Diz que era um camarada que ia viajando num trem, no interior de São Paulo. Ia para a sua cidade, para visitar os parentes. No vagão, em que viajava, iam também os componentes de uma chatíssima embaixada futebolística.
Iam aos berros, alegres, comunicativos e, pelo que o homem pôde ouvir, vinham de uma cidade, próxima, onde venceram um jogo pelo escore de 3 x 2, ganhando com isso uma taça de péssimo gosto, a qual — de vez em quando — enchiam de cerveja e bebiam fartamente, como faziam os nababos de outros tempos, só que não era cerveja, era champanhe, e também não era na taça, era nos sapatos daquelas "vidas tortas" da belle époque.
O homem vinha imaginando essas coisas, quando um dos jogadores, ao passar rumo ao banheiro, derramou cerveja em sua calça. O homem ficou muito do furioso e levantou-se, para ver se dava um jeito de enxugar. Passou à frente do jogador, entrou no banheiro e trancou a porta. Depois tirou a calça, esfregou um lenço e pendurou na janela, para acabar de secar. Foi aí que deu galho, isto é, numa árvore à beira da estrada de ferro, ficou presa a calça a balançar, como a lhe dar adeus.
O homem ficou no banheiro, abilolado. A próxima cidade era a sua cidade, mas como desembarcar nela, sem calça? E estava sentado naquele negócio, chateadíssimo, quando percebeu que o trem ia parar. Abriu a janelinha, desconsolado, no justo momento em que o comboio parava. E foi então que percebeu: o time de futebol ia desembarcar também ali, na sua cidade.
O homem não conversou. Num instantinho tirou o paletó e a gravata, vestiu a camisa ao contrário, dando a impressão àqueles que o vissem de frente que era a camisa de um goleiro, e desembarcou no meio dos jogadores, a berrar: — 3 a 2!!! 3 a 2!! — depois correu e entrou num táxi.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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