terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Zé Carioca, o Papagaio

Moreira da Silva

Zé Carioca (samba, 1959) - Zé da Zilda (José Gonçalves)
e Zilda do Zé (Zilda Gonçalves)

História de papagaio
Eu conheco bastante
Vou contar nesse instante uma bem interessante
Quando eu cheguei aqui
Fui tomar um café
Na Praça Tiradentes
No botequim do seu Vicente
Vi um pássaro verde
Em cima de um palanque
Que eu não conhecia
Eu perguntei a freguesia
Me disseram que era
O papagaio Zé Carioca
Professor de português
(Fala francês, italiano e até inglês, um bom freguês)
Ele ficou meu amigo,
E me levou consigo a uma gafieira
(Onde eu sambei a noite inteira)
De madrugada uma dama fuleira fez um tempo quente
E o papagaio pulou na frente
Deixa comigo que eu sou carne de pescoço
Quem mexer com meu amigo tem que mastigar um osso
Nao tenha medo isso é café pequeno eu resolvo so
(Pulou pra trás e arrancou o paletó, meu Deus que nó
eu vou fugir, pra Maceió, com minha vó)
E, mas de repente a polícia chegou e o baile acabou
E todo mundo se pirou
E o papagaio saiu debaixo da mesa todo rasgado
Completamente depenado
Os dançarinos ficaram com pena de ver seu estado
(Disseram: coitado)
Ele saiu gingando se rebolando todo cheio de visagem
É dos pelados que elas gostam mais
É dos depenados que elas gostam mais.


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sábado, 19 de janeiro de 2008

BC na parte norte


Balneário Camboriú - Parte norte, upload feito originalmente por Blog do Papa-Siri.

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Edu da Gaita

Edu da Gaita (Eduardo Nadruz), de ascendência síria, nasceu em Jaguarão, RS, na fronteira com o Uruguai, em 13.10.1916, e faleceu em 23.08.1982, na cidade do Rio de Janeiro. Era o primogênito de 3 filhos. Seu pai desfrutava de boa posição na cidade como arrendatário de um cinema.

Em 1925, foi estudar em colégio interno de padres, na cidade de Pelotas, o São Luiz Gonzaga. Nesse ano , o representante local das famosas gaitas Hohner, da Alemanha, promoveu entre a criançada um concurso e o menino Eduardo, dentre os mais de 300 concorrentes, ganhou o primeiro prêmio, sem que a vitória significasse para ele algum interesse particular pelo instrumento ou pela música.

Continuou seus estudos ginasianos em Porto Alegre e, como tantos brasileiros, seu pai não conseguiu escapar da crise mundial. Eduardo pouco colaborava, a ponto de abandonar os estudos e levar uma vida sem definição. Seu pai entendeu que era chegada a hora dele trilhar um rumo mais responsável e esse rumo apontava para São Paulo: "São Paulo é uma grande cidade. Lá ele vai aprender a ser gente!"

Deu 300 mil-réis ao filho, que embarcou para Santos num Ita, o Itassucê. Como tocasse razoavelmente plano de ouvido, ganhou do comandante as passagens com a condição de tocar durante a viagem. Em Santos permaneceria poucos dias sem conseguir emprego. Em São Paulo, para onde foi em seguida, pretendia trabalhar na rua Vinte e Cinco de Março em alguma loja de comerciante árabe, mas também nada arranjou.

O ano era de 1933, logo depois da Revolução Constitucionalista, e o fato de ser gaúcho precisava ser escondido para não prejudicá-lo, pois os paulistas ainda estavam muito ressentidos com a derrota.

Na pensão, por falta de pagamento, foi avisado de que, se não acertasse as contas, seria despejado em 15 dias. Andando pelas ruas em busca de uma saída, na ladeira da avenida São João, viu alguém tocar gaita e passar o pires. Lembrou-se então dos seus tempos de pelotas e do concurso de gaitas. Sentiu que esse podia ser um meio para minorar sua situação. Não tinha porém o instrumento, ou melhor não tinha a gaita e nem a "gaita" para comprá-la.

Perto ficava a Casa Manon, loja de músicas e instrumentos. O gerente queixou-se a ele de que as gaitas não atraíam compradores e o estoque estava encalhado. Eduardo teve a idéia de propor-lhe um trato: ganharia uma porcentagem por gaita que conseguisse vender. Foi então para a porta da loja e começou a tocar. Resultado: não demorou a vender aos passantes 24 gaitas, com direito à porcentagem e uma gaita para si.

E assim Eduardo foi levando a vida na capital paulista, a tocar gaita e a fazer o que aparecesse, inclusive sendo camelô. Chegou a tocar na Rádio Cruzeiro do Sul. Aí resolveu partir para o Rio de Janeiro, onde chegou no Sábado do carnaval de 1934. Sem revelar que era gaúcho, foi à Rádio Mayrink Veiga em busca de uma oportunidade junto a César Ladeira, diretor-artístico da mesma, que se notabilizara em São Paulo como o "speaker" da Revolução Paulista ao microfone da Rádio Record.

César o aceitou e o escalou para tocar no programa Desenhos Animados. Só que não gostou do seu nome Eduardo Nadruz, nada artístico, e o apresentou como Edu e Sua Gaita. O "da Gaita" viria bem depois. Pouco duraria esse seu início radiofônico, porquanto seu repertório não passava de 2 tangos e 1 rancheira.

Eis Eduardo der volta às mesmas dificuldades, com a diferença de que passou a levar a gaita a sério, estudando sem parar, embora sem nunca ter aprendido a ler música, que compensava com o ouvido absoluto de que era possuidor. O grande empecilho é que as gaitas encontradas no Brasil não dispunham de recursos e ele pressentia que, em algum lugar, devia haver modelos mais avançados.

Então, em 1939, dar-se-ia o verdadeiro início de sua carreira. Conversava com o pianista Nonô, no Café Nice, quando chega o cantor e violonista Fernando (de Albuquerque), que havia chegado há pouco de Nova Iorque, onde estivera com a Orquestra de Romeu Silva na feira Mundial.

Fernando tinha começado na casa Edison (Odeon) nos anos 20. Pois fernando contou aos presentes que havia trazido de Nova iorque uma gaita diferente, com uma "chave". Edu, vivamente interessado, não sossegou enquanto Fernando não foi buscar a tal gaita. A "chave cromática" era tudo o que ele vinha imaginando e correspondia às teclas pretas do piano. Emocionadíssimo, levou-a aos lábios e tocou como se a conhecesse há anos. Era a solução definitiva.

Ainda como músico de rua e bares, foi ouvido por Sílvio Caldas e por ele levado à Rádio Mayrink Veiga, onde permaneceria sob contrato por 10 anos, transferindo-se a seguir para a Rádio Nacional. Nesse mesmo ano de 1939, faz seu primeiro disco, na Colúmbia, neste CD., com Canção da Índia e Violino Cigano. Em Canção da Índia teve o acompanhamento dos Swing-Maníacos, ou seja, os irmãos Dick e Cyll Farney e Hélio Beltrão, futuro ministro no governo Figueiredo.

Sua carreira, a partir daí, foi se solidificando cada vez mais no rádio, cassinos e através de excursões. No seu instrumento, era o maior do Brasil, O Mago da Gaita. Por ser muito magro não escapava dos brincalhões: O Magro da Gaita.

O fim do jogo, em 1946, e fechamento dos cassinos, também não o pouparia. Uma excursão à Argentina, que deveria durar o tempo normal de 4 semanas, estender-se-ia por quase dois anos. Já estava casado com Hercília, com a qual teve um único filho, Eduardo como ele, médico.

Nessa ocasião, começou a cultivar o sonho de gravar o Moto Perpétuo, do célebre violinista e compositor italiano Niccolo Paganini (1782-1840), obra tida como impossível de ser executada em instrumento de sopro. Seu interesse em ser o primeiro no mundo a realizar a proeza foi despertado quando ouviu, na Mayrink veiga, o violinista João Correia de Mesquita fazer uns exercícios com a música durante um ensaio.

Não foi difícil para Edu aprender os 150 compassos sem pausa do Moto Perpétuo, mesmo não lendo música, mas se passariam 11 longos anos de obsessivos estudos até que se sentisse pronto para gravá-lo. O público sempre teve, desde o início, conhecimento desse seu objetivo. Assim, em 1956, quando chegou ao estúdio da Continental, havia jornalistas para acompanhar o grande acontecimento e observar se não haveria alguma montagem indevida.

O primeiro registro, com Leo Peracchi ao piano, saía sem qualquer falha até que alguém deixou cair ao chão uma máquina de escrever. Só na 39ª tentativa, já à noite, foi que o Moto Perpétuo resultou perfeito.

Sua façanha de tocar pela primeira vez, em todo o mundo, o Moto Perpétuo em instrumento de sopro seria mais tarde repetida, entre outros, por Paulo Moura ao saxofone e pelo trumpetista mexicano Rafael Mendez.

O perfeccionismo era o traço predominante do artista Edu, que se autodefinia como uma "pilha de nervos". Mas sempre foi bem e cordial amigo, capaz de frases como "Edu e sua gaita e o Láfer (ministro da Fazenda de Getúlio) com a "nossa".

Em 1960, participou da 3ª Caravana Oficial da Música Popular Brasileira, organizada por Humberto Teixeira e capitaneada por Joraci Camargo, da qual; fazia parte o Sexteto de Radamés Gnattali com Chiquinho do Acordeom. Apresentaram-se em Portugal, França, Itália, Inglaterra e Alemanha. Na Alemanha, aproveitou para conhecer a fábrica da Hohner em Trossingen. Ao examinar os modelos, tocou uma parte do Moto Perpétuo. Foi o bastante para a direção presenteá-lo com uma coleção de gaitas.

Nunca quis se radicar e fazer carreira no exterior. Nacionalista, entendia que no Brasil podia fazer mais por sua cultura. A própria gravação do Moto Perpétuo continha o desejo de mostrar ao mundo que os brasileiros eram gente de talento. Seu sonho era também provar que a gaita merecia uma cátedra nas escolas de música por ser um instrumento completo, definido.

Não há dúvida de que, mais do que qualquer outro, conseguiu demonstrá-lo, tanto que a história da gaita, no Brasil, pode ser dividida em antes e depois dele (Texto de Abel Cardoso Júnior).

Fonte: Revivendo Músicas.
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