Era um hotelzinho pacato e que só recebia hóspedes durante o verão.
Clima de montanha, boa comida e muito sossego. Enfim, essas bossas.
Durante a maior parte do ano os cozinheiros ficavam dando peitada um no
outro. Não tinham mesmo nada pra fazer!!! Cidade pequena, sabe como é?
Igual a Cachoeirinha, onde nasceu Primo Altamirando. Diz ele que a
população da cidade não aumenta porque sempre que nasce um filho...
foge um pai.
Mas voltando ao hotelzinho: o velho escrivão do cartório local, um cara
solteiro e doido por mulher, morava lá e sua constante reclamação era
justamente a falta de hospedagem feminina, para que ele pudesse praticar
o salutar esporte da paquera.
Por longo tempo foi assim. O escrivão sendo o morador mais antigo e
fiel, ocupava o melhor quarto (o quarto nupcial, que hotelzinho mixa
também tem dessas besteiras) e era tarado como um Pelé em Santos. Até
que — um dia — um coronel político foi ao hotel e pediu um quarto para a
filha. A mocinha — que era o que havia de mais redondinho e cor-de-rosa
na região — ia casar e passaria a lua-de-mel ali.
Então foi feita a troca. O dono do hotel conseguiu convencer o escrivão
de mudar de quarto e o pilantra topou logo, desde que ficasse num quarto
ao lado. Lua-de-mel era o que mais incomodava o serventuário da
justiça, porque ele ficava olhando o casalzinho na hora do jantar e, de
noite, não tinha jeito de dormir: ficava acordado, imaginando coisas.
No dia do casamento o escrivão fechou o cartório mais cedo, mandou a
justiça para o inferno e chegou no hotel antes da hora. Não quis
conversa com ninguém e, quando não viu o casal na sala de jantar achou
que os dois tinham comido no quarto. Alvoroçado que só bode no cercado
das cabritas, subiu para seus aposentos provisórios e só reapareceu no
saguão no dia seguinte, mais pálido que o Conde Drácula.
— Mas o senhor não dormiu bem no outro quarto? O vizinho fez muito barulho? — perguntou o solícito gerente.
— Pois é... sabe como são essas coisas. Casal em lua-de-mel no quarto ao
lado, sempre incomoda, né? A gente fica pensando besteira — insinuou o
escrivão.
— Mas... — o gerente estava boquiaberto: — o casal não veio. O quarto
estava vazio. Apareceu aqui um chinês com dor de dente. Eu botei o
chinês lá — e acrescentou: Coitado do chinês, gemeu a noite toda.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival
de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e
ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização
Brasileira, 1996.
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