quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A lenda do primeiro gaúcho

Século XVIII. Uma partida de brasileiros atravessa as verdejantes campinas do Rio Grande do Sul. Impulsionados pela necessidade de braços para as lavouras, buscam o índio. Hão de avassalar as tribos ocupantes daquela região. Com esta disposição, viajam bem municiados e armados.

Os índios minuanos, avisados pelas sentinelas da aproximação dos brancos, montam em seus fogosos cavalos e, armados de flecha e boleadeiras e lanças, deixam seu acampamento e rumam para as coxilhas.

Ao avistar os brasileiros se aproximando, os índios usam de sua tática de ocultar-se ao longo do dorso dos cavalos. Destarte, dificilmente seriam descobertos pelos inimigos.

Imóveis, esperam eles o momento azado para atirar-se sobre os viajantes.

Os brasileiros não são conhecedores dos hábitos e da tática empregada pelos índios habitantes das campinas do Sul. E avistando à distância o bando de cavalos pastando, tomam essa direção, muito senhores de si.

Assim, ao se aproximarem os brasileiros, os índios despencam-se nos seus animais do cimo das coxilhas, em galopada, investindo contra os brancos com furiosa saraivadas de flechas. Respondem estes com tiros de armas de fogo. Nova investida dos índios, agora se servindo-se das lanças, obriga os invasores a fugir em desordem.

Caído por terra acha-se um moço ferido. Ao seu lado uma jovem índia minuano. Fascinara-a a coragem do estrangeiro.

O brasileiro sabe da sorte que o espera. E, interrogando a moça quando será sacrificado, responde-lhe esta que nada tema, pois estará a seu lado. Anima-o com palavras confortadoras, cheia de simpatia e compaixão pela sorte do estrangeiro.

O prisioneiro é levado para o acampamento dos minuano. Enquanto esperam que se cure da ferida para sacrificá-lo, dão-lhe toda liberdade sob vigilância das sentinelas.

O jovem branco resolve fazer uma viola. Uma tarde, à sombra de uma árvore, com a pouca ferramenta de que dispõe, a muito custo vai improvisando um rústico instrumento. Inicialmente aparelha, em forma de espessa tábua, uma pau de corticeira. Cava-a dando-lhe a forma de viola. Coloca uma tampa com abertura circular para dar vibração ao som das cordas. Para colar a tampa emprega o grude de parasita sombaré, das árvores da serra. E da própria fibra da parasita ele prepara as cordas para o instrumento.

A índia já lhe tem muita amizade e está sempre ao seu lado nas horas de folga. Enquanto o vê trabalhar, canta-lhe suavemente um canto doce e pitoresco da gente minuana.

Ainda não passara um lua, e já, na grande ocara do acampamento, celebra-se o ritual do sacrifício.

Amarrado a um tronco está o prisioneiro.

Todos os índios da nação, reunidos em volta dele, dançam e cantam a sua morte. De quando em vez, passam, de mão em mão, cuias contendo delicioso vinho fabricado com o mel eiratim.

Há um silêncio de morte em todo o acampamento. O chefe minuano ordena que soltem o prisioneiro e tragam-no à sua presença.

Fitando o moço bem nos olhos, assim fala o cacique:

-Que aos teus irmãos sirva de lição esta última derrota. Que não nos tornem a vir incomodar. Os que vierem nestes campos buscar escravos, hão de ser esmagados pelas patas de nossos cavalos. E tu, pagarás com a morte a tua audácia e a dos teus!

Contudo, o chefe minuano diz ao condenado que faça o seu último pedido.

Surpreende-se o branco com tal gesto. E, dotado de uma inteligência não vulgar, num relance percebe como poderá livrar-se da morte. Sabendo da emotividade e a influência que exerce a música sobre aquelas criaturas, pede que lhe tragam o seu instrumento de cordas. Quer tocar pela última vez. Cantar uma balada de sua terra.

É a jovem índia quem lhe traz a sua viola, debaixo dos olhares curiosos dos índios.

Cheio de fé, o moço pega da viola. Depois de alguns sonoros acordes, entoa uma canção. E o ricto bárbaro daquelas fisionomias rudes transforma-se como por encanto.

Ouve-no com enlevo, exclamando a todo instante: – Gaú-che! Gaú-che!… o que significa: gente que canta triste.

Sensibilizados pela doce cantiga do condenado à morte, os índios intercedem para que o sacrifício seja revogado.

E, assim, o brasileiro fica morando com os minuanos.

Enamorado da jovem índia, casa-se com ela. E dessa bela união, do elemento branco com a indígena, resultou o tipo desse homem extraordinário que se chama gaúcho.
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Fonte: Lessa, Barbosa - Antologia ilustrada do folclore brasileiro: Estórias e lendas do Rio Grande do Sul. São Paulo, Editora Literart, 1960
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Viva a depredação da natureza!

"As areias da Praia Brava, em Itajaí, começam a sentir os efeitos da recente onda de verticalização. Ao cair da tarde, a praia é parcialmente tomada pela sombra dos edifícios que se erguem pela orla _ fenômeno que já ocorre na vizinha Balneário Camboriú, onde a silhueta dos arranha-céus esconde o sol. Resultado do despertar da construção civil para as belezas da Brava, a sombra preocupa moradores e ambientalistas, que temem mudanças na vocação turística da praia." (Notícias Catarinenses).

Ontem nós itajaienses perdemos uma batalha. Os amantes da natureza e nossos turistas também. A Câmara de Vereadores votou a favor dos tubarões do ramo imobiliário que modificarão a paisagem, que provocará a extinção da natureza agreste de uns dos locais mais lindos de nosso Estado. Por “aqueles” que se dizem representantes do nosso povo, da nossa "Pequena Pátria" segundo o ilustre itajaiense Marcos Konder (1).

Mas, tenho impressão (que tanso eu sou) que alguns destes “nobres” vereadores que votaram a favor desta devastação, pouco se importam por nosso patrimônio, não sabem quem foi Marcos Konder e nem  entendem o que é "pátria", e pior: só se interessam por si!

Que pena! A especulação imobiliária e interesses mesquinhos do ganho fácil (às vezes por baixo dos panos) sempre derrotam ideais nobres de muitos de nossos irmãos itajaienses e de outros gentis-homens que abraçaram nossa linda terra papa-siri, tão corretos no pensamento de preservação local como o de nosso planeta Terra...

E os nossos amigos gaúchos dizem: “Não tá muerto quem pelea!”. Então continuemos lutando! Viva Itajaí, nossa Pequena Pátria!

Protesto contra a construção de prédios no Canto do Morcego (Foto: Marcos Porto)
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(1) Marcos Konder - (Itajaí 1882 - 1962) Industrial, financista, político e intelectual, foi prefeito de Itajaí no período de 1915 a 1930. Revelou-se administrador extraordinário. Como escritor cabe destaque para a sua obra "A PEQUENA PÁTRIA", crônica histórica sobre Itajaí.
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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Ano-Novo em Balneário Camboriú


O show da queima de fogos por 17 minutos emocionou (mais uma vez, como dos anos anteriores) o grande público que acompanhou a chegada de 2013 na orla da Praia Central, aqui em Balneário Camboriú, ontem a noite. 

Quando o relógio marcou meia-noite, as 14 toneladas de fogos de artifícios foram acionadas nas seis balsas posicionadas no mar. Na areia, entre 800 mil e 1 milhão de pessoas vibraram e celebraram a entrada do novo ano.



Diferente do reveillon passado, quando algumas balsas falharam, o espetáculo deste ano não apresentou problemas. O tempo também colaborou, inclusive com a lua aparecendo em destaque na Princesa do Atlântico Sul. Com tudo dentro do previsto para a festa, os fogos ganharam o céu com diversas cores, formas e sons.



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