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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Lauro Müller

O escritor catarinense Almiro Caldeira de Andrada certa vez afirmou que a história de Lauro Müller, sem ser fabulosa, é fascinante. O fascínio da sua vida, segundo o mesmo testemunho, decorre da grande força de vontade que superou os obstáculos de quem, sendo filho de imigrantes duma Província pequena, conquistou um a um os ideais que acalentara. Na pequena Vila do Santíssimo Sacramento do Itajaí, recém emancipada, à rua Municipal (que hoje leva o seu nome), a 8 de março de 1863, nasceu Lauro Severiano Müller; sétimo filho do casal Pedro Müller e Ana Michels.

Seu pai integrara a leva de alemães que se estabeleceram na colônia São Pedro de Alcântara em trabalhos agrícolas. Não tendo sucesso lá, Pedro Müller, a mulher e os primeiros filhos se mudaram para Itajaí, onde o chefe da família se estabeleceu como comerciante de fazenda e armarinhos. Sua casa, embora modesta, era um ponto de referência na Vila. Nela se hospedavam as pessoas graúdas e as autoridades que passassem por ltajaí.

Foi neste ambiente de colono germânico, lojista, boticário e compadre de todo mundo que o pequeno Lauro recebeu os primeiros ensinamentos da sua educação sadia. A primeira escola que freqüentou foi a do professor público Justino José da Silva, na própria Vila Natal. Não demorou muito para que a inteligência incomum do menino superasse os rudimentares ensinamentos daquela escola de desemburrar. Freqüentou depois a escola alemã de Itajaí e foi aluno do professor alemão Bruno Scharn, em Blumenau.

Quando se tornou moço, o pai quis fazê-lo agrimensor, mas e!e preferiu seguir para o Rio de Janeiro e iniciar-se no comércio com um parente. A breve experiência como caixeiro não lhe agradou e a carreira de comerciante foi abandonada.

Aos 19 anos assentou praça no Exército, decidindo-se pela vida militar. Matriculou-se a seguir na Escola Militar e, em 1885, foi promovido a alferes-aluno; em 1889, a segundo tenente, com o grau de bacharel em matemática e ciências físicas; chegando enfim ao posto de general.

Na Escola Militar, onde fervilhavam as idéias positivistas e a propaganda republicana ia acesa, fez-se discípulo achegado de Benjamim Constant, o patriarca da República. Não admirando que, proclamado o novo regime, a 2 de dezembro de 1889 fosse Lauro indicado para governar o seu Estado; tinha então 26 anos!

A sua administração, embora curta, foi extremamente hábil e proveitosa. Não demitiu ninguém e, sem traumatismos, fez adaptarem se ao novo regime todos os serviços públicos. Presidiu as primeiras eleições republicanas, dando mostras já da sua habilidade política e qualidades de chefe.

Afastado do Governo do Estado, cumpriu três mandatos de deputado federal, de 1891 a 1899, e outros cinco de senador, até 1923; em dois dos quais renunciaria para ocupar os cargos de Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas do Presidente Rodrigues Alves, em 1902 e de Ministro das Relações Exteriores do Presidente Hermes da Fonseca, em 1913.

Ainda voltaria a se eleger Governador de Santa Catarina em 1918, dentro de uma composição política havida para não cindir as forças republicanas do Estado. No entanto renunciou ao mandato antes de tomar posse, possibilitando a ascensão de Hercílio Luz, conforme previa o acordo.

Das suas administrações como Ministro, destacam-se as grandes obras realizadas no Rio de Janeiro, com vistas a sua modernização, e a melhoria do seu Porto quando Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas.

Como Ministro das Relações Exteriores, cabe destaque ao seu trabalho diplomático de integração das nações sul-americanas, o que lhe valeu o título de "Apóstolo da Solidariedade Sul-americana ".

Sua popularidade como homem público e orador emérito, e o reconhecimento da sua notabilidade como homem de cultura lhe propiciaram a eleição para a vaga aberta na Academia Brasileira de Letras com a morte do acadêmico Barão do Rio Branco. Em 16 de agosto de 1917 foi recebido na Academia.

Faleceu a 30 de julho de 1926 na cidade do Rio de Janeiro e seus conterrâneos o consideram merecidamente o maior dos catarinenses e o grande itajaiense.

Fonte: Pequena História de Itajaí - Prof. Edson d'Ávila.

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Índios do Vale do Itajaí

Quando os primeiros moradores vieram se fixar nas terras junto da foz do rio Itajaí-Açú, os indígenas ainda faziam frente à ocupação das mesmas; terras que o homem branco pouco a pouco lhes foi tomando. Estes índios eram os botocudos - do grupo tapuia e hoje conhecidos por Kaigangues - que do interior do Vale atacavam os moradores para matar ou roubar-lhes.

Os carijós, primitivos guaranis que moravam à beira mar, estes já estavam praticamente exterminados àquela época. Pacíficos e de boa índole, eles foram caçados e levados para os mercados de escravos de São Vicente e São Paulo (foto: Índios botocudos do Vale do Itajaí in "Índios e Brancos no Sul do Brasil" - Sílvio C. dos Santos).

Gabriel Soares de Souza, escritor da época afirma que os carijós viviam da caça e da pesca e sabiam muito bem manejar o arco e a flecha; e que moravam em casas cobertas e tapadas com cascas de árvores para se proteger do frio. Os botocudos, por sua vez, eram os mais temidos porque ariscos e defensores ferozes das suas terras.

Mesmo assim os primeiros brancos puderam, com relativo sossego, viver, plantar e colher com a presença temida dos índios. Estes ainda vinham até bem perto das casas e não se sabia onde eram os seus acampamentos porque ninguém ousava ir à sua procura. Os ataques eram poucos e sempre visavam ao furto de objetos caseiros, comida ou armas. Não eram muito freqüentes, mas traziam os moradores sempre assustados principalmente quando tinham suas casas afastadas de vizinhos. Quem tinha um roçado distante de casa não andava só ou desarmado; e os caçadores não iam longe.

Para atacarem, os índios agiam com o maior cuidado. Com paciência, durante dias espiavam o local do seu ataque. Quando havia grupos de pessoas ou alguém armado, nunca atacavam. Dos ataques e de mortes, contam-se alguns em Canhanduba, Itaipava, Limoeiro e Espinheiros. Tais ataques motivaram as autoridades a criar, anos depois, uma companhia de pedestres - isto é, de policiais, para proteger a população.

Da antiga presença dos índios em nossas terras, hoje só nos resta sua lembrança nos nomes de alguns lugares do Município: Canhanduba, Itaipava, Ariribá, Guaraponga e nosso nome - Itajaí.

Fonte: PEQUENA HISTÓRIA DE ITAJAÍ - Prof. Edson d'Ávila

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Getúlio Vargas visita

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Enchente de 1948

Várias foram as enchentes que ocorreram em Itajaí. Aqui temos registrada pelas lentes mágicas de uma câmera fotográfica a calamidade que se abateu sobre nossa cidade naquele longínquo 29 de fevereiro de 1948. A foto abaixo foi tirada em frente a antiga telefônica.

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A contrução da Igreja Matriz de Itajaí

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Como era Itajaí em 1843

Provavelmente a rua Cônego Thomaz Fontes em Itajaí. Fim do século XIX ou comecinho do XX?
Era uma época muito tranquila aquele ano da graça de 1907... Tão tranquila que o prefeito Pedro Ferreira deixava seu gabinete um dia inteiro para percorrer a cidadezinha numa charrete, ouvindo o velho Antônio Flores descrever Itajaí de 1843. 

E desse relato Pedro Ferreira escreveu quatro reportagens que foram publicadas nos quatro números do "Novidades" de junho de 1907. O que se segue é um resumo dessa deliciosa entrevista, velha de mais de 65 anos.

"Em 1843 em Itajaí havia apenas um pequeno palhabote, se não me engano, "Sete de Abril", que pertencia ao major e depois coronel Agostinho Alves Ramos, que fazia viagens para Desterro, e grande número de canoas, de variados tamanhos, destinadas à pesca e viagens aos rios Itajaí-Açú e Mirim e mesmo à pesca no mar".

Em todo o atual perímetro urbano contavam-se umas cinqüenta casas, entrando nesse número pequenos ranchos miseráveis, cobertos de palha, de um só compartimento, com paredes feitas apenas de ripas fincadas juntas umas das outras.

Todas as casas, salvo a do major Agostinho (a melhor que havia) que era construída de pedra, tijolos e cal, tinham as paredes externas de taipa, isto é: de pau a pique, amarrado com ripa, barreadas, sendo que só três ou quatro eram caiadas. Não havia nenhuma casa com paredes externas de tábuas, porque não havia engenhos de serras, sendo que, anos depois, Pedro Müller, pai de Lauro Müller, se ocupava de serrar madeira à mão.

Quem primeiro montou e ensinou a montar engenhos de serrar madeiras em Itajaí foi um francês, que veio de Tijucas, de nome José Bosfire.

O major Agostinho tinha uma olaria ao sopé do último morro que fica à esquerda de quem vai pela estrada de Brusque. Mas a telha era muito ruim e quem queria boa telha mandava buscá-la em Paranaguá e custava caro: 60$000 o milheiro.

Onde hoje correm as ruas Lauro Müller e Pedro Ferreira havia apenas 14 casas, sendo quatro na Lauro Müller e 10 na Pedro Ferreira, próximas umas das outras, entre as quais a do major Agostinho, que é agora de propriedade do sr. Henrique Schneider. Essas 14 casas estavam assim dispostas, não porque obedecessem o alinhamento, mas porque todas davam frente para o rio. No Itajaí não havia então nenhuma rua e nem se falava em arruamento.

Nas imediações da Matriz, existiam uns alicerces, de pouco mais de meio metro de altura, construídos por um preto, escravo do major Agostinho, de nome Simeão, para a igreja e uma meia-água muito pequena, de taipa, sem reboco, coberta de telha, sem forma exterior de templo, e conhecida por "casinha de Nossa Senhora", porque agasalhava uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. O cemitério ficava ao fundo dessa casinha.

As outras trinta e tantas casas estavam espalhadas pela vasta planície, nos lugares mais enxutos e menos baixos. Por entre as casas; algumas das quais eram rodeadas de algodoeiros (fiava-se algodão e tecia-se um pano muito forte e muito apreciado, chamado "riscado da terra") viam-se extensos brejos. Vários caminhos e trilhos tortuosos em inúmeras direções; meia dúzia de engenhos de fazer farinha de mandioca; grupos de cafeeiros, laranjeiras e bananais. Ao redor, capoeiras de todas as alturas.

Nos terrenos ao sul da povoação, já conhecidos por "fazenda" residia numa boa casa caiada a proprietária sra. Felícia Alexandrina Leão Coutinho. Tinha uma filha de nome Carolina, casada com o capitão Benigno Lopes Monção. Possuía muitos escravos. A "fazenda" tinha grande cafezal, muitas laranjeiras, extensas roças, um engenho de fazer farinha de mandioca e um de moer cana e fabricar açúcar.

Na planície fronteira do rio (nota atual: Navegantes) encontrava-se a residência coberta de telhas e o engenho de fazer farinha do velho José Coelho da Rocha, algumas casinhas cobertas de palha e um cemitério no qual não se enterrava mais ninguém, mas que constava que, a princípio, se sepultavam mesmo as pessoas que faleciam do lado de cá (Itajaí).

Das 14 casas que acompanhavam de perto a direção da margem do rio, só a do major Agostinho é que tinha em frente, no local em que hoje está o escritório de Asseburg & Cia., um rancho aberto em todos os lados, coberto de telha e de muito comprimento, que era dirigido perpendicularmente à praia. Neste rancho trabalhavam carpinteiros por conta do mesmo major".

No intervalo que fica entre o lado da casa de negócio de Bruno Malburg & cia. e o terreno mais perto da frente da Igreja (nota atual: nas imediações do busto de Lauro Müller) havia uma árvore de canela de grosso tronco bastante alta e frondosa.

Pouco depois de eu estar aqui (nota atual: após 1843), chegou para ser consertada uma "polaca", embarcação de três mastros. Por meio de talhas e cabrestantes envolvidos no citado pé de canela foi a mesma puxada para o lugar onde hoje está o jardim fronteiro à Matriz. Era de Gênova e vinha, não sei se de Montevidéu ou Buenos Aires. Era de um tal Balão. Os tripulantes eram estrangeiros, mas falavam português. Trouxe muitos homens: falquejadores, serradores de madeira, carpinteiros, calafates, etc. e material necessário para construção de navio, exceto madeira.

Para agasalhar essa gente, foi construído um vasto rancho, no lugar onde até há pouco tempo a Fluvial tinha uma casa de madeira e estaleiro. Esse serviço durou vários meses. Muitas pessoas daqui tiveram que auxiliar. O pagamento era feito em dinheiro de ouro. Itajaí nunca tinha visto tanta animação no trabalho e correr tanto dinheiro.

Quase nada se exportava. O coronel Agostinho é que mandava de vez em quando pranchões de cedro para o Desterro, em seu iate "Sete de Abril" ou para o Rio de Janeiro, por algum navio que, a pedido dele, vinha aqui.

Termino (diz Antônio Flores, em 1907) cumprindo o grato dever de dar mais informações acerca do Coronel Agostinho Alves Ramos, considerado o primeiro homem de Itajaí. Era carioca e casado com uma senhora portuguesa. Não tinha filhos. Sabia muito bem ler e escrever. Tudo o que aqui se fazia tendo em vista o adiantamento do lugar era de iniciativa com o auxílio dele e quase toda gente se aconselhava com ele. Dava atenção a todos que o procurassem, por mais humilde que fosse.

Quem queria alguma coisa do Itajaí ou um pedido para o Desterro ou para o Rio de Janeiro ele se encarregava. A esposa morreu em 1850 e ele em julho de 1853. Para atendê-lo, veio de Porto Belo um cirurgião belga, de nome José Jamar Pletting, foi sangrado, perdendo mais de uma bacia de sangue e morreu umas duas horas depois da sangria. Assisti a tudo isso, porque era casado com uma afilhada dele, costumava freqüentar-lhe a casa. Consta que deixou dinheiro, mas nada se encontrou, porque surrupiaram".

Fonte: ITAJAÍ - Norberto Cândido da Silveira Júnior (Dezembro/1972)

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Cabeçudas nos anos 40

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Arte e Cultura Itajaiense

As primeiras manifestações artísticas ficadas nos registros históricos da cidade foram as poesias satíricas de Agostinho Alves Ramos. As sátiras, recolhidas pelo provisionado portobelense Mendes Rodrigues é incluídas nos seus "Alfarrábios", revelam o bom poeta, crítico mordaz dos homens e coisas da época. 

Embora se saiba que Agostinho Alves Ramos não tenha cultivado somente este gênero poético, não se guardou mais nada da sua produção, nem o que se tem das sátiras é muito extenso. Na verdade, a literatura nos seus diversos gêneros foi a arte que mais encantou os itajaienses e fez de muitos conhecidos e festejados aqui e lá fora.

Cabe assim destaque para Arnaldo Brandão, Jayme Vieira, Guedes Júnior, Eduardo Tavares, Reis Neto, Arno Miranda, Lausimar Laus, M
arcos, Adolfo e Victor Konder, Lauro Müller, Henrique da Silva Fontes, Max Tavares d'Amaral, Gaspar da Costa Moraes, Juventino Linhares, Cônego Fontes, Rachel Liberato Meyer, Alexandre Konder; os quais fizeram nome como poetas, romancistas, contistas, ensaístas, gramáticos, trovadores e oradores.

No campo das letras, a consagração maior de um itajaiense foi a eleição de Lauro Severiano Müller para a Academia Brasileira de Letras na vaga aberta com o falecimento do acadêmico Barão do Rio Branco. Lauro foi empossado a 16 de agosto de 1917, constituindo-se no primeiro catarinense a fazer parte do rol dos imortais brasileiros.

O teatro foi a segunda grande paixão da gente de ltajaí. O nascimento do nosso teatro se deu pelas mãos de Manoel Marques Brandão, a quem se deve a abertura da primeira sala de espetáculos, a sala de visita da sua própria casa, isto em 1897. Manoel Marques Brandão, senhor de cultura invejável e biblioteca escolhida, ainda entendia de pintura e música. 

No pequeno teatro que montou em sua residência, era ensaiador e cenógrafo, tendo pintado lindos cenários e um magnífico pano de boca com a reprodução da entrada da barra, vendo-se o morro da Atalaia. Do primeiro corpo cênico faziam parte os filhas João, Apolinário e José Marques Brandão, além de Henrique e Eurico Fontes, João Nóbrega da Silveira, Carlos Serapião Gonçalves, Lázaro Bastos.

Antiga sede da Sociedade Guarani - Arquivo da Fundação Genésio Miranda Lins

A música teve em muitos itajaienses bons cultores, os quais fizeram época em nossas bandas musicais e orquestras; e na instrumentação individual. Como compositor a referência maior cabe a Edmundo de Souza Cunha, autor de inúmeras marchas e chorinhos, infelizmente perdidos após o falecimento do autor.

O itajaiense mais destacado nas artes plásticas foi José Brandão, familiarmente conhecido por Dídi - pseudônimo artístico que então adotou. Herdou da família o amor às artes e foi aluno da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Lá, na exposição levada a efeito na escola, obteve o seu primeiro prêmio, em 1953. 


Foi incluído pelo Ministério da Educação e Cultura no seu "Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos", em 1974, o que atesta o reconhecimento nacional à arte de Dídi Brandão.

Dentre as associações criadas em ltajaí e voltadas para o bem cultural, a primeira foi o "Grêmio Três de Maio". "Sociedade Literária e Patriótica" fundada a 3 de maio de 1900, o Grêmio 3 de Maio dispôs da primeira biblioteca aberta ao público itajaiense.

"Edelweiss", "Estudantina das Magnólias" e "Estudantina Iracema" foram outras associações culturais surgidas na cidade e reunindo principalmente moças, com o fim principal de cultivar a música. A segunda possuía uma orquestra de cordas que contava com violões, guitarras, violinos e bandolins.

Em 5 de dezembro de 1941, um grupo de itajaiense, tendo à frente o pernambucano Ângelo Cibela, fundou o "Centro Cultural de ltajaí" destinado a reanimar a atividade cultural. O Centro, cuja existência chegou até bem perto de nós, dispunha de bem montada biblioteca e promoveu concorridas conferências, recitais e editou diversas publicações.

Igualmente destacável é a arte popular em nossa terra. A cultura popular dos itajaienses é, à semelhança da catarinense, resultante de contribuições várias, máxime açoriana.

Entre a gente de ltajaí são comuns as manifestações folclóricas que envolvem a música e o canto (ternos-de-reis, bandeiras-do-Divino e Rondas lnfantis) e a dança (boi-de-mamão, fandango de S. Gonçalo e carnaval).

Na área plástica as produções populares são restritas à confecção de utensílios e objetos de madeira, corda, palha, cipó e taquaras, destinados ao uso pessoal, à cozinha. e à pesca. A cerâmica nunca foi muito desenvolvida entre nós.

Fonte: PEQUENA HISTÓRIA DE ITAJAÍ - Prof. Edson d'Ávila


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Agostinho Alves Ramos

A partir de 1823 até 1853 a história de Itajaí se confunde com a vida desse grande lutador que foi Agostinho Alves Ramos (ao lado o Cel. Agostinho na tela de Willy Zumblick - Museu Histórico de Itajaí-SC). Somente acompanhando a biografia dele se pode seguir o desenvolvimento da capela, depois paróquia e vila de Itajaí, porque quase tudo num largo período de 30 anos nesta região girou em torno das iniciativas, do trabalho, do espírito progressista de Agostinho Alves Ramos.

Não é muito o que se sabe sobre os antecedentes de Agostinho Alves Ramos, antes da sua vinda para Sta. Catarina, logo depois da independência do Brasil pelos dados deixados pelo provisionais José Mendes da Costa Rodrigues, sabemos que Alves Ramos veio para Desterro em companhia de sua esposa Ana, natural de Peniche, Portugal, e se associara ao comerciante Anacleto José Pereira, que tinha casa de negócio à esquina da praça com a rua da Cadeia na capital da Província.

Segundo essa fonte, nascera no Rio de Janeiro e era guarda-livros. Além de perito na profissão, podia gabar-se de possuir muitos conhecimentos técnicos e práticos em outros ramos de atividade. A casa de Anacleto José Pereira, bem sortida e afreguesada, mantinha largo comércio, não apenas com as agricultores e pescadores da ilha e do continente fronteiro, senão também com a população que se espraiava por quase todo o litoral, da terra firme até São Francisco e Laguna. Seus barcos, que periodicamente visitavam as enseadas, onde se ensaiavam começos de povoações, ou onde já havia agrupamentos com capela, que congregavam os pequenos agricultores e serradores espalhados pelas imediações, compravam todos os produtos de lavoura e da acanhadíssima indústria existente, fornecendo mercadorias e gêneros de primeira necessidade aos vendeiros que se iam estabelecendo pela costa.

O suprimento de comestíveis e de fazendas e de objetos de uso doméstico e de adorno aos trabalhadores da armação, nas épocas oportunas, e a compra de óleo, barbatanas e outros produtos dos cetáceos, é que levaram, principalmente, os barcos maiores, da capital a Itapocorói e às enseadas do norte da província.

Os terrenos de Tijucas, Porto Belo, Camboriú e do próprio Itajaí-Mirim, começaram, por sua vez, a despertar, pela sua extraordinária feracidade, a atenção dos agricultores que viviam apinhados na ilha. É mais do que provável que, como sócio de Anacleto Pereira, Agostinho Alves Ramos tivesse tomado parte em mais de uma dessas viagens, nos barcos da firma.

Conheceu, assim, o Itajaí-Açú, cuja foz, cerca de três léguas ao sul de Itapocorói, oferecia bom ponto, abrigado e seguro, e por cujas margens já existiam agricultores e serradores de madeira com quem poderia negociar. Inteligente e de larga visão como era, não deixou, sem dúvida, de considerar as grandes possibilidades que as margens do Itajaí ofereciam a quem, com entusiasmo e força de vontade, se dispusesse a enfrentar e a vencer as dificuldades e os perigos que, certamente, encontraria por toda parte. Conseqüência imediata dessas cogitações foi a resolução tomada de transferir-se para a foz do Itajaí-Açú e ali montar sua própria casa comercial.

Coisa de meia légua para baixo da confluência do Itajaí-Mirim, situava-se, com sua família, José Coelho da Rocha, descendente de antigos moradores da praia de Itajay, à margem esquerda do grande rio e cujos terrenos, ao que tudo indica, confrontavam a leste com os de Azeredo Leão Coutinho, ao sul com os de Correia de Negreiros ou José Correia, e a oeste com o Mirim, com frente para o Itajaí-Açú.

Foi desse José Coelho da Rocha que Alves Ramos adquiriu o terreno sobre o qual deu, imediatamente, princípio à construção de casa apropriada ao negócio, que tinha em mira montar, e à própria moradia. Construiu-a, segundo a tradição, espaçosa, confortável quanto possível. E, pouco depois, ali se instalou com D. Ana e um religioso franciscano, frei Pedro Antônio de Agote, espanhol de nascimento. Tudo isso deve ter acontecido pelos fins de 1823.

Ao mesmo tempo que Alves Ramos consolidava os seus planos comerciais, com a intensificação de seus negócios de compra e venda com os moradores da região, frei Pedro cuidava de organizar o lado espiritual do distrito. Um dos cômodos da própria casa de Alves Ramos foi destinado à capela em que D. Ana, profundamente devota, pôs os requintes da sua grande fé e amor à religião. Concomitantemente, foi dirigido ao bispo do Rio de Janeiro o necessário expediente, no sentido de ser, oficialmente, delimitado o distrito, autorizada a construção de sua capela-curada, e permitida, enquanto esta não se verificasse, a celebração de ofícios religiosos no oratório particular. A 31 de março de 1824 foi assinada a provisão eclesiástica.

Uma data - 31 de março de 1824

Se bem que date de meses antes o estabelecimento de Alves Ramos, e que o local estivesse já ocupado e trabalhados os terrenos por agricultores chegados havia anos antes, a data dessa provisão, poderia ser tomada como a da fundação de Itajaí. Sim, porque foi daí, de 31 de março de 1824, que o povoado começou a tomar corpo.

Já no mês seguinte, os Coelho da Rocha doaram o terreno para a construção da capela e do cemitério e Agostinho Alves Ramos tomava a si o encargo de levantar o pequenino templo dedicado ao Santíssimo Sacramento, sob cuja invocação o Curato fora criado. A escritura de doação data de 2 de abril seguinte e foi lavrada a pedido dos doadores, analfabetos, por Bento José da Costa, tendo, como testemunha, Germano José da Silva. Foram doadas trinta braças de frente, com sessenta de fundos, que extremavam, pelo sul, com terras de Agostinho Alves Ramos.

Foram condições expressas que se construísse a capela e um cemitério e que se desse sepultura nele aos doadores e se lhes fizesse "bem d'alma". Sabe-se que as despesas de construção da capelinha foram feitas quase que exclusivamente, pela bolsa de Alves Ramos, salvo o pouco que frei Pedro conseguia colher entre os seus curadas e os de Itapocorói, até onde estendia o exercício do seu ministério, auxiliando o cura da Capela de S. João Batista . O rio Gravatá, ao norte, separava-o do curato de Itapocorói, e o de Camboriú, do de Porto Belo, que, já em dezembro de 1824, fora elevado a paróquia.

Cresce o povoado

Estava, assim, fundado o povoado do Santíssimo Sacramento do Itajaí. A capela e o negócio de Alves Ramos foram atraindo novos moradores para as suas proximidades e pelo Itajaí-Açú acima, até a confluência do Mirim, outras moradas se levantaram.

Junto à barra do rio, principalmente, o agrupamento de casas se tornara maior, porque as margens do pequeno Itajaí, já bem mais povoadas em anos anteriores, produziam apreciável volume de cereais e madeiras, que desciam o rio, em pequenas embarcações, para o armazém de Alves Ramos. E parece que o próprio Alves Ramos tinha depósito de mercadorias na barra do Itajaí-Mirim, em terrenos que aí possuía e que, por volta de 1851, vendeu ao Dr. Blumenau. Lá construiu este um barracão para acolhida provisória dos imigrantes vindos da Europa para a sua colônia e que, no Itajaí, aguardavam condução, rio acima.

Alves Ramos não limitava a sua atividade às transações comerciais. Tornou-se um verdadeiro amigo e conselheiro dos moradores das redondezas, servindo-lhes de orientador nos seus negócios, de médico nas suas enfermidades, de mediador nas suas desavenças. Dona Ana não era menos solícita com aquela gente. Senhora dotada, também, de bom coração e de extraordinária atividade, dividia, com o esposo, os encargos do negócio. Enquanto Agostinho cuidava das suas compras de gêneros, da montagem da sua olaria, das suas transações de terras e plantações, de abrir caminhos e de orientar, em todo sentido o constante crescimento do povoado, D. Ana tomava conta do balcão e de uma padaria que acrescentara à venda de fazendas, secos e molhados.

Itajaí passa a freguesia

Em pouco tempo, Alves Ramos tornara-se, praticamente, o chefe incontestável do lugar. E não só das margens do Itajaí-Açú, mas das do Mirim, de Camboriú e de Porto Belo; por toda a costa sul, estendeu a sua benéfica influência. E foi, naturalmente, por interferência sua, que, já em 1830, em reunião de 13 de janeiro, o Conselho Geral da Província recomendou as terras do Itajaí para nelas ser instalada uma das povoações, das duas a serem criadas na terra firme, com 200 casais cada uma.

E como o seu povoado apresentasse já possibilidades muito grandes de ser, em breve, um centro bem populoso, que contaria com inestimáveis recursos próprios, um aglomerado de suas vinte casas, com a sua capelinha e o seu cura, tratou de elevá-lo a freguesia, sede de distrito e paróquia.

Valeram-lhe, mais uma vez, as relações de amizade e o seu prestígio político, sempre crescente, junto às autoridades provinciais. Acertou providências com o presidente, que então era Feliciano Nunes Pires, cuja ingerência deve ter sido decisiva para a solução satisfatória da pretensão, e, a conselho deste, elaborou uma petição à Câmara de S. Francisco, a cuja jurisdição o território pertencia.

Nessa petição, os moradores do distrito apontavam as razões pelas quais se julgavam com direito de ter o seu curato elevado a freguesia. Pela carta que Alves Ramos dirigiu, em 25 de janeiro de 1833 ao presidente da Província, vê-se que todas as diligências para a elevação do curato foram feitas de comum acordo e aconselhadas mesmo por Nunes Pires, que interveio junto à Câmara de S. Francisco para que esta não só informasse favoravelmente o requerimento, mas o fizesse com toda a urgência.

Somente a 12 de agosto do mesmo ano de 1833 é que foi assinada pelo presidente a resolução que, por proposta do Conselho Geral da Província, elevava o arraial de Itajaí a Paróquia, sob a mesma invocação do Santíssimo Sacramento, agora acrescida do de N. S. da Conceição, e a que criava o respectivo distrito policial.

É claro que, conseguido o primeiro passo para tornar o povoado em sede administrativa, política e econômica de uma zona vastíssima, de enormes riquezas em potencial, Alves Ramos redobrou de esforços e atividades para alcançar a concretização completa de seus planos bastante arrojados.

Itajaí elege o primeiro deputado

Não é, pois, de admirar que uma vez consolidado o novo estado de coisas, conseqüente da emancipação política do país, e convocadas as primeiras eleições para a Assembléia Provincial, em 1835, Agostinho fosse um dos indicados e, contando com seguras amizades no Desterro, junto ao comércio e ao governo, e com incontestável prestígio, junto aos eleitores, fosse escolhido para ocupar uma das cadeiras.

Daí em diante, Alves Ramos pôde contar com elementos mais eficientes no seu entusiasmo pelo desenvolvimento de Itajaí e de todo o território banhado pelos dois grandes rios litorâneos. Explorou o Itajaí-Açú até o Salto, e o Itajaí-Mirim até considerável altura, e, maravilhado com a extraordinária uberdade do solo, deixou-se empolgar pela idéia de transformar toda aquela enorme extensão em colônia florescente, onde milhares de famílias encontrassem a fartura e a felicidade; fazendo, ao mesmo tempo a grandeza e o bem-estar de toda a província. Concebeu, um quarto de século antes, as mesmas idéias que o Dr. Blumenau poria em prática em 1850.

Quando Agostinho Alves Ramos foi eleito deputado provincial, já o frei Pedro Antonio Agote havia falecido. Morrera na própria casa de Alves Ramos, onde sempre morara. Ignora-se a data da morte do primeiro vigário de Itajaí, mas deve ter ocorrido em 1833 ou 1834, porque o seu substituto, Pe. Francisco José de Souza, tomou posse em março de 1834, tendo por sua vez, como sucessor interino, o padre Joaquim Serrano, em 1835.

Cria-se a primeira escola

Como representante do povo na Assembléia, Agostinho pôde dar maior expansão aos seus planos e alcançar mais sólidas garantias para a sua execução. Depois de ter conseguido a aprovação da lei n.° 9, de 15 de abril de 1835, criando uma cadeira de primeiras letras na freguesia e fixando em 180$000 anuais o ordenado do respectivo professor, desenvolveu, junto aos seus pares, grandes esforços e propaganda, em prol do aproveitamento, para a agricultura, dos terrenos do Itajaí. Redigiu e apresentou à Assembléia um projeto de colonização, que foi aprovado e transformado em lei, a de n ° 11 sancionada pelo presidente da Província a 5 de maio do mesmo ano.

Essa lei mandou estabelecer duas colônias, uma no rio Itajaí-Mirim e a outra no Itajaí-Açú, ambas com dois arraiais. Dar-se-ia começo aos arraiais pelo Tabuleiro, na primeira, e pelo de Pocinho, na segunda colônia. E, se o estabelecimento prosperasse, os outros dois arraiais seriam levantados nas cabeceiras do ribeirão da Conceição e no Belchior, respectivamente. Em vários artigos estipulavam-se os direitos e deveres dos colonos, a cada um dos quais se daria uma sorte de terras de duzentas braças de frente, por quinhentas de fundos, se solteiro, e, se casado, de trezentas por quinhentas. Ao juiz de paz do distrito foi atribuída a tarefa de mandar medir e demarcar os lotes coloniais e distribuí-los entre os colonos, que a eles perderiam o direito, se, dentro de seis meses da data da concessão, não dessem princípio às plantações. Nos lugares destinados aos arraiais, seriam medidas áreas de quinhentas braças em quadro, subdivididas em lotes urbanos que seriam, também, distribuídos entre os colonos para construção de suas moradas.

Alves Ramos, então major, foi encarregado, pelo presidente da província, de dirigir os trabalhos de colonização dos dois empreendimentos, com poderes para emitir títulos de propriedade. Ao mesmo tempo, foi consignada, no orçamento de 1835, uma verba de 2.000$000, para as despesas de exploração do rio Itajaí-Mirim e outras semelhantes, entre as quais se encontrava, também, a destinada ao combate aos indígenas que viviam molestando os colonos . Ao escopo principal deste trabalho não interessa acompanharmos a fundação e o desenvolvimento das duas colônias criadas por essa lei n.° 11.

As providências tomadas para a concretização do determinativo legal, entretanto, influíram, decisivamente, no crescimento da freguesia do Santíssimo Sacramento e na hegemonia que o mesmo foi adquirindo sobre toda a bacia do Itajaí e povoados vizinhos, inclusive sobre Porto Belo.

Realmente, não só agindo por si mesmo, como por intermédio dos poderes públicos competentes e dos muitos amigos do Desterro e da sede do município, Alves Ramos encaminhava, para as terras do Itajaí, para as duas colônias recém-criadas, colonos de várias partes da província, inclusive de S. Pedro de Alcântara, onde, em 1824, se haviam estabelecido muitas famílias de imigrantes alemães e que, por não terem ali encontrado condições favoráveis de solo e meios de comunicação, foram, em parte, escolhendo outros pontos de Santa Catarina, mais adaptáveis à agricultura ou mais fáceis de serem trabalhados, com maiores possibilidades de progresso.

Assim, ao mesmo tempo que povoava as terras marginais dos grandes cursos d'água, enriquecendo a província com apreciável produção que dali exportava, concentrava no povoado todo o comércio da região. A sua constante correspondência com os presidentes da província, nesse propósito, demonstrava bem o espírito que o animava e a atividade que desenvolvia, no sentido do desbravamento das terras itajaienses produzirem frutos duradouros.

Em 1836, muito se interessou pela exploração do Itajaí-Mirim e, consultado a respeito, oficiou ao Major Silva Mafra, dando o seu parecer sobre a melhor maneira de se concretizar essa empreitada. As suas opiniões são sensatas e por elas se vê quanto ele procurava defender, em tudo, os interesses da fazenda pública, escolhendo sempre soluções que, eficientes, fossem as menos dispendiosas.

Durante os três primeiros anos de mandato de deputado, Alves Ramos não esmoreceu um só momento nos patrióticos propósitos que o animavam. A sua atividade era bem compreendida no seio do governo e devidamente apreciada.

Em 1836, o tenente Albuquerque Cavalcanti, presidente da província, na sua "Fala" anual à Assembléia Legislativa, escrevia: "..:A Administração encarregou da execução dessa lei (a de n.° 11), quanto às colônias, ao cidadão Agostinho Alves Ramos, conhecido pelo empenho que tem mostrado em promover a prosperidade, de que é suscetível aquele valioso distrito".

Os "bugres", que não raro eram vistos no território do Itajaí, ameaçando e intimidando os colonos que acudiam ao chamado e à propaganda de Alves Ramos, começaram a preocupá-lo muito. Com autorização das autoridades provinciais, organizou escoltas que batessem os matos em perseguição dos gentios. Nesse particular, também os seus serviços foram notáveis pela presteza e energia com que agiu, em defesa da sua gente.

Em abril de 1837, a lei n.° 70, que, sem dúvida foi obra de Alves Ramos, isentou os moradores de Itajaí de prestarem serviço militar na Guarda Nacional, por estar a região sujeita à incursão dos índios.

O primeiro professor

Apesar de criado em 1835 e ter sido publicado edital para o seu preenchimento, parece que o cargo de professor de primeiras letras da freguesia só foi provido em 1837 com a nomeação de Francisco José das Neves. Este, porém, já em 28 de maio seguinte, foi substituído, interinamente, por Antônio Joaquim Ferreira.

Em 1838, criou-se em Itajaí uma companhia de pedestres permanente, de conformidade com a lei 28, do ano anterior, e que, sem dúvida alguma, foi, igualmente, de inspiração do major Alves Ramos. A este foi confiada a tarefa da sua organização e conseqüente comando. Alves Ramos também concorreu às eleições de 1838 e 1840, ficando, entretanto, como suplente, várias vezes convocado.

A primitiva capela, afinal, foi posta abaixo, sendo vigário-colado o padre Francisco Rodrigues (1838). Agostinho Alves Ramos pôs-se à frente dos trabalhos da construção da nova matriz, mais ampla e mais resistente. Providenciou o transporte de pedra, tijolos e madeiras da sua fazenda do ribeirão Conceição. Naturalmente, houve auxílio dos demais fregueses do distrito e das circunvizinhanças, e as despesas feitas por Alves Ramos foram depois ressarcidas pelo menos em parte, pelo governo e pela fábrica da matriz.

Em meados de 1841, o padre Rodrigues deixou as funções de vigário. Enquanto não tomou posse o seu substituto, padre João Batista Romero, em novembro do mesmo ano, os negócios da paróquia ficaram sendo administrados pelo vigário de Porto Belo, Padre Antônio Augusto de Assis.

Os índios atacam

Os indígenas continuavam as suas sangrentas incursões pelo território das duas colônias fundadas por Alves Ramos. Constituíam eles grande, se não o maior entrave à expansão colonizadora. O próprio arraial de Belchior ameaçava despovoar-se, como já se achavam quase abandonados os lotes medidos e concedidos no Itajaí-Mirim.

Alves Ramos que, em 1841 e 1842 voltara, como deputado, à Assembléia Legislativa Provincial, conseguiu novas medidas do Governo para obviar esse inconveniente, como principal da ineficácia das medidas até então postas em prática, a custo - sabe Deus! - de quantos sacrifícios.

Para dar mais eficiência à Companhia de Pedestres, fora encarregado do seu comando, em 1843, o major Henrique Etur, que, nessa época, vivia em Porto Belo, onde tinha propriedades e, possivelmente, casa de negócio.

Henrique Etur, espírito também ativo, empreendedor e amigo de Alves Ramos, seguiu, com a Companhia, para Belchior, a cujo arraial deu novo e importante impulso, distribuindo terras a novos colonos e aos pedestres casados, construindo casas, percorrendo as matas em operação de limpeza e afugentamento do gentio, dando, assim, aos colonos um ambiente de segurança, no qual puderam trabalhar e progredir, e, dessa forma, concorrendo, não só para o adiantamento da colônia, como da freguesia do SS. Sacramento, entreposto natural de toda a produção exportável da região.

O povoado de Itajaí estava, entretanto, praticamente estacionário. A nova igreja fora concluída, bem maior do que a primeira capela, de construção mais sólida, o que, contudo, não impediu que, pouco depois, estivesse já necessitando de reparos, de aumento e reforços das paredes laterais, uma das quais chegou a ruir em 1844, segundo se depreende de uma informação contida na "fala" do presidente da província, dirigida à Assembléia Legislativa em 1844 .

"Reciclagem" começou em 1844

Em 1840, o governo provincial havia sancionado a lei n.° 136, de 14 de abril, segundo a qual ficava ele autorizado a contratar um professor formado pela Escola Nacional de Niterói, para reger a cadeira de primeiras letras de Desterro. Todos os professores da província, menores de 35 anos, seriam chamadas a freqüentar as aulas desse mestre, o qual deveria ser hábil no ensino de "ler e escrever pelo método Lancastrino, das quatro operações de aritmética, quebrados, decimais e proporções, noções gerais de geometria teórica e prática, gramática, elementos de geografia, os princípios da moral cristã e da religião do Estado".

O professor contratado deveria informar, mensalmente, o presidente da província, sobre o aproveitamento dos mestres do interior e, caso se verificasse a sua incapacidade, seriam demitidos ou aposentados, conforme o caso. Aqueles que demonstrassem aproveitamento, teriam, então, que prestar um exame perante o presidente da província e, aprovados, seriam restituídos à regência de suas respectivas cadeiras.

Não desmentindo as tradições de cultura de que sempre se orgulhou o povo itajaiense, com Alves Ramos em destacado plano, o professor da freguesia, que; desde 28 de maio de 1837, vinha regendo, interinamente, a cadeira de primeiras letras, Antônio Joaquim Ferreira, teve que freqüentar em 1844 a escola do professor contratado, tendo sido aprovado satisfatoriamente.

E nem podia ter sido doutra forma, visto como, desde o seu nascimento, até os dias que correm, Itajaí tem sido apontado como um centro intelectualmente adiantado onde o número de moradores que se destacam pela cultura e amor às letras e às ciências é bastante apreciável.

Essa justa reputação começou com Alves Ramos. Ele não foi apenas um negociante ativo e um político inteligente e habilidoso. Podia orgulhar-se de possuir uma inteligência invejável e grande cultivo espiritual.

Primórdios da construção naval

Além de possuir vastos conhecimentos de contabilidade comercial - pois parece que era guarda-livros diplomado - tinha noções de desenho industrial, riscando, com perícia, plantas de barcos e de casas. O biógrafo, em que respigamos grande parte das informações deste trabalho, adianta que o Coronel fez construir várias embarcações, sendo ele o mestre de risco; um moço, que ele admitiu em sua casa agregado, natural de Guaratuba, Bento Malaquias da Silva, que muito figurou em Itajaí e que deixou fortuna para a sua família, ele o mandou aprender o ofício de carpinteiro da ribeira e lhe ensinou a riscar embarcações e, por isso, foi um afamado e bom mestre construtor.

Era muito versado em letras. Tinha excelente redação e as suas cartas dirigidas ao presidente da província, aos amigos da capital e de Porto Belo, podem ser tidas como modelos, levadas, naturalmente em consideração, as condições em que se encontrava Sta. Catarina no campo literário, onde, mesmo assim, era dos mais adiantados do país.

Alves Ramos: poeta

Era poeta também, e bom poeta. Não teria feito má figura entre os literatos da atualidade. Ao contrário, deixaria para trás muito versejador que tem nome estampado em frontispício de livro. A sua veia mordaz criou sátiras sobre os homens e coisas da época, que eram lembradas e repetidas nas rodas de intelectuais da capital e de Porto Belo, onde, apesar do atraso material em que se arrastava a vila, havia homens que tinham gosto pelas manifestações da inteligência.

Alves Ramos escreveu, também, umas memórias, onde devia ter anotado muita coisa dos começos de Itajaí. Infelizmente perderam-se os manuscritos, assim como muitas poesias originais, em que ele focalizava figuras da época, como o bacharel João Nepomuceno de Mendonça, juiz municipal de Porto Belo, e o Major Henrique Etur.

Alves Ramos e Van Lede

Em 1842, Agostinho Alves Ramos recebeu em Itajaí a visita de Charles van Lede, engenheiro belga, que, pouco mais tarde, fundava uma colônia, rio Itajaí-Açú acima, origem da atual cidade de Ilhota.

No livro que publicou, no ano seguinte, na capital de seu país, esse cientista faz algumas referências a Itajaí e a Alves Ramos, que convém reproduzir aqui, para que se tenha uma idéia mais precisa de que ele era, realmente, o homem indispensável do lugar, atento a tudo, sempre pronto a ajudar os empreendimentos úteis, amável e cavalheiresco.

Depois de dar algumas informações de ordem técnica, resultantes das observações feitas e de sondagens no Itajaí-Açú e no Mirim, van Lede escreve: "A freguesia de Itajaí compõe-se de umas cinqüenta casas, dispersas pelas margens do rio, perto de sua foz e ao longo da praia. Tem uma igrejinha, alguns pequenos estaleiros; é sede de um juizado de paz e residência dum Tenente-Coronel da Guarda Nacional. Para estas duas autoridades tínhamos cartas do presidente, que nos apressamos a entregar". "O Coronel Agostinho Alves Ramos acolheu-nos perfeitamente e pôs à nossa disposição um iatezinho, no qual subimos o Itajaí-Grande".

Seguem-se vários detalhes a respeito da exploração desse rio, após o que Van Lede acrescenta: "Segunda-feira, 4 de abril, estávamos de volta à freguesia de Itajaí. Nessa região, chegando-se tarde da noite, a uma casa, corre-se o risco de dormir à luz das estrelas, e isso é compreensível pois seus habitantes, forçados a fazer, até certo ponto, o policiamento local, não abrem sua porta a horas tardias. Assim, não quisemos incomodar o Coronel Agostinho Alves Ramos, e resolvemos pernoitar na praia. A temperatura era agradável, o céu conservava-se, quase sempre, tão sereno, que, muitas vezes, preferíamos acampar a procurar uma casa; mas o nosso patrão van Zoite, que era português, fora, sem sabermos, prevenir o coronel que imediatamente nos franqueou sua residência. As atenções que ele nos dispensou, ultrapassaram a tudo a que tínhamos direito de esperar".

"No dia seguinte, preparamo-nos para explorar o Itajaí-Mirim, do qual já conhecíamos a importância; mas, desta vez, mais bem avisados, substituímos o iate pelas canoas, mais fáceis de governar, e com as quais podíamos navegar contra a corrente e atravessar todas as passagens".

A fazenda de Alves Ramos

"Na confluência do rio Conceição com o Itajaí-Mírim, o coronel tinha uma fazenda, onde jantaríamos, a seu convite. E, enquanto ele despachava os seus negócios, fomos, de canoa, explorar o rio. Tínhamos de percorrer muitas curvas, antes de chegar ao ponto de encontro combinado, devendo o coronel seguir por terra; assim, apesar dos nossos esforços, fomos os últimos a chegar". (1)

"A fazenda do coronel achava-se situada num local que, nas grandes enchentes, estaria exposta a inundações. O solo ficava cerca de dois metros acima do nível do rio e tudo estava de acordo com uma habitação construída sobre estacas, cujos cabeços ultrapassavam o terreno alguns. pés. Ele recebeu-nos com sua habitual cordialidade e, enquanto esperávamos pelo jantar, levou-nos ao alto do morro perto de sua casa. (2) Fizemos o trajeto com alguma dificuldade; mas, chegados acima, fomos largamente compensados de nossa fadiga, pela magnificência do panorama que desse lugar se desvendava até onde a vista podia alcançar. Munidos de uma bússola azimutal, fizemos, imediatamente, o levantamento de muitos pontos importantíssimos para a nossa carta e que já havíamos observado de outros lugares. À nossa frente, desdobrava-se uma imensa planície que, de norte a sul, a perder de vista, estava coberta pela mata virgem, cujas cores ricas e variadas acompanhavam todas as ondulações do terreno".

"Passamos cerca de meia hora a admirar essa bela cena da natureza, dirigindo-nos depois para a casa, onde encontramos o jantar (3) na mesa e mais alguns convivas. Após uma abundante refeição, despedimo-nos do nosso hospedeiro e penetramos na floresta, subindo o Itajaí-Mirim, do qual levantamos todas as sinuosidades e profundidades. Achamos desnecessário transcrever a minuta, que, aliás, é idêntica ao modelo adotado para o levantamento do Itajaí-Grande".

"Nada mais pitoresco nem mais encantador do que a viagem por esse rio. A luxuriante vegetação que cobria as margens e a que o sol esplêndido do Brasil emprestava um encanto desconhecido das regiões européias; as águas tranqüilas do rio; a velocidade de nossa pequena embarcação, que, ao menor impulso, deslizava, graciosamente, pela superfície líquida; a variedade de pássaros que existiam nessas florestas e que, pela sua bela plumagem e pela diversidade de seu canto, davam vida a essa deliciosa solidão; - todo isso emprestava o maior encanto à nossa excursão e, pesarosos, víamos a noite aproximar-se rapidamente, não obstante devêssemos prosseguir em nossa exploração, no dia seguinte".

(1) - Pela descrição de Van Lede, a fazenda de Alves Ramos ficava nas proximidades da casa da família Werner, nas imediações da ponte sobre o "rio Conceição". que é um dos nomes do rio do Meio. (2) - Morro da Araponga, onde existe hoje o serviço de tratamento de água de Itajaí. (3) - "Jantar". Esta refeição deve ser entendida como a do meio-dia, para diferençá-la da da noite que era chamada de "ceia". "Almoço" para a refeição da manhã; "janta" para a do meio-dia e "ceia" para a da noite são designações ainda hoje usadas em certas zonas coloniais de Santa Catarina. Na descrição de Van Lede percebe-se que era a refeição do meio-dia, porque seria inadmissível que fosse a da noite, já que o belga diz que "depois de uma abundante refeição, despedimo-nos do nosso hospedeiro e penetramos na floresta".

Funciona a velha hospitalidade

"As seis horas aportamos à margem direita do rio, onde se encontrava a última casa no rio Itajaí- Mirim. Manuel Custódio, seu proprietário, recebeu- nos da melhor maneira possível e ofereceu-nos tudo o que possuía; mas aceitamos, apenas, pernoitar em seu engenho de farinha de mandioca. Sua fazenda era muito bem organizada; à margem do rio ficava uma serraria manual; mais para trás, numa elevação do terreno, sua casa circundada de alguns cafezeiros, laranjeiras e algodoeiros, uma bela roça de mandioca, outra de milho e feijão, de cana-de-açúcar e de arroz, e no fundo, a mata virgem, da qual uns trinta hectares tinham sido abatidos e queimados, e que se alargava em hemiciclo, ao redor da casa".

"No dia seguinte, levamos a nossa exploração até ao Tabuleiro, já muito além das terras devolutas da Coroa. E como as particularidades topográficas e hidrográficas, assim como a natureza do solo e da vegetação, continuavam a ser as mesmas, e, por outro lado, precisássemos ainda de oito dias, no dizer dos nossos guias, para atingir o salto, resolvemos descer o rio, tendo empregado, nessa exploração, mais tempo do que nos era permitido. Assim, pois, retornamos à freguesia (de Itajaí), onde, favorecidos pela correnteza, chegamos na mesma tarde".

Por aí se tem uma idéia de como Alves Ramos empregava seu tempo e quão justa é a tradição que deixou de homem prestativo, cavalheiresco em todo sentido. Do retrato que nos deixou o biógrafo várias vezes citado, vê-se que essa distinção, essas maneiras delicadas, Alves Ramos as mantinha até no vestir e no trato quotidiano com os seus domésticos e os seus amigos.

Segundo J. M. Rodrigues, o coronel usava, seguidamente, calças e coletes brancos e sobrecasaca militar, ou preta. A esposa, D. Ana, por sua vez, não lhe ficava atrás nos modos e na bondade. Andava sempre muito limpa e bem arrumada no seu vestido de linho branco e lenço de cambraia à cabeça. Contrastava, com o marido no físico. Ele era de estatura pouco acima da média, obeso, e ela magra .

Foi o coronel um homem de muito respeito e consideração, verdadeiro político na extensão da palavra, serviçal, protetor e amigo verdadeiro das pessoas de sua intimidade, com as quais desabafava, em segredo, os seus desgostos, e reservadamente, no interior de sua casa. Foi o civilizador do povo daquela localidade; nada se fazia sem indicação e consulta dele. Era bom médico; a pobreza, ele tratava com especial agrado e liberalidade, mormente sua mulher, que, na verdade, parecia uma santa mulher; não usava modas e nem se enfeitava com fitas e veludos e outros adornos. Eram ambos muito bonitos e ainda mesmo quando velhos. Tratavam-se com todo acatamento, pareciam dois irmãos. Temos que não se poderia traçar retrato mais perfeito de Alves Ramos. Nessas poucas palavras, o seu biógrafo disse tudo.

Alves Ramos e o imperador

Por ocasião da visita de SS. Majestades, o imperador D. Pedro II e D. Teresa Cristina, a Santa Catarina, em 1845, várias personalidades de destaque na vida social, política e administrativa, da província, foram condecoradas com insígnias das ordens honoríficas do Império.

Entre elas, estava o coronel Agostinho Alves Ramos, comandante do 7.° Batalhão da Guarda Nacional, que mereceu a comenda da Ordem de Cristo, no grau de Cavaleiro, pelos assinalados serviços prestados à causa do engrandecimento material, moral e intelectual da província, especialmente da zona banhada pelo Itajaí.

A morte de D. Ana

Em 1850 a 1851, Alves Ramos voltou, como deputado, à Assembléia Provincial. O peso dos anos e das canseiras, porém, haviam-lhe amortecido o ânimo e ele já não era mais o mesmo lutador entusiasta e abnegado, presente sempre, onde quer que estivessem em jogo o desenvolvimento da comuna, o bem-estar dos seus moradores, os interesses materiais e morais da província.

A 26 de janeiro de 1850, sofreu profundo golpe, que acabou por mergulhá-lo em tristeza e desânimo, no desinteresse quase completo pelas coisas da vida. Morreu-lhe, nesse dia, dona Ana, a companheira dedicada de muitos anos, que compartilhara das suas dores e das suas alegrias, das suas vitórias e dos insucessos, sempre com o mesmo ânimo paciente e corajoso, sacrificando-se para não ver outros prejudicados, sofrendo para mitigar as mágoas alheias. Foi sepultada, no dia seguinte, pranteada pela unanimidade da freguesia e do distrito, por todos chorada e abençoada.

Alves Ramos e o dr. Blumenau

Já por esse tempo, as margens do grande Itajaí haviam sido visitadas por Hermann Blumenau e Fernando Hackradt que, associados, haviam obtido do governo provincial um terreno de uma légua em quadro, às margens dos ribeirões Garcia e da Velha, onde se estabeleceu a sede da Colônia Blumenau.

Para um perfeito serviço de recepção e instalação dos imigrantes destinados ao estabelecimento do filósofo alemão, fazia-se necessário. que, no porto de Itajaí, local de acosto aos navios que os transportassem da Europa, se construísse um alojamento onde os mesmos colonos, depois do necessário descanso, se movimentassem rio acima, por mais dois dias de viagem, em canoas e balsas, até o local em que seriam definitivamente instalados.

Blumenau e Hackradt entraram em entendimentos com Alves Ramos e adquiriram deste, não só o terreno situado na confluência do Itajaí-Mirim, como outras terras e casas e a fazenda do Ribeirão da Conceição, tendo-lhe sido paga a metade do preço em dinheiro contado e outra metade em oito letras de câmbio, vencíveis de seis em seis meses e que Alves Ramos descontou imediatamente com apreciável redução, com Tomas Correia Feijó, capitalista em Porto Belo.

O seu estado de saúde continuava se agravando e ele sentia próximo o seu fim. Recusou novos oferecimentos para que se reelegesse deputado provincial, indicando e apoiando a reeleição de Costa Rodrigues . Estava, efetivamente, no ocaso de sua longa e proveitosa existência.

O repouso do guerreiro

Mal decorrido um semestre de se ter Agostinho Alves Ramos desfeito da maior parte de seus imóveis, foi ele vítima de uma apoplexia. Chamado, acorreu imediatamente o cirurgião de Camboriú, Claudino Pacheco, que lhe prestou os primeiros socorros, conseguindo reanimá-lo e pô-lo fora de perigo imediato.

Compreendendo, entretanto, a gravidade do seu estado, Alves Ramos pensou logo em ultimar as providências para a regularização de todos os seus negócios e em fazer o seu testamento. Aproveitando a visita do rábula Costa Rodrigues, com alguns amigos de Porto Belo, o enfermo mandou buscar o escrivão de paz para que redigisse e desse forma jurídica às suas últimas disposições.

Costa Rodrigues conta que, quando chegou à casa de Alves Ramos, este estava sentado em uma cadeira, com um pequeno cofre com papéis e junto dele Luís Demoro (italiano). Disse o coronel: "Amanhã acabaremos as nossas contas" - Fechou o cofre e o mandou guardar".

Segundo ainda esse biógrafo, pessoas interessadas, entre as quais autoridades da freguesia e do município, procuraram e impediram, mesmo, que Alves Ramos consumasse o seu propósito. Mal o escrivão, que era José Miranda, começara a lançar em suas notas as primeiras palavras do testamento, do qual Costa Rodrigues deveria ser o executor e testamenteiro, alguém acenou ao Escrivão, chamando-o para fora da casa. Voltou momentos depois, dizendo ao enfermo que não poderia prosseguir no ato, senão com a presença de cinco testemunhas, que ele iria buscar. Saiu e não mais regressou naquele dia.

Acontece que, no dia. imediato, submetendo-se a uma sangria pelo doutor Pedro Pletting, que clinicava em Porto Belo e viera a Itajaí para examinar o doente, Alves Ramos sofreu novo ataque, perdendo a fala. Passou em estado de inconsciência todo aquele dia e, no dia seguinte, foi submetido a nova sangria, sem qualquer resultado benéfico. Era o dia 16 de julho de 1853. Pelas cinco da tarde, Agostinho Alves Ramos expirou serenamente, assistido pelo médico belga e por amigos dedicados".

Fonte: ITAJAÍ - Norberto Cândido da Silveira Jr.

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A imprensa itajaiense

"A história da imprensa em nossa terra se fez dos altos e baixos das iniciativas que surgiram esperançosas e logo se desfizeram no contato com a realidade dura das lides jornalísticas em cidade pequena; e daquelas que vitoriosamente se firmaram.Nestas houve momentos que honraram a imprensa itajaiense, como quando aqui se chegou a fazer o jornal mais bem impresso de todo o Estado, no dizer do historiador Lucas Alexandre Boiteux."

Foi o itajaiense e professor João da Cruz e Silva, nos idos de 1884, quem lançou o primeiro jornal nosso. Chamava-se "Itajahy", certamente em homenagem à cidade, e tinha a sua tipografia situada à rua da Matriz hoje Hercílio Luz. Circulava aos domingos e se dizia órgão das interesses do Município.

Chamado de Lages onde estava estabelecido, o Professor Cruz e Silva logo se viu privado do apoio de um bom número de comerciantes que lhe haviam prometido financiamento. Sobrou-lhe a ajuda de seu cunhado, o Coronel Manoel Antônio Fontes (foto acima), que, mesmo abastado comerciante não pode financiar mais que três edições.

Seguiram os passos do pioneiro Tranquilo Antônio da Silva e Eduardo Dias de Miranda que lançaram "A Idéa" em 1886; Galdino Pereira de Miranda com "A Liberdade", em 1887; Dr. Pedro Ferreira com "Gazeta de Itajahy", em 1892; Thiago da Fonseca e Pe. Peters com o "Progresso", em 1899.

Mas foi no início deste século que surgiram os dois jornais de grande duração e que marcaram época em nossa imprensa: "Novidades" e "O Pharol".

O primeiro número do "Novidades" apareceu a 5 de junho de 1904. No artigo de fundo deste número um, o articulista, atribuindo o insucesso dos jomais anteriores à pouca atenção que deram ao que se passava em Itajaí, comprometia-se com um programa de ":..muitas, muitas e muitas notícias locais". Redatoriado por Tibúrcio de Freitas e Adolfo Konder, o jornal tinha primorosa apresentação gráfica, o que levou Boiteux a expender aquele juízo. O "Novidades"se findou em 1919.

"O Pharol", por sua vez, veio a lume em 29 de julho de 1904. Era dirigido e redatoriado por João Honório de Miranda - Joca Miranda - de formato tablóide e se confessava "comercial, noticioso e humorístico". Seu último ano de circulação foi 1936, quando então já estava sob a direção do jornalista Juventino Linhares.

Jornalistas houve ainda que acreditaram além de toda esperança. Como também o professor Manoel F. de Miranda que em 1914 creu num jornal diário circulando na pequenina cidade de 15.000 almas! Assim, a 1o de novembro de 1914 pôs a circular o "Diário de Itajahy" que, como dizia em editorial, estava "para atender diariamente as honradas e laboriosas classes comerciais e tratar dos interesses do povo em geral".Circulou por três meses e se fez uma iniciativa nunca mais imitada!

Neste século, se contaram inúmeros os periódicos surgidos e logo deixados de circular. No entanto um desses, lançado em 1935, firmou-se como órgão identificado com as coisas da terra e lutador sincero em prol do bem-estar da coletividade: O JORNAL DO POVO, fundado por Abdon Fóes e que hoje galhardamente ocupa a posição de decano da imprensa de Itajaí.

Fonte: Pequena História de Itajaí - Prof. Edson d'Ávila; Foto: Manuel Antônio Fontes - Arquivo da Fundação Genésio Miranda Lins.

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