quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vassoura bruxólica

"É, neste mundo de Deus, há muitos mistérios e esta gente simples aqui da Ilha vive estas coisas quase como uma realidade. Meus lobisomens, bruxas, demônios e boitatás existem.

Sempre foi crença do povo hospitaleiro desta Ilha dos famosos bois de mamão que, na Sexta-Feira-Santa, não se deve tomar instrumentos de trabalho para usa-los, seja qual finalidade for.

É também costume tradicional deste povo, descendentes de colonos açorianos, que, na Sexta-Feira-Santa, a partir de zero hora, devem banhar-se nas ondas do mar, levando consigo animais domésticos, para purificarem-se e protegerem-se de todos os males do corpo físico e espiritual. As águas colhidas nesta hora servem para todo o tipo de cura.

É a fé, longínqua dos tempos, aliada a superstição, ao medo e ao amor pela conservação do corpo físico, na cura dos males que atacam o homem em franca vivência espiritual e física com o seu Deus. As forças atuantes de práticas religiosas freiam os instintos animalescos do homem, encaminhando-o, espiritualmente, para viver com bons modos junto com o seu Deus, com a cultura, na sociedade e conseqüentemente com o seu próximo.

Entrementes, sempre aparecem nos meandros desses cenários fantásticos, e outros moderados, pessoas que se arrojam contra os poderes divinos, maltratando esses conjuntos de sociedades freadoras, veículos insubstituíveis de abrandamento de sofrimentos que martirizam e açoitam a criatura humana.

Um caso de desrespeito espiritual aconteceu há muitos anos passados, lá pras bandas do sul da Ilha de Santa Catarina. A Maria Vivina, moradora da praia dos Naufragados, fez uma aposta com a Carrica, de que, na Sexta-Feira-Santa daquele ano, ela tomaria uma vassoura e com a mesma, varreria o quintal de sua casa e,certeza tinha, nada lhe aconteceria de extraordinário. Apostaram um par de tamancos contra uma botina. E firmaram a promessa da aposta, casando-a.

Quando a Vivina deu a primeira varredela, a vassoura soltou-se de suas mãos qui nem um relâmpago, metamorfoseou-se em bruxa, ganhou altura sobre o morro do Ribeirão da Ilha e desapareceu, num repente, no espaço sideral das alturas incomensuráveis da quimera.

A Maria Vivina caiu de joelhos no terreiro, rezou e pediu perdão aos céus pelo ato impensado que havia cometido contra as ordens divinas, chorando copiosamente. A Carrica abraçou-se com ela e ambas choraram e sentiram o amargo do néctar da desobediência humana. Nenhuma das duas era bruxa, porque a vassoura, que e um instrumento de montaria de bruxas, foi embora, viajar pelo espaço sideral, sozinha.

Oh! Minha querida Ilha de Santa Catarina de Alexandria, és a graciosa sereia que repousa sobre brancas areias de comoros errantes, sambaquis seculares, banhada pelas ondas acasteladas do oceano, perfumada pela brisa acariciante dos ventos e enxuta com as toalhas felpudas dos raios solares que beijam calorosamente seu corpo mitológico."

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Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
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Boitatá


Franklin Joaquim Cascaes/Ilha de Santa Catarina

Este boitatá está passeando sobre a Ilha de Santa Catarina.

É meia-noite. Ele está apreciando, de riba, as sessenta praias que ela possui, brancas quiném jasmim.

Para afugentá-lo a pessoa que o avista deve chamar a outra que estiver mais perto e gritar assim: "Zenobra, trás a corda do sino mode amarrar o boitatá, que lele anda por aqui!"

Ele foge imediatamente do mundo fascinante da fantasia humana.



Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
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Mulheres bruxas atacando cavalos

Foi do pensamento inculto do homem de argila humana crua, que nasceu as estórias de que cavalos galopeiam pelos ares, quando são atacados por mulheres bruxas em atividades extra-terrenas, para chupar-lhes o sangue.

Contam que no dia seguinte, os animais que foram atacados durante a noite, e que galopearam pelos espaços siderais, apresentam-se sangrando, e com nós indesátaveis nas crinas e nos rabos.

Apontam como responsáveis pelos atos demoníacos bruxólicos, mulheres de suas comunidades, que são magras, feias e sujas, e que apresentam um dente no céu estrelado da boca e falam grosso quénem Homem gordo, nariz aquelino, etc.

Na ilha de Santa Catarina é muito comum o homem do interior cercar os ranchos ou estrbarias onde recolhem o seu gado, com redes de pescaria usadas, porque as bruxas também os chupam, acreditam, dentro da noite.

Hoje, no século vinte, a madame ciência afirma que quem faz os cavalos galoparem é o morcego, transmissor da raiva, não pelos ares, mas sim, campo a dentro.

Ora vejam, meus amigos,
Que nesta Ilha encantada,
Até bruxas são astronautas,
Que pilotam cavalhada.

Na bonita praia do Rapa,
De aguá azul e saborosa,
Elas entram de biquini,
E saem cobertas de rosas.


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com
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