se trata de uma atleta (no mundo greco-romano, por definição, uma pessoa de condição livre): as poucas mulheres esportistas da época não mostravam os seios ao treinar.

Já escravas (categoria em que se encaixavam todos os gladiadores, fora um ou outro aristocrata maluco que quisesse entrar na arena) tinham bem menos barreiras para mostrar o busto.

Anna McCullough, pesquisadora da Universidade do Estado de Ohio (EUA) que estuda as poucas pistas sobre as gladiadoras romanas que chegaram até nós, diz que, a princípio, a interpretação do pesquisador espanhol parece fazer sentido.

"O gesto da estátua é bem mais parecido com uma pose de triunfo do que com a de alguém que está usando o estrígil", disse ela ao site americano "LiveScience.com".

Por outro lado, ela disse estranhar a ausência de algum tipo de armadura ou capacete protegendo o corpo da suposta lutadora.

Fonte: Folha - 02/05/2012
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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Mulher para o cotidiano

Quem pede conselho sobre mulher está — positivamente — pedindo um conselho inútil. Isto não foi descoberta nossa, embora tivéssemos chegado à mesma conclusão na segunda namorada (sempre fomos muito precoce).

A esta conclusão, em não sendo a pessoa completamente desligada da tomada, é fácil de se chegar, como é fácil descobrir com o tempo que existem mulheres que amam sem o menor sentimento de fidelidade, mulheres que são fiéis sem amar e, para complicar julgamentos, nenhuma mulher é igual com dois homens diferentes, nem nenhum homem ama igual duas mulheres. Assim, não sabemos por que tem gente que pede conselho sobre mulher. Mas o fato é que tem gente que pede.

Um distinto escreve para a coluna "Da Correspondência", mantida pelo brilhante colunista Stanislaw Ponte Preta, e não somente brilhante como também cheio de outras virtudes, pessoa que, por coincidência, é a mesma que ora escreve estas mal traçadas; um distinto escreve — repetimos — para pedir inteiro anonimato (embora coloque nome e endereço na carta, a título de confiança) e pedir também uma opinião sobre a mulher que ama, que é infiel e que — diz ele —, apesar disso, tem por ele muito amor.

Noutro dia, um outro contou a mesma história e na mesma base do "o que devo de fazer". Explicamos a ele que mulher que ama só trai por se sentir diminuída, por incerteza ou por não confiar em si mesma diante do seu amor. Logo, a traidora é muito mais coitada do que o traído.

Claro, existe muita sutileza envolvendo a questão e é preciso que o cavalheiro não seja burro para poder morar no assunto. Difícil dar conselho. Difícil e inútil.

Em todo caso, como o leitor pediu, não custa nada ajudar, contando esta historinha:

Ontem, quando descemos à garagem do prédio para tomar o carro, mal entramos no mesmo, notamos que o desgraçado não pegava. Por mais que apertássemos o arranque, este virava, virava e o carro neca.

O porteiro — um português com veleidades de mecânico — ajudou no que pôde. Levantamos o capo, puxamos fios, limpamos velas... e nada. Afinal, depois de quase duas horas de luta, o carro — sem maiores explicações — pegou.

Nem por isto ficamos menos aborrecido, pois o enguiço nos fez perder diversos compromissos.

Foi então que, para nos consolar, o português cocou a cabeça e sentenciou:

"É, doutor. Carro é pra quem tem dois."

Pois está aí, amigo. Use esta filosofia com mulher. Quando uma enguiçar, você vai na outra.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
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Isa Rodrigues

Isa Rodrigues - c. 1940
Isa Rodrigues (Elisa Rodrigues), considerada a "Shirley Temple brasileira", nasceu em São Paulo, no dia 17 de Julho de 1927. Seus pais eram os atores Alzira e Benito Rodrigues. Isa, como já era chamada desde pequena, cresceu no ambiente teatral e foi incentivada pela própria mãe. Sua estreia deu-se em Santos, na companhia de Nino Nello e Tom Bill, com um espetáculo de variedades intitulado "O Team da Gargalhada".

Isa tinha 8 anos, mas cantou e dançou como gente grande. A menina agradou tanto que passou a integrar o elenco da companhia, que viajava pelo Estado de São Paulo. A menina era tão boa que passou a ser anunciada como a grande atração. Apresentava-se cantando e dançando samba e maxixe.

Em 1936, com nove anos de idade, já é conhecida pelo público paulista e também em outros Estados. A família, então, mudou-separa o Rio de Janeiro.

A menina foi chamada a se apresentar em um show no Teatro República (RJ), em homenagem à vedete chilena Eva Stachino, que se despedia do Brasil. No dia do grande espetáculo, estavam na plateia Carmen Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva,Oscarito, Aracy Côrtes e Sílvio Caldas.

A menina cantou e dançou com tal desembaraço e graciosidade que foi considerada o maior sucesso da noite. Luís Iglésias, propôs um contrato com a menina, para estrear na sua próxima revista, no Recreio. O pai Benito recusou, pois estava negociando com outra companhia. Iglésias não quis nem saber o fim da história. Cobriu a oferta e ainda contratou, de quebra, os pais. Nascia a Shirley Temple brasileira.

Sua estreia aconteceu na revista É Batatal!, ao lado de gigantes como Oscarito, Aracy Côrtes e Eva Todor. Ela fez um dueto histórico com Oscarito, cantando No Tabuleiro da Baiana, na época, recém-gravada por Carmen Miranda. O jogo de cena entre Oscarito e Isa era impagável. A crítica consagrou o surgimento da nova estrela.

A pequena Isa foi capa da tradicional Revista de Theatro, vestida de baiana. Embaixo de sua fotografia, estavam estampados os seguintes dizeres: Isa Rodrigues, a vedeta de 1937. E durante os anos seguintes ela explodiu em popularidade. Era como se fosse uma minirreprodução das grandes vedetes da Praça Tiradentes. Exímia sapateadora, pode-se dizer que foi a primeira criança prodígio na cena teatral brasileira.

Com o fim das apresentações de É Batatal!, o Recreio lançou O Palhaço o Que é?, e logo depois Mamãe eu Quero e Rumo ao Catete; Isa estava nestes elencos, repetindo o êxito.

A Menina de Ouro foi uma revista escrita especialmente para ela. Estreou no Recreio, em 1937, escrita por Freire Jr. e J. Cabral. A produção apresentava-a como a menor vedete dos palcos brasileiros e, com certeza, dos teatros do mundo. A peça contava a história da americana Shirley Temple que decide tirar umas férias no sul da Califórnia. Para despistar os fãs e a imprensa, forja uma visita ao Brasil, contratando uma sósia brasileira que, se passando pela atriz, comparece a todos os eventos, atuando em cinema e teatro, enganando a todos. Mas a farsa dura pouco tempo: é descoberta e levada a julgamento. Na hora do veredicto, o clímax da peça, Isa tinha uma grande cena dramática, que emocionava todas as noites.

Entre 1937 e 1941, a nossa Shirley Temple reinou absoluta na PraçaTiradentes. Seu sucesso era enorme. Havia uma mutidão se amassando para ver a estrelinha.

Em 1939, depois de excursionar pelo País, Isa perdeu a maior oportunidade de sua vida: uma proposta para filmar em Hollywood, ao lado da própria Shirley Temple, feita por dois representantes da MGM na América Latina. O pai Benito recusou, pois tinha acabado de renovar com a Cia. Manoel Pinto.

Em 1941, Isa tentou interromper sua carreira para estudar, mas voltou para ajudar as finanças dos pais que dependiam dela. Ela havia crescido no palco. Em 1950 casou-se com o ator Carlos Mello, pai de seu único filho, Carlos Alberto.Tornou-se uma atriz versátil que havia passado com desenvoltura do teatro de revista para a comédia.

Em 1953, aos 26 anos, Isa retornou à revista em Mulheres de Todo o Mundo, no Teatro Carlos Gomes, ao lado da amiga desde os tempos do Recreio, Dercy Gonçalves. A exmenina-prodígio e revelação na comédia, pela primeira vez, veste maiô e bota as pernas de fora. O público e a crítica adoraram. Com Dercy Gonçalves ainda atuaria em Bomba da Paz, no João Caetano. Agora como vedete passou por muitas companhias.

Isa e Carlos Melo - 1960
Em 1955, foi elevada ao estrelato como vedete na temporada paulista com Colé, noTeatro Alumínio. Encabeçou o elenco de Gostei Demais... e Gente Bem & Champanhota, onde substitui Nélia Paula. Aproveitou a estada em São Paulo para filmar seu primeiro longa-metragem, Eva no Brasil.

Estrelou outras revistas como Te Futuco... num Futuca (1959) e Rio, Amor e Fantasia (1960). Sua especialidade eram os números de samba e as cenas cômicas. Isa Rodrigues, com Consuelo Leandro e Sonia Mamed, sabia fazer a caricata bonita, engraçada e sensual, ao mesmo tempo.

Em 1962, Isa era a artista mais bem paga da Tv Excelsior. Ao lado de outros egressos do teatro de revista, participou dos mais célebres programas humorísticos Noites Cariocas, O Riso é o Limite, Vovô Deville e Times Square.

Nos anos 1970, participava dos programas do Chico Anysio e dos Trapalhões da Rede Globo. Sua despedida dos palcos acontece em 1985, com a peça Viva a Nova República encenado no Copacabana Palace, ao lado de Íris Bruzzi e Milton Moraes.

Nos anos 1990, com a morte do marido, Isa mudou-se, por vontade própria, para o Retiro dos Artistas, onde vive até hoje. Aos 82 anos de vida e 75 de carreira, se considera uma mulher feliz.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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