terça-feira, 2 de abril de 2013

Nos alcantilados da vida

Nesta cidade onde o Chefe do Serviço de Engarrafamento de Trânsito faz o possível para que todos conservem a direita, é muito perigoso dirigir alcoolizado. Dirá aí a senhora que ainda há pouco recebeu telefonema da costureira e mandou dizer que tinha ido almoçar com titia, que dirigir alcoolizado em qualquer cidade é perigoso.

De fato, a distinta tem razão. Mas, acontece que aqui, dirigir — de qualquer maneira, com a cara cheia ou não — é perigoso; logo, dirigir alcoolizado é mais perigoso do que nos outros lugares. Nós temos chofer particular e não precisamos nos preocupar com isso, mas — como somos guia espiritual de vocês — não custa dar alguns conselhos.

Como, minha senhora? quem é o nosso chofer particular? É um sujeito malcriado que só vendo. Chama-se Motorista de Praça. Mas... dizíamos, dirigir com pressão de cachaça ou similares é muito rebarbativo, razão pela qual temos que render homenagem àqueles que, em saindo do botequim meio sobre o baratinado, deixam seus respectivos carros onde estiverem e tomam um táxi que, se dirigido por bêbedo, é problema da Inspetoria e o passageiro morre sem qualquer responsabilidade.

Já vimos muito playboy sair do "Sacha's" caneado e meter uma segunda no MG, crente que está impressionando a turba. Já vimos também muito sujeito dito sério entrar pelo cano graças à mesma mania. Por isso ficamos muito impressionados ontem, quando o nosso coleguinha entornador de uísque Adolfo Gusmão nos contou a história do grã-fino, seu amigo, que foi à boite com o filho e, à saída, entrou no carro com o rapaz e perguntou:

— Você não acha que nós estamos muito triscados para dirigir?

O filho achou que não, que, se fossem devagar, não havia perigo. O pai concordou logo, os dois entraram no carro e saíram em frente. Não tinham corrido um quilômetro, quando o pai disse pro filho:

— Meu filho, se você continuar correndo assim eu salto.

O filho, então, fez ver ao pai que seria uma temeridade saltar.

— Por quê? — perguntou o gã-fino.

— Porque quem está dirigindo é o senhor — respondeu o playboy.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

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