quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Plínio Marcos

Plínio Marcos (Plínio Marcos de Barros), escritor, ator, diretor e jornalista, nasceu em Santos, SP, em 29/09/1935, e faleceu em São Paulo, SP, em 29/11/1999. Autor de inúmeras peças de teatro, escritas principalmente na época da ditadura militar, foi também ator, diretor e jornalista.

De família modesta, Plínio não gostava de estudar e terminou apenas o curso primário. Foi funileiro, jogador de futebol, serviu na Aeronáutica e jogou na Portuguesa Santista, mas foram as incursões ao mundo do circo, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. Atuou em rádio e também na televisão, em Santos.

Em 1958, por influência da escritora e jornalista Pagu, começou a se envolver com teatro amador em Santos. Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem currado na cadeia, escreveu sua primeira peça teatral, Barrela. Por sua linguagem crua, ela permaneceria proibida durante 21 anos após a primeira apresentação.

Em 1960, com 25 anos, foi para São Paulo, onde inicialmente trabalhou como camelô. Depois, trabalhou em teatro, como ator (apareceu no seriado Falcão Negro da TV Tupi de São Paulo), administrador e faz-tudo, em grupos como o Arena, a companhia de Cacilda Becker e o teatro de Nydia Lícia. A partir de 1963, produziu textos para a TV de Vanguarda, programa da TV Tupi, onde também atuou como técnico. No ano do golpe militar, fez o roteiro do espetáculo Nossa gente, nossa música. Em 1965, conseguiu encenar Reportagem de um tempo mau, colagem de textos de vários autores, e que ficou apenas um dia em cartaz.

Em 1968, participou como ator da telenovela Beto Rockfeller, vivendo o cômico motorista Vitório. O personagem seria repetido no cinema e também na telenovela de 1973, A volta de Beto Rockfeller, com menor sucesso. Ainda nos anos 1970, Plínio Marcos voltaria a investir no teatro, chegado ele mesmo a vender os ingressos na entrada das casas de espetáculo. Ao fim da peça, como a de Jesus-Homem, ele subia ao palco e conversava pessoalmente com a plateia.

Na década de 1980, apesar da censura do governo, que visava principalmente aos artistas, Plínio Marcos viveu sem fazer concessões, sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular. Escreveu nos jornais Última Hora, Diário da Noite, Guaru News, Folha de S. Paulo, Folha da Tarde, Diário do Povo (Campinas), e também na revista Veja, além de colaborar com diversas publicações, como Opinião, O Pasquim, Versus, Placar e outras.

Depois do fim da censura, Plínio continuou a escrever romances e peças de teatro, tanto adulto como infantil. Tornou-se palestrante, chegando a fazer 150 palestras-shows por ano, vestido de preto, portando um bastão encimado por uma cruz e com aura mística de leitor de tarô.

Plínio Marcos foi traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão; estudado em teses de sociolinguística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia, em universidades do Brasil e do exterior. Recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator, diretor, escritor e dramaturgo.

Morreu aos 64 anos, na cidade de São Paulo, por falência múltipla dos órgãos em decorrência de um derrame cerebral.

Obras

Teatro adulto

Barrela, 1958
Os fantoches, 1960
Jornada de um imbecil até o entendimento (1ª versão)
Enquanto os navios atracam, 1963
Quando as máquinas param (1ª versão)
Chapéu sobre paralelepípedo para alguém chutar (2ª versão de Os fantoches)
Reportagem de um tempo mau, 1965
Dois perdidos numa noite suja, 1966
Dia virá (1ª versão de Jesus-homem), 1967
Navalha na carne, 1967
Quando as máquinas param (2ª versão de Enquanto os navios atracam), 1963
Homens de papel, 1968
Jornada de um imbecil até o entendimento (3ª versão de Os fantoches)
O abajur lilás, 1969
Oração de um pé-de-chinelo, 1969
Balbina de Iansã (musical), 1970
Feira livre (opereta), 1976
Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores (musical), 1977
Jesus-homem, 1978 (2ª versão de Dia virá, 1967)
Sob o signo da discoteque, 1979
Querô, uma reportagem maldita, 1979
Madame Blavatski, 1985
Balada de um palhaço, 1986
A mancha roxa, 1988
A dança final, 1993
O assassinato do anão do caralho grande, 1995
O homem do caminho, 1996
O bote da loba, 1997
Chico Viola (inacabada), 1997

Teatro infantil

As aventuras do coelho Gabriel, 1965
O coelho e a onça (história dos bichos brasileiros), 1998
Assembléia dos ratos, 1989
Seja você mesmo (inacabada)

Livros

Navalha na carne (teatro), 1968
Quando as máquinas param (teatro), 1971
Histórias das quebradas do mundaréu (contos), 1973
Barrela (teatro), (1976)
Uma reportagem maldita – Querô (romance), 1976
Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos (contos), 1977
Dois perdidos numa noite suja (teatro), 1978
Oração para um pé-de-chinelo (teatro), s/data
Jesus-homem (teatro), 1981
Prisioneiro de uma canção (contos autobiográficos), 1982
Novas histórias da Barra do Catimbó (contos), s/d
Madame Blavatski (teatro), 1985
A figurinha e os soldados da minha rua - histórias populares (relatos autobiográficos), 1986
Canções e reflexões de um palhaço (textos curtos), 1987
A mancha roxa (teatro), 1988
Teatro maldito teatro (contém as peças Barrela, Dois Perdidos Numa Noite Suja e O Abajur Lilás), 1992
A dança final (teatro), 1994
Ns trilha dos saltimbancos (conto), data imprecisa
O assassinato do anão do caralho grande (noveleta policial e peça teatral), 1996
Figurinha difícil - Pornografando e subvertendo (relatos autobiográficos), 1996
O truque dos espelhos (contos autobiográficos), 1999

Fontes: Sítio oficial de Plínio Marcos, Wikipedia.
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Gilmar, o goleiro número um


"Gilmar dos Santos Neves é o maior goleiro do mundo". A afirmação soaria como mais uma patriotada não tivesse sido feita pelo soviético Lev Iashin, tido como o maior guarda-metas de todos os tempos. Gilmar, de fato, encabeça qualquer lista dos melhores jogadores que o futebol brasileiro já teve. Nosso goleiro "Número Um" soube como nenhum outro trabalhar as cinco qualidades que ele próprio considera fundamentais para o bom guarda-metas: calma, coragem, boa estatura, reflexos rápidos e segurança. Gilmar impressionava também por sua capacidade de manter-se igualmente tranquilo tanto numa defesa milagrosa quanto num frango pavoroso. Seu rol de títulos é dos mais extensos, porque foi campeão de quase tudo que participou.

Gilmar dos Santos Neves, mais conhecido como Gilmar, nasceu em Santos, SP, em 22 de agosto de 1930. Gilmar veio do Jabaquara (pequeno clube da cidade onde nasceu) para o Corinthians, seu primeiro grande clube, por um acaso. Na verdade, os dirigentes do clube paulista queriam outro jogador do clube santista, o meio-campista Ciciá, que o Jabaquara só aceitou vender se o clube levasse Gilmar de contra-peso.

O seu início no Corinthians, foi um tanto complicado, pois foi considerado o principal culpado pela derrota por 7 a 3 (25 de novembro de 1951) contra a Portuguesa de Desportos pelo Campeonato Paulista.

Depois de quatro meses voltaria a defender a meta alvinegra, para se consagrar campeão paulista. Durante seus dez anos de Corinthians, conquistou os títulos do Torneio Rio-São Paulo de 1953 e 1954, os Campeonatos Paulistas de 1951, 1952 e 1954, este último no qual festejava-se o IV centenário da cidade de São Paulo e foi condecorado com o título de "supremo guardião do campeão do quarto centenário".

Em 1961, após dez anos, ele se despediu do Corinthians, em meio a brigas com o presidente Wadih Helou, que o acusava de corpo mole durante os primeiros anos de fila do clube paulistano. Seguiu sua trajetória no Santos, de Pelé, onde teve o melhor momento de sua carreira, se tornando um dos maiores goleiros de todos os tempos.

Gilmar foi bicampeão mundial de Interclubes vestindo a camisa do alvinegro praiano. Na foto, de pé estão: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro; Agachados Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe

Gilmar dizia ser o melhor momento de sua carreira, não só pelo fato de estar em um grande e vitorioso time, mas também por estar no seu time de coração (Gilmar era torcedor do Santos desde os tempos de Jabaquara).

Suécia: campeão mundial com Pelé
Permanecendo no clube até 1969, construiu uma carreira vitoriosa, conquistando os Campeonatos Paulistas de 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968, as Taças Brasil de 1962, 1963, 1964 e 1965, as Taças Libertadores da América de 1962 e 1963, os Mundiais Interclubes de 1962 e 1963, os Torneios Rio-São Paulo de 1963, 1964 (dividido com o Botafogo), e 1966 (dividido com o Botafogo, o Corinthians e o Vasco da Gama), o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968 e, a Recopa dos Campeões Mundiais de 1968.

Gilmar fez sua estreia na Seleção Brasileira em primeiro de março de 1953, na vitória de 8 a 1 sobre a Bolívia, válida pelo Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), disputado no Peru. Assim como nos clubes em que passou, Gilmar também fez história na Seleção do Brasil.

Suécia: Gilmar e Agne Simonsson
Em 1958, na Suécia, ajudou a Seleção Brasileira a conquistar a sua primeira Copa do Mundo. Em 1962, no Chile, repetiu o feito conquistando sua segunda Copa do Mundo com a Seleção Brasileira. Em 1966, Gilmar também estava lá. Porém, ele não teve a mesma glória das copas anteriores, embora tivesse jogado duas partidas, e mais tarde seria substituído por Haílton Corrêa de Arruda, o Manga.

Gilmar jogou pela Seleção Brasileira até 1969, sendo a vitória de 2 a 1 contra a Inglaterra, em 12 de junho, num amistoso disputado no Maracanã, sua última partida pela seleção.

Fontes: Revista Placar; Wikipedia.
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O estranho caso do isqueiro de ouro

De princípio me declarou que na hora em que tudo aconteceu não estava bêbedo. E insistiu: "Eu estava absolutamente lúcido, embora tivesse bebido o bastante para ficar de quatro na grama".

Evidentemente, se não tivesse bebido nada, não teria nem descido do carro, quanto mais ficado de quatro na grama! Mas o fato é que ficou, e agora — diante do acontecido — está a se perguntar se estava realmente lúcido, o que de resto não importa, uma vez que a conseqüência intriga-o mais do que a ocorrência.

Estava muito alegre e ria muito, e isto não era nem sequer por conta da bebida. Era um pouco por causa do uísque que tomara e mais o momento, a mulher, enfim um estado de espírito que tomou conta dele e que já fazia por merecer.

Depois de muitos dias seguidos de pequenos aborrecimentos, muito trabalho, um resfriado. "Estas coisas — dizia-me — vão deixando a gente sem reservas de humor. Mas, quando terminou a festa e ela pediu-me que a levasse em casa, veio-me de súbito aquele estado de espírito. A prova de que eu estava raciocinando perfeitamente é me lembrar deste detalhe: tenho certeza de que já vinha alegre lá de dentro e, quando fui tomar o carro, senti o perfume de jasmim dos jardins do vizinho. Eu nasci e morei durante anos numa casa cheia de jasmineiros, você entende?"

Eu entendia. Já vinha alegre da festa, na hora de entrar no carro, com uma bela mulher que o tinha escolhido para levá-la em casa, tudo isso e mais um cheiro da infância deram-lhe aquela alegria interior que conservou até o momento em que viu, sobre a grama, as pernas do guarda, firmes, como que plantadas no gramado — aquelas duas colunas negras, porque era um guarda de perneiras, desses que passam solenes, de motocicleta, altivos e barulhentos.

"Mas eu não ouvi barulho nenhum —explicava ele —, eu estava de quatro, rindo, na grama, quando vi as pernas e, em seguida, o guarda. Aquele bruto guarda, de mãos na cintura, me olhando."

É estranho que uma pessoa, justamente na hora em que se sente eufórica, vivendo um momento raro, meio sonho meio realidade, possa explicar cada minuto desse momento que já está passado e, no entanto, no presente, absolutamente sóbrio e sério, não consiga encontrar uma explicação que satisfaça a si mesmo, que possa acalmar uma dúvida sem apelar para o sobrenatural.

Recorda-se que entrou no carro e perguntou à mulher onde morava e ela deu-lhe o endereço. A noite era fresca e o ar livre, o carro deslizava pelas ruas tranqüilas e desertas. Então pôs-se a cantar a canção que ela também cantarolou junto com ele, e iam tão felizes que começou a guinar o carro de um lado para outro, ao ritmo da música.

A mulher morava num recanto do maior bucolismo, em frente a uma praça toda gramada. Ele parou o carro e propôs à mulher que fumassem mais um cigarro, e ficaram ali fumando, num silêncio convidativo; tão convidativo que ele começou a fazer-lhe cócegas na nuca, os dois rindo, ele se chegando e — de repente — deu-lhe uma mordidinha no lóbulo da orelha. A mulher sentiu um arrepio, riu mais: "Ai, Carlos, você é um cachorrinho e está me mordendo" — ela disse.

Isto foi o que bastou para que descesse do carro e fosse lá para o meio do gramado, onde ficou de quatro, a latir para ela.

A mulher ria e, como estivesse escuro, começou a gritar: "Onde você está, Carlos?" — e como ele calasse os latidos para fazer-lhe uma surpresa, ela manobrou o carro e acendeu os faróis na direção do gramado, mas numa direção em que as luzes não o atingiam. Pôs-se a caminhar de quatro para se esconder atrás de um arbusto, quando viu que ela saíra do carro e já caminhava também sobre a grama — embora sem latir e sem usar os braços à guisa de patas dianteiras.

Foi aí que viu o guarda. Ou antes: as pernas do guarda. Levantou a cabeça e notou o quanto ele estava sério, e assim ficaram um tempo indefinido, que deve ter durado alguns segundos, mas que lhe pareceu uma eternidade. Notou também que a mulher voltara para o carro e ria muito da situação.

Por certo o guarda tinha todo o direito de pensar outra coisa, e quando lhe perguntou "o que é que o senhor está fazendo aí?" — já tinha opinião formada. Contar a verdade lhe pareceu pior, o que prova a sua lucidez na ocasião. E então, porque precisava dar uma resposta qualquer ao guarda, disse que estava procurando o isqueiro. Daí passou a mentir, uma mentira em cima da outra, sobre o isqueiro, que era de ouro e tinha seu nome gravado de um lado.

"Como é seu nome?" — quis saber o guarda.

E foi a única verdade que disse: "Carlos Silva. E está escrito do lado do isqueiro. É um isqueiro francês Dupont".

Falava e olhava para os lados, fingindo que procurava. O guarda continuava a não aceitar nada do que dizia, mas mantinha-se sério, perturbando-o ainda mais.

Quando perguntou como conseguira perder o isqueiro ali na grama se estava com a mulher no carro, fingiu que não ouviu e acrescentou: "É um isqueiro de estimação. Foi minha mãe que me deu. Ela já morreu".

Falava e caminhava devagar, tentando se aproximar do carro. O guarda caminhava também, mantendo a distância entre os dois, até o instante em que se abaixou para apanhar algo que brilhou em sua mão, apesar da escuridão.

"Aqui está o seu isqueiro, cavalheiro" — disse o guarda, enquanto ele engolia o próprio espanto, diante do espanto do guarda, que conservava o isqueiro de ouro na palma da mão aberta.

Agora repetia — de certa maneira — a atitude do guarda da véspera. Estava com o isqueiro na palma da mão aberta e me dizia: "E te juro! Eu nunca tive nenhum isqueiro!"
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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