É o milagre que ajuda o padre ou é o padre que ajuda o milagre? Pelo menos em tese, o milagre deveria ajudar o padre. Entretanto, o piedoso Padre Poclat, do bairro de Senador Canedo, em Goiânia, resolveu que — na prática - pode ser contrário.
O telegrama vindo de lá diz assim: "Por ter umedecido uma imagem de Jesus Cristo, fabricada em gesso, para fazê-la chorar, o Padre Poclat foi advertido pelo Arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Gomes que lhe determinou a cessação imediata de explorações sobre a imagem, sob pena de ser castigado pela Igreja".
Diz que o vivíssimo sacerdote, diante da vazante em seu templo, resolveu ser mais realista do que o rei (ou mais divino do que Deus, se preferem) e anunciou, durante a missa, que a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, ali entronizada, começara a chorar de desgosto. Foi o quanto bastou para que a plebe ignara ficasse mais assanhada que um galo velho no galinheiro das frangas. Uma grande romaria mandou-se para o local.
Mas parece que o Arcebispo — embora não sendo Alziro Zarur, que fala com Jesus em vários programas de rádio, todos patrocinados — desconfiou do milagre e mandou sindicar. O resultado foi o já descrito: uma bronca do Arcebispo para a qual o Padre Poclat teve uma resposta realmente desconcertante: mandou dizer ao superior que o "milagre" se transformara numa situação de fato "que nem Dom Fernando pode mais deter".
É a coragem de afirmar de que fala Eça de Queiroz em "A Relíquia". O negócio é ter peito para afirmar; o resto pode deixar que a crendice popular funciona melhor do que o melhor dos public relations.
O exemplo desse milagreiro de araque serve para ilustrar a teoria do escritor português e serve também para ilustrar o dito que Tia Zulmira costuma repetir, precisamente para casos como esse do Padre Poclat: "Certos padres, quando pedem para Deus, estão pedindo para dois".
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte:
FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw
Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de
Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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