A madame também estava com a moringa cheia, mas — em comparação com o sujeito que a cumprimentou, podia até ser classificada de dama sóbria em festa de pileque. Quando ela passou, o cara levantou a cabeça e falou assim:
-Olá.
A dona não devia ser mulher de olá, porque olhou-o com certo desprezo e não respondeu. Já ia seguindo para atender ao chamado de um outro pilantra que lhe fez sinal, mas o que dissera olá continuou falando e ela escutou:
- Feliz 66 pra você, tá?
A dona aceitou: - Para você também.
O cara deu um risinho de quem não está acreditando muito em 66. Depois pegou uma taça, botou champanhe dentro e ofereceu:
— Vira esta aí, em homenagem ao cabrito que morreu.
— Você já não bebeu demais? — ela quis saber.
— Que pergunta besta, minha senhora. Isso é pergunta de mulher casada.
— Mas eu sou casada.
— Não me diga! Eu também sou. Eu sou casado às pampas — deu um soluço de bêbado e ficou balançando a cabeça, a considerar o quanto ele era casado. Em seguida esclareceu:
— Eu sou casado desde 1950, tá bem?
— Eu também — a dona disse.
— Que coincidência desgraçada, né? Ambos somos casados desde 1950. Você também casou naquele igrejão enorme que tem lá na cidade e que eles já tão achando pequena e estão construindo outra?
— A que estão construindo agora é a nova Catedral, a que eu me casei chama-se Candelária.
— Isto mesmo: Candelária. Foi lá que eu me casei.
— Eu também.
— Também??? Puxa. Casada como eu, em 1950 como eu, na Candelária como eu. Não vai me dizer que a sua lua-de-mel foi na Europa também.
— Muita gente passa lua-de-mel na Europa — a dona ponderou.
— É isso mesmo — o cara concordou: — Lua-de-mel na Europa. Até parece que isso adianta alguma coisa.
— A lua-de-mel não depende do lugar para ser melhor ou pior. Depende do casal.
O cara deu uma risadinha e explicou: — Minha mulher sempre diz isso que você está dizendo — e tratou de encher novamente a taça. Mas aí a dona mudou o tom da conversa:
— Escuta, Eduardo, você já bebeu demais. Vamos embora.
E agarrando o marido cambaleante, levou-o para casa.
Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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