O Sabinano da Ponta das Canas, tinha uma filhinha embruxada, que até metia dó à própria bruxa que a vinha sacrificando há muitos meses.
Aconselhado por amigos, ele passou a tratar a criança com um benzedor que morava na praia dos Ingleses.
O benzedor chamava-se Sotero das Capivaras e era um famoso curador de doenças dos outros mundos. Mas o tratamento que ele vinha aplicando para a criança do Sabiano não estava a produzir resultados satisfatórios.
O dia marcado para ele voltar a casa do benzedor foi uma sexta-feira.
De manhã bem cedo, o Sabiano levantou-se arrumou o gado no potreiro, tomou cafe, lavou os pés na gamela promode os havia sujado, enxugou-os, e pediu à mulher que lhe apanhasse os sapatos que estavam pendurados nos caibrosdo telhado da varanda.
A mulher dele, a Sotera, foi apanhá-los, mas só encontrou o sapato do pé direito, o outro não estava.
Procuraram em toda a casa, mas cuáli nada, não tava em nenhum lugar.
Pensou consigo: deve ter sido o cumpadre Zé Maratato.
Aquilo anda sempre pricurando coisas mode fazer das suas...
O tempo tá seco e o mihió memo prá mode a gente caminhá é descalço.
Apanhou uma cesta tecida de folhas de tabua, botou um vidro branco dentro e rasgou os pés no caminho, na direção dos rios das Capiras dos Inglêses.
Consultou o doutro curandeiro, apanhou o remédio e mandou-se de volta a caminho de casa.
Já havia caminhado um bom pedaço, quando algo chamou-lhe a atenção.
Olhou na direção da Ilha Mata Fome, e se deparou com um quadro curioso e horrível: uma bruxa passando pelo mar com o sapato dele transformado num barco, com uma vela bem enfunasa quiném lancha baleeira, passeando mui calmamente.
Apavorado com o que vira, retornou a casa do benzedor e narrou-lhe o fato.
O doutro benzedor apanhou um dente de alho com casca e mandou que ele o colocasse na boca e voltasse descançado para casa. Quanto à bruxa, ele a faria perder o estado fadórico, e consequintemente, o encanto, dentro de poucos minutos.
Ele atendeu a ordem do benzedor e calçou os pés no areião do caminho, de volta prá casa.
Quando chegou no terreiro, a Sotera já estava com a notícia bruxólica na pontinha da língua quase escapulindo.
_ "Sabiano, o teu sapato apodreceu nos caibros da varanda, molhado, sujo de areia da praia, e com um furo bem inrriba do bico."
_ Logo vi que aquela ègua ia dar-me prejuizo.
Ela furou o meu sapato prá mode meter o mastro da vela.
Aconselhado por amigos, ele passou a tratar a criança com um benzedor que morava na praia dos Ingleses.
O benzedor chamava-se Sotero das Capivaras e era um famoso curador de doenças dos outros mundos. Mas o tratamento que ele vinha aplicando para a criança do Sabiano não estava a produzir resultados satisfatórios.
O dia marcado para ele voltar a casa do benzedor foi uma sexta-feira.
De manhã bem cedo, o Sabiano levantou-se arrumou o gado no potreiro, tomou cafe, lavou os pés na gamela promode os havia sujado, enxugou-os, e pediu à mulher que lhe apanhasse os sapatos que estavam pendurados nos caibrosdo telhado da varanda.
A mulher dele, a Sotera, foi apanhá-los, mas só encontrou o sapato do pé direito, o outro não estava.
Procuraram em toda a casa, mas cuáli nada, não tava em nenhum lugar.
Pensou consigo: deve ter sido o cumpadre Zé Maratato.
Aquilo anda sempre pricurando coisas mode fazer das suas...
O tempo tá seco e o mihió memo prá mode a gente caminhá é descalço.
Apanhou uma cesta tecida de folhas de tabua, botou um vidro branco dentro e rasgou os pés no caminho, na direção dos rios das Capiras dos Inglêses.
Consultou o doutro curandeiro, apanhou o remédio e mandou-se de volta a caminho de casa.
Já havia caminhado um bom pedaço, quando algo chamou-lhe a atenção.
Olhou na direção da Ilha Mata Fome, e se deparou com um quadro curioso e horrível: uma bruxa passando pelo mar com o sapato dele transformado num barco, com uma vela bem enfunasa quiném lancha baleeira, passeando mui calmamente.
Apavorado com o que vira, retornou a casa do benzedor e narrou-lhe o fato.
O doutro benzedor apanhou um dente de alho com casca e mandou que ele o colocasse na boca e voltasse descançado para casa. Quanto à bruxa, ele a faria perder o estado fadórico, e consequintemente, o encanto, dentro de poucos minutos.
Ele atendeu a ordem do benzedor e calçou os pés no areião do caminho, de volta prá casa.
Quando chegou no terreiro, a Sotera já estava com a notícia bruxólica na pontinha da língua quase escapulindo.
_ "Sabiano, o teu sapato apodreceu nos caibros da varanda, molhado, sujo de areia da praia, e com um furo bem inrriba do bico."
_ Logo vi que aquela ègua ia dar-me prejuizo.
Ela furou o meu sapato prá mode meter o mastro da vela.
Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com