quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

P. F. R

Lá vinha eu ladeira abaixo, comendo minhas goiabinhas, quando ele se chegou com a mão estendida e um tom suplicante na voz. Não chega a ser um mendigo, mas anda desempregado e vivendo de pequenas facadas nos amigos:

— Seu Tanislau (ele me chama de Tanislau), será que o senhor não podia me arrumar um dinheirinho para eu poder comprar um bolo?

— Mas bolo por quê? Não pode ser pão? Poder podia, mas é que era o aniversário dele.

Rachei as goiabinhas que me sobravam com o infeliz amigo e resolvi levá-lo para almoçar ali por perto mesmo. Ele me disse que havia P.F.R. (prato feito reforçado) bastante razoável na outra esquina, Fomos.

Chegamos à porta, pedimos licença às moscas que, muito gentis, abriram caminho para nos deixar entrar, e sentamos:

— Traz o Prato do Dia — pediu ele ao garçom. Este sorriu e explicou que àquela hora não tinha mais disso. O Prato do Dia só durava meia hora no menu. Vinha faminto de todo lado, para comer.

— Então traz o macarrão — tornou a pedir o meu amigo.

E enquanto o garçom foi buscar, ele começou a conversar sobre comida. Primeiro me explicou que, do jeito que a coisa vai, pobre tende a desaparecer. Para comer comida de pobre, hoje em dia, o sujeito tem de ser rico. Aquele Prato do Dia, por exemplo, era uma pedida razoável, mas acabava logo e não dava pra todos, o que
se justificava pelo preço barato e pela quantidade de galinha que vinha, misturada no arroz.

— Ué, mas vem tanta galinha assim? — estranhei, pois galinha anda mais caro que mulher.

Ele fez sinal com a cabeça que sim. Vinha bastante galinha, mas era muito perigoso comê-la, pois o dono do restaurante era pródigo em galináceo no arroz porque comprava a penosa muito mais barato, na feira.

— E compra mais barato por quê?

— Porque ele só compra as que estão mortas dentro do engradado dos feirantes.

Roeu um pedaço do pão e pôs-se a desenhar os horrores da crise. Noutro dia resolvera tomar uma sopa muito boa, que tinha ali num freje de Botafogo. Foi a pé, gastando o resto do salto da derradeira botina e antes não tivesse ido:

— Por quê? A sopa não é mais a mesma?

— É nada. Tinha uma alface boiando, eu ainda passei a colher por baixo, para ver se o entulho estava por baixo da folha, mas que nada. A folha boiava que só vendo.

Nessa altura o garçom trouxe o prato de macarrão. Era um prato mixuruca às pampas e estava longe dos transbordantes pratos de macarronada da belle époque culinária.

Ele, para dar um exemplo definitivo de que a crise é tártara, apontou para o prato e falou:

— Tá vendo só??? Pois este prato antigamente custava 50 pratas e vinha mais cheio que trem de subúrbio. Agora custa 200 cruzeiros e o macarrão vem contado e curtinho. Tão curtinho que já não dá mais pé pra gente churupitar o bruto, como eu gostava tanto de fazer.

E, ante meu espanto, provou: — Vou contar e você vai ver que tem cinqüenta fios de macarrão aqui dentro.

Contou e — realmente — tinha cinqüenta.

Aí ele suspirou e murmurou, num sussurro: — Quando eles começam a contar fio de macarrão é porque a crise está brava.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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Gloria Grahame

Gloria Grahame (Gloria Hallward), atriz, nasceu em Los Angeles, California, em 18 de novembro de 1923, e faleceu em Nova York, Nova York, em 5 de outubro de 1981.

Filha de Michael Hallward, arquiteto, e de Jean McDougall, atriz de teatro, que se apresentava com o nome artístico de Jean Grahame, Gloria era descendente da realeza, já que a família de seu pai descendia do Rei Edward III, enquanto a da mãe, de reis escoceses.

Quando adolescente, já se mostrava com pouco interesse em relação aos estudos, chegando a largar a Hollywood High School pouco antes de se graduar, a fim de se juntar a um show em turnê chamado "Good Night, Ladies".

Em 1944, aos 21 anos, apareceu em duas peças na Broadway, ocasião em que chamou a atenção de Louis Mayer, chefe de estúdios da Metro Goldwyn Mayer. Impressionado com o trabalho dela, ele lhe ofereceu um contrato com a MGM, mas o reconhecimento do público só veio a ocorrer em 1946 com o filme "A Felicidade Não se Compra", de Frank Capra.

Embora seu talento e seu charme fossem de uma estrela, Gloria nunca foi reconhecida pela MGM como tal, sendo seu contrato vendido em 1947 à RKO.  Nessa produtora, ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, por sua atuação em "Rancor", um filme-noir de Edward Dmytryk.

Três anos depois, não mais trabalhando para a RKO, Gloria foi agraciada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, ao atuar ao lado de Humphrey Bogart em "No Silêncio da Noite".

Desempenhando papéis de mulheres sedutoras em diversos clássicos filmes-noirs, Gloria ia bem no cinema quando problemas conjugais e de custódia de filhos, combinados com outros surgidos quando das filmagens de "Oklahoma", em 1955, fizeram com que sua carreira ficasse de lado a partir de 1956.

Nos anos 60, voltou a atuar em palcos e na TV e, a partir de 1970, em alguns filmes de qualidade inferior. Seus últimos trabalhos foram em "Melvin e Howard", de Jonathan Demme, 1980, e "The Nesting", de Armand Weston, 1981.

The Greatest Show on Earth, 1952
Gloria casou-se quatro vezes: De 29/08/1945 a 01/06/1948, com o ator Stanley Clements; de 01/06/1948 a 14/08/1952, com o cineasta Nicholas Ray, com quem teve um filho, Timothy Ray, nascido em 12/11/1948; de 15/08/1954 a 31/10/1957, com o cineasta Cy Howard, com quem teve uma filha, Marianne Paulette, em 01/10/1956; e, finalmente, de 13/05/1960 a 04/05/1974, com o ator Anthony Ray, com quem teve dois filhos: Anthony Ray Jr., nascido em 30/04/1963, e James Ray, em 21/09/1965.

Em 1980 foi detectada com câncer de estômago, mas se recusou a fazer uma cirurgia, insistindo que não tinha a doença. Faleceu aos 57 anos em Nova York.


Filmografia

1944 Blonde Fever
1945 Without Love
1946 It's a Wonderful Life
1947 It Happened in Brooklyn
1947 Crossfire
1947 Song of the Thin Man
1947 Merton of the Movies
1949 A Woman's Secret
1949 Roughshod
1950 In a Lonely Place
1952 The Greatest Show on Earth
1952 Macao
1952 Sudden Fear
1952 The Bad and the Beautiful
1953 The Glass Wall
1953 Man on a Tightrope
1953 The Big Heat
1953 Prisoners of the Casbah
1954 Human Desire
1954 Naked Alibi
1954 The Good Die Young
1955 The Cobweb
1955 Not as a Stranger
1955 Oklahoma!
1956 The Man Who Never Was
1957 Ride Out for Revenge
1959 Odds Against Tomorrow
1966 Ride Beyond Vengeance
1971 Blood and Lace
1971 The Todd Killings
1971 Chandler
1972 The Loners
1973 Tarot
1974 Mama's Dirty Girls
1976 Mansion of the Doomed
1979 A Nightingale Sang in Berkeley Square
1979 Head Over Heels
1980 Melvin and Howard
1982 The Nesting

Fontes: Wikipédia; 70 Anos de Cinema.
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