Maria
Irma Lopes Daniel nasceu em 20 de julho de 1911. Era argentina, da
cidade de Salta. De tradicional família circense, estreou no Circo
Ventura, de propriedade de seus pais. Tinha apenas seis anos de idade e
cantava acompanhada por um violino, tocado por seu irmão.
Já mocinha, passou a se arriscar
em números de trapézio, a grande especialidade da família Lopes. Mesmo
morrendo de medo, fazia um difícil número, o passeio aéreo. Não gostava,
preferia cantar e dançar no chão mesmo, onde não corria nenhum perigo.
E foi também no circo que
estreou como atriz. Fazia pequenos papéis nas representações dramáticas,
que aconteciam na segunda parte do espetáculo. Representava
tradicionais melodramas circenses como Honrarás tua Mãe, o espetáculo em que estreou o comediante Oscarito.
Com o fechamento do Circo
Ventura, Maria Irma e a irmã Alba mudaram-se para a Europa. Lá
aprenderam bailados típicos, ginástica, balé clássico e acrobacia, com
professores famosos. Dominadas as técnicas, as irmãs estrearam na
França, em teatros e palcos de cinema. Depois, seguiram para Itália e
Espanha, onde já foram apresentadas como atração principal do Gran
Teatro, em Madri. O que as diferenciava era que não executavam só giros e
saltos mortais, mas também faziam números com comicidade. O sucesso da
dupla era enorme. Mary, além das acrobacias, também fazia números de
bailado, típicos, como a clássica zarzuela espanhola.
No Brasil, Mary & Alba
estrearam no cineteatro Roxy, no centro do Rio de Janeiro, na companhia
dos comediantes Genésio Arruda e Tom Bill. Mas foi com Jardel Jércolis
que a dupla ganhou os palcos brasileiros. Contratadas pelo empresário,
as irmãs estrearam, no Teatro Carlos Gomes, no início da década de 1930.
No elenco da Cia. Grandes
Espetáculos Modernos, de Jardel, a dupla era apresentada como legítimas
vedetes espanholas. O êxito foi tanto que o nome da dupla subiu para
primeiro plano nos programas das peças, acima de toda a companhia,
composta por artistas consagrados como Aracy Côrtes, Sílvio Caldas, Olga
Navarro e Lódia Silva.
Mary também começou a
representar em números de cortinas e esquetes cômicos. Surgia,
discretamente, uma vedete. Era uma mulher de beleza rara. Loura, dona de
olhos verdes cor de esmeralda, postura impecável, resultado do trabalho
como acrobata. Das revistas em que atuou, destacam-se Angu de Caroço (1932), Traz a Nota! (1933), Alô... Alô... Rio? (1934) e o sucesso Goal! (1935), de Nestor Tangerini.
No ano de 1935, casou-se com
Juan Daniel, na Espanha. Juan era atração da companhia, cantando tangos.
A família da moça foi contra e a paz familiar só veio depois do
nascimento do primogênito, Daniel Filho.
Mary ficou na Cia. de Jardel
Jércolis até o início da década de 1940. Depois montou uma companhia com
o marido (ele cantando tangos e boleros), para se apresentar em
cassinos.
Após a proibição dos cassinos
(1946), milhares de artistas ficaram desempregados, e a classe
médio-burguesa ficou sem divertimento. Foi quando Juan e Mary levaram o
teatro de revista para a zona sul do Rio de Janeiro, mais precisamente
para Copacabana.
Em 1949, inauguraram o Teatro Follies, com a revista Já vi Tudo!.
Era um teatrinho pequeno, do tipo teatro de bolso, pois Juan não tinha
muito dinheiro. Foi quando Mary se lançou como autora de revistas, sob o
pseudônimo de Alberto Flores. É que Mary gostava mesmo era de escrever,
uma paixão velada desde os tempos de menina.
Suas peças fizeram muito
sucesso, com elenco reduzido, mas extremamente selecionado. Conseguiu
juntar no palco Elvira Pagã e Luz del Fuego, que resultou numa explosão
de bilheteria. Também alçou ao estrelato Zaquia Jorge que, inspirada no
Follies, abriria seu próprio teatro em Madureira.
Da necessidade nasceu a estrela:
quando alguma artista faltava, ou deixava a companhia antes do término
da temporada, lá estava Mary, para substituí-la. Seu espírito
empresarial sabia o quanto era importante se envolver de corpo e alma na
companhia. E aos poucos, foi se consolidando como vedete.
Entre os sucessos do Follies, estão: A Verdade Nua (1952); Boa-noite, Rio! (1950); O Que é Que o BikiniTem? (1953); É Rei, sim! (1951); Eva no Paraíso (1950) e Tira a Mão daí (1952).
Com o fim do Follies, em meados de 1950, o casal continuou com companhia
própria, no mesmo esquema. Um dos últimos grandes sucessos no gênero
foi O Negócio é Bitebite, em 1961.
Com o desaparecimento do teatro
de revista, Mary se recolheu das atividades artísticas, fez algumas
aparições na televisão, como na novela Fogo sobre Terra (1974), na Rede Globo.
Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.