Aconteceu no Rio Grande do Sul, onde a vaca abunda. E isto é mais sintomático ainda, pois as reações das classes produtoras nos seus centros de origem dão muito maior trabalho, para contornar a crise.
No lugar chamado Viamão, um distinto agricultor foi ferido a bala por uma vaca. Não foi crime passional, mas ninguém pode — em sã consciência — afirmar que não tenha sido o primeiro passo para uma revolução causada por pressão econômica ou talvez pela eterna injustiça da exploração da vaca pelo homem.
O agricultor — Sr. Heitor Barcelos Nunes — foi ordenhar a sua vaca e, em meio à tarefa, deve ter chateado a bichinha, pois esta largou-lhe um coice bem dado. O Heitor meteu uma ginga pro lado, para não ser atingido, mas foi pior a "amêndoa do que a sineta" — como diz o Ibrahim. A pata da vaca foi alcançar o revólver de Heitor e a arma disparou, tendo Heitor ido para o hospital onde, felizmente, foi posto fora de perigo.
Ora, ser ferido por uma vaca é coisa corriqueira. Chifre de vaca então vive ferindo gente, embora muita gente com chifre fique ferida por causa da vaca, enfim. .. deixa isso pra lá. Onde é que eu estava mesmo? Ah sim... pois é, o cara ser ferido a tiros por uma vaca é coisa inédita e tanto pode ser simples acidente como também o início de uma revolução.
Não é segredo para ninguém que a vaca vem sendo exploradíssima pelos tubarões do leite e da carne. No Rio Grande então, nem se fala. A vaca gaúcha, em matéria de coitada, só está perdendo para nordestino, embora este não tenha carnes e nem seja de dar leite.
Não é de hoje que os especuladores vêm fazendo da vaca a verdadeira mártir da economia nacional. Essas coisas um dia acabam por levar a classe oprimida à reação. Possivelmente esta vaca é a líder da revolução que aí vem.
Ou eles dão uma colher-de-chá a essas coitadas opressas, ou então vai ter. Com as vacas armadas o leite vai secar, com as vacas armadas eu quero ver quem aumenta o preço do filé. Resta agora a declaração da turma da direita, dizendo que quem está fornecendo armas para as vacas são os comunistas.
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No lugar chamado Viamão, um distinto agricultor foi ferido a bala por uma vaca. Não foi crime passional, mas ninguém pode — em sã consciência — afirmar que não tenha sido o primeiro passo para uma revolução causada por pressão econômica ou talvez pela eterna injustiça da exploração da vaca pelo homem.
O agricultor — Sr. Heitor Barcelos Nunes — foi ordenhar a sua vaca e, em meio à tarefa, deve ter chateado a bichinha, pois esta largou-lhe um coice bem dado. O Heitor meteu uma ginga pro lado, para não ser atingido, mas foi pior a "amêndoa do que a sineta" — como diz o Ibrahim. A pata da vaca foi alcançar o revólver de Heitor e a arma disparou, tendo Heitor ido para o hospital onde, felizmente, foi posto fora de perigo.
Ora, ser ferido por uma vaca é coisa corriqueira. Chifre de vaca então vive ferindo gente, embora muita gente com chifre fique ferida por causa da vaca, enfim. .. deixa isso pra lá. Onde é que eu estava mesmo? Ah sim... pois é, o cara ser ferido a tiros por uma vaca é coisa inédita e tanto pode ser simples acidente como também o início de uma revolução.
Não é segredo para ninguém que a vaca vem sendo exploradíssima pelos tubarões do leite e da carne. No Rio Grande então, nem se fala. A vaca gaúcha, em matéria de coitada, só está perdendo para nordestino, embora este não tenha carnes e nem seja de dar leite.
Não é de hoje que os especuladores vêm fazendo da vaca a verdadeira mártir da economia nacional. Essas coisas um dia acabam por levar a classe oprimida à reação. Possivelmente esta vaca é a líder da revolução que aí vem.
Ou eles dão uma colher-de-chá a essas coitadas opressas, ou então vai ter. Com as vacas armadas o leite vai secar, com as vacas armadas eu quero ver quem aumenta o preço do filé. Resta agora a declaração da turma da direita, dizendo que quem está fornecendo armas para as vacas são os comunistas.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975