Deu-se o caso numa lanchonete (sinal dos tempos: botequim antigamente era botequim, agora continua botequim, mas chamam de lanchonete). As duas jovens senhoras, belas e de calças compridas, deviam estar fazendo compras e deu sede. Foi aí que entraram na tal lanchonete. Sentaram naqueles incômodos tamboretes e pediram um refresco.
O garçom — muito solícito — explicou que tinha de laranja, de limão, de uva... enfim, refresco às pampas. Uma escolheu de maracujá e a outra simplificou ainda mais: quis laranjada. O garçom afastou-se para buscar o pedido, os canudinhos, pratinho de biscoitos, etc.
As distintas, enquanto esperavam, começaram a conversar e foi aí que uma perguntou para a outra:
— Como é que vai seu cachorrinho? Continua doente?
— Agora está melhor — informou a outra.
— Como é mesmo o nome dele?
— Joãozinho!
Era um nome esquisito, para cachorro, mas vocês sabem como é grã-fina, inventa cada besteira!!! E foi justamente quando elas começaram a falar sobre Joãozinho que o garçom estava de volta, com os refrescos. Colocou os copos defronte delas e começou a enxugar o balcão do bar, distraidamente.
— Meu marido detesta — dizia a que perguntara pelo cachorrinho da outra. E a outra:
— Joãozinho é um amor. Ultimamente ele tem dormido no meu quarto, ao pé da cama.
O garçom arregalou os olhos. Será que o coitado do marido daquela mulher dormia ao pé da cama? Ficou escutando, incrédulo.
— Tadinho, passa a noite inteira gemendo.
O garçom já ia dizer "pudera", mas conteve-se. Não tinha nada com isso. Apanhou uns copos da prateleira e começou a lavar.
— Ele não se sente muito preso no apartamento, não? — perguntou a que não tinha cachorrinho, dando uma chupadinha no canudo do refresco.
— Sente-se, sim. De noite eu sempre saio um pouquinho com ele.
— Isso é bom.
— É sim... distrai o coitadinho.
As duas mulheres pararam um pouco de falar enquanto tomavam o refresco. O garçom continuou examinando aquelas estranhas mulheres que, de colher de chá pro marido, davam só uma voltinha de noite e, provavelmente, deixavam os infelizes em casa e iam badalar. Cretinas — pensou o garçom.
A dona de Joãozinho terminou o refresco e falou:
— Estou desconfiada de que Joãozinho está com pulgas.
— Que horror — exclamou a outra, também terminando o seu refresco.
— Quanto é? — ela perguntou ao garçom.
Este ficou meio sobre o parvo e ela tornou a perguntar:
— Quanto é?
— 150 cruzeiros — respondeu o garçom, como que acordando.
Uma das senhoras abriu a bolsa, tirou uma carteira recheada de notas e colocou sobre o balcão a importância exata. Não deixou nem um tostão de gorjeta, a miserável. O garçom sentiu que precisava ir à forra.
E quando elas se preparavam para sair, recolheu os 150 cruzeiros e disse para a dona de Joãozinho:
— Diga ao seu marido que, para ele acabar com as pulgas, deve tomar banho.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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