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uma sonora gargalhada com amigos pode ajudá-lo com a dor graças a
substâncias químicas, similares aos opiáceos, que invadem o cérebro
quando rimos, revelou um estudo britânico que será publicado na edição
do periódico Proceedings of the Royal Society B, da Academia de Ciências
da Grã-Bretanha.
Cientistas fizeram experimentos em laboratório nos quais os voluntários
assistiam, ora a clipes de comédia das séries "Mr. Bean" ou "Friends",
ora a trechos de programas não-humorísticos, como uma partida de golfe
ou programas sobre a vida selvagem, enquanto sua resistência à dor era
monitorada.
Em outro teste, realizado no Festival 'Fringe' de Edimburgo - evento
anual que inclui apresentações de comédia, dança, teatro e música -,
voluntários assistiram ora a um número de comédia 'stand-up', ora a um
drama teatral.
Em condições de laboratório, a dor foi provocada por gelo em contato com
o braço dos voluntários e por um medidor de pressão que comprimiu o
punho até o limite do suportável. No Festival 'Fringe', pediu-se aos
voluntários que se inclinassem contra um muro com as pernas em ângulo
reto, como se fossem se sentar em uma cadeira de encosto reto, antes e
imediatamente após o show para ver se o riso havia ajudado a reduzir a
dor.
De acordo com o estudo, apenas 15 minutos de risadas aumentaram o nível
de tolerância à dor em cerca de 10%. Nas experiências laboratoriais, a
programação não-humorística não demonstrou ter qualquer efeito de
aliviar a dor, nem assistir a uma peça dramática no Festival 'Fringe'.
O estudo demonstrou, no entanto, duas importantes distinções. O único
riso que funcionou foi aquele relaxado, não forçado, que faz os olhos
apertarem, ao contrário do riso nervoso ou polido. Este tipo de riso é
muito mais provável de acontecer quando se está na companhia de outras
pessoas do que sozinho.
"Poucas pesquisas têm sido feitas sobre por que rimos e qual o papel do
riso na sociedade", afirmou Robin Dunbar, diretor do Instituto de
Antropologia Social e Cultural da Universidade de Oxford. "Usando
microfones, conseguimos gravar cada um dos participantes e descobrimos
que em um show cômico eles riram por cerca de um terço do tempo e sua
tolerância à dor aumentou como consequência", acrescentou.
Esta proteção derivou-se, aparentemente, da endorfina, uma substância
química complexa que ajuda a transmitir mensagens entre os neurônios,
mas também atenua os sinais de dor física e estresse psicológico. As
endorfinas são um produto famoso dos exercícios físicos. Elas ajudam a
gerar o bem-estar que se segue à prática de atividades como corrida,
natação, remo, ioga, etc.
No caso do riso, os cientistas acreditam que a liberação da substância
ocorra devido a um esforço muscular repetido e involuntário que se dá
quando a expiração não é seguida da tomada de fôlego. Exalar nos deixa
exaustos e, consequentemente, leva à liberação das endorfinas.
Acredita-se que grandes símios também sejam capazes de rir mas, ao
contrário dos humanos, eles inspiram tão bem quanto expiram quando riem.
Os cientistas acreditam que os experimentos ajudarão a compreender o
mecanismo psicológico e social de como o riso é gerado. O grupo parece
vital no desencadeamento do tipo certo de riso liberador de endorfina,
afirmaram.
Estudos anteriores se concentraram mais em por que as pessoas riem e não
em como elas o fazem. Uma hipótese é que o riso ajudaria a transmitir
sinais de acasalamento ou de vínculos entre os indivíduos. Outra ideia é
que, em um grupo, o riso promove a cooperação social e a identidade
coletiva. É, portanto, uma ferramenta evolutiva que ajuda a
sobrevivência.
Fonte: IG