Cena: região inóspita e de vegetação raquítica, com um vento leve a suspender a poeira, enfim, uma paisagem de região subdesenvolvida. Ao fundo uma igreja tosca de onde vem o murmúrio dos fiéis rezando.
Nisso surge um mexicano daqueles, de bigode escorrido, sombrero enterrado até as sobrancelhas e olhar preguiçoso, de olhos semicerrados. Debaixo do braço um violão e no andar a displicência de todos os mexicanos.
Pára à porta da igreja, olha lá pra dentro e resolve entrar, sem se dignar a tirar o sombrero. Desrespeitosamente entra com ele en¬terrado na cabeça, sempre abraçado ao violão. Uma senhora de preto e ar compungido que está no último banco, olha-o e chama a sua atenção:
— Senor, el sombrero!
O mexicano parece não a ter ouvido e continua a caminhar de¬vagar pelo corredor entre os bancos. Logo uma outra senhora, aler¬tada pelo protesto da primeira, interrompe suas orações e sussurra ao seu ouvido:
— El sombrero, senor!
Mas o mexicano não dá importância e continua sua caminhada:
— El sombrero — reclama um velho exaltado, de dedo no nariz do mexicano, que passa por ele sem o menor sinal de atenção.
Pouco a pouco todos os presentes estão a exigir que tire o chapéu e os gritos de "el sombrero" partem praticamente de todas as bocas:
— El sombrero, el sombrero, el sombrero.
O mexicano impávido. Até parece que não é com ele. É quando o sacristão resolve tomar uma atitude e, já no fim do corredor, agarra-o pelo braço e diz:
— El sombrero, por favor!
Então o mexicano pára, olha em volta com seu olhar preguiçoso e, empunhando o violão, diz:
— Ya que ustedes insisten... De Perez y Gimenez, cantaré "El Sombrero".
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
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