segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pescaria

— Fomos uns cinco pescar — conta-nos o amigo que há muito não encontrávamos. Tinha comprado um molinete e, segundo nos confessou, desde menino sonhava em ter o seu próprio molinete. Por isso aceitou o convite.

Quando o encontramos, às 11 horas da noite de sábado, estava cansadíssimo e queria ir dormir. Mesmo assim contou como foi a pescaria.

— Eles me convidaram dizendo que estava dando muito pampo na Barra da Tijuca. Passaram lá em casa às 7, me pegaram e saímos para comprar isca.

Ficaram comprando isca e lá pelas 9 horas entraram num bar para tomar um negócio porque estava ameaçando chuva e era preciso precaução. Às 11 horas, saíram do bar e tinha um camarada na porta vendendo siris.

— Vivos? — perguntamos:

Nosso amigo diz que sim e que, por isso mesmo, era preciso preparar. Ninguém levava comida para a pescaria e, portanto, até que seria bom cozinharem uns siris para fazer o farnel.

Na casa de um dele, a cozinheira foi avisada de que chegariam dentro em pouco com uma centena de siris para preparar. E de fato chegaram, lá pelas duas da tarde.

Foi tudo muito rápido. Às 5 horas os siris estavam prontinhos e todos sentados em volta da mesa, para experimentar. Trouxeram umas cervejas e foram comendo, foram comendo, até que chegou uma hora em que havia mais siris do que fome. Resolveram tomar providências e telefonaram para uns amigos.

— Venham comer siris.

Os amigos chegaram com um violão e uma garrafa de uísque. Uísque vai, uísque vem, deu fome outra vez. Eram oito horas quando a cozinheira salvou a situação com uma panelada de carne-seca com abóbora. Uns sirizinhos antes, como aperitivo, e todos caíram na carne-seca.

Então deu vontade de cantar. Um lá pegou o violão, os outros suas caixas de fósforo e começaram a lembrar sambas antigos.

E nosso amigo, ainda com o caniço e o molinete na mão, confessa:

— Saí de lá agora.

— E a pescaria?

— Pescaria? Que pescaria?


Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

Fonte: Texto extraído do livro "10 em Humor", Editora Expressão e Cultura — Rio de Janeiro, 1968, pág. 54.
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sábado, 23 de outubro de 2010

Bico do Papagaio e Geremias

Bico do Papagaio

Praia de Geremias
O Bico do Papagaio e a praia de Geremias - Itajaí-SC - 11/10/2010.
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Entendendo os ditos populares

Li um dia desses um artigo explicativo de diversos ditos populares, que muitas vezes usamos, sem sabermos de onde se originaram. Achei então interessante repassar, para conhecimento de quem não os tem:

Feito nas coxas - As primeiras telhas dos telhados nas casas aqui no Brasil eram feitas de argila, que eram moldadas nas coxas dos escravos que vieram da África. Como os escravos variavam de tamanho e porte físico, as telhas ficavam todas desiguais devido aos diferentes tipos de coxas. Daí então a expressão “feito nas coxas”, ou seja, de qualquer jeito...

Voto de Minerva - Orestes, filho de Clitemnestra (?) foi acusado pelo assassinato de sua mãe... No julgamento, houve empate entre os jurados... Coube então à Deusa Minerva, o voto decisivo que foi a favor do réu. Daí então a expressão “voto de minerva”, o voto decisivo.

Casa da Mãe Joana - Na época do Brasil Império, mais especificamente durante a menoridade de D.Pedro II, os homens que realmente mandavam no país, costumavam se encontrar em um prostíbulo do Rio de Janeiro, cuja proprietária chamava-se Joana (assim como, mais atual, a casa da Eny, da cidade de Bauru). Como estes homens mandavam e desmandavam no país, a frase “casa da mãe Joana”, ficou conhecida como sinônimo de lugar onde ninguém manda (qualquer casualidade NÃO é mera coincidência...).

Conto do Vigário - Duas igrejas de Ouro Preto (MG) receberam uma imagem de Santa, como presente... Para decidir qual das duas ficaria com a escultura, os vigários contariam com a ajuda de Deus, ou melhor, de um burro. O negócio era o seguinte: colocariam o burro entre as duas paróquias e o animalzinho teria que caminhar até uma delas. A escolhida pelo quadrúpede, ficaria com a Santa... E foi o que aconteceu, só que, mais tarde, descobriram que um dos vigários havia treinado o burro para se dirigir à sua paróquia... Assim, o “conto do vigário” passou a ser sinônimo de falcatrua e malandragem.

Ficar a ver navios -  Dom Sebastião, rei de Portugal, havia morrido na batalha de Alcácer-Quibir, mas seu corpo nunca foi encontrado... Por este motivo, o povo português se recusava a acreditar na morte do Monarca. Era comum as pessoas visitarem o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, para esperar pelo Rei... Como ele não voltava, o povo ficava “a ver navios”... Ou seja, o que esperavam nunca se concretizava.

Não entendo patavina -  Os portugueses encontravam uma enorme dificuldade em entender o que falavam os frades italianos patavinos, originários de Pádua ou Padova. Sendo assim, “não entender patavina” significa não entender nada.

Dourar a pílula - Antigamente as farmácias, embrulhavam as pílulas em papel dourado para melhorar o aspecto do remedinho amargo. Portanto a expressão “dourar a pílula” significa melhorar a aparência de algo...

Sem eira nem beira -  Os telhados de antigamente possuíam eira e beira, detalhes que davam "status", ao dono do imóvel... Possuir eira e beira nos telhados era sinal de riqueza e cultura... Não ter “eira nem beira” significava que a pessoa era pobre e inculta...

O canto do cisne -  Dizia-se que o cisne, emitia um belíssimo canto pouco antes de morrer. A expressão “canto do cisne” representa então as últimas realizações de alguém antes de morrer...

Algumas versões de ditos populares - Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão...” “Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão...” “Corro de burro, quando foge...” “Cor de burro quando foge...” “Quem tem boca, vaia Roma...” “Quem tem boca, vai a Roma...” “É a cara do pai, em carrara, esculpido” “É a cara do pai, escarrado e cuspido” “Quem não tem cão, caça como gato...” (ou seja, sozinho) “Quem não tem cão, caça com gato...”

Fonte: Entendendo os ditos populares - Autor: Flávio Rocha | história publicada em 18/10/2007.
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